WASHINGTON - Ofendidas de maneira sistemática por Donald Trump, as mulheres americanas passaram a expressar índices de rejeição ao candidato nunca vistos em eleições presidenciais recentes no país – transformando-as em fator decisivo da disputa pela Casa Branca em novembro, caso ele seja escolhido como representante do Partido Republicano.
Líder na corrida pela nomeação da legenda à eleição geral de novembro, o bilionário encerrou na sexta-feira a pior semana de sua campanha, na qual enfureceu progressistas e conservadoras com a declaração de que grávidas que recorrem ao aborto deverão ser punidas caso a prática venha a ser declarada ilegal.
Diante das reações negativas, Trump retificou, dizendo que apenas os profissionais que realizam o procedimento deveriam ser penalizados. Mas a gafe reforçou a percepção de que o ex-apresentador do reality show O Aprendiz é hostil às mulheres.
Mesmo antes da controvérsia sobre o aborto, pesquisa da CNN mostrava que 73% das mulheres têm uma visão negativa do candidato, um aumento de 14 pontos porcentuais desde dezembro. A aceitação de Trump é maior entre as eleitoras republicanas, mas também está em declínio. Levantamento ABC News/Washington Post revelou que 43% das seguidoras do partido têm uma visão positiva de Trump. Em novembro, o porcentual era de 70%.
A redução da popularidade do bilionário entre as mulheres deverá influenciar o resultado das primárias de Wisconsin, marcadas para amanhã. Pesquisa da Marquette Law School coloca Ted Cruz na liderança, com 40%, 10 pontos à frente de Trump. O apoio ao bilionário é de 36% entre os homens e de apenas 24% entre as mulheres.
Corrida. Na disputa em novembro, quando os candidatos terão de convencer eleitores independentes, a posição das mulheres será decisiva. “A maioria dos analistas acredita que é virtualmente impossível ganhar a eleição com rejeição de três quartos do eleitorado feminino”, disse ao Estado Tim Malloy, diretor-assistente do centro de pesquisas da Universidade Quinnipiac.
Segundo ele, é improvável que Trump consiga compensar o mau desempenho entre as mulheres com a ampliação dos votos masculinos. “Há um limite em sua base eleitoral, formada principalmente por homens brancos, de classe média baixa e sem educação superior.”
O cenário para o bilionário é agravado pelo fato de que as mulheres vão às urnas em maior proporção e representam a maior fatia do eleitorado. Em 2012, na disputa entre Barack Obama e Mitt Romney, 71,4 milhões de americanas votaram, quase 10 milhões a mais que homens – o voto nos EUA é facultativo.
Nas seis eleições realizadas desde 1992, a maioria das mulheres optou por candidatos democratas. Obama venceu há quatro anos com o apoio de 54% do eleitorado feminino e 44% do masculino. O republicano Romney teve 46% e 54%, respectivamente.
A questão do aborto foi o ápice de dias marcados por confrontos centrados em mulheres. Na terça-feira, Trump fez uma enfática defesa do coordenador de sua campanha, Corey Lewandowski, detido por algumas horas e indiciado sob a acusação de puxar de maneira inapropriada o braço de uma repórter.
Na semana anterior, o bilionário havia retuitado um post que colocava uma foto de sua mulher, a ex-modelo Melania Trump, ao lado de uma imagem de Heidi Cruz, mulher de seu principal adversário republicano. Antes de compartilhar a mensagem com seus 7,4 milhões de seguidores, ele acrescentou o texto “uma foto vale mais do que mil palavras”, reforçando a percepção de que julga as mulheres pela aparência.