Quem disparou o míssil contra o hospital em Gaza? Investigação visual dá pistas


Vídeos analisados pelo Post revelam que foguetes foram lançados de Gaza na direção do hospital 44 segundos antes da explosão no local

Por Evan Hill, Meg Kelly e Imogen Piper

Combatentes em Gaza lançaram uma barragem de foguetes contra Israel e na direção do Hospital Al-Ahli 44 segundos antes de uma explosão na unidade de saúde matar pelo menos 100 pessoas, de acordo com análises visuais do Washington Post.

Um vídeo fornecido pelo canal de TV israelense Keshet 12 News permitiu ao Post estabelecer a geolocalização da origem do lançamento em um ponto a sudoeste do hospital na Cidade de Gaza, que corresponde aproximadamente ao local de lançamento de um foguete que teria apresentado defeito e caído no terreno do hospital. Especialistas afirmam que foguetes dessa barragem seriam capazes de alcançar o hospital no momento da explosão.

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A análise desse e de outros vídeos, assim como a revisão de especialistas sobre imagens do local da explosão, fornecem evidências circunstanciais capazes de fundamentar a alegação de Israel e do governo dos Estados Unidos de que um foguete descontrolado lançado por um grupo armado palestino foi responsável pela explosão em 17 de outubro.

Pessoas inspecionam a área do hospital Al-Ahli, onde centenas de palestinos foram mortos em uma explosão na Cidade de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: Mohammed Al-Masri / REUTERS

Ao mesmo tempo, nenhuma evidência visual emergiu mostrando algum foguete atingindo instalações do hospital, e as imagens analisadas pelo Post não descartam a possibilidade de um projétil não registrado, disparado de outro ponto, ter atingido o local.

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Nenhum das mais de duas dúzias de especialistas consultados pelo Post conseguiu afirmar com certeza que tipo de armamento atingiu o hospital ou quem o disparou. Mas especialistas em munições concordaram que o dano no hospital foi similar ao de um ataque de foguete. Eles afirmaram que o dano não corresponde ao de um ataque aéreo, que teria causado uma destruição muito maior, nem ao de um ataque de artilharia, que deixaria fragmentos substanciais e provavelmente não teria provocado a enorme bola de fogo registrada nos vídeos.

Além disso, a análise do Post constatou que um vídeo revelador filmado e veiculado pela rede de TV Al Jazeera, que os governos israelense e americano citaram como evidência de que um foguete falhou e caiu no terreno do hospital, mostra em vez disso um projétil lançado de uma localidade a quilômetros de lá, em Israel, próximo a uma aparente bateria de defesa antiaérea do sistema Domo de Ferro. Especialistas afirmaram que o vídeo amplamente circulado provavelmente mostrou um míssil interceptador do Domo de Ferro que colidiu com um foguete a cerca de cinco quilômetros do hospital e provavelmente não teve nada a ver com a explosão na unidade se saúde.

A Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA recusou-se a comentar as constatações do Post, incluindo a geolocalização do possível lançamento do míssil interceptador dentro de Israel. Um porta-voz afirmou que a espionagem americana tem “alta confiança” de que a explosão no hospital foi causada por um foguete lançado por “militantes palestinos”, com base em telefonemas interceptados, uma análise nos escombros do hospital e quatro vídeos disponíveis publicamente. Segundo o porta-voz, o vídeo da Al Jazeera foi um entre os quatro clipes analisados, mas o representante não revelou quais foram os outros.

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O porta-voz militar israelense Jonathan Conricus afirmou que Israel não realizou interceptações nas datas em torno do dia explosão, mas não respondeu diretamente à análise visual do Post.

A falta de evidências diretas dificultou provar definitivamente quem disparou a munição que explodiu no Hospital Al-Ahli e ilustra os limites de se tentar investigar remotamente incidentes em zonas de guerra sem acesso ao campo.

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O Hamas atribuiu a explosão no hospital a um ataque de Israel, enquanto os militares israelenses afirmaram que a explosão foi resultado de um foguete que “falhou” da Jihad Islâmica, um grupo palestino militante. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que 471 pessoas morreram, enquanto uma análise de inteligência dos EUA tornada pública declarou que o número de mortos ficou “provavelmente na faixa mais baixa do espectro de 100 a 300″.

Foguetes disparados de Gaza com frequência apresentam defeitos. As Forças Armadas de Israel afirmaram na semana passada que grupos armados palestinos dispararam mais de 6,9 mil foguetes contra Israel desde o início do atual conflito e que pelo menos 550 apresentaram falha. Um porta-voz militar israelense recusou-se a comentar se as forças de seu país usaram alguma munição classificada como foguete desde que a guerra começou.

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A explosão do hospital desencadeou a maior onda de fúria no Oriente Médio desde a incursão de 7 de outubro do Hamas que, segundo Israel, matou 1,4 mil pessoas e deixou 5,4 mil feridos. A incursão ocasionou uma campanha de ataques israelenses em Gaza que, segundo o Ministério da Saúde do enclave, matou ao menos 7.028 pessoas e deixou mais de 18,4 mil feridos. Os líderes do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina cancelaram reuniões diplomáticas com o presidente Joe Biden após o desastre no hospital, e manifestantes tomaram as ruas em vários países para expressar fúria contra Israel e os EUA em razão das mortes.

Nem Israel nem o Egito, que juntos bloqueiam efetivamente Gaza há mais de 16 anos, permitiram a entrada de jornalistas estrangeiros no enclave desde que a atual guerra começou, o que impossibilitou uma análise próxima do local da explosão. Jornalistas palestinos entraram no terreno do hospital e tiraram fotos no dia seguinte, mas nenhuma das imagens mostrou vestígios claros de armamento, provas que constituem peças críticas para esse tipo de investigação. O Hamas disse ao Post que recolheu os estilhaços e que “logo eles serão exibidos para o mundo”, mas também disse a outros meios de imprensa que não sobrou nenhum vestígio da munição que atingiu o hospital.

A barragem

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A barragem de foguetes foi lançada em Gaza pouco após as 18h59 no horário local. E concentrou imediatamente atenção de indivíduos que buscam estabelecer a responsabilidade pela explosão no hospital. O canal de TV Keshet 12 News exibiu vários trechos de sua gravação realizada da varanda de um imóvel na cidade israelense de  Netivot que registrou o lançamento. A emissora forneceu ao Post um clipe de 94 segundos que inclui todos os disparos.

Um segundo vídeo, de uma câmera de vigilância que transmite imagens ao vivo da Faixa de Gaza instalada na cidade de Bat Yam, um subúrbio de Tel-Aviv, capturou o mesmo lançamento. Ambos os vídeos tinham time codes que o Post constatou serem acurados.

Os vídeos mostraram o lançamento de dois pontos diferentes, a cerca de 65 quilômetros um do outro. Por meio de geolocalização de pontos de referência visíveis em ambos os vídeos, o Post triangulou a origem do lançamento da barragem de foguetes em um local 4,8 quilômetros a sudoeste do Hospital Al-Ahli, nas imediações da Cidade de Gaza.

A localização correspondeu aproximadamente ao local de lançamento apresentado por um mapa de “registro de radar” das Forças Armadas de Israel revelado em 18 de outubro, mostrando o que os militares israelenses afirmaram ser o local dos disparos e as trajetórias dos foguetes disparados de lá que passaram sobre o hospital. A análise do Post constatou que a barragem de foguetes rumou para nordeste, na direção do hospital.

Foguetes palestinos são pouco sofisticados, não possuem dispositivos de orientação e carregam combustível para alimentar seus motores, afirmam especialistas.

O especialista em foguetes e mísseis Markus Schiller, radicado em Munique, estima que levaria de 25 segundos a 45 segundos para um foguete de modelo Qassam usado pelos grupos palestinos alcançar o hospital a partir do local do disparo, dependendo de fatores incluindo o ângulo do lançamento.

Ferenc Dalnoki-Veress, professor do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais e cientista em residência do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, afirmou que suas constatações corresponderam às de Schiller e que foguetes teriam levado aproximadamente de 26 segundo a 37 segundos para alcançar o hospital.

A barragem de foguetes registrada nos vídeos, que incluiu mais de uma dúzia de foguetes visíveis, inicia-se 44 segundos antes da explosão e dura 14 segundos, o que significa que muitos dos foguetes poderiam ter chegado ao hospital a tempo da explosão. Não foi constatada nenhuma evidência visual indicando que qualquer um tenha falhado e caído.

A explosão

Um vídeo gravado de um edifício cerca de 150 metros a sudeste do hospital capturou o agudo assobio do projétil ganhando velocidade imediatamente antes da explosão.

O Post enviou este vídeo e outras imagens que capturaram o momento da explosão para vários especialistas forenses em áudio. O professor Rob Maher, da Universidade Estadual de Montana, afirmou que a frequência de volume crescente produzida pelo projétil em queda indica que ele estava em aceleração.

A aceleração poderia indicar que o projétil caía verticalmente, ganhando velocidade com a força da gravidade, afirmou ele, acrescentando que isso seriam mais consistente com um foguete com defeito despencando do céu, de acordo com análises acústicas, do que um objeto movendo-se horizontalmente.

O impacto nas instalações do Hospital Al-Ahli causou uma grande explosão que fez subir uma bola de fogo.

