Qual o arsenal do Irã e do Hezbollah e qual o poder de ataque do eixo contra Israel?


Um ataque coordenado poderia pressionar o sistema de defesa israelense, que enfrentaria grupo paramilitar mais armado do mundo e um país que, mesmo sancionado, é especialista em drones e mísseis

Por Isabel Gomes
Atualização:

O mundo observa com crescente apreensão a tensão no Oriente Médio, enquanto Israel se prepara para uma possível retaliação do Irã e de seus aliados, que poderia escalar para uma nova guerra na região. Teerã, firme em suas ameaças, declarou que não precisa de permissão para reagir contra seu inimigo, acusando Israel de ser responsável pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em território iraniano no mês passado.

Em abril, o Irã já realizou um ataque sem precedentes, lançando 170 drones carregados com bombas, mais de 30 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos em direção a Israel, como resposta a um ataque atribuído a Israel contra o consulado iraniano em Damasco.

Agora, a comunidade internacional teme um ataque de natureza similar, desta vez possivelmente contando com o envolvimento direto do Hezbollah, que por sua vez busca vingança pela morte de seu comandante sênior, Fuad Shukur. Somando-se a 10 meses de hostilidades e troca de disparos entre Israel e o Hezbollah na fronteira norte de Israel com o Líbano, o risco de uma escalada parece iminente.

continua após a publicidade

A diplomacia tem se mostrado insuficiente em evitar um confronto mais devastador a longo prazo, e especialistas alertam para a gravidade de um conflito em larga escala. Tal confronto seria potencialmente mais destrutivo do que a guerra anterior na Faixa de Gaza entre Israel e Hezbollah.

O líder do grupo libanês, Hassan Nasrallah, já advertiu que, se houver guerra, ela seria travada “sem restrições, sem regras, sem limites”, com ambos os lados prometendo infligir danos severos.

continua após a publicidade

Um ataque coordenado de grandes proporções poderia pressionar o sistema de defesa de Israel, que poderá ter que enfrentar ameaças simultâneas de diferentes tipos, vindas de diversas frentes, lidando com o grupo paramilitar mais armado do mundo e um país que mesmo sancionado é especialista em drones e mísseis.

“Quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, ele atacou com 5 a 7 mil foguetes para tentar sobrecarregar as defesas israelenses. O Hezbollah, em uma estimativa baixa, tem cerca de 100 mil (foguetes). Esse é, portanto, o grande receio de uma guerra entre Israel e Hezbollah. Dificilmente haverá defesa antiaérea suficiente”, explica o professor de Relações Internacionais da ESPM Gunther Rudzit.

Veja abaixo o poder militar do Hezbollah, do Irã e de Israel.

continua após a publicidade

Hezbollah

O Hezbollah é a força paramilitar mais fortemente armada de todo o mundo, tendo um arsenal considerável cujo principal fornecedor é o Irã. Analistas estimam que o Hezbollah tenha entre 130.000 e 150.000 foguetes e mísseis, mais de quatro vezes a quantidade estimada que Hamas tinha estocado antes da guerra em Gaza.

De acordo com um levantamento feio pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), o arsenal do grupo libanês é composto principalmente de pequenos foguetes de artilharia superfície-superfície portáteis e não guiados, a maioria com alcances relativamente curtos, como o Falaq 1, que tem um alcande de cerca de 10 quilômetros e foi o míssil usado no ataque a um campo de futebol no mês passado nas Colinas do Golan.

continua após a publicidade

O Hezbollah ainda possui uma grande quantidade de mísseis de longo alcance, incluindo o Zelzal-1 e o Zezal-2 (com alcance de 125-160 km e 210 km, respectivamente). Mísseis balísticos guiados maiores, como o Fateh-110, representam uma ameaça maior, com um alcance de até 300 quilômetros, potencialmente colocando Tel Aviv, e até mesmo Jerusalém, na mira.

Em novembro do ano passado, o chefe do grupo, Hasan Nasrallah revelou que o Hezbollah estava usando Burkan, um foguete de montagem e operação relativamente simples, com alcance máximo de 10 km e capacidade de transportar até 500 kg de material explosivo.

continua após a publicidade

Nasrallah também revelou em que o grupo estava usando foguetes Katyusha, que constituem a maioria da força de foguetes do Hezbollah. Essa é uma munição que foi usada por soldados da União Soviética durante a 2.ª Guerra e posteriormente copiada pelo Irã. Eles podem voar cerca de 20 quilômetros e, embora não sejam guiados, são considerados uma arma importante porque podem ser disparados em série e são baratos.

Em entrevistas dadas no passado, Nasrallah afirmou que o grupo tem 100 mil combatentes, embora estimativas de think thanks internacionais coloquem o número de suas tropas em menos da metade disso.

O Hezbollah também tem uma grande frota de drones. Entre eles, há o Shahed-136, um drone kamikaze de fabricação iraniana, que pode chegar a 185 quilômetros por hora e mede 3,5 m de comprimento e 2,5 m de largura. Segundo o Army Technology, ele pode transportar até 40 kg de ogivas e pode ser lançado de um caminhão militar ou comercial.

continua após a publicidade
Membro do Hezbollah ao lado de um drone armado durante um exercício de treinamento na vila de Aaramta, no distrito de Jezzine, sul do Líbano, em maio de 2023. Foto: AP Photo/Hassan Ammar, arquivo

O arsenal da milícia xiita, porém, não conta com sistemas de defesa aérea. Como consequência a população libanesa involuntariamente atua como escudo.

“A estratégia do Hezbollah é se instalar no meio da sociedade. O Hamas aprendeu isso com o Hezbollah. Eles colocam seus quartéis e postos embaixo de escolas, hospitais, para dificultar o ataque israelense, já que Israel não quer matar muitos civis. Isso também explica parte do motivo de tantas mortes em Gaza”, diz Rudzit.

Irã

O Irã possui o maior e mais diverso arsenal de mísseis do Oriente Médio, com milhares de mísseis balísticos e de cruzeiro, alguns capazes de atingir Israel e o sudeste da Europa. Estimativas reveladas pelos Estados Unidos em 2022 afirmam que o Irã tem mais de 3 mil mísseis de vários tipos, um número que se mostrou provável com o ataque de abril a Israel, no qual usou mais de 300 mísseis e drones.

“Mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e munições de ataque direto, como UAVs de ataque unidirecional (OWA-UAVs), constituem um pilar fundamental da estratégia de dissuasão do Irã, permitindo-lhe atingir a profundidade de um adversário na ausência de uma força aérea iraniana capaz de conduzir tais missões”, escreveu o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) em maio, em uma análise assinada pelos pesquisadores John Raine, Fabian Hinz, Nick Childs e Julia Voo.

Um dos mísseis mais conhecidos e mais antigos é o Shahab-3, que pode alcançar até 1,3 mil quilômetros e foi desenvolvido com base no míssil Nodong, da Coreia do Norte. Lançado em 2003, o Shahab-3 deu a base para o desenvolvimento dos mísseis Ghadr (alcance de 1.600 a 1.950 km) e Emad (1.700 km). Este último é o primeiro míssil iraniano que pode ser controlado e guiado até atingir seu alvo, o que aumenta significativamente sua precisão em comparação com o Shahab-3.

O arsenal iraniano ainda conta com o Paveh, um míssil de cruzeiro revelado em fevereiro de 2023, projetado para atingir alvos a uma distância de até 1.650 km.

O Irã também possui foguetes de curto alcance como o Fateh-110, com alcance entre 200 e 300 quilômetros, e o Zolfaghar, que pode atingir até 700 km. Ambos são conhecidos por sua precisão, com o Fateh-110 sendo amplamente utilizado em operações no Oriente Médio e o Zolfaghar sendo empregado em ataques contra o Estado Islâmico na Síria.

Além de mísseis e foguetes, o Irã também investiu significativamente no desenvolvimento de drones, que têm alcances de cerca de 1.900 a 2.500 quilômetros, destacando-se pela capacidade de voar baixo, escapando de radares militares.

Além do kamikaze Shahed-136, que também é usado pelo Hezbollah, outros drones importantes são o Mohajer-6, que possui alcance de até 200 km e é usado para missões de reconhecimento e ataques de precisão, e o Shahed-129, frequentemente comparado ao Predator dos Estados Unidos devido à sua função, de reconhecimento de longo alcance, e design.

A defesa aérea iraniana, segundo Rudzit, é sustentada principalmente pelas baterias antiaéreas russas S-300 e, mais recentemente, S-400, outrora tidas como o sistema de mísseis antiaéreos mais avançado do mundo. No entanto, a eficácia dessas baterias tem sido questionada após sucessivos ataques na Crimeia e no leste da Ucrânia, onde mísseis ocidentais têm conseguido neutralizar tais sistemas, colocando em dúvida a capacidade de resistência e eficiência desse aparato defensivo.

“Na resposta que Israel deu ao ataque iraniano, eles atingiram uma dessas baterias no meio do Irã, que protegia uma instalação nuclear. O míssil israelense voou metade do território iraniano, não foi detectado e destruiu a bateria”, relembra o especialista. “Esse ataque mostrou que esses sistemas russos têm falhas e que Israel tem capacidade de penetrar profundamente no território iraniano.”

Publicamente, o Irã não admite que possui armas nucleares, mas atividades de enriquecimento de urânio no país têm sido frequentemente relatadas pela imprensa internacional. Em fevereiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou em um relatório que o Irã tem material suficiente para fabricar diversas bombas atômicas.

Segundo um relatório publicada pelo IISS em 2023, o exércico iraniano é um dos maiores do Oriente Médio, com pelo menos 580.000 militares da ativa e cerca de 200.000 reservistas treinados,

Israel

Israel é um dos países mais bem armados do Oriente Médio. Seu arsenal conta com uma variedade de mísseis, sistemas de defesa aérea, veículos aéreos não tripulados, e, de acordo com relatórios não feitos por institutos americanos, um arsenal nuclear significativo.

A maior parte das forças de mísseis de Israel, que é um dos arsenais mais modernos do Oriente Médio, consiste em sistemas táticos de menor alcance, mas há mísseis balísticos de longo alcance representados pela série Jericho. O Jericho III, por exemplo, é um dos mais poderosos e pode chegar a um alcance entre 4.800 e 6.500 quilômetros, cerregando ogivas nucleares, o que lhe confere uma capacidade de dissuasão estratégica crucial.

No campo dos sistemas de defesa aérea, Israel é mundialmente conhecido pelo Iron Dome, ou Domo de Ferro em português. Este sistema, desenvolvido pelos Estados Unidos, é projetado para interceptar e destruir mísseis e foguetes de curto alcance, com uma taxa de interceptação superior a 90%. Além disso, Israel opera o David’s Sling, que cobre uma faixa de mísseis de médio alcance, e o Arrow (Hets), que é projetado para interceptar mísseis balísticos em altitudes mais elevadas e a longas distâncias. O país possui também 39 caças stealth F-35, o quinto maior inventário do mundo.

Rudzit descreve a tecnologia do Domo de Ferro como “extremamente avançada e continuamente melhorada”, o que dá a Israel uma capacidade muito superior de defesa e ataque, especialmente em relação aos mísseis. Mesmo assim, o sistema pode ser colocado à prova, caso Irã e Hezbollah apostem em uma ataque volumoso com o objetivo de sobrecarregar a defesa israelense.

“Mesmo com essas duas categorias (Domo de Ferro e David), dependendo da quantidade, eles não serão capazes de destruir tudo, especialmente pela precisão maior dos mísseis que o Hezbollah recebeu do Irã”, afirma Rudzit.

Foguetes disparados do sul do Líbano são interceptados pelo sistema de defesa aérea Iron Dome (Domo de Ferro) de Israel sobre a região da Alta Galileia, no norte de Israel, em 9 de agosto de 2024. Foto: Jalaa Marey/AFP

Dúvidas sobre a capacidade de defesa de Israel em um ataque volumoso também foram destacadas na análise feita pelo IISS em maio.

”Embora uma variedade de sistemas possa ser usada para se defender contra OWA-UAVs e mísseis de cruzeiro, a defesa contra mísseis balísticos de médio alcance requer interceptadores especializados cujos estoques não poderiam ser facilmente reabastecidos uma vez esgotados, e o número de mísseis Arrow 2 e 3 no arsenal israelense permanece desconhecido”, escreveram os especialistas.

Em termos de VANTs, Israel é pioneiro e líder mundial no desenvolvimento de drones militares. O Heron TP, por exemplo, é um drone de alta altitude e longa duração que pode ser utilizado tanto para missões de vigilância quanto para ataques, tendo uma autonomia de mais de 30 horas e alcance intercontinental.

Acredita-se amplamente que Israel possui um arsenal nuclear, embora o país mantenha uma política de ambiguidade estratégica e nunca tenha confirmado oficialmente. Estima-se que Israel possua entre 80 e 100 ogivas nucleares, o que adiciona uma camada significativa de dissuasão contra ataques existenciais.

