Quem é Francia Márquez, a primeira vice-presidente negra da Colômbia


A nova vice-presidente nasceu em uma família pobre no departamento de Cauca, foi mãe solteira aos 16 anos e já trabalhou como doméstica; hoje é uma ativista ambiental

Por Redação
Atualização:

BOGOTÁ - Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra será a vice-presidente do país.

Francia Márquez, uma ativista ambiental do departamento montanhoso de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando décadas de frustração dos eleitores e obrigando o novo presidente eleito do país, Gustavo Petro, a nomeá-la como sua companheira de chapa.

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Márquez, 40 anos, escolheu concorrer ao cargo, disse ela, “porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz”.

Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais para sustentar seu filho e, eventualmente, procurou trabalho como empregada doméstica.

Sua ascensão é significativa porque ela vem da pobreza em um país onde a classe econômica muitas vezes define o lugar de uma pessoa na sociedade. Os ex-presidentes mais recentes foram educados no exterior e estão ligados às famílias poderosas.

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A vice-presidente eleita de esquerda da Colômbia, Francia Márquez, da coalizão Pacto Histórico Foto: Edwin Rodriguez Pipicano/Reuters

Apesar dos ganhos econômicos nas últimas décadas, a Colômbia continua extremamente desigual, uma tendência que se agravou durante a pandemia, com comunidades negras, indígenas e rurais ficando para trás. Quarenta por cento do país vive na pobreza.

Márquez tornou-se ativista quando tinha cerca de 13 anos, em meio a uma proposta de expansão de um projeto de barragem que teria desviado um grande rio em sua região, prejudicando a vida da comunidade. Ela acabou indo para a faculdade de direito, ganhando uma campanha legal para impedir que grandes empresas de mineração tentassem se mudar para a área.

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Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração em terras de afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman, também conhecido como o Nobel do meio ambiente.

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“Os ninguéns, os que não são reconhecidos por nossa humanidade, os que não são reconhecidos por seus direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política”, disse Márquez em entrevista à AFP em março.

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Nas primárias da coalizão de esquerda Pacto Histórico, Francia obteve a segunda melhor votação (785.000) depois de Petro (4,4 milhões).

Para um segmento de colombianos que clamam por mudanças e por uma representação mais diversificada, Márquez é a campeã. A questão é se o resto do país está pronto para ela.

Alguns críticos a chamaram de divisiva, dizendo que ela faz parte de uma coalizão de esquerda que busca destruir, em vez de construir sobre normas passadas.

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Ela também nunca ocupou um cargo político, e Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma empresa de consultoria, disse que “há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ser comandante em chefe, se ela gerenciaria a política econômica , ou política externa, de forma a dar continuidade ao país”.

Seus oponentes mais extremistas têm apontado diretamente para ela com tropos racistas e criticam sua classe e legitimidade política.

Mas na campanha eleitoral, a análise persistente, franca e mordaz de Márquez sobre as disparidades sociais na Colômbia abriu uma discussão sobre raça e classe de uma maneira raramente ouvida nos círculos políticos mais públicos e poderosos do país.

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Confetes explodem em uma tela mostrando fotos do candidato presidencial Gustavo Petro, à esquerda, e sua companheira de chapa Francia Márquez depois de vencerem o segundo turno na sede da noite eleitoral em Bogotá, Colômbia Foto: Fernando Vergara/AP

Esses temas, “muitos em nossa sociedade os negam ou os tratam como menores”, disse Santiago Arboleda, professor de história afro-andina da Universidade Andina Simón Bolívar. “Hoje, eles estão na primeira página.”

Com sua ascensão, também emergiu um racismo enterrado. Desde abril, Márquez foi alvo de 1.083 comentários e mensagens racistas na mídia e nas redes, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidade dos Andes.

Com a vitória de Petro, Márquez certamente tentará empurrá-lo para uma plataforma mais feminista, e ela às vezes o criticou abertamente seu histórico em questões femininas.

Em um debate presidencial, Petro se recusou a oferecer apoio total aos direitos ao aborto, dizendo que pressionaria por programas de prevenção da gravidez que levariam o país ao “aborto zero”. No palco do debate, Márquez voltou-se para seu aliado: “Pergunto a Petro, quantas mulheres têm que morrer, quantas mulheres têm que passar por essas situações dolorosas até chegar o ‘aborto zero’?”

Pela primeira vez cinco dos candidatos à vice-presidência do país no primeiro turno eram afro-colombianos, algo que Guzmán atribuiu à ascensão de Márquez. “Uma vez que Francia se tornou candidata, a inclusão se tornou uma narrativa central na eleição”, disse ele.

Como muitos ativistas na Colômbia que desafiam o status quo, Márquez recebeu repetidas ameaças de morte.

No evento de campanha não muito longe de sua cidade natal, Márquez ficou cercada pela guarda indígena, uma unidade de segurança tradicional que carrega cajados de madeira que representam paz e força.