Marc Garlasco, ex-analista de dano em batalha do Departamento da Defesa e investigador de crimes de guerra na ONU, afirmou que esse tipo de explosão requereria uma quantidade de cargas explosivas “substancial” e combustível acelerante similares aos carregados por um foguete que apresenta falha antes de se aproximar do alvo.

Chamas tomaram o pátio do hospital, onde centenas de pessoas, segundo relatos, abrigavam-se para evitar ataques aéreos. Um vídeo registrado imediatamente após a explosão mostra dezenas de corpos espalhados pelo pátio.

O rescaldo

Fotos mostram membros da unidade de neutralização de explosivos da policia palestina examinando a cratera aberta pela explosão naquela noite. Na manhã seguinte, jornalistas e civis palestinos começaram a postar vídeos e fotos da cena. Nenhum vestígio da munição que causou a explosão era evidente nas imagens.

As fotos registraram mais de uma dezena de carros incinerados, incluindo um que capotou com o impacto, no estacionamento do hospital.

Veículos incinerados

Os edifícios do entorno do pátio foram relativamente pouco danificados, com janelas quebradas e telhas que saíram voando.

Uma pequena cratera, com cerca de 90 centímetros de diâmetro, foi aberta no estacionamento entre dois gramados em que os civis se abrigavam. Um padrão de fragmentação em forma de spray ficou marcado no chão numa só direção, mas especialistas não concordaram com o significado disso.

Palestinos carregam pertences e saem do hospital al-Ahli, que estavam usando como abrigo, na Cidade de Gaza, quarta-feira, 18 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP
Palestinos feridos no hospital Ahli Arab no hospital al-Shifa, após ataques aéreos israelenses, na Cidade de Gaza, no centro da Faixa de Gaza, na terça-feira, 17 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP

Porções de uma cerca de metal e concreto próxima à cratera se romperam e ficaram retorcidas, e árvores próximas pareciam carbonizadas.

Mais de meia dúzia de especialistas que analisaram independentemente as imagens da cena afirmou que a ausência de um dano maior decorrente de explosão, como prédios destruídos, e o tamanho e formato relativamente pequenos da cratera anulam a possibilidade de ter havido o tipo de ataque que Israel tem realizado em outros pontos de Gaza desde 7 de outubro.

“Eu posso afirmar categoricamente que não se tratou de um ataque aéreo”, afirmou Garlasco.

Garlasco notou uma grande quantidade do que classificou como “dano térmico localizado”, que significa destruição por fogo, que ele afirmou ser incomum em ataques aéreos. Uma cena como essa, disse o especialista, é em vez disso mais consistente com uma munição “carregando muito combustível” caindo prematuramente e incendiando-o com sua ogiva explosiva. Isso criaria um incêndio instantâneo que atingiria o local com danos concentrados, em vez de generalizados, afirmou Garlasco.

O tamanho da cratera e a intensidade da explosão correspondem às do impacto de uma munição de artilharia de 155 milímetros, presente no arsenal israelense, afirmou o consultor em segurança e ex-oficial de artilharia do Exército britânico Chris Cobb-Smith. Mas outros armamentos fazem o mesmo tipo de estrago, e um projétil de artilharia não teria produzido a bola de fogo vista nos vídeos da explosão, afirmou ele.

Em 14 de outubro, apenas três dias antes da explosão no hospital, a direção da unidade de saúde afirmou que suas instalações tinham sido atingidas por outro projétil, e um vídeo gravado dentro do local mostrou um projétil de sinalização de 155 milímetros no chão de um recinto com um grande buraco na parede. Projéteis de sinalização não são disparados diretamente contra os alvos, eles caem do céu com paraquedas para sinalizar, iluminar áreas ou marcar alvos, enquanto o projétil desce ao solo. O projétil caiu na sala de ultrassom, escreveu o homem que postou o vídeo, um pastor anglicano que trabalha com a diocese associada ao hospital.

Conricus, o porta-voz militar israelense, afirmou que a munição encontrada em 14 de outubro parecia um projétil de sinalização de 155 milímetros, mas que o hospital não havia sido alvejado.

“O hospital certamente não foi atingido propositalmente”, afirmou Conricus. “Se um projétil de artilharia atingiu o local, provavelmente foi resultado de uma queda ou falha após ter sido disparado, mas definitivamente não mirava o hospital.” As Forças Armadas israelenses não dispararam projéteis de 155 milímetros contra a área do hospital em 17 de outubro, o dia da explosão, afirmou ele.

Um vídeo mal interpretado

Os governos israelense e americano — e alguns meios de imprensa — apontaram para um vídeo gravado e veiculado pela rede Al Jazeera na noite da explosão que inicialmente pareceu mostrar um possível foguete voando próximo ao hospital e explodindo no ar segundos antes da explosão no hospital. Os militares israelenses citaram o vídeo em várias entrevistas. Autoridades de inteligência dos EUA afirmaram que seus analistas também tinham se embasado naquele vídeo.

Mas depois de analisar vários vídeos o Post constatou que o projétil em questão tinha sido lançado na realidade de um ponto dentro de Israel, próximo a uma provável linha de defesa de mísseis do sistema Domo de Ferro, e especialistas afirmaram que se tratou provavelmente de um míssil interceptador que não teve nada a ver com a explosão no hospital.

Cerca de 20 segundos depois da barragem de foguetes ser disparada, a câmera de vigilância do subúrbio de Tel-Aviv capturou um projétil solitário ascendendo a uma altitude elevada e rumando para o leste e um vídeo do mesmo lançamento gravado por um cinegrafista do alto de um prédio da Cidade de Gaza.

Esta imagem de satélite, cortesia da Maxar Technologies, tirada em 19 de outubro de 2023, mostra as consequências de um ataque que ocorreu em 17 de outubro de 2023 no hospital Al-Ahli e na área circundante na Cidade de Gaza. Foto: Maxar Technologies via AFP
Manifestantes entram em confronto com as forças de segurança do lado de fora da embaixada dos EUA no Líbano em 18 de outubro de 2023.  Foto: BBAS SALMAN / EFE
Manifestantes gritam slogans durante um protesto em apoio ao povo palestino, após a explosão no hospital na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: MOHAMED HOSSAM / EFE

O Post usou esses dois vídeos para triangular origem do projétil, localidando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de  4 quilômetros da cerca de Gaza e confirmou a localização com um vídeo obtido do canal Keshet 12 News. O ponto de origem foi identificado inicialmente por investigadores independentes que postaram suas constatações nas redes sociais X e Discord.

A origem do projétil era nas imediações de um campo militar israelense, mostram imagens de satélite. Especialistas afirmaram que o local, registrado pela Planet Labs em 20 de outubro, tem características consistentes com exemplos conhecidos de baterias de mísseis do Domo de Ferro, incluindo muros antiexplosão dispostos diretamente ao lado dos lançadores.

Cerca de 15 segundos após seu lançamento e depois de mudar de direção e traçar um arco para o oeste, o projétil lançado das imediações das supostas instalações do Domo de Ferro explodiu no ar.

Cinco especialistas que analisaram os vídeos disseram ao Post que o projétil parecia um míssil interceptador Tamir disparado pelo sistema israelense Domo de Ferro, com base em seu comportamento e local de lançamento.

“O que estamos vendo é um míssil interceptador”, afirmou Dalnoki-Veress. “Esses interceptadores mudam de curso constantemente para corrigir o ponto de interceptação esperado no tempo e espaço.”

Ao contrário dos foguetes não guiados disparados pelos grupos armados palestinos, que seguem trajetórias balísticas, o caminho serpenteante desse míssil no céu antes de explodir mostrou a “trajetória claramente não balística esperada de um interceptador Tamir”, afirmou Dalnoki-Veress.

Justin Bronk, pesquisador sênior do centro de pesquisa britânico em defesa e segurança Royal United Services Institute, interpretou diferentemente a gravação e escreveu por e-mail que as imagens capturaram “um único motor de foguete visível que mostra uma mudança de curso súbita e violenta que seria consistente com uma falha de controle em solo seguida de uma chuva de fagulhas consistente com um defeito estrutural em voo poucos segundos depois”.

Um porta-voz da Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA disse ao Post que vários vídeos mostraram “um foguete ou míssil experimentando uma provável falha durante o voo cerca de 10 segundos após o lançamento” e que a explosão no Hospital de Al-Ahli, pouco depois, decorreu “quase certamente da ogiva que caiu”. O porta-voz não identificou o ponto preciso de origem do projétil em Gaza.

Os cinco especialistas concordaram que não há evidência que conecte a provável interceptação à explosão no hospital e que os dois eventos provavelmente não têm relação.

A explosão e a bola de fogo atingiram o terreno do hospital 7 segundos após o aparente míssil interceptador explodir no céu. O Post triangulou a localização da suposta explosão de interceptação localizando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de 1,6 quilômetro da cerca de Gaza e aproximadamente 5,6 quilômetros a leste do hospital.