Israel tem cerca de 170 mil soldados normalmente em serviço ativo e convocou aproximadamente 360 mil reservistas para a guerra — três quartos da sua capacidade estimada, segundo o IISS./Com informações de Associated Press e Washington Post.

O mundo observa com crescente apreensão a tensão no Oriente Médio, enquanto Israel se prepara para uma possível retaliação do Irã e de seus aliados, que poderia escalar para uma nova guerra na região. Teerã, firme em suas ameaças, declarou que não precisa de permissão para reagir contra seu inimigo, acusando Israel de ser responsável pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em território iraniano no mês passado.

Em abril, o Irã já realizou um ataque sem precedentes, lançando 170 drones carregados com bombas, mais de 30 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos em direção a Israel, como resposta a um ataque atribuído a Israel contra o consulado iraniano em Damasco.

Agora, a comunidade internacional teme um ataque de natureza similar, desta vez possivelmente contando com o envolvimento direto do Hezbollah, que por sua vez busca vingança pela morte de seu comandante sênior, Fuad Shukur. Somando-se a 10 meses de hostilidades e troca de disparos entre Israel e o Hezbollah na fronteira norte de Israel com o Líbano, o risco de uma escalada parece iminente.

A diplomacia tem se mostrado insuficiente em evitar um confronto mais devastador a longo prazo, e especialistas alertam para a gravidade de um conflito em larga escala. Tal confronto seria potencialmente mais destrutivo do que a guerra anterior na Faixa de Gaza entre Israel e Hezbollah.

O líder do grupo libanês, Hassan Nasrallah, já advertiu que, se houver guerra, ela seria travada “sem restrições, sem regras, sem limites”, com ambos os lados prometendo infligir danos severos.

Um ataque coordenado de grandes proporções poderia pressionar o sistema de defesa de Israel, que poderá ter que enfrentar ameaças simultâneas de diferentes tipos, vindas de diversas frentes, lidando com o grupo paramilitar mais armado do mundo e um país que mesmo sancionado é especialista em drones e mísseis.

“Quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, ele atacou com 5 a 7 mil foguetes para tentar sobrecarregar as defesas israelenses. O Hezbollah, em uma estimativa baixa, tem cerca de 100 mil (foguetes). Esse é, portanto, o grande receio de uma guerra entre Israel e Hezbollah. Dificilmente haverá defesa antiaérea suficiente”, explica o professor de Relações Internacionais da ESPM Gunther Rudzit.

Veja abaixo o poder militar do Hezbollah, do Irã e de Israel.

Hezbollah

O Hezbollah é a força paramilitar mais fortemente armada de todo o mundo, tendo um arsenal considerável cujo principal fornecedor é o Irã. Analistas estimam que o Hezbollah tenha entre 130.000 e 150.000 foguetes e mísseis, mais de quatro vezes a quantidade estimada que Hamas tinha estocado antes da guerra em Gaza.

De acordo com um levantamento feio pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), o arsenal do grupo libanês é composto principalmente de pequenos foguetes de artilharia superfície-superfície portáteis e não guiados, a maioria com alcances relativamente curtos, como o Falaq 1, que tem um alcande de cerca de 10 quilômetros e foi o míssil usado no ataque a um campo de futebol no mês passado nas Colinas do Golan.

O Hezbollah ainda possui uma grande quantidade de mísseis de longo alcance, incluindo o Zelzal-1 e o Zezal-2 (com alcance de 125-160 km e 210 km, respectivamente). Mísseis balísticos guiados maiores, como o Fateh-110, representam uma ameaça maior, com um alcance de até 300 quilômetros, potencialmente colocando Tel Aviv, e até mesmo Jerusalém, na mira.

Em novembro do ano passado, o chefe do grupo, Hasan Nasrallah revelou que o Hezbollah estava usando Burkan, um foguete de montagem e operação relativamente simples, com alcance máximo de 10 km e capacidade de transportar até 500 kg de material explosivo.

Nasrallah também revelou em que o grupo estava usando foguetes Katyusha, que constituem a maioria da força de foguetes do Hezbollah. Essa é uma munição que foi usada por soldados da União Soviética durante a 2.ª Guerra e posteriormente copiada pelo Irã. Eles podem voar cerca de 20 quilômetros e, embora não sejam guiados, são considerados uma arma importante porque podem ser disparados em série e são baratos.

Em entrevistas dadas no passado, Nasrallah afirmou que o grupo tem 100 mil combatentes, embora estimativas de think thanks internacionais coloquem o número de suas tropas em menos da metade disso.

O Hezbollah também tem uma grande frota de drones. Entre eles, há o Shahed-136, um drone kamikaze de fabricação iraniana, que pode chegar a 185 quilômetros por hora e mede 3,5 m de comprimento e 2,5 m de largura. Segundo o Army Technology, ele pode transportar até 40 kg de ogivas e pode ser lançado de um caminhão militar ou comercial.

Membro do Hezbollah ao lado de um drone armado durante um exercício de treinamento na vila de Aaramta, no distrito de Jezzine, sul do Líbano, em maio de 2023. Foto: AP Photo/Hassan Ammar, arquivo

O arsenal da milícia xiita, porém, não conta com sistemas de defesa aérea. Como consequência a população libanesa involuntariamente atua como escudo.

“A estratégia do Hezbollah é se instalar no meio da sociedade. O Hamas aprendeu isso com o Hezbollah. Eles colocam seus quartéis e postos embaixo de escolas, hospitais, para dificultar o ataque israelense, já que Israel não quer matar muitos civis. Isso também explica parte do motivo de tantas mortes em Gaza”, diz Rudzit.

Irã

O Irã possui o maior e mais diverso arsenal de mísseis do Oriente Médio, com milhares de mísseis balísticos e de cruzeiro, alguns capazes de atingir Israel e o sudeste da Europa. Estimativas reveladas pelos Estados Unidos em 2022 afirmam que o Irã tem mais de 3 mil mísseis de vários tipos, um número que se mostrou provável com o ataque de abril a Israel, no qual usou mais de 300 mísseis e drones.

“Mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e munições de ataque direto, como UAVs de ataque unidirecional (OWA-UAVs), constituem um pilar fundamental da estratégia de dissuasão do Irã, permitindo-lhe atingir a profundidade de um adversário na ausência de uma força aérea iraniana capaz de conduzir tais missões”, escreveu o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) em maio, em uma análise assinada pelos pesquisadores John Raine, Fabian Hinz, Nick Childs e Julia Voo.

