Qual o risco de uma 3ª Guerra Mundial com escalada de conflito na Ucrânia?


Com diversas perdas no conflito e aumento de envio de armas do ocidente para Ucrânia, Putin constantemente sugere usar armas nucleares e levar guerra para níveis globais

Por Carolina Marins e Thaís Ferraz
Atualização:

Mais de dois meses após a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, autoridades russas alertam para os riscos de um alcance global do conflito depois de o Ocidente ampliar o envio de armas aos ucranianos. . Os efeitos já são sentidos na economia mundial e a geopolítica já está alterada, mas o envolvimento de outras potências, o risco de guerra nuclear e uma possível anexação de territórios da Ucrânia à Rússia são hipóteses que seguem em jogo.

A guerra já deixou milhares de civis e soldados mortos, além de um fluxo de refugiados que já passa dos 5 milhões, o maior da história. As sanções impostas a indivíduos e à economia russa já afetam os suprimentos de comida e combustível no mundo todo e alguns países enfrentam aumento da instabilidade política. Mas a maior mudança, até agora, é na segurança mundial.

“Estamos lidando com uma guerra entre Estados na Europa”, afirma o pesquisador de diplomacia europeia do Centre for European Policy Research (CEPS) Zach Paikin. “Nós já tivemos outras, como Azerbaijão e Armênia em 2020, mas eram dois Estados pequenos. Aqui estamos falando de uma guerra entre Estados que envolve o maior Estado da Europa, com capacidades nucleares, isso é muito perigoso. Traz riscos significantes para a segurança da região, não só em termos de refugiados ou de envolver poderes externos, mas em termos da capacidade que esse conflito tem de escalar.”

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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo não via um conflito tão extenso envolvendo uma potência mundial. Outros países não enviaram soldados diretamente para este conflito, mas deixam suas forças em alerta no leste europeu e já enviaram bilhões em armas e demais ajudas militares à Ucrânia.

O conflito também pode escalar indiretamente. Ainda em fevereiro, Putin ameaçou “sérias consequências” caso Finlândia e Suécia entrem na Otan. Embora Estocolmo e Helsinque descartem no momento a hipótese de um pedido urgente de adesão à Aliança Atlântica, nunca antes os dois países estiveram tão próximos de dar este passo, afirmam analistas. “O medo de países violarem as normas contra a invasão de outros países parece estar criando uma mudança de comportamento de longo prazo”, explica a cientista política Carla Martinez Machain, da Universidade do Estado do Kansas, que pesquisa política externa com foco em política militar e conflito internacional. “O fato de a Suécia e a Finlândia estarem procurando ingressar na OTAN no futuro é um indicador de que também podem estar preocupados com o potencial de futuras incursões russas em seus territórios.”

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Tropas ucranianas disparam foguetes durante ataques russos em Kharkiv em 20 de abril Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters

Ameaças nucleares

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É justamente no envio de armamentos que a Rússia se concentra na hora de ameaçar elevar o conflito a níveis mundiais. Na última segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada.

“Os temores de que a Rússia possa interpretar a ajuda militar como envolvimento direto no conflito são bem fundamentados e ainda persistem”, afirma Cesar Jaramillo, diretor executivo do instituto canadense Project Ploughshares, que trabalha com prevenção a guerra e violência armada.

“O presidente Putin já endureceu seu discurso em torno do fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e ainda pode definir uma linha vermelha em torno dessa prática e apontá-la para justificar medidas de retaliação, que por sua vez podem aumentar o conflito”, completa.

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Na última quarta-feira, 27, o presidente russo Vladimir Putin prometeu que a Rússia responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer interferência estratégica na guerra da Ucrânia. “Nós temos todas as armas necessárias para isso. Armas do qual ninguém pode se gabar agora. E não vamos nos gabar. Mas nós as usaremos se necessário. E quero que todos saibam disso”, declarou.

“O que está em jogo é um confronto entre dois países, os EUA e a Rússia, que juntos possuem 90% das armas nucleares do mundo”, afirmou William Wohlforth, professor de política internacional em Dartmouth em entrevista à Vox em 5 de março. “Mesmo que a Rússia pareça insignificante economicamente, uma disputa acirrada entre esses dois países que continua a se intensificar criaria o risco de uma grave escalada e isso seria uma ameaça para as pessoas em todos os lugares.”

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Depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

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Mas, para o professor, mesmo com o risco de escalada, ainda não estamos próximos de uma Terceira Guerra Mundial. “Acho que estávamos muito mais próximos durante a Guerra Fria. Ainda acho improvável uma escalada nuclear nesta crise em particular, apesar da decisão de Putin de aumentar o nível de alerta de suas forças nucleares”.