Os 7 segundos entre a explosão no céu e a explosão no hospital, a quilômetros de distância, não seriam tempo suficiente para que destroços da interceptação pudessem atingir o hospital, afirmou Schiller. Qualquer objeto que caísse da explosão no ar teria de ter sido propulsionado a mais de 500 metros por segundo, uma velocidade supersônica, para atingir o hospital nesse tempo, o que “é praticamente impossível”, afirmou ele. Segundo Schiller o mais provável é a explosão ter sido causada por um foguete não relacionado que apresentou defeito e “atingiu as instalações do hospital pouquíssimos segundos depois do evento de interceptação”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Combatentes em Gaza lançaram uma barragem de foguetes contra Israel e na direção do Hospital Al-Ahli 44 segundos antes de uma explosão na unidade de saúde matar pelo menos 100 pessoas, de acordo com análises visuais do Washington Post.

Um vídeo fornecido pelo canal de TV israelense Keshet 12 News permitiu ao Post estabelecer a geolocalização da origem do lançamento em um ponto a sudoeste do hospital na Cidade de Gaza, que corresponde aproximadamente ao local de lançamento de um foguete que teria apresentado defeito e caído no terreno do hospital. Especialistas afirmam que foguetes dessa barragem seriam capazes de alcançar o hospital no momento da explosão.

A análise desse e de outros vídeos, assim como a revisão de especialistas sobre imagens do local da explosão, fornecem evidências circunstanciais capazes de fundamentar a alegação de Israel e do governo dos Estados Unidos de que um foguete descontrolado lançado por um grupo armado palestino foi responsável pela explosão em 17 de outubro.

Pessoas inspecionam a área do hospital Al-Ahli, onde centenas de palestinos foram mortos em uma explosão na Cidade de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: Mohammed Al-Masri / REUTERS

Ao mesmo tempo, nenhuma evidência visual emergiu mostrando algum foguete atingindo instalações do hospital, e as imagens analisadas pelo Post não descartam a possibilidade de um projétil não registrado, disparado de outro ponto, ter atingido o local.

Nenhum das mais de duas dúzias de especialistas consultados pelo Post conseguiu afirmar com certeza que tipo de armamento atingiu o hospital ou quem o disparou. Mas especialistas em munições concordaram que o dano no hospital foi similar ao de um ataque de foguete. Eles afirmaram que o dano não corresponde ao de um ataque aéreo, que teria causado uma destruição muito maior, nem ao de um ataque de artilharia, que deixaria fragmentos substanciais e provavelmente não teria provocado a enorme bola de fogo registrada nos vídeos.

Além disso, a análise do Post constatou que um vídeo revelador filmado e veiculado pela rede de TV Al Jazeera, que os governos israelense e americano citaram como evidência de que um foguete falhou e caiu no terreno do hospital, mostra em vez disso um projétil lançado de uma localidade a quilômetros de lá, em Israel, próximo a uma aparente bateria de defesa antiaérea do sistema Domo de Ferro. Especialistas afirmaram que o vídeo amplamente circulado provavelmente mostrou um míssil interceptador do Domo de Ferro que colidiu com um foguete a cerca de cinco quilômetros do hospital e provavelmente não teve nada a ver com a explosão na unidade se saúde.

A Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA recusou-se a comentar as constatações do Post, incluindo a geolocalização do possível lançamento do míssil interceptador dentro de Israel. Um porta-voz afirmou que a espionagem americana tem “alta confiança” de que a explosão no hospital foi causada por um foguete lançado por “militantes palestinos”, com base em telefonemas interceptados, uma análise nos escombros do hospital e quatro vídeos disponíveis publicamente. Segundo o porta-voz, o vídeo da Al Jazeera foi um entre os quatro clipes analisados, mas o representante não revelou quais foram os outros.

O porta-voz militar israelense Jonathan Conricus afirmou que Israel não realizou interceptações nas datas em torno do dia explosão, mas não respondeu diretamente à análise visual do Post.

A falta de evidências diretas dificultou provar definitivamente quem disparou a munição que explodiu no Hospital Al-Ahli e ilustra os limites de se tentar investigar remotamente incidentes em zonas de guerra sem acesso ao campo.

O Hamas atribuiu a explosão no hospital a um ataque de Israel, enquanto os militares israelenses afirmaram que a explosão foi resultado de um foguete que “falhou” da Jihad Islâmica, um grupo palestino militante. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que 471 pessoas morreram, enquanto uma análise de inteligência dos EUA tornada pública declarou que o número de mortos ficou “provavelmente na faixa mais baixa do espectro de 100 a 300″.

Foguetes disparados de Gaza com frequência apresentam defeitos. As Forças Armadas de Israel afirmaram na semana passada que grupos armados palestinos dispararam mais de 6,9 mil foguetes contra Israel desde o início do atual conflito e que pelo menos 550 apresentaram falha. Um porta-voz militar israelense recusou-se a comentar se as forças de seu país usaram alguma munição classificada como foguete desde que a guerra começou.

A explosão do hospital desencadeou a maior onda de fúria no Oriente Médio desde a incursão de 7 de outubro do Hamas que, segundo Israel, matou 1,4 mil pessoas e deixou 5,4 mil feridos. A incursão ocasionou uma campanha de ataques israelenses em Gaza que, segundo o Ministério da Saúde do enclave, matou ao menos 7.028 pessoas e deixou mais de 18,4 mil feridos. Os líderes do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina cancelaram reuniões diplomáticas com o presidente Joe Biden após o desastre no hospital, e manifestantes tomaram as ruas em vários países para expressar fúria contra Israel e os EUA em razão das mortes.

Nem Israel nem o Egito, que juntos bloqueiam efetivamente Gaza há mais de 16 anos, permitiram a entrada de jornalistas estrangeiros no enclave desde que a atual guerra começou, o que impossibilitou uma análise próxima do local da explosão. Jornalistas palestinos entraram no terreno do hospital e tiraram fotos no dia seguinte, mas nenhuma das imagens mostrou vestígios claros de armamento, provas que constituem peças críticas para esse tipo de investigação. O Hamas disse ao Post que recolheu os estilhaços e que “logo eles serão exibidos para o mundo”, mas também disse a outros meios de imprensa que não sobrou nenhum vestígio da munição que atingiu o hospital.

A barragem

A barragem de foguetes foi lançada em Gaza pouco após as 18h59 no horário local. E concentrou imediatamente atenção de indivíduos que buscam estabelecer a responsabilidade pela explosão no hospital. O canal de TV Keshet 12 News exibiu vários trechos de sua gravação realizada da varanda de um imóvel na cidade israelense de  Netivot que registrou o lançamento. A emissora forneceu ao Post um clipe de 94 segundos que inclui todos os disparos.

Um segundo vídeo, de uma câmera de vigilância que transmite imagens ao vivo da Faixa de Gaza instalada na cidade de Bat Yam, um subúrbio de Tel-Aviv, capturou o mesmo lançamento. Ambos os vídeos tinham time codes que o Post constatou serem acurados.

Os vídeos mostraram o lançamento de dois pontos diferentes, a cerca de 65 quilômetros um do outro. Por meio de geolocalização de pontos de referência visíveis em ambos os vídeos, o Post triangulou a origem do lançamento da barragem de foguetes em um local 4,8 quilômetros a sudoeste do Hospital Al-Ahli, nas imediações da Cidade de Gaza.

A localização correspondeu aproximadamente ao local de lançamento apresentado por um mapa de “registro de radar” das Forças Armadas de Israel revelado em 18 de outubro, mostrando o que os militares israelenses afirmaram ser o local dos disparos e as trajetórias dos foguetes disparados de lá que passaram sobre o hospital. A análise do Post constatou que a barragem de foguetes rumou para nordeste, na direção do hospital.

Foguetes palestinos são pouco sofisticados, não possuem dispositivos de orientação e carregam combustível para alimentar seus motores, afirmam especialistas.

O especialista em foguetes e mísseis Markus Schiller, radicado em Munique, estima que levaria de 25 segundos a 45 segundos para um foguete de modelo Qassam usado pelos grupos palestinos alcançar o hospital a partir do local do disparo, dependendo de fatores incluindo o ângulo do lançamento.

Ferenc Dalnoki-Veress, professor do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais e cientista em residência do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, afirmou que suas constatações corresponderam às de Schiller e que foguetes teriam levado aproximadamente de 26 segundo a 37 segundos para alcançar o hospital.

A barragem de foguetes registrada nos vídeos, que incluiu mais de uma dúzia de foguetes visíveis, inicia-se 44 segundos antes da explosão e dura 14 segundos, o que significa que muitos dos foguetes poderiam ter chegado ao hospital a tempo da explosão. Não foi constatada nenhuma evidência visual indicando que qualquer um tenha falhado e caído.

A explosão

Um vídeo gravado de um edifício cerca de 150 metros a sudeste do hospital capturou o agudo assobio do projétil ganhando velocidade imediatamente antes da explosão.

O Post enviou este vídeo e outras imagens que capturaram o momento da explosão para vários especialistas forenses em áudio. O professor Rob Maher, da Universidade Estadual de Montana, afirmou que a frequência de volume crescente produzida pelo projétil em queda indica que ele estava em aceleração.

A aceleração poderia indicar que o projétil caía verticalmente, ganhando velocidade com a força da gravidade, afirmou ele, acrescentando que isso seriam mais consistente com um foguete com defeito despencando do céu, de acordo com análises acústicas, do que um objeto movendo-se horizontalmente.

O impacto nas instalações do Hospital Al-Ahli causou uma grande explosão que fez subir uma bola de fogo.

