Opositor Edmundo Urrutia aposta em fracassos de Maduro para surpreender em eleição na Venezuela


Diplomata foi oficializado como substituto de María Corina Machado, que está inabilitada, e pode ser uma cartada inesperada para pôr um fim à ditadura chavista

Por Carolina Marins
Atualização:

Depois da ditadura de Nicolás Maduro proibir as candidaturas de María Corina Machado e Corina Yoris, a chapa opositora da Venezuela definiu o diplomata Edmundo González Urrutia como seu candidato para as eleições de 28 de julho. Até então desconhecido do grande público, o candidato pode ter se tornado a grande cartada da oposição para buscar uma vitória sobre Maduro.

Seu nome não era nem de longe a primeira opção da Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne vários partidos da oposição sob a liderança de María Corina. A escolha foi uma surpresa para o próprio Urrutia. “Nunca, nunca, nunca tinha pensado em estar nesta posição”, admitiu o candidato em entrevista à AFP publicada em 24 de abril.

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Sua candidatura foi feita quase ao acaso, apenas para garantir que a PUD tivesse espaço na cédula de votação. A aliança havia definido que Corina Yoris seria sua candidata, uma escolha feita a dedo por María Corina. Mas na hora de fazer o registro da candidatura, o sistema não permitiu o nome da filósofa. Nunca houve uma explicação dos motivos, já que ela não possui restrições judiciais.

O candidato presidencial pela Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, durante entrevista à AFP em 24 de abril Foto: Ronald Pena/AFP

Na pressa devido ao fechamento do sistema de postulação de candidatos, a oposição jogou o nome de Urrutia na lista. A intenção, porém, era substituí-lo. Mas as dificuldades e, principalmente, a enorme chance de um novo nome ser novamente barrado pelo regime chavista, a candidatura de González Urrutia foi ratificada.

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“Eu disse, quando me propuseram isso, que se esta designação fosse de maneira unânime, com o respaldo unânime de todas as forças políticas, evidentemente era um compromisso que eu ia aceitar. E assim foi”, disse ele à agência francesa.

“Particularmente o caso desta candidatura de González Urrutia responde a como o governo tem reduzido a competitividade eleitoral à sua mínima expressão”, explica Xavier Rodríguez-Franco, cientista político e apresentador do podcast sobre política latino-americana Mirada Semanal. “A oposição não teve nenhuma outra opção que fosse aceita pela autoridade eleitoral, já que o sistema de inabilitações tem sido sistematicamente utilizado.”

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Biografia

González Urrutia tem 74 anos e é um diplomata de carreira, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Em 1981, fez um mestrado em Relações Internacionais pela American University de Washington, Estados Unidos.

Foi embaixador da Venezuela na Argélia entre os anos 1991 e 1993 e na Argentina entre 1998 e 2002. Ocupou cargos na Direção Geral de Política Internacional do Ministério das Relações Exteriores entre 1994 e 1998.Também dirigiu o comitê de Análise e Planejamento Estratégico dentro do organismo.

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“González Urrutia é um diplomata de carreira e tem atuado durante pelo menos cinco governos, incluindo o primeiro governo de Chávez. Essa formação diplomática faz com que sua tendência seja moderada”, observa o analista político venezuelano Francisco Alfaro Pareja.

A líder opositora, María Corina Machado, é abraçada por apoiadores durante evento de campanha em San Antonio de los Altos Foto: Ariana Cubillos/AP

Desconhecido

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Antes de se tornar candidato, González Urrutia quase não tinha fotos públicas na internet e mal utilizava as redes sociais. Agora, corre contra o tempo para fazer entrevistas e se tornar conhecido para o público. Ser um desconhecido, apontam analistas, pode ser um desafio para a campanha da oposição, mas também pode ser o seu maior ativo.

“O que se conhece dele é que ele foi uma dessas pessoas que trabalham como operadores políticos, pessoas que buscam organizar a logística dos encontros entre partidos, promover o fortalecimento institucional da Mesa da Unidade Democrática, que era como se chamava antes a coalizão de partidos que agora formam a Plataforma Unitária. Sempre esteve, portanto, muito nas sombras”, explica Rodríguez-Franco.

Ao ser um anônimo aos olhos do eleitor, pode ser difícil reunir nele o apoio necessário para derrotar Maduro. Para isso, o apoio de María Corina Machado será fundamental. O diplomata também já recebeu o apoio de Manuel Rosales, governador de Zulia que também havia postulado candidatura, mas abriu mão em nome da unidade em torno de González Urrutia.

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Sua discrição, porém, pode jogar a seu favor, já que desperta pouca rejeição. O maior desafio da oposição era justamente definir um nome que reunisse tanto apoio quanto, ou quase, María Corina, mas sem recair em outros políticos famosos da oposição que já são figurinhas carimbadas.

“É uma figura que tem estado um pouco à margem das grandes figuras da oposição venezuelana e isso de alguma maneira contribui para reduzir os níveis de desconfiança, porque também deve-se dizer que durante todos esses anos de tantos fracassos que a oposição sofreu, tantas derrotas, repressão, exílio e mortes, obviamente as pessoas foram se desencantando da política, foram se distanciando e há um descrédito muito grande com os partidos tradicionais de oposição”, completa Rodríguez-Franco.

Outro risco era que o nome caísse em uma “malha fina” de entraves do chavismo, o que parece menos provável com um diplomata de carreira, sem históricos políticos além de apoios técnicos e sem casos na Justiça. Porém, não impossível, já que Corina Yoris também atendia aos mesmos requisitos.

