Opinião|Putin não é um político, é um gângster


Alexei Navalni ficou famoso na Rússia e acabou odiado por Putin precisamente porque, desde o início de sua luta, descreveu abertamente Putin e seus aliados como gângsters que tinham tomado o poder e o utilizado para seu próprio enriquecimento e cumprimento de suas ambições pessoais

Por Iulia Navalnaia
Atualização:

Em 16 de fevereiro, um mês antes das “eleições presidenciais” marcadas na Rússia, meu marido, Alexei Navalni, foi assassinado dentro da prisão sob ordem direta de Vladimir Putin. Eu nunca quis ser política, nunca quis discursar em palanques nem escrever para meios de imprensa internacionais. Mas Putin não me deixou nenhuma outra chance. Portanto, quero lhes contar a respeito de algumas coisas importantes que Alexei vinha tentando dizer por todos esses anos.

Para derrotar Putin, ou pelo menos puni-lo seriamente, as pessoas têm de se dar conta de quem ele é. Infelizmente, pessoas demais no Ocidente ainda o consideram um líder político legítimo, argumentam sobre sua ideologia e procuram lógica política em suas ações. Isso é um erro que gera novos erros e ajuda Putin a enganar seus oponentes repetidamente.

Putin não é um político, é um gângster. Alexei Navalni ficou famoso na Rússia e acabou odiado por Putin precisamente porque, desde o início de sua luta, descreveu abertamente Putin e seus aliados como gângsters que tinham tomado o poder e o utilizado para seu próprio enriquecimento e cumprimento de suas ambições pessoais.

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Nesta segunda-feira, 7 de maio de 2018, na foto de arquivo, Vladimir Putin entra para prestar juramento durante sua cerimônia de posse como novo presidente da Rússia no Grand Kremlin Palace em Moscou, Rússia. Foto: Alexander Zemlianichenko / AP

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso. Vocês perceberão sua brutalidade, cinismo, propensão à violência, gosto pelo luxo ostentoso — e disposição para mentir e assassinar. Todas as suas falas sobre religião, história, cultura e política podem confundir os ocidentais. Mas na Rússia todos sabem que os gângsters sempre foram afeitos a empunhar grandes cruzes, posar em igrejas e se apresentar como lutadores em nome de uma justiça maior e valores tradicionais, que em seu entendimento se reduzem a um código de conduta implacável de um criminoso profissional.

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso que vocês entenderão como puni-lo e apressar seu fim. Status é muito importante para chefões do crime — tanto dentro de suas gangues quanto no mundo exterior. Putin tomou o poder na Rússia, onde pode se declarar presidente legítimo ou até coroar a si mesmo herdeiro dos czares. Mas por que países democráticos continuam a reconhecer sua autoridade criminosa como legítima?

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Por que líderes mundiais eleitos legitimamente colocam-se no mesmo nível de um criminoso que há décadas frauda eleições, assassina, aprisiona ou expulsa do país todos os seus críticos e agora lançou uma guerra sangrenta na Europa atacando a Ucrânia?

Não estou prometendo que se recusar a reconhecer os resultados da eleição presidencial russa deste fim de semana levará à queda instantânea do governo de Putin. Mas seria um importante sinal para a sociedade civil e as elites ainda leais a Putin na Rússia, assim como para o mundo, que a Rússia não seja governada por um presidente reconhecido por todos, mas por uma pessoa abominada e condenada publicamente. Somente então essas pessoas que continuam leais a Putin começarão a ver que a única maneira de retornar para uma vida política e econômica normal é livrar-se dele.

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Para chefões do crime, dinheiro é crucial. Putin é indiferente ao sofrimento das pessoas comuns tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ele não se importa com a economia russa — contanto que haja dinheiro suficiente para sustentar o Exército e os serviços de segurança e encher seus próprios bolsos e os de seus associados. A única coisa que machuca Putin de verdade é perda de renda. Apesar de poder ser difícil colocá-lo na mira neste ponto, é possível privar seus asseclas mais próximos, representantes e tomadores de decisão de ganhos ilegais.

Gângsters privados de sua riqueza abandonam a lealdade ao líder. É por esse motivo que eu peço a expansão máxima e a imposição cuidadosa de sanções contra todos os políticos proeminentes, em maior ou menor medida, aliados de Putin, dos autodenominados empresários, de servidores civis e de autoridades de segurança. Privar milhares de figuras influentes de seus capitais e bens abrirá caminho para divisões internas — e em última instância para a queda do regime.

