LONDRES - A primeira-ministra, Liz Truss, no cargo há um mês e meio, destituiu, nesta quarta-feira, 19, a secretária do Interior, Suella Braverman, na segunda troca na cúpula de seu gabinete em menos de uma semana. No dia 14, o secretário do Tesouro Kwasi Kwarteng, principal aliado de Truss, deixou o cargo após pressão dos mercados contra um plano de corte de impostos visto como inviável do ponto de vista das contas públicas.
A demissão de Braverman ocorre sob forte pressão do Parlamento contra Truss. Mais da metade da bancada do seu Partido Conservador avalia defender a renúncia da premiê. Na audiência de hoje, sob fortes críticas da oposição trabalhista e de parte dos tories, a primeira-ministra prometeu ficar no cargo, dizendo que desistir não era de seu feitio, pois acredita ser uma lutadora.
“Tomei a descisão (de desistir do corte de impostos) porque nossas políticas precisavam se ajustar à situação econômica”, disse Truss sob fortes vaias dos parlamentares.
Ainda nesta quarta-feira, ela enfrentou a perspectiva de uma grande rebelião conservadora em uma votação do Parlamento sobre a exploração de gás de xisto. Apesar de ter vencido a votação, elevou ainda mais seu desgaste com seu próprio partido.
Disputa interna
Apesar de analistas ainda considerarem uma renúncia imediata um cenário distante, a renúncia de Braverman, provocada pelo uso de um celular pessoal para guardar documentos confidenciais, expôs uma perda de poder do grupo político de Truss dentro do gabinete. Representante da linha-dura conservadora, Braverman se opunha à entrada de mais imigrantes no Reino Unido para estimular a economia.
Seu substituto deve ser Grant Shapps, um centrista aliado do novo secretário do Tesouro, Jeremy Hunt. Os dois novos secretários defenderam a escolha do rival de Truss, Rishi Sunak, na disputa para se tornar premiê. Com uma campanha mais à direita perante os membros do Partido Conservador, os ultraliberais e anti-imigração chefiados por Truss venceram. Agora, os centristas recobram espaço.
Os conselheiros de Truss também estão preocupados que outros membros de seu gabinete estejam planejando renunciar para tentar forçar a saída da primeira-ministra do Reino Unido.
O secretário de Educação, Kit Malthouse, e o secretário de Comércio, Kemi Badenoch, são vistos como outras possibilidades de renúncia. Malthouse fez uma avaliação brutal dos erros da primeira-ministra em um telefonema do Gabinete na segunda-feira para discutir os planos do novo secretário do Tesouro, Jeremy Hunt, de reverter o programa econômico de Truss, segundo a fonte. Tanto Badenoch quanto Malthouse disseram à agência Bloomberg que não estão renunciando.
As demissões ministeriais podem ser fatais para um primeiro-ministro. O mandato de Boris Johnson foi encerrado pelas rápidas saídas do então secretário de Saúde Sajid Javid e do ex-secretário do Tesouro Rishi Sunak, o que desencadeou um êxodo em massa de seu governo.
Deputados conservadores já especulam abertamente sobre quanto tempo Truss poderia permanecer no cargo. Um deles, Steve Double, disse à BBC que a premiê tinha até o final da próxima semana para convencer seus colegas de que deveria ficar.
Talvez o maior fator a seu favor seja que ainda não há sinal de consenso sobre um sucessor, e alguns legisladores hesitam em se apressar em outra disputa de liderança, depois do resultado caótico da eleição de Truss.
Um argumento que circula entre os conservadores é que eles devem esperar até depois de 31 de outubro, data em que Hunt deve apresentar um novo plano que provavelmente envolverá grandes cortes nos programas de gastos do governo. Alguns legisladores, no entanto, acreditam que quanto mais tempo Truss permanecer no poder, maiores serão os danos ao Partido.
O que acontece agora?
Existem quatro possíveis desfechos para a crise. O primeiro deles, que vem perdendo força nos últimos dias é a permanência de Truss no cargo até as eleições gerais de janeiro de 2025.
O segundo é uma renúncia da premiê. Com isso, o Partido Conservados escolheria um novo líder para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Isso pode ser possível politicamente mediante uma demissão em massa de ministros e é, no momento, o cenário mais provável, já que a liderança de Truss não pode ser desafiada formalmente por pelo menos um ano pelos colegas de partido, uma vez que ela acaba de substituir Boris Johnson num processo similar.
A terceira opção é a antecipação das eleições gerais frente a uma moção de desconfiança apresentada pela oposição. Como os partidos Trabalhista, liberal-democrata e Nacionalista Escocês não têm maioria para isso, seria necessário o apoio de pelo menos uma parte dos conservadores. Com a vantagem dos trabalhistas nas pesquisas de opinião, no entanto, este cenário também é improvável./ BLOOMBERG, AP E NYT