“Acho que ele só quer lembrar às pessoas que seu país é uma potência nuclear e, para todos os efeitos práticos, basicamente igual aos EUA em termos de número de armas. Mas devemos ter muito cuidado quando se trata de cruzar certas linhas vermelhas”, completa.

Um conflito longo

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Quando a guerra começou, em fevereiro, a crença de analistas e autoridades era de uma tomada rápida de Kiev pela Rússia. Graças à forte resistência ucraniana, a previsão não ocorreu. Os consecutivos reveses russos no norte levaram o país a repensar sua estratégia e concentrar suas investidas no sul e no leste.

“A invasão é mais séria do que muitos esperavam. Um cenário potencial era que as tropas russas parassem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, mas isso não aconteceu”, afirma Martinez.

Agora, o ocidente se prepara para uma guerra longa e teme que ela vá além das fronteiras da Ucrânia, se espalhando para estados vizinhos, o ciberespaço e países da Otan que de repente enfrentam um corte de gás russo. Explosões já abalaram uma área disputada da Moldávia, um próximo alvo natural para os russos, e depósitos de gás e até uma fábrica de mísseis na Rússia pegaram fogo misteriosamente ou foram atacados diretamente pelas forças ucranianas.

Segundo um relatório do Royal United Services Institute, do Reino Unido, quando a guerra começou, o Kremlin acreditava que as forças armadas da Ucrânia seriam rapidamente destruídas e Moscou teria controle suficiente do país para anunciar a vitória no feriado do Dia da Vitória da Rússia, em 9 de maio.

Porém, agora são realizados avanços mais moderados no leste. “A Rússia está agora se preparando, diplomaticamente, militarmente e economicamente, para um conflito prolongado”, disse o relatório.

O próprio ocidente tem se aproveitado desta possibilidade de a guerra se arrastar, visando enfraquecer a Rússia ao longo do tempo. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin III.

No fim, o risco de o conflito continuar escalando parece depender do quanto Putin está disposto a responder às derrotas na Ucrânia. “Para a Rússia, esta é uma guerra que precisa ser vencida”, afirma Paikin. “A Rússia precisa vencer. Falhar nisso, em convencer a Ucrânia a adotar uma posição neutra, seria um desastre para Moscou e um desastre particular para Putin. Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais visível que a sobrevivência do Estado da Rússia está ligada à sobrevivência de Putin. O futuro de sua presidência e da segurança do Estado russo estão em jogo.”

A longo prazo, acredita Martinez Machain, o fato de a Rússia ter violado uma norma internacional contra a agressão e as normas internacionais de integridade territorial pode tornar mais provável que essas normas sejam violadas novamente no futuro, especialmente se a Rússia for bem-sucedida em conseguir parte de seus objetivos.

“Estamos falando da sombra de uma guerra de grandes potências extremamente perigosa e imprevisível pairando sobre o mundo, a menos que se chegue a algum acordo que não deixe os dois lados completamente e totalmente alienados e segurando espadas sobre as cabeças um do outro”, concorda William Wohlforth./Com NYT

Mais de dois meses após a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, autoridades russas alertam para os riscos de um alcance global do conflito depois de o Ocidente ampliar o envio de armas aos ucranianos. . Os efeitos já são sentidos na economia mundial e a geopolítica já está alterada, mas o envolvimento de outras potências, o risco de guerra nuclear e uma possível anexação de territórios da Ucrânia à Rússia são hipóteses que seguem em jogo.

A guerra já deixou milhares de civis e soldados mortos, além de um fluxo de refugiados que já passa dos 5 milhões, o maior da história. As sanções impostas a indivíduos e à economia russa já afetam os suprimentos de comida e combustível no mundo todo e alguns países enfrentam aumento da instabilidade política. Mas a maior mudança, até agora, é na segurança mundial.

“Estamos lidando com uma guerra entre Estados na Europa”, afirma o pesquisador de diplomacia europeia do Centre for European Policy Research (CEPS) Zach Paikin. “Nós já tivemos outras, como Azerbaijão e Armênia em 2020, mas eram dois Estados pequenos. Aqui estamos falando de uma guerra entre Estados que envolve o maior Estado da Europa, com capacidades nucleares, isso é muito perigoso. Traz riscos significantes para a segurança da região, não só em termos de refugiados ou de envolver poderes externos, mas em termos da capacidade que esse conflito tem de escalar.”

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo não via um conflito tão extenso envolvendo uma potência mundial. Outros países não enviaram soldados diretamente para este conflito, mas deixam suas forças em alerta no leste europeu e já enviaram bilhões em armas e demais ajudas militares à Ucrânia.