Perto havia um esquadrão de guarda-costas à paisana com cara de pedra e, além deles, um círculo de policiais vestidos de verde.

No meio da multidão, em meio a um tocador de marimba e uma faixa que dizia “ouse votar”, havia um corte transversal da Colômbia, incluindo muitas mulheres de turbante, que passaram a simbolizar a luta e a força afro-colombianas./AFP e NYT

BOGOTÁ - Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra será a vice-presidente do país.

Francia Márquez, uma ativista ambiental do departamento montanhoso de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando décadas de frustração dos eleitores e obrigando o novo presidente eleito do país, Gustavo Petro, a nomeá-la como sua companheira de chapa.

Márquez, 40 anos, escolheu concorrer ao cargo, disse ela, “porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz”.

Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais para sustentar seu filho e, eventualmente, procurou trabalho como empregada doméstica.

Sua ascensão é significativa porque ela vem da pobreza em um país onde a classe econômica muitas vezes define o lugar de uma pessoa na sociedade. Os ex-presidentes mais recentes foram educados no exterior e estão ligados às famílias poderosas.

A vice-presidente eleita de esquerda da Colômbia, Francia Márquez, da coalizão Pacto Histórico Foto: Edwin Rodriguez Pipicano/Reuters

Apesar dos ganhos econômicos nas últimas décadas, a Colômbia continua extremamente desigual, uma tendência que se agravou durante a pandemia, com comunidades negras, indígenas e rurais ficando para trás. Quarenta por cento do país vive na pobreza.

Márquez tornou-se ativista quando tinha cerca de 13 anos, em meio a uma proposta de expansão de um projeto de barragem que teria desviado um grande rio em sua região, prejudicando a vida da comunidade. Ela acabou indo para a faculdade de direito, ganhando uma campanha legal para impedir que grandes empresas de mineração tentassem se mudar para a área.

Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração em terras de afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman, também conhecido como o Nobel do meio ambiente.

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“Os ninguéns, os que não são reconhecidos por nossa humanidade, os que não são reconhecidos por seus direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política”, disse Márquez em entrevista à AFP em março.

Nas primárias da coalizão de esquerda Pacto Histórico, Francia obteve a segunda melhor votação (785.000) depois de Petro (4,4 milhões).

Para um segmento de colombianos que clamam por mudanças e por uma representação mais diversificada, Márquez é a campeã. A questão é se o resto do país está pronto para ela.

Alguns críticos a chamaram de divisiva, dizendo que ela faz parte de uma coalizão de esquerda que busca destruir, em vez de construir sobre normas passadas.

Ela também nunca ocupou um cargo político, e Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma empresa de consultoria, disse que “há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ser comandante em chefe, se ela gerenciaria a política econômica , ou política externa, de forma a dar continuidade ao país”.

Seus oponentes mais extremistas têm apontado diretamente para ela com tropos racistas e criticam sua classe e legitimidade política.

Mas na campanha eleitoral, a análise persistente, franca e mordaz de Márquez sobre as disparidades sociais na Colômbia abriu uma discussão sobre raça e classe de uma maneira raramente ouvida nos círculos políticos mais públicos e poderosos do país.

Confetes explodem em uma tela mostrando fotos do candidato presidencial Gustavo Petro, à esquerda, e sua companheira de chapa Francia Márquez depois de vencerem o segundo turno na sede da noite eleitoral em Bogotá, Colômbia Foto: Fernando Vergara/AP

Esses temas, “muitos em nossa sociedade os negam ou os tratam como menores”, disse Santiago Arboleda, professor de história afro-andina da Universidade Andina Simón Bolívar. “Hoje, eles estão na primeira página.”

Com sua ascensão, também emergiu um racismo enterrado. Desde abril, Márquez foi alvo de 1.083 comentários e mensagens racistas na mídia e nas redes, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidade dos Andes.

Com a vitória de Petro, Márquez certamente tentará empurrá-lo para uma plataforma mais feminista, e ela às vezes o criticou abertamente seu histórico em questões femininas.

Em um debate presidencial, Petro se recusou a oferecer apoio total aos direitos ao aborto, dizendo que pressionaria por programas de prevenção da gravidez que levariam o país ao “aborto zero”. No palco do debate, Márquez voltou-se para seu aliado: “Pergunto a Petro, quantas mulheres têm que morrer, quantas mulheres têm que passar por essas situações dolorosas até chegar o ‘aborto zero’?”

Pela primeira vez cinco dos candidatos à vice-presidência do país no primeiro turno eram afro-colombianos, algo que Guzmán atribuiu à ascensão de Márquez. “Uma vez que Francia se tornou candidata, a inclusão se tornou uma narrativa central na eleição”, disse ele.

Como muitos ativistas na Colômbia que desafiam o status quo, Márquez recebeu repetidas ameaças de morte.

