Quatro lições da reunião entre Trump e Kim na Zona Desmilitarizada entre as Coreias 


Se Kim não tivesse comparecido, isso teria sido constrangedor para Trump e poderia deixá-lo mais aberto a críticas por sua imprevisível diplomacia; também teria agravado o dramático fracasso da cúpula em Hanói

Por Yonette Joseph

Quando o presidente Donald Trump enviou um convite pelo Twitter para o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para se encontrar na fortificada Zona Desmilitarizada (DMZ) que separa as duas Coreias – “só para apertar sua mão e dizer Olá (?)!” - ambos tinham muito a ganhar e mais ainda a perder. 

Se Kim não tivesse comparecido, isso teria constrangedor para Trump e poderia deixá-lo mais aberto a críticas por sua imprevisível diplomacia. Também teria agravado o dramático fracasso da cúpula em Hanói, no Vietnã, que Trump cancelou abruptamente em fevereiro. 

Última reunião entre Trump e Kim terminou repentinamente e sem acordo Foto: Brendan Smialowski / AFP
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Mas o líder do Norte apareceu na hora marcada. Aqui estão quatro tópicos do encontro histórico: 

Parecia um pandemônio

A cena parecia caótica às vezes, com imagens de vídeo mostrando jornalistas e cinegrafistas correndo ao redor dos dois líderes, brigando com as autoridades de segurança e se acotovelando em busca de um local perfeito para registrar o encontro.

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E as forças de segurança norte-coreanas também deixaram contusões no lado americano.

Stephanie Grisham, a recém-nomeada secretária de imprensa da Casa Branca, passou por uma prova de fogo depois de tentar facilitar a entrada da equipe de televisão americana em um prédio chamado Casa da Liberdade (Freedom House) e saiu ferida por golpes de policiais norte-coreanos, segundo jornalistas no local.  A repórter da Bloomberg Jennifer Jacobs postou um pouco do que foi a confusão em seu Twitter. 

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O repórter da CNN Jim Acosta disse no Twitter que o encontro estava sendo descrito como “uma pancadaria”. Anteriormente, ele disse durante uma transmissão da CNN que passou pelo mesmo tratamento quando esteve em Cingapura para a primeira cúpula de Trump e Kim, em 2018.

A natureza imprevisível da reunião e a logística de segurança não podiam ser exageradas, e vezes os guarda-costas de Kim, de aparência sombria atrás dos óculos de sol, pareciam estar se esforçando para proteger totalmente o líder do Norte. 

Além disso, gritos de “Caras! Rapazes! Venham!” podiam ser ouvidos enquanto os repórteres repreendiam dois cinegrafistas norte-coreanos que eram implacáveis em sua missão de gravar a reunião de seu líder com Trump - mesmo que isso significasse bloquear a visão dos outros jornalistas.

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Foi mais do que um aperto de mão

O convite inesperado na sexta-feira que pegou de surpresa o corpo diplomático de Trump enquanto o presidente participava da cúpula do G-20 em Osaka, no Japão, rendeu frutos simbólicos.

O que começou com um tuíte, transformou-se em um aperto de mão e em 20 passos históricos de um líder americano em território oficialmente hostil: às 15h46 de um domingo, Trump tornou-se o primeiro presidente americano no exercício do cargo a cruzar a fronteira e pisar na Coreia do Norte.

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“Grande momento, grande momento”, disse Trump, que deu vários tapas nas costas de Kim.

“É bom ver você de novo”, disse um radiante Kim, por intermédio de um intérprete, ao presidente na Zona Desmilitarizada . “Nunca esperei encontrá-lo aqui."

Depois de posar para fotos em uma multidão de jornalistas internacionais, os dois homens voltaram para o lado sul-coreano em meio a um zumbido de câmeras e tiveram uma reunião bilateral que durou cerca de uma hora na Casa da Liberdade.

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No fim, Trump disse que os dois concordaram em enviar seus negociadores de volta à mesa para buscar um acordo há muito tempo parado sobre as ambições nucleares do Norte. Trump também disse que convidaria Kim para visitá-lo na Casa Branca.

Telespectadores viram de perto uma fronteira com uma história sombria

Durante a reunião de domingo, imagens de vídeo mostraram vislumbres reservados e coloridos de uma fronteira que às vezes é chamada de última fronteira da Guerra Fria.