O conflito também pode escalar indiretamente. Ainda em fevereiro, Putin ameaçou “sérias consequências” caso Finlândia e Suécia entrem na Otan. Embora Estocolmo e Helsinque descartem no momento a hipótese de um pedido urgente de adesão à Aliança Atlântica, nunca antes os dois países estiveram tão próximos de dar este passo, afirmam analistas. “O medo de países violarem as normas contra a invasão de outros países parece estar criando uma mudança de comportamento de longo prazo”, explica a cientista política Carla Martinez Machain, da Universidade do Estado do Kansas, que pesquisa política externa com foco em política militar e conflito internacional. “O fato de a Suécia e a Finlândia estarem procurando ingressar na OTAN no futuro é um indicador de que também podem estar preocupados com o potencial de futuras incursões russas em seus territórios.”

Tropas ucranianas disparam foguetes durante ataques russos em Kharkiv em 20 de abril Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters

Ameaças nucleares

É justamente no envio de armamentos que a Rússia se concentra na hora de ameaçar elevar o conflito a níveis mundiais. Na última segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada.

“Os temores de que a Rússia possa interpretar a ajuda militar como envolvimento direto no conflito são bem fundamentados e ainda persistem”, afirma Cesar Jaramillo, diretor executivo do instituto canadense Project Ploughshares, que trabalha com prevenção a guerra e violência armada.

“O presidente Putin já endureceu seu discurso em torno do fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e ainda pode definir uma linha vermelha em torno dessa prática e apontá-la para justificar medidas de retaliação, que por sua vez podem aumentar o conflito”, completa.

Na última quarta-feira, 27, o presidente russo Vladimir Putin prometeu que a Rússia responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer interferência estratégica na guerra da Ucrânia. “Nós temos todas as armas necessárias para isso. Armas do qual ninguém pode se gabar agora. E não vamos nos gabar. Mas nós as usaremos se necessário. E quero que todos saibam disso”, declarou.

“O que está em jogo é um confronto entre dois países, os EUA e a Rússia, que juntos possuem 90% das armas nucleares do mundo”, afirmou William Wohlforth, professor de política internacional em Dartmouth em entrevista à Vox em 5 de março. “Mesmo que a Rússia pareça insignificante economicamente, uma disputa acirrada entre esses dois países que continua a se intensificar criaria o risco de uma grave escalada e isso seria uma ameaça para as pessoas em todos os lugares.”

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Depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

Mas, para o professor, mesmo com o risco de escalada, ainda não estamos próximos de uma Terceira Guerra Mundial. “Acho que estávamos muito mais próximos durante a Guerra Fria. Ainda acho improvável uma escalada nuclear nesta crise em particular, apesar da decisão de Putin de aumentar o nível de alerta de suas forças nucleares”.

“Acho que ele só quer lembrar às pessoas que seu país é uma potência nuclear e, para todos os efeitos práticos, basicamente igual aos EUA em termos de número de armas. Mas devemos ter muito cuidado quando se trata de cruzar certas linhas vermelhas”, completa.

Um conflito longo

Quando a guerra começou, em fevereiro, a crença de analistas e autoridades era de uma tomada rápida de Kiev pela Rússia. Graças à forte resistência ucraniana, a previsão não ocorreu. Os consecutivos reveses russos no norte levaram o país a repensar sua estratégia e concentrar suas investidas no sul e no leste.

“A invasão é mais séria do que muitos esperavam. Um cenário potencial era que as tropas russas parassem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, mas isso não aconteceu”, afirma Martinez.

Agora, o ocidente se prepara para uma guerra longa e teme que ela vá além das fronteiras da Ucrânia, se espalhando para estados vizinhos, o ciberespaço e países da Otan que de repente enfrentam um corte de gás russo. Explosões já abalaram uma área disputada da Moldávia, um próximo alvo natural para os russos, e depósitos de gás e até uma fábrica de mísseis na Rússia pegaram fogo misteriosamente ou foram atacados diretamente pelas forças ucranianas.

Segundo um relatório do Royal United Services Institute, do Reino Unido, quando a guerra começou, o Kremlin acreditava que as forças armadas da Ucrânia seriam rapidamente destruídas e Moscou teria controle suficiente do país para anunciar a vitória no feriado do Dia da Vitória da Rússia, em 9 de maio.

Porém, agora são realizados avanços mais moderados no leste. “A Rússia está agora se preparando, diplomaticamente, militarmente e economicamente, para um conflito prolongado”, disse o relatório.

O próprio ocidente tem se aproveitado desta possibilidade de a guerra se arrastar, visando enfraquecer a Rússia ao longo do tempo. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin III.