Edmundo González Urrutia tem se colocado mais presente nas redes e em entrevistas para fazer sua candidatura conhecida até 28 de julho Foto: Ivan Reyes/AP

Um consenso

O nome do diplomata também serviu para finalmente chegar a um consenso na oposição venezuelana, que historicamente é muito fragmentada e desconfiada de si mesma. Um consenso que, talvez, nem o chavismo esperava.

“González Urrutia, que já estava inscrito, foi uma inclusão que de alguma forma promoveu um maior consenso entre os atores de oposição e isso certamente é muito importante para a oposição venezuelana”, aponta Alfaro Pareja. “De fato, diz-se que a chave de hoje é a unidade, que o candidato não é Edmundo González Urrutia, que o candidato é a unidade.”

Não à toa, em suas primeiras entrevistas ele faz questão de dizer que a líder da oposição continua sendo María Corina Machado.

“González Urrutia tem um perfil bastante moderado e gera apoio desses setores que apoiavam a candidatura do governador Rosales, mas também gera o apoio dos setores talvez um pouco mais radicais que apoiam a María Corina Machado”, continua Alfaro Pareja.

Um choque para o governo

Entre as razões para manter o seu nome como candidato também estaria o efeito surpresa de fazê-lo. Chamado de “candidato tampão”, González Urrutia deveria ser substituído pela PUD até 22 de abril, quando terminava o prazo para confirmação das candidaturas. O caminho que todos esperavam era de que a plataforma apontasse qualquer outro nome para substituí-lo, um que ainda não havia sido indicado.

O problema com esta opção era que ela poderia ser facilmente barrada pelo chavismo, que poderia alegar que o prazo para novas postulações já havia se encerrado.

“Eu acredito que para o governo nunca existiu a possibilidade de que este candidato, que era um candidato temporário, acabasse sendo o candidato de fato. Isso torna mais difícil para o governo e para o conselho eleitoral inventar qualquer desculpa para retirar esse candidato”, afirma o analista venezuelano.

Mas ninguém ousa descartar que Maduro ainda utilize algum artifício legalista para invalidar a candidatura de Urrutia. “Sua nomeação provocou uma grande comoção dentro do chavismo, porque também revela, que as pessoas estão dispostas, segundo as pesquisas de opinião, a votar em alguém que não conhecem, do que no próprio Maduro, o que também fala da magnitude do desprezo, da descrença e da baixa popularidade que Maduro tem”, opina Xavier Rodríguez-Franco.

O ditador Nicolás Maduro mostra a cédula eleitoral em que sua foto aparece 13 vezes Foto: Miguel Gutierrez/Palácio Miraflores/EFE

Um caminho à transição

O perfil diplomático também pode ser uma luz no fim do túnel para a grande pergunta: “o chavismo entregará o poder?” Em suas entrevistas, o embaixador tem falado em “reconciliação” e tentado entrar em contato tanto com a oposição que ainda não o conhece quanto com pessoas próximas do governo.

A palavra reconciliação era mais difícil de se esperar vindo de María Corina, que é vista como inimiga máxima do regime.

Em um contexto em que o governo teme sair do poder, pelas repercussões que isso pode trazer às suspeitas de corrupção e violações de direitos, Urrutia traz uma linguagem que beira a anistia. Embora possa não agradar muitos setores perseguidos da sociedade venezuelana, a anistia é vista por muitos analistas como a única forma de convencer o chavismo a fazer uma entrega de governo.

“A mensagem nas entrevistas que González Urrutia tem dado desde o início tem sido de aproximação com todos os setores, abertura para a possibilidade de negociar com o governo, abertura para dialogar com a Força Armada Nacional, promover um processo de reconciliação nacional”, afirma Alfaro Pareja. “Acredito que seja uma oportunidade importante apresentada ao governo para buscar mecanismos de saída e até mesmo ter a possibilidade de se afastar temporariamente do poder e retornar em algum momento.”

Depois da ditadura de Nicolás Maduro proibir as candidaturas de María Corina Machado e Corina Yoris, a chapa opositora da Venezuela definiu o diplomata Edmundo González Urrutia como seu candidato para as eleições de 28 de julho. Até então desconhecido do grande público, o candidato pode ter se tornado a grande cartada da oposição para buscar uma vitória sobre Maduro.

Seu nome não era nem de longe a primeira opção da Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne vários partidos da oposição sob a liderança de María Corina. A escolha foi uma surpresa para o próprio Urrutia. “Nunca, nunca, nunca tinha pensado em estar nesta posição”, admitiu o candidato em entrevista à AFP publicada em 24 de abril.

Sua candidatura foi feita quase ao acaso, apenas para garantir que a PUD tivesse espaço na cédula de votação. A aliança havia definido que Corina Yoris seria sua candidata, uma escolha feita a dedo por María Corina. Mas na hora de fazer o registro da candidatura, o sistema não permitiu o nome da filósofa. Nunca houve uma explicação dos motivos, já que ela não possui restrições judiciais.

O candidato presidencial pela Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, durante entrevista à AFP em 24 de abril Foto: Ronald Pena/AFP

Na pressa devido ao fechamento do sistema de postulação de candidatos, a oposição jogou o nome de Urrutia na lista. A intenção, porém, era substituí-lo. Mas as dificuldades e, principalmente, a enorme chance de um novo nome ser novamente barrado pelo regime chavista, a candidatura de González Urrutia foi ratificada.

“Eu disse, quando me propuseram isso, que se esta designação fosse de maneira unânime, com o respaldo unânime de todas as forças políticas, evidentemente era um compromisso que eu ia aceitar. E assim foi”, disse ele à agência francesa.

“Particularmente o caso desta candidatura de González Urrutia responde a como o governo tem reduzido a competitividade eleitoral à sua mínima expressão”, explica Xavier Rodríguez-Franco, cientista político e apresentador do podcast sobre política latino-americana Mirada Semanal. “A oposição não teve nenhuma outra opção que fosse aceita pela autoridade eleitoral, já que o sistema de inabilitações tem sido sistematicamente utilizado.”