Um dos mísseis mais conhecidos e mais antigos é o Shahab-3, que pode alcançar até 1,3 mil quilômetros e foi desenvolvido com base no míssil Nodong, da Coreia do Norte. Lançado em 2003, o Shahab-3 deu a base para o desenvolvimento dos mísseis Ghadr (alcance de 1.600 a 1.950 km) e Emad (1.700 km). Este último é o primeiro míssil iraniano que pode ser controlado e guiado até atingir seu alvo, o que aumenta significativamente sua precisão em comparação com o Shahab-3.

O arsenal iraniano ainda conta com o Paveh, um míssil de cruzeiro revelado em fevereiro de 2023, projetado para atingir alvos a uma distância de até 1.650 km.

O Irã também possui foguetes de curto alcance como o Fateh-110, com alcance entre 200 e 300 quilômetros, e o Zolfaghar, que pode atingir até 700 km. Ambos são conhecidos por sua precisão, com o Fateh-110 sendo amplamente utilizado em operações no Oriente Médio e o Zolfaghar sendo empregado em ataques contra o Estado Islâmico na Síria.

Além de mísseis e foguetes, o Irã também investiu significativamente no desenvolvimento de drones, que têm alcances de cerca de 1.900 a 2.500 quilômetros, destacando-se pela capacidade de voar baixo, escapando de radares militares.

Além do kamikaze Shahed-136, que também é usado pelo Hezbollah, outros drones importantes são o Mohajer-6, que possui alcance de até 200 km e é usado para missões de reconhecimento e ataques de precisão, e o Shahed-129, frequentemente comparado ao Predator dos Estados Unidos devido à sua função, de reconhecimento de longo alcance, e design.

A defesa aérea iraniana, segundo Rudzit, é sustentada principalmente pelas baterias antiaéreas russas S-300 e, mais recentemente, S-400, outrora tidas como o sistema de mísseis antiaéreos mais avançado do mundo. No entanto, a eficácia dessas baterias tem sido questionada após sucessivos ataques na Crimeia e no leste da Ucrânia, onde mísseis ocidentais têm conseguido neutralizar tais sistemas, colocando em dúvida a capacidade de resistência e eficiência desse aparato defensivo.

“Na resposta que Israel deu ao ataque iraniano, eles atingiram uma dessas baterias no meio do Irã, que protegia uma instalação nuclear. O míssil israelense voou metade do território iraniano, não foi detectado e destruiu a bateria”, relembra o especialista. “Esse ataque mostrou que esses sistemas russos têm falhas e que Israel tem capacidade de penetrar profundamente no território iraniano.”

Publicamente, o Irã não admite que possui armas nucleares, mas atividades de enriquecimento de urânio no país têm sido frequentemente relatadas pela imprensa internacional. Em fevereiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou em um relatório que o Irã tem material suficiente para fabricar diversas bombas atômicas.

Segundo um relatório publicada pelo IISS em 2023, o exércico iraniano é um dos maiores do Oriente Médio, com pelo menos 580.000 militares da ativa e cerca de 200.000 reservistas treinados,

Israel

Israel é um dos países mais bem armados do Oriente Médio. Seu arsenal conta com uma variedade de mísseis, sistemas de defesa aérea, veículos aéreos não tripulados, e, de acordo com relatórios não feitos por institutos americanos, um arsenal nuclear significativo.

A maior parte das forças de mísseis de Israel, que é um dos arsenais mais modernos do Oriente Médio, consiste em sistemas táticos de menor alcance, mas há mísseis balísticos de longo alcance representados pela série Jericho. O Jericho III, por exemplo, é um dos mais poderosos e pode chegar a um alcance entre 4.800 e 6.500 quilômetros, cerregando ogivas nucleares, o que lhe confere uma capacidade de dissuasão estratégica crucial.

No campo dos sistemas de defesa aérea, Israel é mundialmente conhecido pelo Iron Dome, ou Domo de Ferro em português. Este sistema, desenvolvido pelos Estados Unidos, é projetado para interceptar e destruir mísseis e foguetes de curto alcance, com uma taxa de interceptação superior a 90%. Além disso, Israel opera o David’s Sling, que cobre uma faixa de mísseis de médio alcance, e o Arrow (Hets), que é projetado para interceptar mísseis balísticos em altitudes mais elevadas e a longas distâncias. O país possui também 39 caças stealth F-35, o quinto maior inventário do mundo.

Rudzit descreve a tecnologia do Domo de Ferro como “extremamente avançada e continuamente melhorada”, o que dá a Israel uma capacidade muito superior de defesa e ataque, especialmente em relação aos mísseis. Mesmo assim, o sistema pode ser colocado à prova, caso Irã e Hezbollah apostem em uma ataque volumoso com o objetivo de sobrecarregar a defesa israelense.

“Mesmo com essas duas categorias (Domo de Ferro e David), dependendo da quantidade, eles não serão capazes de destruir tudo, especialmente pela precisão maior dos mísseis que o Hezbollah recebeu do Irã”, afirma Rudzit.

Foguetes disparados do sul do Líbano são interceptados pelo sistema de defesa aérea Iron Dome (Domo de Ferro) de Israel sobre a região da Alta Galileia, no norte de Israel, em 9 de agosto de 2024. Foto: Jalaa Marey/AFP

Dúvidas sobre a capacidade de defesa de Israel em um ataque volumoso também foram destacadas na análise feita pelo IISS em maio.

”Embora uma variedade de sistemas possa ser usada para se defender contra OWA-UAVs e mísseis de cruzeiro, a defesa contra mísseis balísticos de médio alcance requer interceptadores especializados cujos estoques não poderiam ser facilmente reabastecidos uma vez esgotados, e o número de mísseis Arrow 2 e 3 no arsenal israelense permanece desconhecido”, escreveram os especialistas.

Em termos de VANTs, Israel é pioneiro e líder mundial no desenvolvimento de drones militares. O Heron TP, por exemplo, é um drone de alta altitude e longa duração que pode ser utilizado tanto para missões de vigilância quanto para ataques, tendo uma autonomia de mais de 30 horas e alcance intercontinental.

Acredita-se amplamente que Israel possui um arsenal nuclear, embora o país mantenha uma política de ambiguidade estratégica e nunca tenha confirmado oficialmente. Estima-se que Israel possua entre 80 e 100 ogivas nucleares, o que adiciona uma camada significativa de dissuasão contra ataques existenciais.