O extenso apoio à Ucrânia e seu Exército na luta contra a agressão injustificada de Putin tornou-se a escolha moral natural para os países ocidentais. Uma derrota militar de Putin na Ucrânia deverá levar seu governo à beira do colapso. Contudo, há casos na história em que a derrota não ocasiona a queda do ditador. A derrota de Saddam Hussein no Kuwait, por exemplo, não pôs fim ao seu governo; Hussein e sua gangue aterrorizaram a população do Iraque e dos países vizinhos por outra década. Para garantir que Putin não sobreviva a outras crises, incluindo as causadas por reveses militares na Ucrânia, é essencial apoiar as forças que continuam a resistir dentro da Rússia.

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Não acreditem que todos na Rússia apoiam Putin e sua guerra. A Rússia está sob uma ditadura cruel. O número de presos políticos na Rússia é três vezes maior do que durante a luta do sistema soviético contra seus dissidentes. Direitos humanos estão sendo atropelados, não existe nenhuma liberdade de expressão ou protesto.

A polícia detém um homem que estava colocando flores em homenagem ao falecido Alexei Navalni no Memorial às Vítimas da Repressão Política em São Petersburgo, Rússia, na sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024.  Foto: AP

Mas mesmo nessas condições difíceis os russos encontram maneiras de se manifestar contra o regime repressivo. Qualquer oportunidade de expressar descontentamento legalmente torna-se um protesto massivo. Centenas de milhares de pessoas entraram em filas esperando registrar candidaturas de políticos que expressaram visões contrárias à guerra nas eleições presidenciais.

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E o funeral do meu marido em Moscou também virou um protesto de vários dias. Apesar dos esforços das autoridades, milhares de pessoas visitaram seu túmulo e o cobriram de flores. As pessoas sabem que o regime persegue todos que ousam participar — e que podem ser punidas depois — mas mesmo assim apareceram, em Moscou e por toda a Rússia.

A conclamação mais recente do meu marido aos russos foi participar da campanha “Meio-dia contra Putin”. Ele pediu que todos os oponentes de Putin apareçam nos postos de votação às 12h do dia 17 de março, durante a eleição. O objetivo não é influenciar os resultados, que serão fraudados de qualquer maneira, nem apoiar algum fantoche de Putin que tenha podido concorrer. Alexei queria que esse protesto fosse uma manifestação nacional, enfatizando a ilegitimidade da eleição de Putin e a resistência da sociedade civil russa.

Conclamo os líderes políticos do Ocidente a ajudar os cidadãos russos que se levantam contra a gangue de Putin. Insisto para que vocês finalmente ouçam a voz da Rússia livre e adotem uma posição fundamentada em princípios — que não reconheçam os resultados das eleições fraudadas, não reconheçam Putin como líder legítimo da Rússia.

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O mundo tem de perceber finalmente que Putin não é quem gostaria de dar a parecer. Putin é um usurpador, um tirano, um criminoso de guerra — e um assassino. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em 16 de fevereiro, um mês antes das “eleições presidenciais” marcadas na Rússia, meu marido, Alexei Navalni, foi assassinado dentro da prisão sob ordem direta de Vladimir Putin. Eu nunca quis ser política, nunca quis discursar em palanques nem escrever para meios de imprensa internacionais. Mas Putin não me deixou nenhuma outra chance. Portanto, quero lhes contar a respeito de algumas coisas importantes que Alexei vinha tentando dizer por todos esses anos.

Para derrotar Putin, ou pelo menos puni-lo seriamente, as pessoas têm de se dar conta de quem ele é. Infelizmente, pessoas demais no Ocidente ainda o consideram um líder político legítimo, argumentam sobre sua ideologia e procuram lógica política em suas ações. Isso é um erro que gera novos erros e ajuda Putin a enganar seus oponentes repetidamente.

Putin não é um político, é um gângster. Alexei Navalni ficou famoso na Rússia e acabou odiado por Putin precisamente porque, desde o início de sua luta, descreveu abertamente Putin e seus aliados como gângsters que tinham tomado o poder e o utilizado para seu próprio enriquecimento e cumprimento de suas ambições pessoais.