Biografia

González Urrutia tem 74 anos e é um diplomata de carreira, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Em 1981, fez um mestrado em Relações Internacionais pela American University de Washington, Estados Unidos.

Foi embaixador da Venezuela na Argélia entre os anos 1991 e 1993 e na Argentina entre 1998 e 2002. Ocupou cargos na Direção Geral de Política Internacional do Ministério das Relações Exteriores entre 1994 e 1998.Também dirigiu o comitê de Análise e Planejamento Estratégico dentro do organismo.

“González Urrutia é um diplomata de carreira e tem atuado durante pelo menos cinco governos, incluindo o primeiro governo de Chávez. Essa formação diplomática faz com que sua tendência seja moderada”, observa o analista político venezuelano Francisco Alfaro Pareja.

A líder opositora, María Corina Machado, é abraçada por apoiadores durante evento de campanha em San Antonio de los Altos Foto: Ariana Cubillos/AP

Desconhecido

Antes de se tornar candidato, González Urrutia quase não tinha fotos públicas na internet e mal utilizava as redes sociais. Agora, corre contra o tempo para fazer entrevistas e se tornar conhecido para o público. Ser um desconhecido, apontam analistas, pode ser um desafio para a campanha da oposição, mas também pode ser o seu maior ativo.

“O que se conhece dele é que ele foi uma dessas pessoas que trabalham como operadores políticos, pessoas que buscam organizar a logística dos encontros entre partidos, promover o fortalecimento institucional da Mesa da Unidade Democrática, que era como se chamava antes a coalizão de partidos que agora formam a Plataforma Unitária. Sempre esteve, portanto, muito nas sombras”, explica Rodríguez-Franco.

Ao ser um anônimo aos olhos do eleitor, pode ser difícil reunir nele o apoio necessário para derrotar Maduro. Para isso, o apoio de María Corina Machado será fundamental. O diplomata também já recebeu o apoio de Manuel Rosales, governador de Zulia que também havia postulado candidatura, mas abriu mão em nome da unidade em torno de González Urrutia.

Sua discrição, porém, pode jogar a seu favor, já que desperta pouca rejeição. O maior desafio da oposição era justamente definir um nome que reunisse tanto apoio quanto, ou quase, María Corina, mas sem recair em outros políticos famosos da oposição que já são figurinhas carimbadas.

“É uma figura que tem estado um pouco à margem das grandes figuras da oposição venezuelana e isso de alguma maneira contribui para reduzir os níveis de desconfiança, porque também deve-se dizer que durante todos esses anos de tantos fracassos que a oposição sofreu, tantas derrotas, repressão, exílio e mortes, obviamente as pessoas foram se desencantando da política, foram se distanciando e há um descrédito muito grande com os partidos tradicionais de oposição”, completa Rodríguez-Franco.

Outro risco era que o nome caísse em uma “malha fina” de entraves do chavismo, o que parece menos provável com um diplomata de carreira, sem históricos políticos além de apoios técnicos e sem casos na Justiça. Porém, não impossível, já que Corina Yoris também atendia aos mesmos requisitos.

Edmundo González Urrutia tem se colocado mais presente nas redes e em entrevistas para fazer sua candidatura conhecida até 28 de julho Foto: Ivan Reyes/AP

Um consenso

O nome do diplomata também serviu para finalmente chegar a um consenso na oposição venezuelana, que historicamente é muito fragmentada e desconfiada de si mesma. Um consenso que, talvez, nem o chavismo esperava.

“González Urrutia, que já estava inscrito, foi uma inclusão que de alguma forma promoveu um maior consenso entre os atores de oposição e isso certamente é muito importante para a oposição venezuelana”, aponta Alfaro Pareja. “De fato, diz-se que a chave de hoje é a unidade, que o candidato não é Edmundo González Urrutia, que o candidato é a unidade.”

Não à toa, em suas primeiras entrevistas ele faz questão de dizer que a líder da oposição continua sendo María Corina Machado.

“González Urrutia tem um perfil bastante moderado e gera apoio desses setores que apoiavam a candidatura do governador Rosales, mas também gera o apoio dos setores talvez um pouco mais radicais que apoiam a María Corina Machado”, continua Alfaro Pareja.

Um choque para o governo

Entre as razões para manter o seu nome como candidato também estaria o efeito surpresa de fazê-lo. Chamado de “candidato tampão”, González Urrutia deveria ser substituído pela PUD até 22 de abril, quando terminava o prazo para confirmação das candidaturas. O caminho que todos esperavam era de que a plataforma apontasse qualquer outro nome para substituí-lo, um que ainda não havia sido indicado.

O problema com esta opção era que ela poderia ser facilmente barrada pelo chavismo, que poderia alegar que o prazo para novas postulações já havia se encerrado.

“Eu acredito que para o governo nunca existiu a possibilidade de que este candidato, que era um candidato temporário, acabasse sendo o candidato de fato. Isso torna mais difícil para o governo e para o conselho eleitoral inventar qualquer desculpa para retirar esse candidato”, afirma o analista venezuelano.

Mas ninguém ousa descartar que Maduro ainda utilize algum artifício legalista para invalidar a candidatura de Urrutia. “Sua nomeação provocou uma grande comoção dentro do chavismo, porque também revela, que as pessoas estão dispostas, segundo as pesquisas de opinião, a votar em alguém que não conhecem, do que no próprio Maduro, o que também fala da magnitude do desprezo, da descrença e da baixa popularidade que Maduro tem”, opina Xavier Rodríguez-Franco.