Os espectadores puderam ver homens segurando uma grossa corda amarela, que aparentemente foi usada para encurralar jornalistas no local. (Não era bem a corda aveludada que a Secretaria de Imprensa da Casa Branca colocava diante dos membros da imprensa em 2017, quando Sean Spicer era secretário de imprensa.)

E ainda havia as cabanas azuis. A Zona Desmilitarizada separa há décadas a Coreia do Norte e a Coreia do Sul e é supervisionada em conjunto pelo Comando das Nações Unidas liderado pelos EUA e pela Coreia do Norte. As atarracadas cabanas, que ficam na linha de demarcação, são pintadas de azul, cor das Nações Unidas.

As lentes das câmeras ofereciam uma visão aproximada das barreiras e marcadores na “aldeia de trégua” de Panmunjom  - a 51 quilômetros ao norte de Seul e 146 quilômetros ao sul de Pyongyang, capital da Coreia do Norte - onde as autoridades assinaram um armistício em 1953 para suspender os três anos da guerra coreana.

A área é cercada por minas e cercas de arame farpado, embora elas não estivessem tão visíveis no domingo. 

Soldados prontos para o combate treinam com armas mortais do outro lado. Mas no domingo, a região parecia ter sido invadido por jornalistas.

Enquanto as câmeras se aproximavam da baixa barreira de concreto que Trump cruzou para entrar na Coréia do Norte no domingo, o cenário dificilmente parecia assustador. Mas os visitantes não se atreveram a atravessar a laje, por medo de serem baleados.

Em 2017, um soldado norte-coreano desertou para a Coreia do Sul pela zona fortemente vigiada que separa os dois países, sendo alvejado por tiros vindos dos dois lados da fronteira. Imagens da televisão em circuito fechado mostraram a corrida dramática do soldado pela Área de Segurança Conjunta ao norte de Seul, a capital sul-coreana, no dia 13 de novembro.

O incidente mais notório em Panmunjom aconteceu em 1976, de acordo com a Associated Press, quando soldados norte-coreanos empunhando machados mataram dois oficiais americanos enviados para aparar uma árvore que bloqueava a vista de um dos postos de controle. Washington enviou bombardeiros com capacidade nuclear em direção à DMZ em resposta. As animosidades diminuíram depois que Kim Il-sung, o avô de Kim Jong-un, lamentou o episódio.

O mundo vai acompanhar para ver o que virá a seguir

Os dois líderes se cumprimentaram como velhos amigos no domingo, com Kim, 35 anos, elogiando Trump, de 73 anos, e com o presidente americano oferecendo elogios efusivos ao homem que muitos especialistas chamaram de ditador brutal e intempestivo que matou membros de sua própria família.

“Isso tem muita importância porque significa que queremos acabar com o passado desagradável e tentar criar um futuro, por isso é um ato muito corajoso e determinado”, disse Kim a repórteres por meio de um intérprete.

“Não acredito que esse tipo de reunião surpresa teria acontecido sem o excelente relacionamento pessoal entre sua excelência e eu”, disse ele depois a Trump, na Freedom House.

“Se ele não aparecesse, a imprensa iria me fazer parecer muito mal”, disse Trump sobre Kim, acrescentando: “Ele me fez parecer muito bem".

Mais tarde, ele disse: “Certamente, este foi um grande dia; este foi um dia muito lendário e muito histórico”.

Seu navegador não suporta esse video.

Na fronteira entre os dois países, o presidente americano afirmou que trata-se de "um grande dia para o mundo" e que está "orgulhoso" em ter cruzado essa linha

Mesmo com a reunião carregada com o peso de um momento simbólico de reconciliação, Trump está ansioso por uma resolução para as paralisadas negociações nucleares com a Coréia do Norte, ao se encaminhar para um ano de reeleição. Ele certamente espera que seja definido como um elemento de que poderia dar um impulso à sua campanha.

Mas as agências de inteligência e os analistas americanos concluíram que dificilmente a Coreia do Norte desistirá de seu arsenal nuclear. Kim alimentou uma crise internacional lançando mísseis e projéteis - em maio passado - e ameaçando mais testes de armas nucleares.

“Amanhã, a Coreia do Norte ainda terá armas nucleares, e os EUA ainda manterão as sanções”, disse Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Universidade Ewha Womans, em Seul.