No fim, o risco de o conflito continuar escalando parece depender do quanto Putin está disposto a responder às derrotas na Ucrânia. “Para a Rússia, esta é uma guerra que precisa ser vencida”, afirma Paikin. “A Rússia precisa vencer. Falhar nisso, em convencer a Ucrânia a adotar uma posição neutra, seria um desastre para Moscou e um desastre particular para Putin. Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais visível que a sobrevivência do Estado da Rússia está ligada à sobrevivência de Putin. O futuro de sua presidência e da segurança do Estado russo estão em jogo.”

A longo prazo, acredita Martinez Machain, o fato de a Rússia ter violado uma norma internacional contra a agressão e as normas internacionais de integridade territorial pode tornar mais provável que essas normas sejam violadas novamente no futuro, especialmente se a Rússia for bem-sucedida em conseguir parte de seus objetivos.

“Estamos falando da sombra de uma guerra de grandes potências extremamente perigosa e imprevisível pairando sobre o mundo, a menos que se chegue a algum acordo que não deixe os dois lados completamente e totalmente alienados e segurando espadas sobre as cabeças um do outro”, concorda William Wohlforth./Com NYT

Mais de dois meses após a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, autoridades russas alertam para os riscos de um alcance global do conflito depois de o Ocidente ampliar o envio de armas aos ucranianos. . Os efeitos já são sentidos na economia mundial e a geopolítica já está alterada, mas o envolvimento de outras potências, o risco de guerra nuclear e uma possível anexação de territórios da Ucrânia à Rússia são hipóteses que seguem em jogo.

A guerra já deixou milhares de civis e soldados mortos, além de um fluxo de refugiados que já passa dos 5 milhões, o maior da história. As sanções impostas a indivíduos e à economia russa já afetam os suprimentos de comida e combustível no mundo todo e alguns países enfrentam aumento da instabilidade política. Mas a maior mudança, até agora, é na segurança mundial.

“Estamos lidando com uma guerra entre Estados na Europa”, afirma o pesquisador de diplomacia europeia do Centre for European Policy Research (CEPS) Zach Paikin. “Nós já tivemos outras, como Azerbaijão e Armênia em 2020, mas eram dois Estados pequenos. Aqui estamos falando de uma guerra entre Estados que envolve o maior Estado da Europa, com capacidades nucleares, isso é muito perigoso. Traz riscos significantes para a segurança da região, não só em termos de refugiados ou de envolver poderes externos, mas em termos da capacidade que esse conflito tem de escalar.”

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo não via um conflito tão extenso envolvendo uma potência mundial. Outros países não enviaram soldados diretamente para este conflito, mas deixam suas forças em alerta no leste europeu e já enviaram bilhões em armas e demais ajudas militares à Ucrânia.

O conflito também pode escalar indiretamente. Ainda em fevereiro, Putin ameaçou “sérias consequências” caso Finlândia e Suécia entrem na Otan. Embora Estocolmo e Helsinque descartem no momento a hipótese de um pedido urgente de adesão à Aliança Atlântica, nunca antes os dois países estiveram tão próximos de dar este passo, afirmam analistas. “O medo de países violarem as normas contra a invasão de outros países parece estar criando uma mudança de comportamento de longo prazo”, explica a cientista política Carla Martinez Machain, da Universidade do Estado do Kansas, que pesquisa política externa com foco em política militar e conflito internacional. “O fato de a Suécia e a Finlândia estarem procurando ingressar na OTAN no futuro é um indicador de que também podem estar preocupados com o potencial de futuras incursões russas em seus territórios.”

Tropas ucranianas disparam foguetes durante ataques russos em Kharkiv em 20 de abril Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters

Ameaças nucleares

É justamente no envio de armamentos que a Rússia se concentra na hora de ameaçar elevar o conflito a níveis mundiais. Na última segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada.

“Os temores de que a Rússia possa interpretar a ajuda militar como envolvimento direto no conflito são bem fundamentados e ainda persistem”, afirma Cesar Jaramillo, diretor executivo do instituto canadense Project Ploughshares, que trabalha com prevenção a guerra e violência armada.

“O presidente Putin já endureceu seu discurso em torno do fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e ainda pode definir uma linha vermelha em torno dessa prática e apontá-la para justificar medidas de retaliação, que por sua vez podem aumentar o conflito”, completa.

Na última quarta-feira, 27, o presidente russo Vladimir Putin prometeu que a Rússia responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer interferência estratégica na guerra da Ucrânia. “Nós temos todas as armas necessárias para isso. Armas do qual ninguém pode se gabar agora. E não vamos nos gabar. Mas nós as usaremos se necessário. E quero que todos saibam disso”, declarou.