O ditador Nicolás Maduro mostra a cédula eleitoral em que sua foto aparece 13 vezes Foto: Miguel Gutierrez/Palácio Miraflores/EFE

Um caminho à transição

O perfil diplomático também pode ser uma luz no fim do túnel para a grande pergunta: “o chavismo entregará o poder?” Em suas entrevistas, o embaixador tem falado em “reconciliação” e tentado entrar em contato tanto com a oposição que ainda não o conhece quanto com pessoas próximas do governo.

A palavra reconciliação era mais difícil de se esperar vindo de María Corina, que é vista como inimiga máxima do regime.

Em um contexto em que o governo teme sair do poder, pelas repercussões que isso pode trazer às suspeitas de corrupção e violações de direitos, Urrutia traz uma linguagem que beira a anistia. Embora possa não agradar muitos setores perseguidos da sociedade venezuelana, a anistia é vista por muitos analistas como a única forma de convencer o chavismo a fazer uma entrega de governo.

“A mensagem nas entrevistas que González Urrutia tem dado desde o início tem sido de aproximação com todos os setores, abertura para a possibilidade de negociar com o governo, abertura para dialogar com a Força Armada Nacional, promover um processo de reconciliação nacional”, afirma Alfaro Pareja. “Acredito que seja uma oportunidade importante apresentada ao governo para buscar mecanismos de saída e até mesmo ter a possibilidade de se afastar temporariamente do poder e retornar em algum momento.”

Depois da ditadura de Nicolás Maduro proibir as candidaturas de María Corina Machado e Corina Yoris, a chapa opositora da Venezuela definiu o diplomata Edmundo González Urrutia como seu candidato para as eleições de 28 de julho. Até então desconhecido do grande público, o candidato pode ter se tornado a grande cartada da oposição para buscar uma vitória sobre Maduro.

Seu nome não era nem de longe a primeira opção da Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne vários partidos da oposição sob a liderança de María Corina. A escolha foi uma surpresa para o próprio Urrutia. “Nunca, nunca, nunca tinha pensado em estar nesta posição”, admitiu o candidato em entrevista à AFP publicada em 24 de abril.

Sua candidatura foi feita quase ao acaso, apenas para garantir que a PUD tivesse espaço na cédula de votação. A aliança havia definido que Corina Yoris seria sua candidata, uma escolha feita a dedo por María Corina. Mas na hora de fazer o registro da candidatura, o sistema não permitiu o nome da filósofa. Nunca houve uma explicação dos motivos, já que ela não possui restrições judiciais.

O candidato presidencial pela Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, durante entrevista à AFP em 24 de abril Foto: Ronald Pena/AFP

Na pressa devido ao fechamento do sistema de postulação de candidatos, a oposição jogou o nome de Urrutia na lista. A intenção, porém, era substituí-lo. Mas as dificuldades e, principalmente, a enorme chance de um novo nome ser novamente barrado pelo regime chavista, a candidatura de González Urrutia foi ratificada.

“Eu disse, quando me propuseram isso, que se esta designação fosse de maneira unânime, com o respaldo unânime de todas as forças políticas, evidentemente era um compromisso que eu ia aceitar. E assim foi”, disse ele à agência francesa.

“Particularmente o caso desta candidatura de González Urrutia responde a como o governo tem reduzido a competitividade eleitoral à sua mínima expressão”, explica Xavier Rodríguez-Franco, cientista político e apresentador do podcast sobre política latino-americana Mirada Semanal. “A oposição não teve nenhuma outra opção que fosse aceita pela autoridade eleitoral, já que o sistema de inabilitações tem sido sistematicamente utilizado.”

Biografia

González Urrutia tem 74 anos e é um diplomata de carreira, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Em 1981, fez um mestrado em Relações Internacionais pela American University de Washington, Estados Unidos.

Foi embaixador da Venezuela na Argélia entre os anos 1991 e 1993 e na Argentina entre 1998 e 2002. Ocupou cargos na Direção Geral de Política Internacional do Ministério das Relações Exteriores entre 1994 e 1998.Também dirigiu o comitê de Análise e Planejamento Estratégico dentro do organismo.

“González Urrutia é um diplomata de carreira e tem atuado durante pelo menos cinco governos, incluindo o primeiro governo de Chávez. Essa formação diplomática faz com que sua tendência seja moderada”, observa o analista político venezuelano Francisco Alfaro Pareja.

A líder opositora, María Corina Machado, é abraçada por apoiadores durante evento de campanha em San Antonio de los Altos Foto: Ariana Cubillos/AP

Desconhecido

Antes de se tornar candidato, González Urrutia quase não tinha fotos públicas na internet e mal utilizava as redes sociais. Agora, corre contra o tempo para fazer entrevistas e se tornar conhecido para o público. Ser um desconhecido, apontam analistas, pode ser um desafio para a campanha da oposição, mas também pode ser o seu maior ativo.

“O que se conhece dele é que ele foi uma dessas pessoas que trabalham como operadores políticos, pessoas que buscam organizar a logística dos encontros entre partidos, promover o fortalecimento institucional da Mesa da Unidade Democrática, que era como se chamava antes a coalizão de partidos que agora formam a Plataforma Unitária. Sempre esteve, portanto, muito nas sombras”, explica Rodríguez-Franco.

Ao ser um anônimo aos olhos do eleitor, pode ser difícil reunir nele o apoio necessário para derrotar Maduro. Para isso, o apoio de María Corina Machado será fundamental. O diplomata também já recebeu o apoio de Manuel Rosales, governador de Zulia que também havia postulado candidatura, mas abriu mão em nome da unidade em torno de González Urrutia.

Sua discrição, porém, pode jogar a seu favor, já que desperta pouca rejeição. O maior desafio da oposição era justamente definir um nome que reunisse tanto apoio quanto, ou quase, María Corina, mas sem recair em outros políticos famosos da oposição que já são figurinhas carimbadas.