Mesmo Trump, em meio aos generosos elogios, injetou uma palavra de cautela dizendo que qualquer coisa concreta se materializaria a partir desse momento: “Será ainda mais histórico se algo resultar disso”. / Tradução de Claudia Bozzo

Quando o presidente Donald Trump enviou um convite pelo Twitter para o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para se encontrar na fortificada Zona Desmilitarizada (DMZ) que separa as duas Coreias – “só para apertar sua mão e dizer Olá (?)!” - ambos tinham muito a ganhar e mais ainda a perder. 

Se Kim não tivesse comparecido, isso teria constrangedor para Trump e poderia deixá-lo mais aberto a críticas por sua imprevisível diplomacia. Também teria agravado o dramático fracasso da cúpula em Hanói, no Vietnã, que Trump cancelou abruptamente em fevereiro. 

Última reunião entre Trump e Kim terminou repentinamente e sem acordo Foto: Brendan Smialowski / AFP

Mas o líder do Norte apareceu na hora marcada. Aqui estão quatro tópicos do encontro histórico: 

Parecia um pandemônio

A cena parecia caótica às vezes, com imagens de vídeo mostrando jornalistas e cinegrafistas correndo ao redor dos dois líderes, brigando com as autoridades de segurança e se acotovelando em busca de um local perfeito para registrar o encontro.

E as forças de segurança norte-coreanas também deixaram contusões no lado americano.

Stephanie Grisham, a recém-nomeada secretária de imprensa da Casa Branca, passou por uma prova de fogo depois de tentar facilitar a entrada da equipe de televisão americana em um prédio chamado Casa da Liberdade (Freedom House) e saiu ferida por golpes de policiais norte-coreanos, segundo jornalistas no local.  A repórter da Bloomberg Jennifer Jacobs postou um pouco do que foi a confusão em seu Twitter. 

O repórter da CNN Jim Acosta disse no Twitter que o encontro estava sendo descrito como “uma pancadaria”. Anteriormente, ele disse durante uma transmissão da CNN que passou pelo mesmo tratamento quando esteve em Cingapura para a primeira cúpula de Trump e Kim, em 2018.

A natureza imprevisível da reunião e a logística de segurança não podiam ser exageradas, e vezes os guarda-costas de Kim, de aparência sombria atrás dos óculos de sol, pareciam estar se esforçando para proteger totalmente o líder do Norte. 

Além disso, gritos de “Caras! Rapazes! Venham!” podiam ser ouvidos enquanto os repórteres repreendiam dois cinegrafistas norte-coreanos que eram implacáveis em sua missão de gravar a reunião de seu líder com Trump - mesmo que isso significasse bloquear a visão dos outros jornalistas.

Foi mais do que um aperto de mão

O convite inesperado na sexta-feira que pegou de surpresa o corpo diplomático de Trump enquanto o presidente participava da cúpula do G-20 em Osaka, no Japão, rendeu frutos simbólicos.

O que começou com um tuíte, transformou-se em um aperto de mão e em 20 passos históricos de um líder americano em território oficialmente hostil: às 15h46 de um domingo, Trump tornou-se o primeiro presidente americano no exercício do cargo a cruzar a fronteira e pisar na Coreia do Norte.

“Grande momento, grande momento”, disse Trump, que deu vários tapas nas costas de Kim.

“É bom ver você de novo”, disse um radiante Kim, por intermédio de um intérprete, ao presidente na Zona Desmilitarizada . “Nunca esperei encontrá-lo aqui."

Depois de posar para fotos em uma multidão de jornalistas internacionais, os dois homens voltaram para o lado sul-coreano em meio a um zumbido de câmeras e tiveram uma reunião bilateral que durou cerca de uma hora na Casa da Liberdade.

No fim, Trump disse que os dois concordaram em enviar seus negociadores de volta à mesa para buscar um acordo há muito tempo parado sobre as ambições nucleares do Norte. Trump também disse que convidaria Kim para visitá-lo na Casa Branca.

Telespectadores viram de perto uma fronteira com uma história sombria

Durante a reunião de domingo, imagens de vídeo mostraram vislumbres reservados e coloridos de uma fronteira que às vezes é chamada de última fronteira da Guerra Fria.