Nesta segunda-feira, 7 de maio de 2018, na foto de arquivo, Vladimir Putin entra para prestar juramento durante sua cerimônia de posse como novo presidente da Rússia no Grand Kremlin Palace em Moscou, Rússia. Foto: Alexander Zemlianichenko / AP

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso. Vocês perceberão sua brutalidade, cinismo, propensão à violência, gosto pelo luxo ostentoso — e disposição para mentir e assassinar. Todas as suas falas sobre religião, história, cultura e política podem confundir os ocidentais. Mas na Rússia todos sabem que os gângsters sempre foram afeitos a empunhar grandes cruzes, posar em igrejas e se apresentar como lutadores em nome de uma justiça maior e valores tradicionais, que em seu entendimento se reduzem a um código de conduta implacável de um criminoso profissional.

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso que vocês entenderão como puni-lo e apressar seu fim. Status é muito importante para chefões do crime — tanto dentro de suas gangues quanto no mundo exterior. Putin tomou o poder na Rússia, onde pode se declarar presidente legítimo ou até coroar a si mesmo herdeiro dos czares. Mas por que países democráticos continuam a reconhecer sua autoridade criminosa como legítima?

Por que líderes mundiais eleitos legitimamente colocam-se no mesmo nível de um criminoso que há décadas frauda eleições, assassina, aprisiona ou expulsa do país todos os seus críticos e agora lançou uma guerra sangrenta na Europa atacando a Ucrânia?

Não estou prometendo que se recusar a reconhecer os resultados da eleição presidencial russa deste fim de semana levará à queda instantânea do governo de Putin. Mas seria um importante sinal para a sociedade civil e as elites ainda leais a Putin na Rússia, assim como para o mundo, que a Rússia não seja governada por um presidente reconhecido por todos, mas por uma pessoa abominada e condenada publicamente. Somente então essas pessoas que continuam leais a Putin começarão a ver que a única maneira de retornar para uma vida política e econômica normal é livrar-se dele.

Para chefões do crime, dinheiro é crucial. Putin é indiferente ao sofrimento das pessoas comuns tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ele não se importa com a economia russa — contanto que haja dinheiro suficiente para sustentar o Exército e os serviços de segurança e encher seus próprios bolsos e os de seus associados. A única coisa que machuca Putin de verdade é perda de renda. Apesar de poder ser difícil colocá-lo na mira neste ponto, é possível privar seus asseclas mais próximos, representantes e tomadores de decisão de ganhos ilegais.

Gângsters privados de sua riqueza abandonam a lealdade ao líder. É por esse motivo que eu peço a expansão máxima e a imposição cuidadosa de sanções contra todos os políticos proeminentes, em maior ou menor medida, aliados de Putin, dos autodenominados empresários, de servidores civis e de autoridades de segurança. Privar milhares de figuras influentes de seus capitais e bens abrirá caminho para divisões internas — e em última instância para a queda do regime.

O extenso apoio à Ucrânia e seu Exército na luta contra a agressão injustificada de Putin tornou-se a escolha moral natural para os países ocidentais. Uma derrota militar de Putin na Ucrânia deverá levar seu governo à beira do colapso. Contudo, há casos na história em que a derrota não ocasiona a queda do ditador. A derrota de Saddam Hussein no Kuwait, por exemplo, não pôs fim ao seu governo; Hussein e sua gangue aterrorizaram a população do Iraque e dos países vizinhos por outra década. Para garantir que Putin não sobreviva a outras crises, incluindo as causadas por reveses militares na Ucrânia, é essencial apoiar as forças que continuam a resistir dentro da Rússia.

Não acreditem que todos na Rússia apoiam Putin e sua guerra. A Rússia está sob uma ditadura cruel. O número de presos políticos na Rússia é três vezes maior do que durante a luta do sistema soviético contra seus dissidentes. Direitos humanos estão sendo atropelados, não existe nenhuma liberdade de expressão ou protesto.

A polícia detém um homem que estava colocando flores em homenagem ao falecido Alexei Navalni no Memorial às Vítimas da Repressão Política em São Petersburgo, Rússia, na sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024.  Foto: AP

Mas mesmo nessas condições difíceis os russos encontram maneiras de se manifestar contra o regime repressivo. Qualquer oportunidade de expressar descontentamento legalmente torna-se um protesto massivo. Centenas de milhares de pessoas entraram em filas esperando registrar candidaturas de políticos que expressaram visões contrárias à guerra nas eleições presidenciais.