“É uma figura que tem estado um pouco à margem das grandes figuras da oposição venezuelana e isso de alguma maneira contribui para reduzir os níveis de desconfiança, porque também deve-se dizer que durante todos esses anos de tantos fracassos que a oposição sofreu, tantas derrotas, repressão, exílio e mortes, obviamente as pessoas foram se desencantando da política, foram se distanciando e há um descrédito muito grande com os partidos tradicionais de oposição”, completa Rodríguez-Franco.

Outro risco era que o nome caísse em uma “malha fina” de entraves do chavismo, o que parece menos provável com um diplomata de carreira, sem históricos políticos além de apoios técnicos e sem casos na Justiça. Porém, não impossível, já que Corina Yoris também atendia aos mesmos requisitos.

Edmundo González Urrutia tem se colocado mais presente nas redes e em entrevistas para fazer sua candidatura conhecida até 28 de julho Foto: Ivan Reyes/AP

Um consenso

O nome do diplomata também serviu para finalmente chegar a um consenso na oposição venezuelana, que historicamente é muito fragmentada e desconfiada de si mesma. Um consenso que, talvez, nem o chavismo esperava.

“González Urrutia, que já estava inscrito, foi uma inclusão que de alguma forma promoveu um maior consenso entre os atores de oposição e isso certamente é muito importante para a oposição venezuelana”, aponta Alfaro Pareja. “De fato, diz-se que a chave de hoje é a unidade, que o candidato não é Edmundo González Urrutia, que o candidato é a unidade.”

Não à toa, em suas primeiras entrevistas ele faz questão de dizer que a líder da oposição continua sendo María Corina Machado.

“González Urrutia tem um perfil bastante moderado e gera apoio desses setores que apoiavam a candidatura do governador Rosales, mas também gera o apoio dos setores talvez um pouco mais radicais que apoiam a María Corina Machado”, continua Alfaro Pareja.

Um choque para o governo

Entre as razões para manter o seu nome como candidato também estaria o efeito surpresa de fazê-lo. Chamado de “candidato tampão”, González Urrutia deveria ser substituído pela PUD até 22 de abril, quando terminava o prazo para confirmação das candidaturas. O caminho que todos esperavam era de que a plataforma apontasse qualquer outro nome para substituí-lo, um que ainda não havia sido indicado.

O problema com esta opção era que ela poderia ser facilmente barrada pelo chavismo, que poderia alegar que o prazo para novas postulações já havia se encerrado.

“Eu acredito que para o governo nunca existiu a possibilidade de que este candidato, que era um candidato temporário, acabasse sendo o candidato de fato. Isso torna mais difícil para o governo e para o conselho eleitoral inventar qualquer desculpa para retirar esse candidato”, afirma o analista venezuelano.

Mas ninguém ousa descartar que Maduro ainda utilize algum artifício legalista para invalidar a candidatura de Urrutia. “Sua nomeação provocou uma grande comoção dentro do chavismo, porque também revela, que as pessoas estão dispostas, segundo as pesquisas de opinião, a votar em alguém que não conhecem, do que no próprio Maduro, o que também fala da magnitude do desprezo, da descrença e da baixa popularidade que Maduro tem”, opina Xavier Rodríguez-Franco.

O ditador Nicolás Maduro mostra a cédula eleitoral em que sua foto aparece 13 vezes Foto: Miguel Gutierrez/Palácio Miraflores/EFE

Um caminho à transição

O perfil diplomático também pode ser uma luz no fim do túnel para a grande pergunta: “o chavismo entregará o poder?” Em suas entrevistas, o embaixador tem falado em “reconciliação” e tentado entrar em contato tanto com a oposição que ainda não o conhece quanto com pessoas próximas do governo.

A palavra reconciliação era mais difícil de se esperar vindo de María Corina, que é vista como inimiga máxima do regime.

Em um contexto em que o governo teme sair do poder, pelas repercussões que isso pode trazer às suspeitas de corrupção e violações de direitos, Urrutia traz uma linguagem que beira a anistia. Embora possa não agradar muitos setores perseguidos da sociedade venezuelana, a anistia é vista por muitos analistas como a única forma de convencer o chavismo a fazer uma entrega de governo.

“A mensagem nas entrevistas que González Urrutia tem dado desde o início tem sido de aproximação com todos os setores, abertura para a possibilidade de negociar com o governo, abertura para dialogar com a Força Armada Nacional, promover um processo de reconciliação nacional”, afirma Alfaro Pareja. “Acredito que seja uma oportunidade importante apresentada ao governo para buscar mecanismos de saída e até mesmo ter a possibilidade de se afastar temporariamente do poder e retornar em algum momento.”

Depois da ditadura de Nicolás Maduro proibir as candidaturas de María Corina Machado e Corina Yoris, a chapa opositora da Venezuela definiu o diplomata Edmundo González Urrutia como seu candidato para as eleições de 28 de julho. Até então desconhecido do grande público, o candidato pode ter se tornado a grande cartada da oposição para buscar uma vitória sobre Maduro.

Seu nome não era nem de longe a primeira opção da Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne vários partidos da oposição sob a liderança de María Corina. A escolha foi uma surpresa para o próprio Urrutia. “Nunca, nunca, nunca tinha pensado em estar nesta posição”, admitiu o candidato em entrevista à AFP publicada em 24 de abril.

Sua candidatura foi feita quase ao acaso, apenas para garantir que a PUD tivesse espaço na cédula de votação. A aliança havia definido que Corina Yoris seria sua candidata, uma escolha feita a dedo por María Corina. Mas na hora de fazer o registro da candidatura, o sistema não permitiu o nome da filósofa. Nunca houve uma explicação dos motivos, já que ela não possui restrições judiciais.