“O que está em jogo é um confronto entre dois países, os EUA e a Rússia, que juntos possuem 90% das armas nucleares do mundo”, afirmou William Wohlforth, professor de política internacional em Dartmouth em entrevista à Vox em 5 de março. “Mesmo que a Rússia pareça insignificante economicamente, uma disputa acirrada entre esses dois países que continua a se intensificar criaria o risco de uma grave escalada e isso seria uma ameaça para as pessoas em todos os lugares.”

Seu navegador não suporta esse video.

Depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

Mas, para o professor, mesmo com o risco de escalada, ainda não estamos próximos de uma Terceira Guerra Mundial. “Acho que estávamos muito mais próximos durante a Guerra Fria. Ainda acho improvável uma escalada nuclear nesta crise em particular, apesar da decisão de Putin de aumentar o nível de alerta de suas forças nucleares”.

“Acho que ele só quer lembrar às pessoas que seu país é uma potência nuclear e, para todos os efeitos práticos, basicamente igual aos EUA em termos de número de armas. Mas devemos ter muito cuidado quando se trata de cruzar certas linhas vermelhas”, completa.

Um conflito longo

Quando a guerra começou, em fevereiro, a crença de analistas e autoridades era de uma tomada rápida de Kiev pela Rússia. Graças à forte resistência ucraniana, a previsão não ocorreu. Os consecutivos reveses russos no norte levaram o país a repensar sua estratégia e concentrar suas investidas no sul e no leste.

“A invasão é mais séria do que muitos esperavam. Um cenário potencial era que as tropas russas parassem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, mas isso não aconteceu”, afirma Martinez.

Agora, o ocidente se prepara para uma guerra longa e teme que ela vá além das fronteiras da Ucrânia, se espalhando para estados vizinhos, o ciberespaço e países da Otan que de repente enfrentam um corte de gás russo. Explosões já abalaram uma área disputada da Moldávia, um próximo alvo natural para os russos, e depósitos de gás e até uma fábrica de mísseis na Rússia pegaram fogo misteriosamente ou foram atacados diretamente pelas forças ucranianas.

Segundo um relatório do Royal United Services Institute, do Reino Unido, quando a guerra começou, o Kremlin acreditava que as forças armadas da Ucrânia seriam rapidamente destruídas e Moscou teria controle suficiente do país para anunciar a vitória no feriado do Dia da Vitória da Rússia, em 9 de maio.

Porém, agora são realizados avanços mais moderados no leste. “A Rússia está agora se preparando, diplomaticamente, militarmente e economicamente, para um conflito prolongado”, disse o relatório.

O próprio ocidente tem se aproveitado desta possibilidade de a guerra se arrastar, visando enfraquecer a Rússia ao longo do tempo. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin III.

No fim, o risco de o conflito continuar escalando parece depender do quanto Putin está disposto a responder às derrotas na Ucrânia. “Para a Rússia, esta é uma guerra que precisa ser vencida”, afirma Paikin. “A Rússia precisa vencer. Falhar nisso, em convencer a Ucrânia a adotar uma posição neutra, seria um desastre para Moscou e um desastre particular para Putin. Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais visível que a sobrevivência do Estado da Rússia está ligada à sobrevivência de Putin. O futuro de sua presidência e da segurança do Estado russo estão em jogo.”

A longo prazo, acredita Martinez Machain, o fato de a Rússia ter violado uma norma internacional contra a agressão e as normas internacionais de integridade territorial pode tornar mais provável que essas normas sejam violadas novamente no futuro, especialmente se a Rússia for bem-sucedida em conseguir parte de seus objetivos.

“Estamos falando da sombra de uma guerra de grandes potências extremamente perigosa e imprevisível pairando sobre o mundo, a menos que se chegue a algum acordo que não deixe os dois lados completamente e totalmente alienados e segurando espadas sobre as cabeças um do outro”, concorda William Wohlforth./Com NYT

Mais de dois meses após a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, autoridades russas alertam para os riscos de um alcance global do conflito depois de o Ocidente ampliar o envio de armas aos ucranianos. . Os efeitos já são sentidos na economia mundial e a geopolítica já está alterada, mas o envolvimento de outras potências, o risco de guerra nuclear e uma possível anexação de territórios da Ucrânia à Rússia são hipóteses que seguem em jogo.

A guerra já deixou milhares de civis e soldados mortos, além de um fluxo de refugiados que já passa dos 5 milhões, o maior da história. As sanções impostas a indivíduos e à economia russa já afetam os suprimentos de comida e combustível no mundo todo e alguns países enfrentam aumento da instabilidade política. Mas a maior mudança, até agora, é na segurança mundial.

