MADRID – O premiê socialista Pedro Sánchez e o chefe da esquerda radical, representada pela agrupação Unidas Podemos, Pablo Iglesias, alcançaram nesta terça-feira, 12, um pré-acordo para um governo de coalizão na Espanha. A aliança precisará do apoio de outras legendas para obter a aprovação da Câmara Baixa, renovada nas eleições legislativas de domingo passado.
Segundo fontes da negociação, que durou uma hora, ouvidas pelo jornal El País, Sánchez decidiu fechar um acordo com Iglesias rapidamente, o que significou aceitar uma aliança sem vetos, algo que esteve próximo de ocorrer em julho. Segundo essas fontes, a decisão de aceitar tal acordo foi tomada apenas por Sánchez e os políticos de mais alto cargo de seu partido sabiam.
Caso o acordo seja confirmado, será o fim de meses de bloqueio político na quarta economia da zona euro. “Alcançamos um pré-acordo para compor um governo de coalizão progressista na Espanha, (...) que combine a experiência do Partido Socialista com a coragem do Podemos”, disse Iglesias, após a inesperada assinatura do documento no Parlamento espanhol.
Nos últimos meses, Iglesias chegou a chamar Sánchez de “loser” (perdedor), enquanto o premiê qualificou o agora aliado como populista, associando-o à “Venezuela de Chávez”.
Nesta terça-feira, Sánchez mudou o tom: “Este novo governo vai ser um governo categoricamente progressista”, pensado para durar os quatro anos da legislatura, porque “a Espanha precisa de um governo estável, não interino, um governo sólido, e precisa já”. Os líderes disseram que, nas próximas semanas, vão detalhar o programa e a estrutura do governo.
A imprensa local afirmou que Iglesias ficará com a vice-presidência, algo que Sánchez havia recusado em abril, e os dois discutirão quem vai encabeçar três ministérios importantes do governo. Se confirmado, seria o primeiro governo de coalizão da Espanha desde o retorno do país à democracia no final da década de 70.
Seu navegador não suporta esse video.
Vencedor das eleições, o Partido Operário Socialista Espanhol, de Pedro Sánchez, não conseguiu formar uma coalizão para governar. Sánchez tem até 23 de setembro para conseguir, caso contrário os espanhóis voltam às urnas.
O partido de Sánchez venceu as eleições, mas perdeu força nas legislativas. Os socialistas já haviam tentado negociar a formação de um governo de coalizão com a Unidas Podemos (coalizão entre o Podemos e o Esquerda Unida), após as eleições anteriores, em abril. As negociações fracassaram em razão de divergências sobre qual papel o Podemos teria no Executivo. O desentendimento levou o país de volta às urnas, no último domingo, quando a extrema direita do Vox se tornou a terceira força política do país.
O novo acordo “é tão promissor que supera qualquer tipo de desencontro que possamos ter tido nos últimos meses”, disse Sánchez, que selou o pacto com um abraço com Iglesias. Os socialistas e o Podemos reúnem 155 deputados, motivo pelo qual vão precisar conquistar apoio de outras siglas para alcançar a maioria absoluta de 176, em um Congresso de 350 cadeiras.
A preferência dos socialistas é um apoio dos liberais do Cidadãos, que perderam espaço no domingo. Dos 57 deputados conquistados em abril, caíram para 10 assentos. Os socialistas também esperam poder contar com outros partidos nanicos para não dependerem dos separatistas catalães, que têm 23 vagas.
Um dos temas dominantes da campanha foi a situação na Catalunha, onde segue vivo o pulso do separatismo. Nesse ponto do acordo, fica decidido que “o governo da Espanha terá como prioridade garantir a convivência na Catalunha e a normalidade da vida política. Com essa finalidade, será fomentado o diálogo, buscando fórmulas de entendimento, sempre dentro da Constituição.”
A tensão aumentou com a condenação, em outubro, de nove líderes independentistas a penas de prisão de 9 a 13 anos de prisão, por seu papel na tentativa fracassada de secessão de 2017. A sentença deu lugar a uma semana de distúrbios na Catalunha.
O principal beneficiado pela crise regional foi o Vox. Entre outros pontos, seu líder, Santiago Abascal, defende suspender a autonomia catalã e ilegalizar os partidos soberanistas. / COM AFP E REUTERS