Israel tem cerca de 170 mil soldados normalmente em serviço ativo e convocou aproximadamente 360 mil reservistas para a guerra — três quartos da sua capacidade estimada, segundo o IISS./Com informações de Associated Press e Washington Post.

O mundo observa com crescente apreensão a tensão no Oriente Médio, enquanto Israel se prepara para uma possível retaliação do Irã e de seus aliados, que poderia escalar para uma nova guerra na região. Teerã, firme em suas ameaças, declarou que não precisa de permissão para reagir contra seu inimigo, acusando Israel de ser responsável pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em território iraniano no mês passado.

Em abril, o Irã já realizou um ataque sem precedentes, lançando 170 drones carregados com bombas, mais de 30 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos em direção a Israel, como resposta a um ataque atribuído a Israel contra o consulado iraniano em Damasco.

Agora, a comunidade internacional teme um ataque de natureza similar, desta vez possivelmente contando com o envolvimento direto do Hezbollah, que por sua vez busca vingança pela morte de seu comandante sênior, Fuad Shukur. Somando-se a 10 meses de hostilidades e troca de disparos entre Israel e o Hezbollah na fronteira norte de Israel com o Líbano, o risco de uma escalada parece iminente.

A diplomacia tem se mostrado insuficiente em evitar um confronto mais devastador a longo prazo, e especialistas alertam para a gravidade de um conflito em larga escala. Tal confronto seria potencialmente mais destrutivo do que a guerra anterior na Faixa de Gaza entre Israel e Hezbollah.

O líder do grupo libanês, Hassan Nasrallah, já advertiu que, se houver guerra, ela seria travada “sem restrições, sem regras, sem limites”, com ambos os lados prometendo infligir danos severos.

Um ataque coordenado de grandes proporções poderia pressionar o sistema de defesa de Israel, que poderá ter que enfrentar ameaças simultâneas de diferentes tipos, vindas de diversas frentes, lidando com o grupo paramilitar mais armado do mundo e um país que mesmo sancionado é especialista em drones e mísseis.

“Quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, ele atacou com 5 a 7 mil foguetes para tentar sobrecarregar as defesas israelenses. O Hezbollah, em uma estimativa baixa, tem cerca de 100 mil (foguetes). Esse é, portanto, o grande receio de uma guerra entre Israel e Hezbollah. Dificilmente haverá defesa antiaérea suficiente”, explica o professor de Relações Internacionais da ESPM Gunther Rudzit.

Veja abaixo o poder militar do Hezbollah, do Irã e de Israel.

Hezbollah

O Hezbollah é a força paramilitar mais fortemente armada de todo o mundo, tendo um arsenal considerável cujo principal fornecedor é o Irã. Analistas estimam que o Hezbollah tenha entre 130.000 e 150.000 foguetes e mísseis, mais de quatro vezes a quantidade estimada que Hamas tinha estocado antes da guerra em Gaza.

De acordo com um levantamento feio pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), o arsenal do grupo libanês é composto principalmente de pequenos foguetes de artilharia superfície-superfície portáteis e não guiados, a maioria com alcances relativamente curtos, como o Falaq 1, que tem um alcande de cerca de 10 quilômetros e foi o míssil usado no ataque a um campo de futebol no mês passado nas Colinas do Golan.

O Hezbollah ainda possui uma grande quantidade de mísseis de longo alcance, incluindo o Zelzal-1 e o Zezal-2 (com alcance de 125-160 km e 210 km, respectivamente). Mísseis balísticos guiados maiores, como o Fateh-110, representam uma ameaça maior, com um alcance de até 300 quilômetros, potencialmente colocando Tel Aviv, e até mesmo Jerusalém, na mira.

Em novembro do ano passado, o chefe do grupo, Hasan Nasrallah revelou que o Hezbollah estava usando Burkan, um foguete de montagem e operação relativamente simples, com alcance máximo de 10 km e capacidade de transportar até 500 kg de material explosivo.

Nasrallah também revelou em que o grupo estava usando foguetes Katyusha, que constituem a maioria da força de foguetes do Hezbollah. Essa é uma munição que foi usada por soldados da União Soviética durante a 2.ª Guerra e posteriormente copiada pelo Irã. Eles podem voar cerca de 20 quilômetros e, embora não sejam guiados, são considerados uma arma importante porque podem ser disparados em série e são baratos.

Em entrevistas dadas no passado, Nasrallah afirmou que o grupo tem 100 mil combatentes, embora estimativas de think thanks internacionais coloquem o número de suas tropas em menos da metade disso.

O Hezbollah também tem uma grande frota de drones. Entre eles, há o Shahed-136, um drone kamikaze de fabricação iraniana, que pode chegar a 185 quilômetros por hora e mede 3,5 m de comprimento e 2,5 m de largura. Segundo o Army Technology, ele pode transportar até 40 kg de ogivas e pode ser lançado de um caminhão militar ou comercial.

Membro do Hezbollah ao lado de um drone armado durante um exercício de treinamento na vila de Aaramta, no distrito de Jezzine, sul do Líbano, em maio de 2023. Foto: AP Photo/Hassan Ammar, arquivo

O arsenal da milícia xiita, porém, não conta com sistemas de defesa aérea. Como consequência a população libanesa involuntariamente atua como escudo.

“A estratégia do Hezbollah é se instalar no meio da sociedade. O Hamas aprendeu isso com o Hezbollah. Eles colocam seus quartéis e postos embaixo de escolas, hospitais, para dificultar o ataque israelense, já que Israel não quer matar muitos civis. Isso também explica parte do motivo de tantas mortes em Gaza”, diz Rudzit.

Irã

O Irã possui o maior e mais diverso arsenal de mísseis do Oriente Médio, com milhares de mísseis balísticos e de cruzeiro, alguns capazes de atingir Israel e o sudeste da Europa. Estimativas reveladas pelos Estados Unidos em 2022 afirmam que o Irã tem mais de 3 mil mísseis de vários tipos, um número que se mostrou provável com o ataque de abril a Israel, no qual usou mais de 300 mísseis e drones.

“Mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e munições de ataque direto, como UAVs de ataque unidirecional (OWA-UAVs), constituem um pilar fundamental da estratégia de dissuasão do Irã, permitindo-lhe atingir a profundidade de um adversário na ausência de uma força aérea iraniana capaz de conduzir tais missões”, escreveu o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) em maio, em uma análise assinada pelos pesquisadores John Raine, Fabian Hinz, Nick Childs e Julia Voo.