Marc Garlasco, ex-analista de dano em batalha do Departamento da Defesa e investigador de crimes de guerra na ONU, afirmou que esse tipo de explosão requereria uma quantidade de cargas explosivas “substancial” e combustível acelerante similares aos carregados por um foguete que apresenta falha antes de se aproximar do alvo.

Chamas tomaram o pátio do hospital, onde centenas de pessoas, segundo relatos, abrigavam-se para evitar ataques aéreos. Um vídeo registrado imediatamente após a explosão mostra dezenas de corpos espalhados pelo pátio.

O rescaldo

Fotos mostram membros da unidade de neutralização de explosivos da policia palestina examinando a cratera aberta pela explosão naquela noite. Na manhã seguinte, jornalistas e civis palestinos começaram a postar vídeos e fotos da cena. Nenhum vestígio da munição que causou a explosão era evidente nas imagens.

As fotos registraram mais de uma dezena de carros incinerados, incluindo um que capotou com o impacto, no estacionamento do hospital.

Veículos incinerados

Os edifícios do entorno do pátio foram relativamente pouco danificados, com janelas quebradas e telhas que saíram voando.

Uma pequena cratera, com cerca de 90 centímetros de diâmetro, foi aberta no estacionamento entre dois gramados em que os civis se abrigavam. Um padrão de fragmentação em forma de spray ficou marcado no chão numa só direção, mas especialistas não concordaram com o significado disso.

Palestinos carregam pertences e saem do hospital al-Ahli, que estavam usando como abrigo, na Cidade de Gaza, quarta-feira, 18 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP
Palestinos feridos no hospital Ahli Arab no hospital al-Shifa, após ataques aéreos israelenses, na Cidade de Gaza, no centro da Faixa de Gaza, na terça-feira, 17 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP

Porções de uma cerca de metal e concreto próxima à cratera se romperam e ficaram retorcidas, e árvores próximas pareciam carbonizadas.

Mais de meia dúzia de especialistas que analisaram independentemente as imagens da cena afirmou que a ausência de um dano maior decorrente de explosão, como prédios destruídos, e o tamanho e formato relativamente pequenos da cratera anulam a possibilidade de ter havido o tipo de ataque que Israel tem realizado em outros pontos de Gaza desde 7 de outubro.

“Eu posso afirmar categoricamente que não se tratou de um ataque aéreo”, afirmou Garlasco.

Garlasco notou uma grande quantidade do que classificou como “dano térmico localizado”, que significa destruição por fogo, que ele afirmou ser incomum em ataques aéreos. Uma cena como essa, disse o especialista, é em vez disso mais consistente com uma munição “carregando muito combustível” caindo prematuramente e incendiando-o com sua ogiva explosiva. Isso criaria um incêndio instantâneo que atingiria o local com danos concentrados, em vez de generalizados, afirmou Garlasco.

O tamanho da cratera e a intensidade da explosão correspondem às do impacto de uma munição de artilharia de 155 milímetros, presente no arsenal israelense, afirmou o consultor em segurança e ex-oficial de artilharia do Exército britânico Chris Cobb-Smith. Mas outros armamentos fazem o mesmo tipo de estrago, e um projétil de artilharia não teria produzido a bola de fogo vista nos vídeos da explosão, afirmou ele.

Em 14 de outubro, apenas três dias antes da explosão no hospital, a direção da unidade de saúde afirmou que suas instalações tinham sido atingidas por outro projétil, e um vídeo gravado dentro do local mostrou um projétil de sinalização de 155 milímetros no chão de um recinto com um grande buraco na parede. Projéteis de sinalização não são disparados diretamente contra os alvos, eles caem do céu com paraquedas para sinalizar, iluminar áreas ou marcar alvos, enquanto o projétil desce ao solo. O projétil caiu na sala de ultrassom, escreveu o homem que postou o vídeo, um pastor anglicano que trabalha com a diocese associada ao hospital.

Conricus, o porta-voz militar israelense, afirmou que a munição encontrada em 14 de outubro parecia um projétil de sinalização de 155 milímetros, mas que o hospital não havia sido alvejado.

“O hospital certamente não foi atingido propositalmente”, afirmou Conricus. “Se um projétil de artilharia atingiu o local, provavelmente foi resultado de uma queda ou falha após ter sido disparado, mas definitivamente não mirava o hospital.” As Forças Armadas israelenses não dispararam projéteis de 155 milímetros contra a área do hospital em 17 de outubro, o dia da explosão, afirmou ele.

Um vídeo mal interpretado

Os governos israelense e americano — e alguns meios de imprensa — apontaram para um vídeo gravado e veiculado pela rede Al Jazeera na noite da explosão que inicialmente pareceu mostrar um possível foguete voando próximo ao hospital e explodindo no ar segundos antes da explosão no hospital. Os militares israelenses citaram o vídeo em várias entrevistas. Autoridades de inteligência dos EUA afirmaram que seus analistas também tinham se embasado naquele vídeo.

Mas depois de analisar vários vídeos o Post constatou que o projétil em questão tinha sido lançado na realidade de um ponto dentro de Israel, próximo a uma provável linha de defesa de mísseis do sistema Domo de Ferro, e especialistas afirmaram que se tratou provavelmente de um míssil interceptador que não teve nada a ver com a explosão no hospital.

Cerca de 20 segundos depois da barragem de foguetes ser disparada, a câmera de vigilância do subúrbio de Tel-Aviv capturou um projétil solitário ascendendo a uma altitude elevada e rumando para o leste e um vídeo do mesmo lançamento gravado por um cinegrafista do alto de um prédio da Cidade de Gaza.

Esta imagem de satélite, cortesia da Maxar Technologies, tirada em 19 de outubro de 2023, mostra as consequências de um ataque que ocorreu em 17 de outubro de 2023 no hospital Al-Ahli e na área circundante na Cidade de Gaza. Foto: Maxar Technologies via AFP
Manifestantes entram em confronto com as forças de segurança do lado de fora da embaixada dos EUA no Líbano em 18 de outubro de 2023.  Foto: BBAS SALMAN / EFE
Manifestantes gritam slogans durante um protesto em apoio ao povo palestino, após a explosão no hospital na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: MOHAMED HOSSAM / EFE

O Post usou esses dois vídeos para triangular origem do projétil, localidando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de  4 quilômetros da cerca de Gaza e confirmou a localização com um vídeo obtido do canal Keshet 12 News. O ponto de origem foi identificado inicialmente por investigadores independentes que postaram suas constatações nas redes sociais X e Discord.

A origem do projétil era nas imediações de um campo militar israelense, mostram imagens de satélite. Especialistas afirmaram que o local, registrado pela Planet Labs em 20 de outubro, tem características consistentes com exemplos conhecidos de baterias de mísseis do Domo de Ferro, incluindo muros antiexplosão dispostos diretamente ao lado dos lançadores.

Cerca de 15 segundos após seu lançamento e depois de mudar de direção e traçar um arco para o oeste, o projétil lançado das imediações das supostas instalações do Domo de Ferro explodiu no ar.

Cinco especialistas que analisaram os vídeos disseram ao Post que o projétil parecia um míssil interceptador Tamir disparado pelo sistema israelense Domo de Ferro, com base em seu comportamento e local de lançamento.

“O que estamos vendo é um míssil interceptador”, afirmou Dalnoki-Veress. “Esses interceptadores mudam de curso constantemente para corrigir o ponto de interceptação esperado no tempo e espaço.”

Ao contrário dos foguetes não guiados disparados pelos grupos armados palestinos, que seguem trajetórias balísticas, o caminho serpenteante desse míssil no céu antes de explodir mostrou a “trajetória claramente não balística esperada de um interceptador Tamir”, afirmou Dalnoki-Veress.

Justin Bronk, pesquisador sênior do centro de pesquisa britânico em defesa e segurança Royal United Services Institute, interpretou diferentemente a gravação e escreveu por e-mail que as imagens capturaram “um único motor de foguete visível que mostra uma mudança de curso súbita e violenta que seria consistente com uma falha de controle em solo seguida de uma chuva de fagulhas consistente com um defeito estrutural em voo poucos segundos depois”.

Um porta-voz da Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA disse ao Post que vários vídeos mostraram “um foguete ou míssil experimentando uma provável falha durante o voo cerca de 10 segundos após o lançamento” e que a explosão no Hospital de Al-Ahli, pouco depois, decorreu “quase certamente da ogiva que caiu”. O porta-voz não identificou o ponto preciso de origem do projétil em Gaza.

Os cinco especialistas concordaram que não há evidência que conecte a provável interceptação à explosão no hospital e que os dois eventos provavelmente não têm relação.

A explosão e a bola de fogo atingiram o terreno do hospital 7 segundos após o aparente míssil interceptador explodir no céu. O Post triangulou a localização da suposta explosão de interceptação localizando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de 1,6 quilômetro da cerca de Gaza e aproximadamente 5,6 quilômetros a leste do hospital.

Os 7 segundos entre a explosão no céu e a explosão no hospital, a quilômetros de distância, não seriam tempo suficiente para que destroços da interceptação pudessem atingir o hospital, afirmou Schiller. Qualquer objeto que caísse da explosão no ar teria de ter sido propulsionado a mais de 500 metros por segundo, uma velocidade supersônica, para atingir o hospital nesse tempo, o que “é praticamente impossível”, afirmou ele. Segundo Schiller o mais provável é a explosão ter sido causada por um foguete não relacionado que apresentou defeito e “atingiu as instalações do hospital pouquíssimos segundos depois do evento de interceptação”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Combatentes em Gaza lançaram uma barragem de foguetes contra Israel e na direção do Hospital Al-Ahli 44 segundos antes de uma explosão na unidade de saúde matar pelo menos 100 pessoas, de acordo com análises visuais do Washington Post.

