Os argentinos estão estarrecidos com os desdobramentos do escândalo envolvendo a quadrilha dos "boylovers" - como está sendo chamado o grupo de pedófilos liderados por Jorge Corsi, um prestigiado psicólogo portenho que, junto com seus cúmplices, é acusado de ter abusado sexualmente de dezenas de adolescentes nos últimos anos. Corsi, de 62 anos, era um dos psicólogos mais respeitados do país. Especialista em violência familiar, era presença constante em conferências e programas de televisão. Até sua prisão, há dez dias, dividia sua rotina entre seu consultório e a Universidade de Buenos Aires (UBA), onde era diretor desde 1989 da cadeira de especialização em Violência Familiar. Autor de livros de sucesso, Corsi também assessorava vários governos, entre eles o da Prefeitura de Buenos Aires, para a qual preparou um projeto de combate à violência doméstica. Ele também capacitou juízes e prestou assistência ao governo do ex-presidente Néstor Kirchner. Seus colegas de profissão não conseguem acreditar que ele tivesse liderado uma quadrilha que cooptava adolescentes graças a seus conhecimentos psicólogicos. "É uma notícia absolutamente desagradável. Jorge Corsi foi, para toda uma geração de psicólogos, um referencial", lamentou o ministro do Interior, Aníbal Fernández. As suspeitas sobre ele começaram quando a polícia espanhola (que investigava pedófilos em Madri) descobriu vínculos do psicólogo com os espanhóis. Sua prisão, porém, só ocorreu depois que um jovem portenho revelou aos pais que tinha sido abusado sexualmente por Corsi. A Polícia Federal argentina grampeou os telefones do psicólogo até reunir evidências suficientes para sua detenção. Desde então, continuam surgindo denúncias de jovens que acusam Corsi e seus cúmplices de abusos sexuais. Ao ser preso, outro integrante da quadrilha, Augusto Correa, tentou desmentir os abusos: "A gente só conversava de filosofia com os rapazes", alegou. Corsi navegava por fotologs de adolescentes para encontrar potenciais vítimas. O alvo eram jovens de 14 a 16 anos que expressavam seus sentimentos, intimidades e fraquezas nesses sites de internet. Corsi, como especialista no assunto, realizava os primeiros contatos. Em caso de resistência ou arrependimento dos adolescentes, Corsi encarregava-se de contê-los psicologicamente, de forma a evitar denúncias na polícia. A quadrilha contava com professores e até um jovem de 17 anos (seduzido pelos boylovers quando tinha 12), que se infiltrava em escolas particulares para buscar adolescentes com problemas familiares e de auto-estima. As vítimas, levadas para os apartamentos dos integrantes da quadrilha, recebiam refrigerantes com tranqüilizantes. Adormecidos, eram fotografados em poses sexuais.