“Estamos lidando com uma guerra entre Estados na Europa”, afirma o pesquisador de diplomacia europeia do Centre for European Policy Research (CEPS) Zach Paikin. “Nós já tivemos outras, como Azerbaijão e Armênia em 2020, mas eram dois Estados pequenos. Aqui estamos falando de uma guerra entre Estados que envolve o maior Estado da Europa, com capacidades nucleares, isso é muito perigoso. Traz riscos significantes para a segurança da região, não só em termos de refugiados ou de envolver poderes externos, mas em termos da capacidade que esse conflito tem de escalar.”

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo não via um conflito tão extenso envolvendo uma potência mundial. Outros países não enviaram soldados diretamente para este conflito, mas deixam suas forças em alerta no leste europeu e já enviaram bilhões em armas e demais ajudas militares à Ucrânia.

O conflito também pode escalar indiretamente. Ainda em fevereiro, Putin ameaçou “sérias consequências” caso Finlândia e Suécia entrem na Otan. Embora Estocolmo e Helsinque descartem no momento a hipótese de um pedido urgente de adesão à Aliança Atlântica, nunca antes os dois países estiveram tão próximos de dar este passo, afirmam analistas. “O medo de países violarem as normas contra a invasão de outros países parece estar criando uma mudança de comportamento de longo prazo”, explica a cientista política Carla Martinez Machain, da Universidade do Estado do Kansas, que pesquisa política externa com foco em política militar e conflito internacional. “O fato de a Suécia e a Finlândia estarem procurando ingressar na OTAN no futuro é um indicador de que também podem estar preocupados com o potencial de futuras incursões russas em seus territórios.”

Tropas ucranianas disparam foguetes durante ataques russos em Kharkiv em 20 de abril Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters

Ameaças nucleares

É justamente no envio de armamentos que a Rússia se concentra na hora de ameaçar elevar o conflito a níveis mundiais. Na última segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada.

“Os temores de que a Rússia possa interpretar a ajuda militar como envolvimento direto no conflito são bem fundamentados e ainda persistem”, afirma Cesar Jaramillo, diretor executivo do instituto canadense Project Ploughshares, que trabalha com prevenção a guerra e violência armada.

“O presidente Putin já endureceu seu discurso em torno do fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e ainda pode definir uma linha vermelha em torno dessa prática e apontá-la para justificar medidas de retaliação, que por sua vez podem aumentar o conflito”, completa.

Na última quarta-feira, 27, o presidente russo Vladimir Putin prometeu que a Rússia responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer interferência estratégica na guerra da Ucrânia. “Nós temos todas as armas necessárias para isso. Armas do qual ninguém pode se gabar agora. E não vamos nos gabar. Mas nós as usaremos se necessário. E quero que todos saibam disso”, declarou.

“O que está em jogo é um confronto entre dois países, os EUA e a Rússia, que juntos possuem 90% das armas nucleares do mundo”, afirmou William Wohlforth, professor de política internacional em Dartmouth em entrevista à Vox em 5 de março. “Mesmo que a Rússia pareça insignificante economicamente, uma disputa acirrada entre esses dois países que continua a se intensificar criaria o risco de uma grave escalada e isso seria uma ameaça para as pessoas em todos os lugares.”

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Mas, para o professor, mesmo com o risco de escalada, ainda não estamos próximos de uma Terceira Guerra Mundial. “Acho que estávamos muito mais próximos durante a Guerra Fria. Ainda acho improvável uma escalada nuclear nesta crise em particular, apesar da decisão de Putin de aumentar o nível de alerta de suas forças nucleares”.

“Acho que ele só quer lembrar às pessoas que seu país é uma potência nuclear e, para todos os efeitos práticos, basicamente igual aos EUA em termos de número de armas. Mas devemos ter muito cuidado quando se trata de cruzar certas linhas vermelhas”, completa.

Um conflito longo

Quando a guerra começou, em fevereiro, a crença de analistas e autoridades era de uma tomada rápida de Kiev pela Rússia. Graças à forte resistência ucraniana, a previsão não ocorreu. Os consecutivos reveses russos no norte levaram o país a repensar sua estratégia e concentrar suas investidas no sul e no leste.

“A invasão é mais séria do que muitos esperavam. Um cenário potencial era que as tropas russas parassem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, mas isso não aconteceu”, afirma Martinez.

Agora, o ocidente se prepara para uma guerra longa e teme que ela vá além das fronteiras da Ucrânia, se espalhando para estados vizinhos, o ciberespaço e países da Otan que de repente enfrentam um corte de gás russo. Explosões já abalaram uma área disputada da Moldávia, um próximo alvo natural para os russos, e depósitos de gás e até uma fábrica de mísseis na Rússia pegaram fogo misteriosamente ou foram atacados diretamente pelas forças ucranianas.