Um vídeo fornecido pelo canal de TV israelense Keshet 12 News permitiu ao Post estabelecer a geolocalização da origem do lançamento em um ponto a sudoeste do hospital na Cidade de Gaza, que corresponde aproximadamente ao local de lançamento de um foguete que teria apresentado defeito e caído no terreno do hospital. Especialistas afirmam que foguetes dessa barragem seriam capazes de alcançar o hospital no momento da explosão.

A análise desse e de outros vídeos, assim como a revisão de especialistas sobre imagens do local da explosão, fornecem evidências circunstanciais capazes de fundamentar a alegação de Israel e do governo dos Estados Unidos de que um foguete descontrolado lançado por um grupo armado palestino foi responsável pela explosão em 17 de outubro.

Pessoas inspecionam a área do hospital Al-Ahli, onde centenas de palestinos foram mortos em uma explosão na Cidade de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: Mohammed Al-Masri / REUTERS

Ao mesmo tempo, nenhuma evidência visual emergiu mostrando algum foguete atingindo instalações do hospital, e as imagens analisadas pelo Post não descartam a possibilidade de um projétil não registrado, disparado de outro ponto, ter atingido o local.

Nenhum das mais de duas dúzias de especialistas consultados pelo Post conseguiu afirmar com certeza que tipo de armamento atingiu o hospital ou quem o disparou. Mas especialistas em munições concordaram que o dano no hospital foi similar ao de um ataque de foguete. Eles afirmaram que o dano não corresponde ao de um ataque aéreo, que teria causado uma destruição muito maior, nem ao de um ataque de artilharia, que deixaria fragmentos substanciais e provavelmente não teria provocado a enorme bola de fogo registrada nos vídeos.

Além disso, a análise do Post constatou que um vídeo revelador filmado e veiculado pela rede de TV Al Jazeera, que os governos israelense e americano citaram como evidência de que um foguete falhou e caiu no terreno do hospital, mostra em vez disso um projétil lançado de uma localidade a quilômetros de lá, em Israel, próximo a uma aparente bateria de defesa antiaérea do sistema Domo de Ferro. Especialistas afirmaram que o vídeo amplamente circulado provavelmente mostrou um míssil interceptador do Domo de Ferro que colidiu com um foguete a cerca de cinco quilômetros do hospital e provavelmente não teve nada a ver com a explosão na unidade se saúde.

A Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA recusou-se a comentar as constatações do Post, incluindo a geolocalização do possível lançamento do míssil interceptador dentro de Israel. Um porta-voz afirmou que a espionagem americana tem “alta confiança” de que a explosão no hospital foi causada por um foguete lançado por “militantes palestinos”, com base em telefonemas interceptados, uma análise nos escombros do hospital e quatro vídeos disponíveis publicamente. Segundo o porta-voz, o vídeo da Al Jazeera foi um entre os quatro clipes analisados, mas o representante não revelou quais foram os outros.

O porta-voz militar israelense Jonathan Conricus afirmou que Israel não realizou interceptações nas datas em torno do dia explosão, mas não respondeu diretamente à análise visual do Post.

A falta de evidências diretas dificultou provar definitivamente quem disparou a munição que explodiu no Hospital Al-Ahli e ilustra os limites de se tentar investigar remotamente incidentes em zonas de guerra sem acesso ao campo.

O Hamas atribuiu a explosão no hospital a um ataque de Israel, enquanto os militares israelenses afirmaram que a explosão foi resultado de um foguete que “falhou” da Jihad Islâmica, um grupo palestino militante. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que 471 pessoas morreram, enquanto uma análise de inteligência dos EUA tornada pública declarou que o número de mortos ficou “provavelmente na faixa mais baixa do espectro de 100 a 300″.

Foguetes disparados de Gaza com frequência apresentam defeitos. As Forças Armadas de Israel afirmaram na semana passada que grupos armados palestinos dispararam mais de 6,9 mil foguetes contra Israel desde o início do atual conflito e que pelo menos 550 apresentaram falha. Um porta-voz militar israelense recusou-se a comentar se as forças de seu país usaram alguma munição classificada como foguete desde que a guerra começou.

A explosão do hospital desencadeou a maior onda de fúria no Oriente Médio desde a incursão de 7 de outubro do Hamas que, segundo Israel, matou 1,4 mil pessoas e deixou 5,4 mil feridos. A incursão ocasionou uma campanha de ataques israelenses em Gaza que, segundo o Ministério da Saúde do enclave, matou ao menos 7.028 pessoas e deixou mais de 18,4 mil feridos. Os líderes do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina cancelaram reuniões diplomáticas com o presidente Joe Biden após o desastre no hospital, e manifestantes tomaram as ruas em vários países para expressar fúria contra Israel e os EUA em razão das mortes.

Nem Israel nem o Egito, que juntos bloqueiam efetivamente Gaza há mais de 16 anos, permitiram a entrada de jornalistas estrangeiros no enclave desde que a atual guerra começou, o que impossibilitou uma análise próxima do local da explosão. Jornalistas palestinos entraram no terreno do hospital e tiraram fotos no dia seguinte, mas nenhuma das imagens mostrou vestígios claros de armamento, provas que constituem peças críticas para esse tipo de investigação. O Hamas disse ao Post que recolheu os estilhaços e que “logo eles serão exibidos para o mundo”, mas também disse a outros meios de imprensa que não sobrou nenhum vestígio da munição que atingiu o hospital.

A barragem

A barragem de foguetes foi lançada em Gaza pouco após as 18h59 no horário local. E concentrou imediatamente atenção de indivíduos que buscam estabelecer a responsabilidade pela explosão no hospital. O canal de TV Keshet 12 News exibiu vários trechos de sua gravação realizada da varanda de um imóvel na cidade israelense de  Netivot que registrou o lançamento. A emissora forneceu ao Post um clipe de 94 segundos que inclui todos os disparos.

Um segundo vídeo, de uma câmera de vigilância que transmite imagens ao vivo da Faixa de Gaza instalada na cidade de Bat Yam, um subúrbio de Tel-Aviv, capturou o mesmo lançamento. Ambos os vídeos tinham time codes que o Post constatou serem acurados.

Os vídeos mostraram o lançamento de dois pontos diferentes, a cerca de 65 quilômetros um do outro. Por meio de geolocalização de pontos de referência visíveis em ambos os vídeos, o Post triangulou a origem do lançamento da barragem de foguetes em um local 4,8 quilômetros a sudoeste do Hospital Al-Ahli, nas imediações da Cidade de Gaza.

A localização correspondeu aproximadamente ao local de lançamento apresentado por um mapa de “registro de radar” das Forças Armadas de Israel revelado em 18 de outubro, mostrando o que os militares israelenses afirmaram ser o local dos disparos e as trajetórias dos foguetes disparados de lá que passaram sobre o hospital. A análise do Post constatou que a barragem de foguetes rumou para nordeste, na direção do hospital.

Foguetes palestinos são pouco sofisticados, não possuem dispositivos de orientação e carregam combustível para alimentar seus motores, afirmam especialistas.

O especialista em foguetes e mísseis Markus Schiller, radicado em Munique, estima que levaria de 25 segundos a 45 segundos para um foguete de modelo Qassam usado pelos grupos palestinos alcançar o hospital a partir do local do disparo, dependendo de fatores incluindo o ângulo do lançamento.

Ferenc Dalnoki-Veress, professor do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais e cientista em residência do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, afirmou que suas constatações corresponderam às de Schiller e que foguetes teriam levado aproximadamente de 26 segundo a 37 segundos para alcançar o hospital.

A barragem de foguetes registrada nos vídeos, que incluiu mais de uma dúzia de foguetes visíveis, inicia-se 44 segundos antes da explosão e dura 14 segundos, o que significa que muitos dos foguetes poderiam ter chegado ao hospital a tempo da explosão. Não foi constatada nenhuma evidência visual indicando que qualquer um tenha falhado e caído.

A explosão

Um vídeo gravado de um edifício cerca de 150 metros a sudeste do hospital capturou o agudo assobio do projétil ganhando velocidade imediatamente antes da explosão.

O Post enviou este vídeo e outras imagens que capturaram o momento da explosão para vários especialistas forenses em áudio. O professor Rob Maher, da Universidade Estadual de Montana, afirmou que a frequência de volume crescente produzida pelo projétil em queda indica que ele estava em aceleração.

A aceleração poderia indicar que o projétil caía verticalmente, ganhando velocidade com a força da gravidade, afirmou ele, acrescentando que isso seriam mais consistente com um foguete com defeito despencando do céu, de acordo com análises acústicas, do que um objeto movendo-se horizontalmente.

O impacto nas instalações do Hospital Al-Ahli causou uma grande explosão que fez subir uma bola de fogo.

Marc Garlasco, ex-analista de dano em batalha do Departamento da Defesa e investigador de crimes de guerra na ONU, afirmou que esse tipo de explosão requereria uma quantidade de cargas explosivas “substancial” e combustível acelerante similares aos carregados por um foguete que apresenta falha antes de se aproximar do alvo.