Um dos mísseis mais conhecidos e mais antigos é o Shahab-3, que pode alcançar até 1,3 mil quilômetros e foi desenvolvido com base no míssil Nodong, da Coreia do Norte. Lançado em 2003, o Shahab-3 deu a base para o desenvolvimento dos mísseis Ghadr (alcance de 1.600 a 1.950 km) e Emad (1.700 km). Este último é o primeiro míssil iraniano que pode ser controlado e guiado até atingir seu alvo, o que aumenta significativamente sua precisão em comparação com o Shahab-3.

O arsenal iraniano ainda conta com o Paveh, um míssil de cruzeiro revelado em fevereiro de 2023, projetado para atingir alvos a uma distância de até 1.650 km.

O Irã também possui foguetes de curto alcance como o Fateh-110, com alcance entre 200 e 300 quilômetros, e o Zolfaghar, que pode atingir até 700 km. Ambos são conhecidos por sua precisão, com o Fateh-110 sendo amplamente utilizado em operações no Oriente Médio e o Zolfaghar sendo empregado em ataques contra o Estado Islâmico na Síria.

Além de mísseis e foguetes, o Irã também investiu significativamente no desenvolvimento de drones, que têm alcances de cerca de 1.900 a 2.500 quilômetros, destacando-se pela capacidade de voar baixo, escapando de radares militares.

Além do kamikaze Shahed-136, que também é usado pelo Hezbollah, outros drones importantes são o Mohajer-6, que possui alcance de até 200 km e é usado para missões de reconhecimento e ataques de precisão, e o Shahed-129, frequentemente comparado ao Predator dos Estados Unidos devido à sua função, de reconhecimento de longo alcance, e design.

A defesa aérea iraniana, segundo Rudzit, é sustentada principalmente pelas baterias antiaéreas russas S-300 e, mais recentemente, S-400, outrora tidas como o sistema de mísseis antiaéreos mais avançado do mundo. No entanto, a eficácia dessas baterias tem sido questionada após sucessivos ataques na Crimeia e no leste da Ucrânia, onde mísseis ocidentais têm conseguido neutralizar tais sistemas, colocando em dúvida a capacidade de resistência e eficiência desse aparato defensivo.

“Na resposta que Israel deu ao ataque iraniano, eles atingiram uma dessas baterias no meio do Irã, que protegia uma instalação nuclear. O míssil israelense voou metade do território iraniano, não foi detectado e destruiu a bateria”, relembra o especialista. “Esse ataque mostrou que esses sistemas russos têm falhas e que Israel tem capacidade de penetrar profundamente no território iraniano.”

Publicamente, o Irã não admite que possui armas nucleares, mas atividades de enriquecimento de urânio no país têm sido frequentemente relatadas pela imprensa internacional. Em fevereiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou em um relatório que o Irã tem material suficiente para fabricar diversas bombas atômicas.

Segundo um relatório publicada pelo IISS em 2023, o exércico iraniano é um dos maiores do Oriente Médio, com pelo menos 580.000 militares da ativa e cerca de 200.000 reservistas treinados,

Israel

Israel é um dos países mais bem armados do Oriente Médio. Seu arsenal conta com uma variedade de mísseis, sistemas de defesa aérea, veículos aéreos não tripulados, e, de acordo com relatórios não feitos por institutos americanos, um arsenal nuclear significativo.

A maior parte das forças de mísseis de Israel, que é um dos arsenais mais modernos do Oriente Médio, consiste em sistemas táticos de menor alcance, mas há mísseis balísticos de longo alcance representados pela série Jericho. O Jericho III, por exemplo, é um dos mais poderosos e pode chegar a um alcance entre 4.800 e 6.500 quilômetros, cerregando ogivas nucleares, o que lhe confere uma capacidade de dissuasão estratégica crucial.

No campo dos sistemas de defesa aérea, Israel é mundialmente conhecido pelo Iron Dome, ou Domo de Ferro em português. Este sistema, desenvolvido pelos Estados Unidos, é projetado para interceptar e destruir mísseis e foguetes de curto alcance, com uma taxa de interceptação superior a 90%. Além disso, Israel opera o David’s Sling, que cobre uma faixa de mísseis de médio alcance, e o Arrow (Hets), que é projetado para interceptar mísseis balísticos em altitudes mais elevadas e a longas distâncias. O país possui também 39 caças stealth F-35, o quinto maior inventário do mundo.

Rudzit descreve a tecnologia do Domo de Ferro como “extremamente avançada e continuamente melhorada”, o que dá a Israel uma capacidade muito superior de defesa e ataque, especialmente em relação aos mísseis. Mesmo assim, o sistema pode ser colocado à prova, caso Irã e Hezbollah apostem em uma ataque volumoso com o objetivo de sobrecarregar a defesa israelense.

“Mesmo com essas duas categorias (Domo de Ferro e David), dependendo da quantidade, eles não serão capazes de destruir tudo, especialmente pela precisão maior dos mísseis que o Hezbollah recebeu do Irã”, afirma Rudzit.

Foguetes disparados do sul do Líbano são interceptados pelo sistema de defesa aérea Iron Dome (Domo de Ferro) de Israel sobre a região da Alta Galileia, no norte de Israel, em 9 de agosto de 2024. Foto: Jalaa Marey/AFP

Dúvidas sobre a capacidade de defesa de Israel em um ataque volumoso também foram destacadas na análise feita pelo IISS em maio.

”Embora uma variedade de sistemas possa ser usada para se defender contra OWA-UAVs e mísseis de cruzeiro, a defesa contra mísseis balísticos de médio alcance requer interceptadores especializados cujos estoques não poderiam ser facilmente reabastecidos uma vez esgotados, e o número de mísseis Arrow 2 e 3 no arsenal israelense permanece desconhecido”, escreveram os especialistas.

Em termos de VANTs, Israel é pioneiro e líder mundial no desenvolvimento de drones militares. O Heron TP, por exemplo, é um drone de alta altitude e longa duração que pode ser utilizado tanto para missões de vigilância quanto para ataques, tendo uma autonomia de mais de 30 horas e alcance intercontinental.

Acredita-se amplamente que Israel possui um arsenal nuclear, embora o país mantenha uma política de ambiguidade estratégica e nunca tenha confirmado oficialmente. Estima-se que Israel possua entre 80 e 100 ogivas nucleares, o que adiciona uma camada significativa de dissuasão contra ataques existenciais.

Israel tem cerca de 170 mil soldados normalmente em serviço ativo e convocou aproximadamente 360 mil reservistas para a guerra — três quartos da sua capacidade estimada, segundo o IISS./Com informações de Associated Press e Washington Post.