Os espectadores puderam ver homens segurando uma grossa corda amarela, que aparentemente foi usada para encurralar jornalistas no local. (Não era bem a corda aveludada que a Secretaria de Imprensa da Casa Branca colocava diante dos membros da imprensa em 2017, quando Sean Spicer era secretário de imprensa.)

E ainda havia as cabanas azuis. A Zona Desmilitarizada separa há décadas a Coreia do Norte e a Coreia do Sul e é supervisionada em conjunto pelo Comando das Nações Unidas liderado pelos EUA e pela Coreia do Norte. As atarracadas cabanas, que ficam na linha de demarcação, são pintadas de azul, cor das Nações Unidas.

As lentes das câmeras ofereciam uma visão aproximada das barreiras e marcadores na “aldeia de trégua” de Panmunjom  - a 51 quilômetros ao norte de Seul e 146 quilômetros ao sul de Pyongyang, capital da Coreia do Norte - onde as autoridades assinaram um armistício em 1953 para suspender os três anos da guerra coreana.

A área é cercada por minas e cercas de arame farpado, embora elas não estivessem tão visíveis no domingo. 

Soldados prontos para o combate treinam com armas mortais do outro lado. Mas no domingo, a região parecia ter sido invadido por jornalistas.

Enquanto as câmeras se aproximavam da baixa barreira de concreto que Trump cruzou para entrar na Coréia do Norte no domingo, o cenário dificilmente parecia assustador. Mas os visitantes não se atreveram a atravessar a laje, por medo de serem baleados.

Em 2017, um soldado norte-coreano desertou para a Coreia do Sul pela zona fortemente vigiada que separa os dois países, sendo alvejado por tiros vindos dos dois lados da fronteira. Imagens da televisão em circuito fechado mostraram a corrida dramática do soldado pela Área de Segurança Conjunta ao norte de Seul, a capital sul-coreana, no dia 13 de novembro.

O incidente mais notório em Panmunjom aconteceu em 1976, de acordo com a Associated Press, quando soldados norte-coreanos empunhando machados mataram dois oficiais americanos enviados para aparar uma árvore que bloqueava a vista de um dos postos de controle. Washington enviou bombardeiros com capacidade nuclear em direção à DMZ em resposta. As animosidades diminuíram depois que Kim Il-sung, o avô de Kim Jong-un, lamentou o episódio.

O mundo vai acompanhar para ver o que virá a seguir

Os dois líderes se cumprimentaram como velhos amigos no domingo, com Kim, 35 anos, elogiando Trump, de 73 anos, e com o presidente americano oferecendo elogios efusivos ao homem que muitos especialistas chamaram de ditador brutal e intempestivo que matou membros de sua própria família.

“Isso tem muita importância porque significa que queremos acabar com o passado desagradável e tentar criar um futuro, por isso é um ato muito corajoso e determinado”, disse Kim a repórteres por meio de um intérprete.

“Não acredito que esse tipo de reunião surpresa teria acontecido sem o excelente relacionamento pessoal entre sua excelência e eu”, disse ele depois a Trump, na Freedom House.

“Se ele não aparecesse, a imprensa iria me fazer parecer muito mal”, disse Trump sobre Kim, acrescentando: “Ele me fez parecer muito bem".

Mais tarde, ele disse: “Certamente, este foi um grande dia; este foi um dia muito lendário e muito histórico”.

Seu navegador não suporta esse video.

Na fronteira entre os dois países, o presidente americano afirmou que trata-se de "um grande dia para o mundo" e que está "orgulhoso" em ter cruzado essa linha

Mesmo com a reunião carregada com o peso de um momento simbólico de reconciliação, Trump está ansioso por uma resolução para as paralisadas negociações nucleares com a Coréia do Norte, ao se encaminhar para um ano de reeleição. Ele certamente espera que seja definido como um elemento de que poderia dar um impulso à sua campanha.

Mas as agências de inteligência e os analistas americanos concluíram que dificilmente a Coreia do Norte desistirá de seu arsenal nuclear. Kim alimentou uma crise internacional lançando mísseis e projéteis - em maio passado - e ameaçando mais testes de armas nucleares.

“Amanhã, a Coreia do Norte ainda terá armas nucleares, e os EUA ainda manterão as sanções”, disse Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Universidade Ewha Womans, em Seul.