Chamas tomaram o pátio do hospital, onde centenas de pessoas, segundo relatos, abrigavam-se para evitar ataques aéreos. Um vídeo registrado imediatamente após a explosão mostra dezenas de corpos espalhados pelo pátio.

O rescaldo

Fotos mostram membros da unidade de neutralização de explosivos da policia palestina examinando a cratera aberta pela explosão naquela noite. Na manhã seguinte, jornalistas e civis palestinos começaram a postar vídeos e fotos da cena. Nenhum vestígio da munição que causou a explosão era evidente nas imagens.

As fotos registraram mais de uma dezena de carros incinerados, incluindo um que capotou com o impacto, no estacionamento do hospital.

Veículos incinerados

Os edifícios do entorno do pátio foram relativamente pouco danificados, com janelas quebradas e telhas que saíram voando.

Uma pequena cratera, com cerca de 90 centímetros de diâmetro, foi aberta no estacionamento entre dois gramados em que os civis se abrigavam. Um padrão de fragmentação em forma de spray ficou marcado no chão numa só direção, mas especialistas não concordaram com o significado disso.

Palestinos carregam pertences e saem do hospital al-Ahli, que estavam usando como abrigo, na Cidade de Gaza, quarta-feira, 18 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP
Palestinos feridos no hospital Ahli Arab no hospital al-Shifa, após ataques aéreos israelenses, na Cidade de Gaza, no centro da Faixa de Gaza, na terça-feira, 17 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP

Porções de uma cerca de metal e concreto próxima à cratera se romperam e ficaram retorcidas, e árvores próximas pareciam carbonizadas.

Mais de meia dúzia de especialistas que analisaram independentemente as imagens da cena afirmou que a ausência de um dano maior decorrente de explosão, como prédios destruídos, e o tamanho e formato relativamente pequenos da cratera anulam a possibilidade de ter havido o tipo de ataque que Israel tem realizado em outros pontos de Gaza desde 7 de outubro.

“Eu posso afirmar categoricamente que não se tratou de um ataque aéreo”, afirmou Garlasco.

Garlasco notou uma grande quantidade do que classificou como “dano térmico localizado”, que significa destruição por fogo, que ele afirmou ser incomum em ataques aéreos. Uma cena como essa, disse o especialista, é em vez disso mais consistente com uma munição “carregando muito combustível” caindo prematuramente e incendiando-o com sua ogiva explosiva. Isso criaria um incêndio instantâneo que atingiria o local com danos concentrados, em vez de generalizados, afirmou Garlasco.

O tamanho da cratera e a intensidade da explosão correspondem às do impacto de uma munição de artilharia de 155 milímetros, presente no arsenal israelense, afirmou o consultor em segurança e ex-oficial de artilharia do Exército britânico Chris Cobb-Smith. Mas outros armamentos fazem o mesmo tipo de estrago, e um projétil de artilharia não teria produzido a bola de fogo vista nos vídeos da explosão, afirmou ele.

Em 14 de outubro, apenas três dias antes da explosão no hospital, a direção da unidade de saúde afirmou que suas instalações tinham sido atingidas por outro projétil, e um vídeo gravado dentro do local mostrou um projétil de sinalização de 155 milímetros no chão de um recinto com um grande buraco na parede. Projéteis de sinalização não são disparados diretamente contra os alvos, eles caem do céu com paraquedas para sinalizar, iluminar áreas ou marcar alvos, enquanto o projétil desce ao solo. O projétil caiu na sala de ultrassom, escreveu o homem que postou o vídeo, um pastor anglicano que trabalha com a diocese associada ao hospital.

Conricus, o porta-voz militar israelense, afirmou que a munição encontrada em 14 de outubro parecia um projétil de sinalização de 155 milímetros, mas que o hospital não havia sido alvejado.

“O hospital certamente não foi atingido propositalmente”, afirmou Conricus. “Se um projétil de artilharia atingiu o local, provavelmente foi resultado de uma queda ou falha após ter sido disparado, mas definitivamente não mirava o hospital.” As Forças Armadas israelenses não dispararam projéteis de 155 milímetros contra a área do hospital em 17 de outubro, o dia da explosão, afirmou ele.

Um vídeo mal interpretado

Os governos israelense e americano — e alguns meios de imprensa — apontaram para um vídeo gravado e veiculado pela rede Al Jazeera na noite da explosão que inicialmente pareceu mostrar um possível foguete voando próximo ao hospital e explodindo no ar segundos antes da explosão no hospital. Os militares israelenses citaram o vídeo em várias entrevistas. Autoridades de inteligência dos EUA afirmaram que seus analistas também tinham se embasado naquele vídeo.

Mas depois de analisar vários vídeos o Post constatou que o projétil em questão tinha sido lançado na realidade de um ponto dentro de Israel, próximo a uma provável linha de defesa de mísseis do sistema Domo de Ferro, e especialistas afirmaram que se tratou provavelmente de um míssil interceptador que não teve nada a ver com a explosão no hospital.

Cerca de 20 segundos depois da barragem de foguetes ser disparada, a câmera de vigilância do subúrbio de Tel-Aviv capturou um projétil solitário ascendendo a uma altitude elevada e rumando para o leste e um vídeo do mesmo lançamento gravado por um cinegrafista do alto de um prédio da Cidade de Gaza.

Esta imagem de satélite, cortesia da Maxar Technologies, tirada em 19 de outubro de 2023, mostra as consequências de um ataque que ocorreu em 17 de outubro de 2023 no hospital Al-Ahli e na área circundante na Cidade de Gaza. Foto: Maxar Technologies via AFP
Manifestantes entram em confronto com as forças de segurança do lado de fora da embaixada dos EUA no Líbano em 18 de outubro de 2023.  Foto: BBAS SALMAN / EFE
Manifestantes gritam slogans durante um protesto em apoio ao povo palestino, após a explosão no hospital na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: MOHAMED HOSSAM / EFE

O Post usou esses dois vídeos para triangular origem do projétil, localidando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de  4 quilômetros da cerca de Gaza e confirmou a localização com um vídeo obtido do canal Keshet 12 News. O ponto de origem foi identificado inicialmente por investigadores independentes que postaram suas constatações nas redes sociais X e Discord.

A origem do projétil era nas imediações de um campo militar israelense, mostram imagens de satélite. Especialistas afirmaram que o local, registrado pela Planet Labs em 20 de outubro, tem características consistentes com exemplos conhecidos de baterias de mísseis do Domo de Ferro, incluindo muros antiexplosão dispostos diretamente ao lado dos lançadores.

Cerca de 15 segundos após seu lançamento e depois de mudar de direção e traçar um arco para o oeste, o projétil lançado das imediações das supostas instalações do Domo de Ferro explodiu no ar.

Cinco especialistas que analisaram os vídeos disseram ao Post que o projétil parecia um míssil interceptador Tamir disparado pelo sistema israelense Domo de Ferro, com base em seu comportamento e local de lançamento.

“O que estamos vendo é um míssil interceptador”, afirmou Dalnoki-Veress. “Esses interceptadores mudam de curso constantemente para corrigir o ponto de interceptação esperado no tempo e espaço.”

Ao contrário dos foguetes não guiados disparados pelos grupos armados palestinos, que seguem trajetórias balísticas, o caminho serpenteante desse míssil no céu antes de explodir mostrou a “trajetória claramente não balística esperada de um interceptador Tamir”, afirmou Dalnoki-Veress.

Justin Bronk, pesquisador sênior do centro de pesquisa britânico em defesa e segurança Royal United Services Institute, interpretou diferentemente a gravação e escreveu por e-mail que as imagens capturaram “um único motor de foguete visível que mostra uma mudança de curso súbita e violenta que seria consistente com uma falha de controle em solo seguida de uma chuva de fagulhas consistente com um defeito estrutural em voo poucos segundos depois”.

Um porta-voz da Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA disse ao Post que vários vídeos mostraram “um foguete ou míssil experimentando uma provável falha durante o voo cerca de 10 segundos após o lançamento” e que a explosão no Hospital de Al-Ahli, pouco depois, decorreu “quase certamente da ogiva que caiu”. O porta-voz não identificou o ponto preciso de origem do projétil em Gaza.

Os cinco especialistas concordaram que não há evidência que conecte a provável interceptação à explosão no hospital e que os dois eventos provavelmente não têm relação.

A explosão e a bola de fogo atingiram o terreno do hospital 7 segundos após o aparente míssil interceptador explodir no céu. O Post triangulou a localização da suposta explosão de interceptação localizando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de 1,6 quilômetro da cerca de Gaza e aproximadamente 5,6 quilômetros a leste do hospital.

Os 7 segundos entre a explosão no céu e a explosão no hospital, a quilômetros de distância, não seriam tempo suficiente para que destroços da interceptação pudessem atingir o hospital, afirmou Schiller. Qualquer objeto que caísse da explosão no ar teria de ter sido propulsionado a mais de 500 metros por segundo, uma velocidade supersônica, para atingir o hospital nesse tempo, o que “é praticamente impossível”, afirmou ele. Segundo Schiller o mais provável é a explosão ter sido causada por um foguete não relacionado que apresentou defeito e “atingiu as instalações do hospital pouquíssimos segundos depois do evento de interceptação”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Combatentes em Gaza lançaram uma barragem de foguetes contra Israel e na direção do Hospital Al-Ahli 44 segundos antes de uma explosão na unidade de saúde matar pelo menos 100 pessoas, de acordo com análises visuais do Washington Post.