O candidato presidencial pela Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, durante entrevista à AFP em 24 de abril Foto: Ronald Pena/AFP

Na pressa devido ao fechamento do sistema de postulação de candidatos, a oposição jogou o nome de Urrutia na lista. A intenção, porém, era substituí-lo. Mas as dificuldades e, principalmente, a enorme chance de um novo nome ser novamente barrado pelo regime chavista, a candidatura de González Urrutia foi ratificada.

“Eu disse, quando me propuseram isso, que se esta designação fosse de maneira unânime, com o respaldo unânime de todas as forças políticas, evidentemente era um compromisso que eu ia aceitar. E assim foi”, disse ele à agência francesa.

“Particularmente o caso desta candidatura de González Urrutia responde a como o governo tem reduzido a competitividade eleitoral à sua mínima expressão”, explica Xavier Rodríguez-Franco, cientista político e apresentador do podcast sobre política latino-americana Mirada Semanal. “A oposição não teve nenhuma outra opção que fosse aceita pela autoridade eleitoral, já que o sistema de inabilitações tem sido sistematicamente utilizado.”

Biografia

González Urrutia tem 74 anos e é um diplomata de carreira, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Em 1981, fez um mestrado em Relações Internacionais pela American University de Washington, Estados Unidos.

Foi embaixador da Venezuela na Argélia entre os anos 1991 e 1993 e na Argentina entre 1998 e 2002. Ocupou cargos na Direção Geral de Política Internacional do Ministério das Relações Exteriores entre 1994 e 1998.Também dirigiu o comitê de Análise e Planejamento Estratégico dentro do organismo.

“González Urrutia é um diplomata de carreira e tem atuado durante pelo menos cinco governos, incluindo o primeiro governo de Chávez. Essa formação diplomática faz com que sua tendência seja moderada”, observa o analista político venezuelano Francisco Alfaro Pareja.

A líder opositora, María Corina Machado, é abraçada por apoiadores durante evento de campanha em San Antonio de los Altos Foto: Ariana Cubillos/AP

Desconhecido

Antes de se tornar candidato, González Urrutia quase não tinha fotos públicas na internet e mal utilizava as redes sociais. Agora, corre contra o tempo para fazer entrevistas e se tornar conhecido para o público. Ser um desconhecido, apontam analistas, pode ser um desafio para a campanha da oposição, mas também pode ser o seu maior ativo.

“O que se conhece dele é que ele foi uma dessas pessoas que trabalham como operadores políticos, pessoas que buscam organizar a logística dos encontros entre partidos, promover o fortalecimento institucional da Mesa da Unidade Democrática, que era como se chamava antes a coalizão de partidos que agora formam a Plataforma Unitária. Sempre esteve, portanto, muito nas sombras”, explica Rodríguez-Franco.

Ao ser um anônimo aos olhos do eleitor, pode ser difícil reunir nele o apoio necessário para derrotar Maduro. Para isso, o apoio de María Corina Machado será fundamental. O diplomata também já recebeu o apoio de Manuel Rosales, governador de Zulia que também havia postulado candidatura, mas abriu mão em nome da unidade em torno de González Urrutia.

Sua discrição, porém, pode jogar a seu favor, já que desperta pouca rejeição. O maior desafio da oposição era justamente definir um nome que reunisse tanto apoio quanto, ou quase, María Corina, mas sem recair em outros políticos famosos da oposição que já são figurinhas carimbadas.

“É uma figura que tem estado um pouco à margem das grandes figuras da oposição venezuelana e isso de alguma maneira contribui para reduzir os níveis de desconfiança, porque também deve-se dizer que durante todos esses anos de tantos fracassos que a oposição sofreu, tantas derrotas, repressão, exílio e mortes, obviamente as pessoas foram se desencantando da política, foram se distanciando e há um descrédito muito grande com os partidos tradicionais de oposição”, completa Rodríguez-Franco.

Outro risco era que o nome caísse em uma “malha fina” de entraves do chavismo, o que parece menos provável com um diplomata de carreira, sem históricos políticos além de apoios técnicos e sem casos na Justiça. Porém, não impossível, já que Corina Yoris também atendia aos mesmos requisitos.

Edmundo González Urrutia tem se colocado mais presente nas redes e em entrevistas para fazer sua candidatura conhecida até 28 de julho Foto: Ivan Reyes/AP

Um consenso

O nome do diplomata também serviu para finalmente chegar a um consenso na oposição venezuelana, que historicamente é muito fragmentada e desconfiada de si mesma. Um consenso que, talvez, nem o chavismo esperava.

“González Urrutia, que já estava inscrito, foi uma inclusão que de alguma forma promoveu um maior consenso entre os atores de oposição e isso certamente é muito importante para a oposição venezuelana”, aponta Alfaro Pareja. “De fato, diz-se que a chave de hoje é a unidade, que o candidato não é Edmundo González Urrutia, que o candidato é a unidade.”

Não à toa, em suas primeiras entrevistas ele faz questão de dizer que a líder da oposição continua sendo María Corina Machado.

“González Urrutia tem um perfil bastante moderado e gera apoio desses setores que apoiavam a candidatura do governador Rosales, mas também gera o apoio dos setores talvez um pouco mais radicais que apoiam a María Corina Machado”, continua Alfaro Pareja.

Um choque para o governo

Entre as razões para manter o seu nome como candidato também estaria o efeito surpresa de fazê-lo. Chamado de “candidato tampão”, González Urrutia deveria ser substituído pela PUD até 22 de abril, quando terminava o prazo para confirmação das candidaturas. O caminho que todos esperavam era de que a plataforma apontasse qualquer outro nome para substituí-lo, um que ainda não havia sido indicado.