O mundo observa com crescente apreensão a tensão no Oriente Médio, enquanto Israel se prepara para uma possível retaliação do Irã e de seus aliados, que poderia escalar para uma nova guerra na região. Teerã, firme em suas ameaças, declarou que não precisa de permissão para reagir contra seu inimigo, acusando Israel de ser responsável pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em território iraniano no mês passado.

Em abril, o Irã já realizou um ataque sem precedentes, lançando 170 drones carregados com bombas, mais de 30 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos em direção a Israel, como resposta a um ataque atribuído a Israel contra o consulado iraniano em Damasco.

Agora, a comunidade internacional teme um ataque de natureza similar, desta vez possivelmente contando com o envolvimento direto do Hezbollah, que por sua vez busca vingança pela morte de seu comandante sênior, Fuad Shukur. Somando-se a 10 meses de hostilidades e troca de disparos entre Israel e o Hezbollah na fronteira norte de Israel com o Líbano, o risco de uma escalada parece iminente.

A diplomacia tem se mostrado insuficiente em evitar um confronto mais devastador a longo prazo, e especialistas alertam para a gravidade de um conflito em larga escala. Tal confronto seria potencialmente mais destrutivo do que a guerra anterior na Faixa de Gaza entre Israel e Hezbollah.

O líder do grupo libanês, Hassan Nasrallah, já advertiu que, se houver guerra, ela seria travada “sem restrições, sem regras, sem limites”, com ambos os lados prometendo infligir danos severos.

Um ataque coordenado de grandes proporções poderia pressionar o sistema de defesa de Israel, que poderá ter que enfrentar ameaças simultâneas de diferentes tipos, vindas de diversas frentes, lidando com o grupo paramilitar mais armado do mundo e um país que mesmo sancionado é especialista em drones e mísseis.

“Quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, ele atacou com 5 a 7 mil foguetes para tentar sobrecarregar as defesas israelenses. O Hezbollah, em uma estimativa baixa, tem cerca de 100 mil (foguetes). Esse é, portanto, o grande receio de uma guerra entre Israel e Hezbollah. Dificilmente haverá defesa antiaérea suficiente”, explica o professor de Relações Internacionais da ESPM Gunther Rudzit.

Veja abaixo o poder militar do Hezbollah, do Irã e de Israel.

Hezbollah

O Hezbollah é a força paramilitar mais fortemente armada de todo o mundo, tendo um arsenal considerável cujo principal fornecedor é o Irã. Analistas estimam que o Hezbollah tenha entre 130.000 e 150.000 foguetes e mísseis, mais de quatro vezes a quantidade estimada que Hamas tinha estocado antes da guerra em Gaza.

De acordo com um levantamento feio pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), o arsenal do grupo libanês é composto principalmente de pequenos foguetes de artilharia superfície-superfície portáteis e não guiados, a maioria com alcances relativamente curtos, como o Falaq 1, que tem um alcande de cerca de 10 quilômetros e foi o míssil usado no ataque a um campo de futebol no mês passado nas Colinas do Golan.

O Hezbollah ainda possui uma grande quantidade de mísseis de longo alcance, incluindo o Zelzal-1 e o Zezal-2 (com alcance de 125-160 km e 210 km, respectivamente). Mísseis balísticos guiados maiores, como o Fateh-110, representam uma ameaça maior, com um alcance de até 300 quilômetros, potencialmente colocando Tel Aviv, e até mesmo Jerusalém, na mira.

Em novembro do ano passado, o chefe do grupo, Hasan Nasrallah revelou que o Hezbollah estava usando Burkan, um foguete de montagem e operação relativamente simples, com alcance máximo de 10 km e capacidade de transportar até 500 kg de material explosivo.

Nasrallah também revelou em que o grupo estava usando foguetes Katyusha, que constituem a maioria da força de foguetes do Hezbollah. Essa é uma munição que foi usada por soldados da União Soviética durante a 2.ª Guerra e posteriormente copiada pelo Irã. Eles podem voar cerca de 20 quilômetros e, embora não sejam guiados, são considerados uma arma importante porque podem ser disparados em série e são baratos.

Em entrevistas dadas no passado, Nasrallah afirmou que o grupo tem 100 mil combatentes, embora estimativas de think thanks internacionais coloquem o número de suas tropas em menos da metade disso.

O Hezbollah também tem uma grande frota de drones. Entre eles, há o Shahed-136, um drone kamikaze de fabricação iraniana, que pode chegar a 185 quilômetros por hora e mede 3,5 m de comprimento e 2,5 m de largura. Segundo o Army Technology, ele pode transportar até 40 kg de ogivas e pode ser lançado de um caminhão militar ou comercial.

Membro do Hezbollah ao lado de um drone armado durante um exercício de treinamento na vila de Aaramta, no distrito de Jezzine, sul do Líbano, em maio de 2023. Foto: AP Photo/Hassan Ammar, arquivo

O arsenal da milícia xiita, porém, não conta com sistemas de defesa aérea. Como consequência a população libanesa involuntariamente atua como escudo.

“A estratégia do Hezbollah é se instalar no meio da sociedade. O Hamas aprendeu isso com o Hezbollah. Eles colocam seus quartéis e postos embaixo de escolas, hospitais, para dificultar o ataque israelense, já que Israel não quer matar muitos civis. Isso também explica parte do motivo de tantas mortes em Gaza”, diz Rudzit.

Irã

O Irã possui o maior e mais diverso arsenal de mísseis do Oriente Médio, com milhares de mísseis balísticos e de cruzeiro, alguns capazes de atingir Israel e o sudeste da Europa. Estimativas reveladas pelos Estados Unidos em 2022 afirmam que o Irã tem mais de 3 mil mísseis de vários tipos, um número que se mostrou provável com o ataque de abril a Israel, no qual usou mais de 300 mísseis e drones.

“Mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e munições de ataque direto, como UAVs de ataque unidirecional (OWA-UAVs), constituem um pilar fundamental da estratégia de dissuasão do Irã, permitindo-lhe atingir a profundidade de um adversário na ausência de uma força aérea iraniana capaz de conduzir tais missões”, escreveu o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) em maio, em uma análise assinada pelos pesquisadores John Raine, Fabian Hinz, Nick Childs e Julia Voo.

