Três semanas depois de um motim iniciado na Rússia pelo grupo Wagner, o presidente Vladimir Putin disse que tentou, mas não conseguiu que Yevgeni Prigozhin fosse substituído como líder dos combatentes do grupo mercenário na Ucrânia. A declaração foi dada em uma entrevista ao jornal Kommersant, depois que o chefe mercenário rejeitou sua proposta durante uma reunião no Kremlin neste mês.
Putin disse ao colunista Andrei Kolesnikov que, no dia 29 de junho, se encontrou com um um grupo de 35 comandantes do grupo Wagner, incluindo Prigozhin. Segundo ele, no encontro, ele ofereceu aos mercenário “várias opções de emprego, inclusive sob a orientação de seu comandante imediato”.
“Eles poderiam se reunir em um só lugar e continuar a servir”, disse Putin, “e nada teria mudado para eles. O presidente da Rússia relata que muitos acenaram com a cabeça em sinal positivo à proposta, com exceção de Prigozhin, que estava sentado na frente e não viu o aceno, respondendo “Não, os caras não concordam com essa decisão”, conforme relata Putin.
Leia também
Na entrevista, Putin ainda disse que disse às tropas de Wagner que “lamentava que eles parecessem arrastados” para o motim, parecendo atribuir a culpa a Prigozhin. “Eu delineei os caminhos possíveis para o futuro serviço militar de vocês, inclusive em combate”, disse Putin.
Ele ainda declarou ao jornal que o grupo Wagner não existia, citando a legislação russa que proíbe empresas militares privadas e colocando seu futuro em dúvida. “Bom, o grupo Wagner não existe! [...] Não temos uma lei sobre organizações militares privadas! Simplesmente não existe!”, exclamou.
O governo da Rússia ordenou anteriormente que as tropas de Wagner que pretendem continuar lutando assinem contratos com o Ministério da Defesa, tornando-se efetivamente parte do exército regular da Rússia, o que Prigozhin protestou amargamente. Mas os últimos comentários de Putin parecem deixar em aberto a possibilidade de que possam continuar a existir unidades Wagner.
Putin quer traçar uma nítida distinção entre os combatentes de Wagner, cuja experiência e conhecimento ele pode explorar, e o líder mercenário que ele agora vê como imprudente e indigno de confiança, de acordo com Tatiana Stanovaya, acadêmica não residente do Carnegie Endowment for International Peace.
“Eles querem preservar a essência de Wagner, mas sob uma liderança diferente, claramente muito mais leal e até controlável”, disse Stanovaya. “Aquele encontro foi um sinal de reconciliação – não no sentido de que o conflito acabou, mas no sentido de que agora existem regras do jogo; você tem que segui-las“, acrescentou ela.
Um porta-voz do Kremlin divulgou pela primeira vez a reunião no início desta semana, dizendo que os comandantes de Wagner haviam expressado suas preocupações - uma admissão impressionante, considerando que dias antes Putin havia denunciado os líderes do levante como traidores.
O presidente Alexander Lukashenko, da Belarus, que ajudou a intermediar o fim do levante de Wagner em 24 de junho, disse que seu país receberia seus combatentes. Mas, na semana passada, Lukashenko disse que ainda não havia tropas de Wagner no país, e os militares convidaram jornalistas estrangeiros para o campo para mostrar que estava desocupado.
Na sexta-feira, porém, o ministério da defesa bielorrusso disse em comunicado que os soldados de Wagner estavam instruindo membros de uma força militar bielorrussa em táticas de defesa e campo de batalha. Um canal de televisão estatal transmitiu um vídeo do que seu correspondente disse ser um treinamento de combatentes de Wagner “em uma base de treinamento perto de Asipovichy”, mas as afiliações das tropas no vídeo não puderam ser verificadas de forma independente. Um porta-voz do Ministério da Defesa confirmou que pelo menos parte do vídeo foi feito no mesmo local do novo acampamento./Com NYT.