Um vídeo fornecido pelo canal de TV israelense Keshet 12 News permitiu ao Post estabelecer a geolocalização da origem do lançamento em um ponto a sudoeste do hospital na Cidade de Gaza, que corresponde aproximadamente ao local de lançamento de um foguete que teria apresentado defeito e caído no terreno do hospital. Especialistas afirmam que foguetes dessa barragem seriam capazes de alcançar o hospital no momento da explosão.

A análise desse e de outros vídeos, assim como a revisão de especialistas sobre imagens do local da explosão, fornecem evidências circunstanciais capazes de fundamentar a alegação de Israel e do governo dos Estados Unidos de que um foguete descontrolado lançado por um grupo armado palestino foi responsável pela explosão em 17 de outubro.

Pessoas inspecionam a área do hospital Al-Ahli, onde centenas de palestinos foram mortos em uma explosão na Cidade de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: Mohammed Al-Masri / REUTERS

Ao mesmo tempo, nenhuma evidência visual emergiu mostrando algum foguete atingindo instalações do hospital, e as imagens analisadas pelo Post não descartam a possibilidade de um projétil não registrado, disparado de outro ponto, ter atingido o local.

Nenhum das mais de duas dúzias de especialistas consultados pelo Post conseguiu afirmar com certeza que tipo de armamento atingiu o hospital ou quem o disparou. Mas especialistas em munições concordaram que o dano no hospital foi similar ao de um ataque de foguete. Eles afirmaram que o dano não corresponde ao de um ataque aéreo, que teria causado uma destruição muito maior, nem ao de um ataque de artilharia, que deixaria fragmentos substanciais e provavelmente não teria provocado a enorme bola de fogo registrada nos vídeos.

Além disso, a análise do Post constatou que um vídeo revelador filmado e veiculado pela rede de TV Al Jazeera, que os governos israelense e americano citaram como evidência de que um foguete falhou e caiu no terreno do hospital, mostra em vez disso um projétil lançado de uma localidade a quilômetros de lá, em Israel, próximo a uma aparente bateria de defesa antiaérea do sistema Domo de Ferro. Especialistas afirmaram que o vídeo amplamente circulado provavelmente mostrou um míssil interceptador do Domo de Ferro que colidiu com um foguete a cerca de cinco quilômetros do hospital e provavelmente não teve nada a ver com a explosão na unidade se saúde.

A Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA recusou-se a comentar as constatações do Post, incluindo a geolocalização do possível lançamento do míssil interceptador dentro de Israel. Um porta-voz afirmou que a espionagem americana tem “alta confiança” de que a explosão no hospital foi causada por um foguete lançado por “militantes palestinos”, com base em telefonemas interceptados, uma análise nos escombros do hospital e quatro vídeos disponíveis publicamente. Segundo o porta-voz, o vídeo da Al Jazeera foi um entre os quatro clipes analisados, mas o representante não revelou quais foram os outros.

O porta-voz militar israelense Jonathan Conricus afirmou que Israel não realizou interceptações nas datas em torno do dia explosão, mas não respondeu diretamente à análise visual do Post.

A falta de evidências diretas dificultou provar definitivamente quem disparou a munição que explodiu no Hospital Al-Ahli e ilustra os limites de se tentar investigar remotamente incidentes em zonas de guerra sem acesso ao campo.

O Hamas atribuiu a explosão no hospital a um ataque de Israel, enquanto os militares israelenses afirmaram que a explosão foi resultado de um foguete que “falhou” da Jihad Islâmica, um grupo palestino militante. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que 471 pessoas morreram, enquanto uma análise de inteligência dos EUA tornada pública declarou que o número de mortos ficou “provavelmente na faixa mais baixa do espectro de 100 a 300″.

Foguetes disparados de Gaza com frequência apresentam defeitos. As Forças Armadas de Israel afirmaram na semana passada que grupos armados palestinos dispararam mais de 6,9 mil foguetes contra Israel desde o início do atual conflito e que pelo menos 550 apresentaram falha. Um porta-voz militar israelense recusou-se a comentar se as forças de seu país usaram alguma munição classificada como foguete desde que a guerra começou.

A explosão do hospital desencadeou a maior onda de fúria no Oriente Médio desde a incursão de 7 de outubro do Hamas que, segundo Israel, matou 1,4 mil pessoas e deixou 5,4 mil feridos. A incursão ocasionou uma campanha de ataques israelenses em Gaza que, segundo o Ministério da Saúde do enclave, matou ao menos 7.028 pessoas e deixou mais de 18,4 mil feridos. Os líderes do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina cancelaram reuniões diplomáticas com o presidente Joe Biden após o desastre no hospital, e manifestantes tomaram as ruas em vários países para expressar fúria contra Israel e os EUA em razão das mortes.

Nem Israel nem o Egito, que juntos bloqueiam efetivamente Gaza há mais de 16 anos, permitiram a entrada de jornalistas estrangeiros no enclave desde que a atual guerra começou, o que impossibilitou uma análise próxima do local da explosão. Jornalistas palestinos entraram no terreno do hospital e tiraram fotos no dia seguinte, mas nenhuma das imagens mostrou vestígios claros de armamento, provas que constituem peças críticas para esse tipo de investigação. O Hamas disse ao Post que recolheu os estilhaços e que “logo eles serão exibidos para o mundo”, mas também disse a outros meios de imprensa que não sobrou nenhum vestígio da munição que atingiu o hospital.

A barragem

A barragem de foguetes foi lançada em Gaza pouco após as 18h59 no horário local. E concentrou imediatamente atenção de indivíduos que buscam estabelecer a responsabilidade pela explosão no hospital. O canal de TV Keshet 12 News exibiu vários trechos de sua gravação realizada da varanda de um imóvel na cidade israelense de  Netivot que registrou o lançamento. A emissora forneceu ao Post um clipe de 94 segundos que inclui todos os disparos.

Um segundo vídeo, de uma câmera de vigilância que transmite imagens ao vivo da Faixa de Gaza instalada na cidade de Bat Yam, um subúrbio de Tel-Aviv, capturou o mesmo lançamento. Ambos os vídeos tinham time codes que o Post constatou serem acurados.

Os vídeos mostraram o lançamento de dois pontos diferentes, a cerca de 65 quilômetros um do outro. Por meio de geolocalização de pontos de referência visíveis em ambos os vídeos, o Post triangulou a origem do lançamento da barragem de foguetes em um local 4,8 quilômetros a sudoeste do Hospital Al-Ahli, nas imediações da Cidade de Gaza.

A localização correspondeu aproximadamente ao local de lançamento apresentado por um mapa de “registro de radar” das Forças Armadas de Israel revelado em 18 de outubro, mostrando o que os militares israelenses afirmaram ser o local dos disparos e as trajetórias dos foguetes disparados de lá que passaram sobre o hospital. A análise do Post constatou que a barragem de foguetes rumou para nordeste, na direção do hospital.

Foguetes palestinos são pouco sofisticados, não possuem dispositivos de orientação e carregam combustível para alimentar seus motores, afirmam especialistas.

O especialista em foguetes e mísseis Markus Schiller, radicado em Munique, estima que levaria de 25 segundos a 45 segundos para um foguete de modelo Qassam usado pelos grupos palestinos alcançar o hospital a partir do local do disparo, dependendo de fatores incluindo o ângulo do lançamento.

Ferenc Dalnoki-Veress, professor do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais e cientista em residência do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, afirmou que suas constatações corresponderam às de Schiller e que foguetes teriam levado aproximadamente de 26 segundo a 37 segundos para alcançar o hospital.

A barragem de foguetes registrada nos vídeos, que incluiu mais de uma dúzia de foguetes visíveis, inicia-se 44 segundos antes da explosão e dura 14 segundos, o que significa que muitos dos foguetes poderiam ter chegado ao hospital a tempo da explosão. Não foi constatada nenhuma evidência visual indicando que qualquer um tenha falhado e caído.

A explosão

Um vídeo gravado de um edifício cerca de 150 metros a sudeste do hospital capturou o agudo assobio do projétil ganhando velocidade imediatamente antes da explosão.

O Post enviou este vídeo e outras imagens que capturaram o momento da explosão para vários especialistas forenses em áudio. O professor Rob Maher, da Universidade Estadual de Montana, afirmou que a frequência de volume crescente produzida pelo projétil em queda indica que ele estava em aceleração.

A aceleração poderia indicar que o projétil caía verticalmente, ganhando velocidade com a força da gravidade, afirmou ele, acrescentando que isso seriam mais consistente com um foguete com defeito despencando do céu, de acordo com análises acústicas, do que um objeto movendo-se horizontalmente.

O impacto nas instalações do Hospital Al-Ahli causou uma grande explosão que fez subir uma bola de fogo.

Marc Garlasco, ex-analista de dano em batalha do Departamento da Defesa e investigador de crimes de guerra na ONU, afirmou que esse tipo de explosão requereria uma quantidade de cargas explosivas “substancial” e combustível acelerante similares aos carregados por um foguete que apresenta falha antes de se aproximar do alvo.