E o funeral do meu marido em Moscou também virou um protesto de vários dias. Apesar dos esforços das autoridades, milhares de pessoas visitaram seu túmulo e o cobriram de flores. As pessoas sabem que o regime persegue todos que ousam participar — e que podem ser punidas depois — mas mesmo assim apareceram, em Moscou e por toda a Rússia.

A conclamação mais recente do meu marido aos russos foi participar da campanha “Meio-dia contra Putin”. Ele pediu que todos os oponentes de Putin apareçam nos postos de votação às 12h do dia 17 de março, durante a eleição. O objetivo não é influenciar os resultados, que serão fraudados de qualquer maneira, nem apoiar algum fantoche de Putin que tenha podido concorrer. Alexei queria que esse protesto fosse uma manifestação nacional, enfatizando a ilegitimidade da eleição de Putin e a resistência da sociedade civil russa.

Conclamo os líderes políticos do Ocidente a ajudar os cidadãos russos que se levantam contra a gangue de Putin. Insisto para que vocês finalmente ouçam a voz da Rússia livre e adotem uma posição fundamentada em princípios — que não reconheçam os resultados das eleições fraudadas, não reconheçam Putin como líder legítimo da Rússia.

O mundo tem de perceber finalmente que Putin não é quem gostaria de dar a parecer. Putin é um usurpador, um tirano, um criminoso de guerra — e um assassino. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Em 16 de fevereiro, um mês antes das “eleições presidenciais” marcadas na Rússia, meu marido, Alexei Navalni, foi assassinado dentro da prisão sob ordem direta de Vladimir Putin. Eu nunca quis ser política, nunca quis discursar em palanques nem escrever para meios de imprensa internacionais. Mas Putin não me deixou nenhuma outra chance. Portanto, quero lhes contar a respeito de algumas coisas importantes que Alexei vinha tentando dizer por todos esses anos.

Para derrotar Putin, ou pelo menos puni-lo seriamente, as pessoas têm de se dar conta de quem ele é. Infelizmente, pessoas demais no Ocidente ainda o consideram um líder político legítimo, argumentam sobre sua ideologia e procuram lógica política em suas ações. Isso é um erro que gera novos erros e ajuda Putin a enganar seus oponentes repetidamente.

Putin não é um político, é um gângster. Alexei Navalni ficou famoso na Rússia e acabou odiado por Putin precisamente porque, desde o início de sua luta, descreveu abertamente Putin e seus aliados como gângsters que tinham tomado o poder e o utilizado para seu próprio enriquecimento e cumprimento de suas ambições pessoais.

Nesta segunda-feira, 7 de maio de 2018, na foto de arquivo, Vladimir Putin entra para prestar juramento durante sua cerimônia de posse como novo presidente da Rússia no Grand Kremlin Palace em Moscou, Rússia. Foto: Alexander Zemlianichenko / AP

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso. Vocês perceberão sua brutalidade, cinismo, propensão à violência, gosto pelo luxo ostentoso — e disposição para mentir e assassinar. Todas as suas falas sobre religião, história, cultura e política podem confundir os ocidentais. Mas na Rússia todos sabem que os gângsters sempre foram afeitos a empunhar grandes cruzes, posar em igrejas e se apresentar como lutadores em nome de uma justiça maior e valores tradicionais, que em seu entendimento se reduzem a um código de conduta implacável de um criminoso profissional.

Considerem Putin como o líder de um grupo mafioso que vocês entenderão como puni-lo e apressar seu fim. Status é muito importante para chefões do crime — tanto dentro de suas gangues quanto no mundo exterior. Putin tomou o poder na Rússia, onde pode se declarar presidente legítimo ou até coroar a si mesmo herdeiro dos czares. Mas por que países democráticos continuam a reconhecer sua autoridade criminosa como legítima?

Por que líderes mundiais eleitos legitimamente colocam-se no mesmo nível de um criminoso que há décadas frauda eleições, assassina, aprisiona ou expulsa do país todos os seus críticos e agora lançou uma guerra sangrenta na Europa atacando a Ucrânia?