Segundo um relatório do Royal United Services Institute, do Reino Unido, quando a guerra começou, o Kremlin acreditava que as forças armadas da Ucrânia seriam rapidamente destruídas e Moscou teria controle suficiente do país para anunciar a vitória no feriado do Dia da Vitória da Rússia, em 9 de maio.

Porém, agora são realizados avanços mais moderados no leste. “A Rússia está agora se preparando, diplomaticamente, militarmente e economicamente, para um conflito prolongado”, disse o relatório.

O próprio ocidente tem se aproveitado desta possibilidade de a guerra se arrastar, visando enfraquecer a Rússia ao longo do tempo. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin III.

No fim, o risco de o conflito continuar escalando parece depender do quanto Putin está disposto a responder às derrotas na Ucrânia. “Para a Rússia, esta é uma guerra que precisa ser vencida”, afirma Paikin. “A Rússia precisa vencer. Falhar nisso, em convencer a Ucrânia a adotar uma posição neutra, seria um desastre para Moscou e um desastre particular para Putin. Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais visível que a sobrevivência do Estado da Rússia está ligada à sobrevivência de Putin. O futuro de sua presidência e da segurança do Estado russo estão em jogo.”

A longo prazo, acredita Martinez Machain, o fato de a Rússia ter violado uma norma internacional contra a agressão e as normas internacionais de integridade territorial pode tornar mais provável que essas normas sejam violadas novamente no futuro, especialmente se a Rússia for bem-sucedida em conseguir parte de seus objetivos.

“Estamos falando da sombra de uma guerra de grandes potências extremamente perigosa e imprevisível pairando sobre o mundo, a menos que se chegue a algum acordo que não deixe os dois lados completamente e totalmente alienados e segurando espadas sobre as cabeças um do outro”, concorda William Wohlforth./Com NYT

Mais de dois meses após a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro, autoridades russas alertam para os riscos de um alcance global do conflito depois de o Ocidente ampliar o envio de armas aos ucranianos. . Os efeitos já são sentidos na economia mundial e a geopolítica já está alterada, mas o envolvimento de outras potências, o risco de guerra nuclear e uma possível anexação de territórios da Ucrânia à Rússia são hipóteses que seguem em jogo.

A guerra já deixou milhares de civis e soldados mortos, além de um fluxo de refugiados que já passa dos 5 milhões, o maior da história. As sanções impostas a indivíduos e à economia russa já afetam os suprimentos de comida e combustível no mundo todo e alguns países enfrentam aumento da instabilidade política. Mas a maior mudança, até agora, é na segurança mundial.

“Estamos lidando com uma guerra entre Estados na Europa”, afirma o pesquisador de diplomacia europeia do Centre for European Policy Research (CEPS) Zach Paikin. “Nós já tivemos outras, como Azerbaijão e Armênia em 2020, mas eram dois Estados pequenos. Aqui estamos falando de uma guerra entre Estados que envolve o maior Estado da Europa, com capacidades nucleares, isso é muito perigoso. Traz riscos significantes para a segurança da região, não só em termos de refugiados ou de envolver poderes externos, mas em termos da capacidade que esse conflito tem de escalar.”

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo não via um conflito tão extenso envolvendo uma potência mundial. Outros países não enviaram soldados diretamente para este conflito, mas deixam suas forças em alerta no leste europeu e já enviaram bilhões em armas e demais ajudas militares à Ucrânia.

O conflito também pode escalar indiretamente. Ainda em fevereiro, Putin ameaçou “sérias consequências” caso Finlândia e Suécia entrem na Otan. Embora Estocolmo e Helsinque descartem no momento a hipótese de um pedido urgente de adesão à Aliança Atlântica, nunca antes os dois países estiveram tão próximos de dar este passo, afirmam analistas. “O medo de países violarem as normas contra a invasão de outros países parece estar criando uma mudança de comportamento de longo prazo”, explica a cientista política Carla Martinez Machain, da Universidade do Estado do Kansas, que pesquisa política externa com foco em política militar e conflito internacional. “O fato de a Suécia e a Finlândia estarem procurando ingressar na OTAN no futuro é um indicador de que também podem estar preocupados com o potencial de futuras incursões russas em seus territórios.”

Tropas ucranianas disparam foguetes durante ataques russos em Kharkiv em 20 de abril Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters

Ameaças nucleares

É justamente no envio de armamentos que a Rússia se concentra na hora de ameaçar elevar o conflito a níveis mundiais. Na última segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada.