O problema com esta opção era que ela poderia ser facilmente barrada pelo chavismo, que poderia alegar que o prazo para novas postulações já havia se encerrado.

“Eu acredito que para o governo nunca existiu a possibilidade de que este candidato, que era um candidato temporário, acabasse sendo o candidato de fato. Isso torna mais difícil para o governo e para o conselho eleitoral inventar qualquer desculpa para retirar esse candidato”, afirma o analista venezuelano.

Mas ninguém ousa descartar que Maduro ainda utilize algum artifício legalista para invalidar a candidatura de Urrutia. “Sua nomeação provocou uma grande comoção dentro do chavismo, porque também revela, que as pessoas estão dispostas, segundo as pesquisas de opinião, a votar em alguém que não conhecem, do que no próprio Maduro, o que também fala da magnitude do desprezo, da descrença e da baixa popularidade que Maduro tem”, opina Xavier Rodríguez-Franco.

O ditador Nicolás Maduro mostra a cédula eleitoral em que sua foto aparece 13 vezes Foto: Miguel Gutierrez/Palácio Miraflores/EFE

Um caminho à transição

O perfil diplomático também pode ser uma luz no fim do túnel para a grande pergunta: “o chavismo entregará o poder?” Em suas entrevistas, o embaixador tem falado em “reconciliação” e tentado entrar em contato tanto com a oposição que ainda não o conhece quanto com pessoas próximas do governo.

A palavra reconciliação era mais difícil de se esperar vindo de María Corina, que é vista como inimiga máxima do regime.

Em um contexto em que o governo teme sair do poder, pelas repercussões que isso pode trazer às suspeitas de corrupção e violações de direitos, Urrutia traz uma linguagem que beira a anistia. Embora possa não agradar muitos setores perseguidos da sociedade venezuelana, a anistia é vista por muitos analistas como a única forma de convencer o chavismo a fazer uma entrega de governo.

“A mensagem nas entrevistas que González Urrutia tem dado desde o início tem sido de aproximação com todos os setores, abertura para a possibilidade de negociar com o governo, abertura para dialogar com a Força Armada Nacional, promover um processo de reconciliação nacional”, afirma Alfaro Pareja. “Acredito que seja uma oportunidade importante apresentada ao governo para buscar mecanismos de saída e até mesmo ter a possibilidade de se afastar temporariamente do poder e retornar em algum momento.”

Depois da ditadura de Nicolás Maduro proibir as candidaturas de María Corina Machado e Corina Yoris, a chapa opositora da Venezuela definiu o diplomata Edmundo González Urrutia como seu candidato para as eleições de 28 de julho. Até então desconhecido do grande público, o candidato pode ter se tornado a grande cartada da oposição para buscar uma vitória sobre Maduro.

Seu nome não era nem de longe a primeira opção da Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne vários partidos da oposição sob a liderança de María Corina. A escolha foi uma surpresa para o próprio Urrutia. “Nunca, nunca, nunca tinha pensado em estar nesta posição”, admitiu o candidato em entrevista à AFP publicada em 24 de abril.

Sua candidatura foi feita quase ao acaso, apenas para garantir que a PUD tivesse espaço na cédula de votação. A aliança havia definido que Corina Yoris seria sua candidata, uma escolha feita a dedo por María Corina. Mas na hora de fazer o registro da candidatura, o sistema não permitiu o nome da filósofa. Nunca houve uma explicação dos motivos, já que ela não possui restrições judiciais.

O candidato presidencial pela Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, durante entrevista à AFP em 24 de abril Foto: Ronald Pena/AFP

Na pressa devido ao fechamento do sistema de postulação de candidatos, a oposição jogou o nome de Urrutia na lista. A intenção, porém, era substituí-lo. Mas as dificuldades e, principalmente, a enorme chance de um novo nome ser novamente barrado pelo regime chavista, a candidatura de González Urrutia foi ratificada.

“Eu disse, quando me propuseram isso, que se esta designação fosse de maneira unânime, com o respaldo unânime de todas as forças políticas, evidentemente era um compromisso que eu ia aceitar. E assim foi”, disse ele à agência francesa.

“Particularmente o caso desta candidatura de González Urrutia responde a como o governo tem reduzido a competitividade eleitoral à sua mínima expressão”, explica Xavier Rodríguez-Franco, cientista político e apresentador do podcast sobre política latino-americana Mirada Semanal. “A oposição não teve nenhuma outra opção que fosse aceita pela autoridade eleitoral, já que o sistema de inabilitações tem sido sistematicamente utilizado.”

Biografia

González Urrutia tem 74 anos e é um diplomata de carreira, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Em 1981, fez um mestrado em Relações Internacionais pela American University de Washington, Estados Unidos.

Foi embaixador da Venezuela na Argélia entre os anos 1991 e 1993 e na Argentina entre 1998 e 2002. Ocupou cargos na Direção Geral de Política Internacional do Ministério das Relações Exteriores entre 1994 e 1998.Também dirigiu o comitê de Análise e Planejamento Estratégico dentro do organismo.

“González Urrutia é um diplomata de carreira e tem atuado durante pelo menos cinco governos, incluindo o primeiro governo de Chávez. Essa formação diplomática faz com que sua tendência seja moderada”, observa o analista político venezuelano Francisco Alfaro Pareja.

A líder opositora, María Corina Machado, é abraçada por apoiadores durante evento de campanha em San Antonio de los Altos Foto: Ariana Cubillos/AP

Desconhecido

Antes de se tornar candidato, González Urrutia quase não tinha fotos públicas na internet e mal utilizava as redes sociais. Agora, corre contra o tempo para fazer entrevistas e se tornar conhecido para o público. Ser um desconhecido, apontam analistas, pode ser um desafio para a campanha da oposição, mas também pode ser o seu maior ativo.