Mesmo Trump, em meio aos generosos elogios, injetou uma palavra de cautela dizendo que qualquer coisa concreta se materializaria a partir desse momento: “Será ainda mais histórico se algo resultar disso”. / Tradução de Claudia Bozzo

Quando o presidente Donald Trump enviou um convite pelo Twitter para o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para se encontrar na fortificada Zona Desmilitarizada (DMZ) que separa as duas Coreias – “só para apertar sua mão e dizer Olá (?)!” - ambos tinham muito a ganhar e mais ainda a perder. 

Se Kim não tivesse comparecido, isso teria constrangedor para Trump e poderia deixá-lo mais aberto a críticas por sua imprevisível diplomacia. Também teria agravado o dramático fracasso da cúpula em Hanói, no Vietnã, que Trump cancelou abruptamente em fevereiro. 

Última reunião entre Trump e Kim terminou repentinamente e sem acordo Foto: Brendan Smialowski / AFP

Mas o líder do Norte apareceu na hora marcada. Aqui estão quatro tópicos do encontro histórico: 

Parecia um pandemônio

A cena parecia caótica às vezes, com imagens de vídeo mostrando jornalistas e cinegrafistas correndo ao redor dos dois líderes, brigando com as autoridades de segurança e se acotovelando em busca de um local perfeito para registrar o encontro.

E as forças de segurança norte-coreanas também deixaram contusões no lado americano.

Stephanie Grisham, a recém-nomeada secretária de imprensa da Casa Branca, passou por uma prova de fogo depois de tentar facilitar a entrada da equipe de televisão americana em um prédio chamado Casa da Liberdade (Freedom House) e saiu ferida por golpes de policiais norte-coreanos, segundo jornalistas no local.  A repórter da Bloomberg Jennifer Jacobs postou um pouco do que foi a confusão em seu Twitter. 

O repórter da CNN Jim Acosta disse no Twitter que o encontro estava sendo descrito como “uma pancadaria”. Anteriormente, ele disse durante uma transmissão da CNN que passou pelo mesmo tratamento quando esteve em Cingapura para a primeira cúpula de Trump e Kim, em 2018.

A natureza imprevisível da reunião e a logística de segurança não podiam ser exageradas, e vezes os guarda-costas de Kim, de aparência sombria atrás dos óculos de sol, pareciam estar se esforçando para proteger totalmente o líder do Norte. 

Além disso, gritos de “Caras! Rapazes! Venham!” podiam ser ouvidos enquanto os repórteres repreendiam dois cinegrafistas norte-coreanos que eram implacáveis em sua missão de gravar a reunião de seu líder com Trump - mesmo que isso significasse bloquear a visão dos outros jornalistas.

Foi mais do que um aperto de mão

O convite inesperado na sexta-feira que pegou de surpresa o corpo diplomático de Trump enquanto o presidente participava da cúpula do G-20 em Osaka, no Japão, rendeu frutos simbólicos.

O que começou com um tuíte, transformou-se em um aperto de mão e em 20 passos históricos de um líder americano em território oficialmente hostil: às 15h46 de um domingo, Trump tornou-se o primeiro presidente americano no exercício do cargo a cruzar a fronteira e pisar na Coreia do Norte.

“Grande momento, grande momento”, disse Trump, que deu vários tapas nas costas de Kim.

“É bom ver você de novo”, disse um radiante Kim, por intermédio de um intérprete, ao presidente na Zona Desmilitarizada . “Nunca esperei encontrá-lo aqui."

Depois de posar para fotos em uma multidão de jornalistas internacionais, os dois homens voltaram para o lado sul-coreano em meio a um zumbido de câmeras e tiveram uma reunião bilateral que durou cerca de uma hora na Casa da Liberdade.

No fim, Trump disse que os dois concordaram em enviar seus negociadores de volta à mesa para buscar um acordo há muito tempo parado sobre as ambições nucleares do Norte. Trump também disse que convidaria Kim para visitá-lo na Casa Branca.

Telespectadores viram de perto uma fronteira com uma história sombria

Durante a reunião de domingo, imagens de vídeo mostraram vislumbres reservados e coloridos de uma fronteira que às vezes é chamada de última fronteira da Guerra Fria.

Os espectadores puderam ver homens segurando uma grossa corda amarela, que aparentemente foi usada para encurralar jornalistas no local. (Não era bem a corda aveludada que a Secretaria de Imprensa da Casa Branca colocava diante dos membros da imprensa em 2017, quando Sean Spicer era secretário de imprensa.)