“Os temores de que a Rússia possa interpretar a ajuda militar como envolvimento direto no conflito são bem fundamentados e ainda persistem”, afirma Cesar Jaramillo, diretor executivo do instituto canadense Project Ploughshares, que trabalha com prevenção a guerra e violência armada.

“O presidente Putin já endureceu seu discurso em torno do fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e ainda pode definir uma linha vermelha em torno dessa prática e apontá-la para justificar medidas de retaliação, que por sua vez podem aumentar o conflito”, completa.

Na última quarta-feira, 27, o presidente russo Vladimir Putin prometeu que a Rússia responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer interferência estratégica na guerra da Ucrânia. “Nós temos todas as armas necessárias para isso. Armas do qual ninguém pode se gabar agora. E não vamos nos gabar. Mas nós as usaremos se necessário. E quero que todos saibam disso”, declarou.

“O que está em jogo é um confronto entre dois países, os EUA e a Rússia, que juntos possuem 90% das armas nucleares do mundo”, afirmou William Wohlforth, professor de política internacional em Dartmouth em entrevista à Vox em 5 de março. “Mesmo que a Rússia pareça insignificante economicamente, uma disputa acirrada entre esses dois países que continua a se intensificar criaria o risco de uma grave escalada e isso seria uma ameaça para as pessoas em todos os lugares.”

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Depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

Mas, para o professor, mesmo com o risco de escalada, ainda não estamos próximos de uma Terceira Guerra Mundial. “Acho que estávamos muito mais próximos durante a Guerra Fria. Ainda acho improvável uma escalada nuclear nesta crise em particular, apesar da decisão de Putin de aumentar o nível de alerta de suas forças nucleares”.

“Acho que ele só quer lembrar às pessoas que seu país é uma potência nuclear e, para todos os efeitos práticos, basicamente igual aos EUA em termos de número de armas. Mas devemos ter muito cuidado quando se trata de cruzar certas linhas vermelhas”, completa.

Um conflito longo

Quando a guerra começou, em fevereiro, a crença de analistas e autoridades era de uma tomada rápida de Kiev pela Rússia. Graças à forte resistência ucraniana, a previsão não ocorreu. Os consecutivos reveses russos no norte levaram o país a repensar sua estratégia e concentrar suas investidas no sul e no leste.

“A invasão é mais séria do que muitos esperavam. Um cenário potencial era que as tropas russas parassem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, mas isso não aconteceu”, afirma Martinez.

Agora, o ocidente se prepara para uma guerra longa e teme que ela vá além das fronteiras da Ucrânia, se espalhando para estados vizinhos, o ciberespaço e países da Otan que de repente enfrentam um corte de gás russo. Explosões já abalaram uma área disputada da Moldávia, um próximo alvo natural para os russos, e depósitos de gás e até uma fábrica de mísseis na Rússia pegaram fogo misteriosamente ou foram atacados diretamente pelas forças ucranianas.

Segundo um relatório do Royal United Services Institute, do Reino Unido, quando a guerra começou, o Kremlin acreditava que as forças armadas da Ucrânia seriam rapidamente destruídas e Moscou teria controle suficiente do país para anunciar a vitória no feriado do Dia da Vitória da Rússia, em 9 de maio.

Porém, agora são realizados avanços mais moderados no leste. “A Rússia está agora se preparando, diplomaticamente, militarmente e economicamente, para um conflito prolongado”, disse o relatório.

O próprio ocidente tem se aproveitado desta possibilidade de a guerra se arrastar, visando enfraquecer a Rússia ao longo do tempo. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin III.

No fim, o risco de o conflito continuar escalando parece depender do quanto Putin está disposto a responder às derrotas na Ucrânia. “Para a Rússia, esta é uma guerra que precisa ser vencida”, afirma Paikin. “A Rússia precisa vencer. Falhar nisso, em convencer a Ucrânia a adotar uma posição neutra, seria um desastre para Moscou e um desastre particular para Putin. Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais visível que a sobrevivência do Estado da Rússia está ligada à sobrevivência de Putin. O futuro de sua presidência e da segurança do Estado russo estão em jogo.”

A longo prazo, acredita Martinez Machain, o fato de a Rússia ter violado uma norma internacional contra a agressão e as normas internacionais de integridade territorial pode tornar mais provável que essas normas sejam violadas novamente no futuro, especialmente se a Rússia for bem-sucedida em conseguir parte de seus objetivos.

“Estamos falando da sombra de uma guerra de grandes potências extremamente perigosa e imprevisível pairando sobre o mundo, a menos que se chegue a algum acordo que não deixe os dois lados completamente e totalmente alienados e segurando espadas sobre as cabeças um do outro”, concorda William Wohlforth./Com NYT

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