Um dos mísseis mais conhecidos e mais antigos é o Shahab-3, que pode alcançar até 1,3 mil quilômetros e foi desenvolvido com base no míssil Nodong, da Coreia do Norte. Lançado em 2003, o Shahab-3 deu a base para o desenvolvimento dos mísseis Ghadr (alcance de 1.600 a 1.950 km) e Emad (1.700 km). Este último é o primeiro míssil iraniano que pode ser controlado e guiado até atingir seu alvo, o que aumenta significativamente sua precisão em comparação com o Shahab-3.

O arsenal iraniano ainda conta com o Paveh, um míssil de cruzeiro revelado em fevereiro de 2023, projetado para atingir alvos a uma distância de até 1.650 km.

O Irã também possui foguetes de curto alcance como o Fateh-110, com alcance entre 200 e 300 quilômetros, e o Zolfaghar, que pode atingir até 700 km. Ambos são conhecidos por sua precisão, com o Fateh-110 sendo amplamente utilizado em operações no Oriente Médio e o Zolfaghar sendo empregado em ataques contra o Estado Islâmico na Síria.

Além de mísseis e foguetes, o Irã também investiu significativamente no desenvolvimento de drones, que têm alcances de cerca de 1.900 a 2.500 quilômetros, destacando-se pela capacidade de voar baixo, escapando de radares militares.

Além do kamikaze Shahed-136, que também é usado pelo Hezbollah, outros drones importantes são o Mohajer-6, que possui alcance de até 200 km e é usado para missões de reconhecimento e ataques de precisão, e o Shahed-129, frequentemente comparado ao Predator dos Estados Unidos devido à sua função, de reconhecimento de longo alcance, e design.

A defesa aérea iraniana, segundo Rudzit, é sustentada principalmente pelas baterias antiaéreas russas S-300 e, mais recentemente, S-400, outrora tidas como o sistema de mísseis antiaéreos mais avançado do mundo. No entanto, a eficácia dessas baterias tem sido questionada após sucessivos ataques na Crimeia e no leste da Ucrânia, onde mísseis ocidentais têm conseguido neutralizar tais sistemas, colocando em dúvida a capacidade de resistência e eficiência desse aparato defensivo.

“Na resposta que Israel deu ao ataque iraniano, eles atingiram uma dessas baterias no meio do Irã, que protegia uma instalação nuclear. O míssil israelense voou metade do território iraniano, não foi detectado e destruiu a bateria”, relembra o especialista. “Esse ataque mostrou que esses sistemas russos têm falhas e que Israel tem capacidade de penetrar profundamente no território iraniano.”

Publicamente, o Irã não admite que possui armas nucleares, mas atividades de enriquecimento de urânio no país têm sido frequentemente relatadas pela imprensa internacional. Em fevereiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou em um relatório que o Irã tem material suficiente para fabricar diversas bombas atômicas.

Segundo um relatório publicada pelo IISS em 2023, o exércico iraniano é um dos maiores do Oriente Médio, com pelo menos 580.000 militares da ativa e cerca de 200.000 reservistas treinados,

Israel

Israel é um dos países mais bem armados do Oriente Médio. Seu arsenal conta com uma variedade de mísseis, sistemas de defesa aérea, veículos aéreos não tripulados, e, de acordo com relatórios não feitos por institutos americanos, um arsenal nuclear significativo.

A maior parte das forças de mísseis de Israel, que é um dos arsenais mais modernos do Oriente Médio, consiste em sistemas táticos de menor alcance, mas há mísseis balísticos de longo alcance representados pela série Jericho. O Jericho III, por exemplo, é um dos mais poderosos e pode chegar a um alcance entre 4.800 e 6.500 quilômetros, cerregando ogivas nucleares, o que lhe confere uma capacidade de dissuasão estratégica crucial.

No campo dos sistemas de defesa aérea, Israel é mundialmente conhecido pelo Iron Dome, ou Domo de Ferro em português. Este sistema, desenvolvido pelos Estados Unidos, é projetado para interceptar e destruir mísseis e foguetes de curto alcance, com uma taxa de interceptação superior a 90%. Além disso, Israel opera o David’s Sling, que cobre uma faixa de mísseis de médio alcance, e o Arrow (Hets), que é projetado para interceptar mísseis balísticos em altitudes mais elevadas e a longas distâncias. O país possui também 39 caças stealth F-35, o quinto maior inventário do mundo.

Rudzit descreve a tecnologia do Domo de Ferro como “extremamente avançada e continuamente melhorada”, o que dá a Israel uma capacidade muito superior de defesa e ataque, especialmente em relação aos mísseis. Mesmo assim, o sistema pode ser colocado à prova, caso Irã e Hezbollah apostem em uma ataque volumoso com o objetivo de sobrecarregar a defesa israelense.

“Mesmo com essas duas categorias (Domo de Ferro e David), dependendo da quantidade, eles não serão capazes de destruir tudo, especialmente pela precisão maior dos mísseis que o Hezbollah recebeu do Irã”, afirma Rudzit.

Foguetes disparados do sul do Líbano são interceptados pelo sistema de defesa aérea Iron Dome (Domo de Ferro) de Israel sobre a região da Alta Galileia, no norte de Israel, em 9 de agosto de 2024. Foto: Jalaa Marey/AFP

Dúvidas sobre a capacidade de defesa de Israel em um ataque volumoso também foram destacadas na análise feita pelo IISS em maio.

”Embora uma variedade de sistemas possa ser usada para se defender contra OWA-UAVs e mísseis de cruzeiro, a defesa contra mísseis balísticos de médio alcance requer interceptadores especializados cujos estoques não poderiam ser facilmente reabastecidos uma vez esgotados, e o número de mísseis Arrow 2 e 3 no arsenal israelense permanece desconhecido”, escreveram os especialistas.

Em termos de VANTs, Israel é pioneiro e líder mundial no desenvolvimento de drones militares. O Heron TP, por exemplo, é um drone de alta altitude e longa duração que pode ser utilizado tanto para missões de vigilância quanto para ataques, tendo uma autonomia de mais de 30 horas e alcance intercontinental.

Acredita-se amplamente que Israel possui um arsenal nuclear, embora o país mantenha uma política de ambiguidade estratégica e nunca tenha confirmado oficialmente. Estima-se que Israel possua entre 80 e 100 ogivas nucleares, o que adiciona uma camada significativa de dissuasão contra ataques existenciais.

Israel tem cerca de 170 mil soldados normalmente em serviço ativo e convocou aproximadamente 360 mil reservistas para a guerra — três quartos da sua capacidade estimada, segundo o IISS./Com informações de Associated Press e Washington Post.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.