E ainda havia as cabanas azuis. A Zona Desmilitarizada separa há décadas a Coreia do Norte e a Coreia do Sul e é supervisionada em conjunto pelo Comando das Nações Unidas liderado pelos EUA e pela Coreia do Norte. As atarracadas cabanas, que ficam na linha de demarcação, são pintadas de azul, cor das Nações Unidas.

As lentes das câmeras ofereciam uma visão aproximada das barreiras e marcadores na “aldeia de trégua” de Panmunjom  - a 51 quilômetros ao norte de Seul e 146 quilômetros ao sul de Pyongyang, capital da Coreia do Norte - onde as autoridades assinaram um armistício em 1953 para suspender os três anos da guerra coreana.

A área é cercada por minas e cercas de arame farpado, embora elas não estivessem tão visíveis no domingo. 

Soldados prontos para o combate treinam com armas mortais do outro lado. Mas no domingo, a região parecia ter sido invadido por jornalistas.

Enquanto as câmeras se aproximavam da baixa barreira de concreto que Trump cruzou para entrar na Coréia do Norte no domingo, o cenário dificilmente parecia assustador. Mas os visitantes não se atreveram a atravessar a laje, por medo de serem baleados.

Em 2017, um soldado norte-coreano desertou para a Coreia do Sul pela zona fortemente vigiada que separa os dois países, sendo alvejado por tiros vindos dos dois lados da fronteira. Imagens da televisão em circuito fechado mostraram a corrida dramática do soldado pela Área de Segurança Conjunta ao norte de Seul, a capital sul-coreana, no dia 13 de novembro.

O incidente mais notório em Panmunjom aconteceu em 1976, de acordo com a Associated Press, quando soldados norte-coreanos empunhando machados mataram dois oficiais americanos enviados para aparar uma árvore que bloqueava a vista de um dos postos de controle. Washington enviou bombardeiros com capacidade nuclear em direção à DMZ em resposta. As animosidades diminuíram depois que Kim Il-sung, o avô de Kim Jong-un, lamentou o episódio.

O mundo vai acompanhar para ver o que virá a seguir

Os dois líderes se cumprimentaram como velhos amigos no domingo, com Kim, 35 anos, elogiando Trump, de 73 anos, e com o presidente americano oferecendo elogios efusivos ao homem que muitos especialistas chamaram de ditador brutal e intempestivo que matou membros de sua própria família.

“Isso tem muita importância porque significa que queremos acabar com o passado desagradável e tentar criar um futuro, por isso é um ato muito corajoso e determinado”, disse Kim a repórteres por meio de um intérprete.

“Não acredito que esse tipo de reunião surpresa teria acontecido sem o excelente relacionamento pessoal entre sua excelência e eu”, disse ele depois a Trump, na Freedom House.

“Se ele não aparecesse, a imprensa iria me fazer parecer muito mal”, disse Trump sobre Kim, acrescentando: “Ele me fez parecer muito bem".

Mais tarde, ele disse: “Certamente, este foi um grande dia; este foi um dia muito lendário e muito histórico”.

Seu navegador não suporta esse video.

Na fronteira entre os dois países, o presidente americano afirmou que trata-se de "um grande dia para o mundo" e que está "orgulhoso" em ter cruzado essa linha

Mesmo com a reunião carregada com o peso de um momento simbólico de reconciliação, Trump está ansioso por uma resolução para as paralisadas negociações nucleares com a Coréia do Norte, ao se encaminhar para um ano de reeleição. Ele certamente espera que seja definido como um elemento de que poderia dar um impulso à sua campanha.

Mas as agências de inteligência e os analistas americanos concluíram que dificilmente a Coreia do Norte desistirá de seu arsenal nuclear. Kim alimentou uma crise internacional lançando mísseis e projéteis - em maio passado - e ameaçando mais testes de armas nucleares.

“Amanhã, a Coreia do Norte ainda terá armas nucleares, e os EUA ainda manterão as sanções”, disse Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Universidade Ewha Womans, em Seul.

Mesmo Trump, em meio aos generosos elogios, injetou uma palavra de cautela dizendo que qualquer coisa concreta se materializaria a partir desse momento: “Será ainda mais histórico se algo resultar disso”. / Tradução de Claudia Bozzo

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