Desde sua reeleição, a aprovação de Vladimir Putin vem caindo. A economia russa está estagnada, afetada pelas sanções internacionais e pela intervenção na Síria. Para melhorar sua imagem, Putin precisa de Donald Trump – e a Rússia dos EUA – mais do que Trump e os EUA necessitam dele.
Mas, da maneira como Trump lida com Putin, você nunca saberá disto. Em seu livro The Art of the Deal (“A arte do Acordo), Trump escreve que “a pior coisa que você pode fazer em um acordo é se mostrar desesperado para concluí-lo”. Mas, nas duas últimas semanas, ele fez exatamente isso. Insinuou a possibilidade de reconhecer a anexação da Crimeia pela Rússia, afirmou que “Putin é ótimo” e sugeriu negociar o fim dos exercícios militares da Otan no Báltico.
Os elogios, a crise criada por ele na Otan e a entrevista ao jornal The Sun, em que criticou a premiê Theresa May, sugerem que Trump está ansioso para cair nas graças de Putin. Na sexta-feira, o Departamento de Justiça indiciou 12 russos acusados de interferência na eleição de 2016, mas isto não arruinou o encontro. As medidas parecem mais um esforço para dar a falsa impressão de que Trump e está em posição de vantagem nas negociações com o russo.
No topo da lista de queixas do Kremlin está a expansão da Otan e o aumento da presença americana na Europa Oriental e Putin vê Trump como uma abertura para conseguir o que o afastou de outros presidentes americanos: a aceitação americana da influência russa sobre o chamado “Oriente Próximo”, incluindo as ex-repúblicas soviéticas. Moscou quer ainda passe livre para atuar na Síria, violar tratados nucleares e assassinar ex-espiões – como mostram os ataque com agente nervoso no Reino Unido.
O objetivo de Putin é o retorno à normalidade, que significa o fim das sanções e a retomada do diálogo sobre não proliferação nuclear. Putin quer que os EUA reduzam seu compromisso de defesa com a Europa, o que deixará o continente mais vulnerável à influência russa. Se ele convencer Trump de que deve abrandar sua posição, ficará mais próximo do seu objetivo.
Parece estranho pensar em alguém no poder há 18 anos, como Putin, preocupado com índices de aprovação. O Kremlin, porém, aprendeu que uma política externa agressiva proporciona ganhos em casa. Em 2014, a anexação da Crimeia aumentou a popularidade de Putin. Ele já tinha 84% de aprovação antes da intervenção da Rússia na Síria, em 2015, e obteve mais 4%.
Quando esses índices começam a cair, muitos na Europa se preocupam com a possibilidade de mais um ato de agressão em seguida.
Em vez de tentar somar pontos com Putin, Trump deveria entender que é o russo que necessita cair nas graças dele. A Rússia está numa posição fraca e Trump deve aproveitar. No mínimo, ele deve parar de enfraquecer a si mesmo. Sabemos que Putin sabe jogar esse jogo. Trump se considera um grande negociador e deve usar essa habilidade negando as concessões que Putin deseja.