“O que se conhece dele é que ele foi uma dessas pessoas que trabalham como operadores políticos, pessoas que buscam organizar a logística dos encontros entre partidos, promover o fortalecimento institucional da Mesa da Unidade Democrática, que era como se chamava antes a coalizão de partidos que agora formam a Plataforma Unitária. Sempre esteve, portanto, muito nas sombras”, explica Rodríguez-Franco.

Ao ser um anônimo aos olhos do eleitor, pode ser difícil reunir nele o apoio necessário para derrotar Maduro. Para isso, o apoio de María Corina Machado será fundamental. O diplomata também já recebeu o apoio de Manuel Rosales, governador de Zulia que também havia postulado candidatura, mas abriu mão em nome da unidade em torno de González Urrutia.

Sua discrição, porém, pode jogar a seu favor, já que desperta pouca rejeição. O maior desafio da oposição era justamente definir um nome que reunisse tanto apoio quanto, ou quase, María Corina, mas sem recair em outros políticos famosos da oposição que já são figurinhas carimbadas.

“É uma figura que tem estado um pouco à margem das grandes figuras da oposição venezuelana e isso de alguma maneira contribui para reduzir os níveis de desconfiança, porque também deve-se dizer que durante todos esses anos de tantos fracassos que a oposição sofreu, tantas derrotas, repressão, exílio e mortes, obviamente as pessoas foram se desencantando da política, foram se distanciando e há um descrédito muito grande com os partidos tradicionais de oposição”, completa Rodríguez-Franco.

Outro risco era que o nome caísse em uma “malha fina” de entraves do chavismo, o que parece menos provável com um diplomata de carreira, sem históricos políticos além de apoios técnicos e sem casos na Justiça. Porém, não impossível, já que Corina Yoris também atendia aos mesmos requisitos.

Edmundo González Urrutia tem se colocado mais presente nas redes e em entrevistas para fazer sua candidatura conhecida até 28 de julho Foto: Ivan Reyes/AP

Um consenso

O nome do diplomata também serviu para finalmente chegar a um consenso na oposição venezuelana, que historicamente é muito fragmentada e desconfiada de si mesma. Um consenso que, talvez, nem o chavismo esperava.

“González Urrutia, que já estava inscrito, foi uma inclusão que de alguma forma promoveu um maior consenso entre os atores de oposição e isso certamente é muito importante para a oposição venezuelana”, aponta Alfaro Pareja. “De fato, diz-se que a chave de hoje é a unidade, que o candidato não é Edmundo González Urrutia, que o candidato é a unidade.”

Não à toa, em suas primeiras entrevistas ele faz questão de dizer que a líder da oposição continua sendo María Corina Machado.

“González Urrutia tem um perfil bastante moderado e gera apoio desses setores que apoiavam a candidatura do governador Rosales, mas também gera o apoio dos setores talvez um pouco mais radicais que apoiam a María Corina Machado”, continua Alfaro Pareja.

Um choque para o governo

Entre as razões para manter o seu nome como candidato também estaria o efeito surpresa de fazê-lo. Chamado de “candidato tampão”, González Urrutia deveria ser substituído pela PUD até 22 de abril, quando terminava o prazo para confirmação das candidaturas. O caminho que todos esperavam era de que a plataforma apontasse qualquer outro nome para substituí-lo, um que ainda não havia sido indicado.

O problema com esta opção era que ela poderia ser facilmente barrada pelo chavismo, que poderia alegar que o prazo para novas postulações já havia se encerrado.

“Eu acredito que para o governo nunca existiu a possibilidade de que este candidato, que era um candidato temporário, acabasse sendo o candidato de fato. Isso torna mais difícil para o governo e para o conselho eleitoral inventar qualquer desculpa para retirar esse candidato”, afirma o analista venezuelano.

Mas ninguém ousa descartar que Maduro ainda utilize algum artifício legalista para invalidar a candidatura de Urrutia. “Sua nomeação provocou uma grande comoção dentro do chavismo, porque também revela, que as pessoas estão dispostas, segundo as pesquisas de opinião, a votar em alguém que não conhecem, do que no próprio Maduro, o que também fala da magnitude do desprezo, da descrença e da baixa popularidade que Maduro tem”, opina Xavier Rodríguez-Franco.

O ditador Nicolás Maduro mostra a cédula eleitoral em que sua foto aparece 13 vezes Foto: Miguel Gutierrez/Palácio Miraflores/EFE

Um caminho à transição

O perfil diplomático também pode ser uma luz no fim do túnel para a grande pergunta: “o chavismo entregará o poder?” Em suas entrevistas, o embaixador tem falado em “reconciliação” e tentado entrar em contato tanto com a oposição que ainda não o conhece quanto com pessoas próximas do governo.

A palavra reconciliação era mais difícil de se esperar vindo de María Corina, que é vista como inimiga máxima do regime.

Em um contexto em que o governo teme sair do poder, pelas repercussões que isso pode trazer às suspeitas de corrupção e violações de direitos, Urrutia traz uma linguagem que beira a anistia. Embora possa não agradar muitos setores perseguidos da sociedade venezuelana, a anistia é vista por muitos analistas como a única forma de convencer o chavismo a fazer uma entrega de governo.

“A mensagem nas entrevistas que González Urrutia tem dado desde o início tem sido de aproximação com todos os setores, abertura para a possibilidade de negociar com o governo, abertura para dialogar com a Força Armada Nacional, promover um processo de reconciliação nacional”, afirma Alfaro Pareja. “Acredito que seja uma oportunidade importante apresentada ao governo para buscar mecanismos de saída e até mesmo ter a possibilidade de se afastar temporariamente do poder e retornar em algum momento.”

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