Não estou prometendo que se recusar a reconhecer os resultados da eleição presidencial russa deste fim de semana levará à queda instantânea do governo de Putin. Mas seria um importante sinal para a sociedade civil e as elites ainda leais a Putin na Rússia, assim como para o mundo, que a Rússia não seja governada por um presidente reconhecido por todos, mas por uma pessoa abominada e condenada publicamente. Somente então essas pessoas que continuam leais a Putin começarão a ver que a única maneira de retornar para uma vida política e econômica normal é livrar-se dele.

Para chefões do crime, dinheiro é crucial. Putin é indiferente ao sofrimento das pessoas comuns tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ele não se importa com a economia russa — contanto que haja dinheiro suficiente para sustentar o Exército e os serviços de segurança e encher seus próprios bolsos e os de seus associados. A única coisa que machuca Putin de verdade é perda de renda. Apesar de poder ser difícil colocá-lo na mira neste ponto, é possível privar seus asseclas mais próximos, representantes e tomadores de decisão de ganhos ilegais.

Gângsters privados de sua riqueza abandonam a lealdade ao líder. É por esse motivo que eu peço a expansão máxima e a imposição cuidadosa de sanções contra todos os políticos proeminentes, em maior ou menor medida, aliados de Putin, dos autodenominados empresários, de servidores civis e de autoridades de segurança. Privar milhares de figuras influentes de seus capitais e bens abrirá caminho para divisões internas — e em última instância para a queda do regime.

O extenso apoio à Ucrânia e seu Exército na luta contra a agressão injustificada de Putin tornou-se a escolha moral natural para os países ocidentais. Uma derrota militar de Putin na Ucrânia deverá levar seu governo à beira do colapso. Contudo, há casos na história em que a derrota não ocasiona a queda do ditador. A derrota de Saddam Hussein no Kuwait, por exemplo, não pôs fim ao seu governo; Hussein e sua gangue aterrorizaram a população do Iraque e dos países vizinhos por outra década. Para garantir que Putin não sobreviva a outras crises, incluindo as causadas por reveses militares na Ucrânia, é essencial apoiar as forças que continuam a resistir dentro da Rússia.

Não acreditem que todos na Rússia apoiam Putin e sua guerra. A Rússia está sob uma ditadura cruel. O número de presos políticos na Rússia é três vezes maior do que durante a luta do sistema soviético contra seus dissidentes. Direitos humanos estão sendo atropelados, não existe nenhuma liberdade de expressão ou protesto.

A polícia detém um homem que estava colocando flores em homenagem ao falecido Alexei Navalni no Memorial às Vítimas da Repressão Política em São Petersburgo, Rússia, na sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024.  Foto: AP

Mas mesmo nessas condições difíceis os russos encontram maneiras de se manifestar contra o regime repressivo. Qualquer oportunidade de expressar descontentamento legalmente torna-se um protesto massivo. Centenas de milhares de pessoas entraram em filas esperando registrar candidaturas de políticos que expressaram visões contrárias à guerra nas eleições presidenciais.

E o funeral do meu marido em Moscou também virou um protesto de vários dias. Apesar dos esforços das autoridades, milhares de pessoas visitaram seu túmulo e o cobriram de flores. As pessoas sabem que o regime persegue todos que ousam participar — e que podem ser punidas depois — mas mesmo assim apareceram, em Moscou e por toda a Rússia.

A conclamação mais recente do meu marido aos russos foi participar da campanha “Meio-dia contra Putin”. Ele pediu que todos os oponentes de Putin apareçam nos postos de votação às 12h do dia 17 de março, durante a eleição. O objetivo não é influenciar os resultados, que serão fraudados de qualquer maneira, nem apoiar algum fantoche de Putin que tenha podido concorrer. Alexei queria que esse protesto fosse uma manifestação nacional, enfatizando a ilegitimidade da eleição de Putin e a resistência da sociedade civil russa.

Conclamo os líderes políticos do Ocidente a ajudar os cidadãos russos que se levantam contra a gangue de Putin. Insisto para que vocês finalmente ouçam a voz da Rússia livre e adotem uma posição fundamentada em princípios — que não reconheçam os resultados das eleições fraudadas, não reconheçam Putin como líder legítimo da Rússia.

O mundo tem de perceber finalmente que Putin não é quem gostaria de dar a parecer. Putin é um usurpador, um tirano, um criminoso de guerra — e um assassino. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Iulia Navalnaia

Iulia Navalnaia é a viúva do líder opositor russo Alexei Navalni

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