Chamas tomaram o pátio do hospital, onde centenas de pessoas, segundo relatos, abrigavam-se para evitar ataques aéreos. Um vídeo registrado imediatamente após a explosão mostra dezenas de corpos espalhados pelo pátio.

O rescaldo

Fotos mostram membros da unidade de neutralização de explosivos da policia palestina examinando a cratera aberta pela explosão naquela noite. Na manhã seguinte, jornalistas e civis palestinos começaram a postar vídeos e fotos da cena. Nenhum vestígio da munição que causou a explosão era evidente nas imagens.

As fotos registraram mais de uma dezena de carros incinerados, incluindo um que capotou com o impacto, no estacionamento do hospital.

Veículos incinerados

Os edifícios do entorno do pátio foram relativamente pouco danificados, com janelas quebradas e telhas que saíram voando.

Uma pequena cratera, com cerca de 90 centímetros de diâmetro, foi aberta no estacionamento entre dois gramados em que os civis se abrigavam. Um padrão de fragmentação em forma de spray ficou marcado no chão numa só direção, mas especialistas não concordaram com o significado disso.

Palestinos carregam pertences e saem do hospital al-Ahli, que estavam usando como abrigo, na Cidade de Gaza, quarta-feira, 18 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP
Palestinos feridos no hospital Ahli Arab no hospital al-Shifa, após ataques aéreos israelenses, na Cidade de Gaza, no centro da Faixa de Gaza, na terça-feira, 17 de outubro de 2023.  Foto: Abed Khaled / AP

Porções de uma cerca de metal e concreto próxima à cratera se romperam e ficaram retorcidas, e árvores próximas pareciam carbonizadas.

Mais de meia dúzia de especialistas que analisaram independentemente as imagens da cena afirmou que a ausência de um dano maior decorrente de explosão, como prédios destruídos, e o tamanho e formato relativamente pequenos da cratera anulam a possibilidade de ter havido o tipo de ataque que Israel tem realizado em outros pontos de Gaza desde 7 de outubro.

“Eu posso afirmar categoricamente que não se tratou de um ataque aéreo”, afirmou Garlasco.

Garlasco notou uma grande quantidade do que classificou como “dano térmico localizado”, que significa destruição por fogo, que ele afirmou ser incomum em ataques aéreos. Uma cena como essa, disse o especialista, é em vez disso mais consistente com uma munição “carregando muito combustível” caindo prematuramente e incendiando-o com sua ogiva explosiva. Isso criaria um incêndio instantâneo que atingiria o local com danos concentrados, em vez de generalizados, afirmou Garlasco.

O tamanho da cratera e a intensidade da explosão correspondem às do impacto de uma munição de artilharia de 155 milímetros, presente no arsenal israelense, afirmou o consultor em segurança e ex-oficial de artilharia do Exército britânico Chris Cobb-Smith. Mas outros armamentos fazem o mesmo tipo de estrago, e um projétil de artilharia não teria produzido a bola de fogo vista nos vídeos da explosão, afirmou ele.

Em 14 de outubro, apenas três dias antes da explosão no hospital, a direção da unidade de saúde afirmou que suas instalações tinham sido atingidas por outro projétil, e um vídeo gravado dentro do local mostrou um projétil de sinalização de 155 milímetros no chão de um recinto com um grande buraco na parede. Projéteis de sinalização não são disparados diretamente contra os alvos, eles caem do céu com paraquedas para sinalizar, iluminar áreas ou marcar alvos, enquanto o projétil desce ao solo. O projétil caiu na sala de ultrassom, escreveu o homem que postou o vídeo, um pastor anglicano que trabalha com a diocese associada ao hospital.

Conricus, o porta-voz militar israelense, afirmou que a munição encontrada em 14 de outubro parecia um projétil de sinalização de 155 milímetros, mas que o hospital não havia sido alvejado.

“O hospital certamente não foi atingido propositalmente”, afirmou Conricus. “Se um projétil de artilharia atingiu o local, provavelmente foi resultado de uma queda ou falha após ter sido disparado, mas definitivamente não mirava o hospital.” As Forças Armadas israelenses não dispararam projéteis de 155 milímetros contra a área do hospital em 17 de outubro, o dia da explosão, afirmou ele.

Um vídeo mal interpretado

Os governos israelense e americano — e alguns meios de imprensa — apontaram para um vídeo gravado e veiculado pela rede Al Jazeera na noite da explosão que inicialmente pareceu mostrar um possível foguete voando próximo ao hospital e explodindo no ar segundos antes da explosão no hospital. Os militares israelenses citaram o vídeo em várias entrevistas. Autoridades de inteligência dos EUA afirmaram que seus analistas também tinham se embasado naquele vídeo.

Mas depois de analisar vários vídeos o Post constatou que o projétil em questão tinha sido lançado na realidade de um ponto dentro de Israel, próximo a uma provável linha de defesa de mísseis do sistema Domo de Ferro, e especialistas afirmaram que se tratou provavelmente de um míssil interceptador que não teve nada a ver com a explosão no hospital.

Cerca de 20 segundos depois da barragem de foguetes ser disparada, a câmera de vigilância do subúrbio de Tel-Aviv capturou um projétil solitário ascendendo a uma altitude elevada e rumando para o leste e um vídeo do mesmo lançamento gravado por um cinegrafista do alto de um prédio da Cidade de Gaza.

Esta imagem de satélite, cortesia da Maxar Technologies, tirada em 19 de outubro de 2023, mostra as consequências de um ataque que ocorreu em 17 de outubro de 2023 no hospital Al-Ahli e na área circundante na Cidade de Gaza. Foto: Maxar Technologies via AFP
Manifestantes entram em confronto com as forças de segurança do lado de fora da embaixada dos EUA no Líbano em 18 de outubro de 2023.  Foto: BBAS SALMAN / EFE
Manifestantes gritam slogans durante um protesto em apoio ao povo palestino, após a explosão no hospital na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023.  Foto: MOHAMED HOSSAM / EFE

O Post usou esses dois vídeos para triangular origem do projétil, localidando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de  4 quilômetros da cerca de Gaza e confirmou a localização com um vídeo obtido do canal Keshet 12 News. O ponto de origem foi identificado inicialmente por investigadores independentes que postaram suas constatações nas redes sociais X e Discord.

A origem do projétil era nas imediações de um campo militar israelense, mostram imagens de satélite. Especialistas afirmaram que o local, registrado pela Planet Labs em 20 de outubro, tem características consistentes com exemplos conhecidos de baterias de mísseis do Domo de Ferro, incluindo muros antiexplosão dispostos diretamente ao lado dos lançadores.

Cerca de 15 segundos após seu lançamento e depois de mudar de direção e traçar um arco para o oeste, o projétil lançado das imediações das supostas instalações do Domo de Ferro explodiu no ar.

Cinco especialistas que analisaram os vídeos disseram ao Post que o projétil parecia um míssil interceptador Tamir disparado pelo sistema israelense Domo de Ferro, com base em seu comportamento e local de lançamento.

“O que estamos vendo é um míssil interceptador”, afirmou Dalnoki-Veress. “Esses interceptadores mudam de curso constantemente para corrigir o ponto de interceptação esperado no tempo e espaço.”

Ao contrário dos foguetes não guiados disparados pelos grupos armados palestinos, que seguem trajetórias balísticas, o caminho serpenteante desse míssil no céu antes de explodir mostrou a “trajetória claramente não balística esperada de um interceptador Tamir”, afirmou Dalnoki-Veress.

Justin Bronk, pesquisador sênior do centro de pesquisa britânico em defesa e segurança Royal United Services Institute, interpretou diferentemente a gravação e escreveu por e-mail que as imagens capturaram “um único motor de foguete visível que mostra uma mudança de curso súbita e violenta que seria consistente com uma falha de controle em solo seguida de uma chuva de fagulhas consistente com um defeito estrutural em voo poucos segundos depois”.

Um porta-voz da Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA disse ao Post que vários vídeos mostraram “um foguete ou míssil experimentando uma provável falha durante o voo cerca de 10 segundos após o lançamento” e que a explosão no Hospital de Al-Ahli, pouco depois, decorreu “quase certamente da ogiva que caiu”. O porta-voz não identificou o ponto preciso de origem do projétil em Gaza.

Os cinco especialistas concordaram que não há evidência que conecte a provável interceptação à explosão no hospital e que os dois eventos provavelmente não têm relação.

A explosão e a bola de fogo atingiram o terreno do hospital 7 segundos após o aparente míssil interceptador explodir no céu. O Post triangulou a localização da suposta explosão de interceptação localizando-a em um ponto dentro de Israel, a cerca de 1,6 quilômetro da cerca de Gaza e aproximadamente 5,6 quilômetros a leste do hospital.

Os 7 segundos entre a explosão no céu e a explosão no hospital, a quilômetros de distância, não seriam tempo suficiente para que destroços da interceptação pudessem atingir o hospital, afirmou Schiller. Qualquer objeto que caísse da explosão no ar teria de ter sido propulsionado a mais de 500 metros por segundo, uma velocidade supersônica, para atingir o hospital nesse tempo, o que “é praticamente impossível”, afirmou ele. Segundo Schiller o mais provável é a explosão ter sido causada por um foguete não relacionado que apresentou defeito e “atingiu as instalações do hospital pouquíssimos segundos depois do evento de interceptação”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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