No evento de campanha não muito longe de sua cidade natal, Márquez ficou cercada pela guarda indígena, uma unidade de segurança tradicional que carrega cajados de madeira que representam paz e força.

Perto havia um esquadrão de guarda-costas à paisana com cara de pedra e, além deles, um círculo de policiais vestidos de verde.

No meio da multidão, em meio a um tocador de marimba e uma faixa que dizia “ouse votar”, havia um corte transversal da Colômbia, incluindo muitas mulheres de turbante, que passaram a simbolizar a luta e a força afro-colombianas./AFP e NYT

BOGOTÁ - Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra será a vice-presidente do país.

Francia Márquez, uma ativista ambiental do departamento montanhoso de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando décadas de frustração dos eleitores e obrigando o novo presidente eleito do país, Gustavo Petro, a nomeá-la como sua companheira de chapa.

Márquez, 40 anos, escolheu concorrer ao cargo, disse ela, “porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz”.

Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais para sustentar seu filho e, eventualmente, procurou trabalho como empregada doméstica.

Sua ascensão é significativa porque ela vem da pobreza em um país onde a classe econômica muitas vezes define o lugar de uma pessoa na sociedade. Os ex-presidentes mais recentes foram educados no exterior e estão ligados às famílias poderosas.

A vice-presidente eleita de esquerda da Colômbia, Francia Márquez, da coalizão Pacto Histórico Foto: Edwin Rodriguez Pipicano/Reuters

Apesar dos ganhos econômicos nas últimas décadas, a Colômbia continua extremamente desigual, uma tendência que se agravou durante a pandemia, com comunidades negras, indígenas e rurais ficando para trás. Quarenta por cento do país vive na pobreza.

Márquez tornou-se ativista quando tinha cerca de 13 anos, em meio a uma proposta de expansão de um projeto de barragem que teria desviado um grande rio em sua região, prejudicando a vida da comunidade. Ela acabou indo para a faculdade de direito, ganhando uma campanha legal para impedir que grandes empresas de mineração tentassem se mudar para a área.

Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração em terras de afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman, também conhecido como o Nobel do meio ambiente.

Seu navegador não suporta esse video.

“Os ninguéns, os que não são reconhecidos por nossa humanidade, os que não são reconhecidos por seus direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política”, disse Márquez em entrevista à AFP em março.

Nas primárias da coalizão de esquerda Pacto Histórico, Francia obteve a segunda melhor votação (785.000) depois de Petro (4,4 milhões).

Para um segmento de colombianos que clamam por mudanças e por uma representação mais diversificada, Márquez é a campeã. A questão é se o resto do país está pronto para ela.

Alguns críticos a chamaram de divisiva, dizendo que ela faz parte de uma coalizão de esquerda que busca destruir, em vez de construir sobre normas passadas.

Ela também nunca ocupou um cargo político, e Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma empresa de consultoria, disse que “há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ser comandante em chefe, se ela gerenciaria a política econômica , ou política externa, de forma a dar continuidade ao país”.

Seus oponentes mais extremistas têm apontado diretamente para ela com tropos racistas e criticam sua classe e legitimidade política.

Mas na campanha eleitoral, a análise persistente, franca e mordaz de Márquez sobre as disparidades sociais na Colômbia abriu uma discussão sobre raça e classe de uma maneira raramente ouvida nos círculos políticos mais públicos e poderosos do país.

Confetes explodem em uma tela mostrando fotos do candidato presidencial Gustavo Petro, à esquerda, e sua companheira de chapa Francia Márquez depois de vencerem o segundo turno na sede da noite eleitoral em Bogotá, Colômbia Foto: Fernando Vergara/AP

Esses temas, “muitos em nossa sociedade os negam ou os tratam como menores”, disse Santiago Arboleda, professor de história afro-andina da Universidade Andina Simón Bolívar. “Hoje, eles estão na primeira página.”

Com sua ascensão, também emergiu um racismo enterrado. Desde abril, Márquez foi alvo de 1.083 comentários e mensagens racistas na mídia e nas redes, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidade dos Andes.

Com a vitória de Petro, Márquez certamente tentará empurrá-lo para uma plataforma mais feminista, e ela às vezes o criticou abertamente seu histórico em questões femininas.

Em um debate presidencial, Petro se recusou a oferecer apoio total aos direitos ao aborto, dizendo que pressionaria por programas de prevenção da gravidez que levariam o país ao “aborto zero”. No palco do debate, Márquez voltou-se para seu aliado: “Pergunto a Petro, quantas mulheres têm que morrer, quantas mulheres têm que passar por essas situações dolorosas até chegar o ‘aborto zero’?”

Pela primeira vez cinco dos candidatos à vice-presidência do país no primeiro turno eram afro-colombianos, algo que Guzmán atribuiu à ascensão de Márquez. “Uma vez que Francia se tornou candidata, a inclusão se tornou uma narrativa central na eleição”, disse ele.

Como muitos ativistas na Colômbia que desafiam o status quo, Márquez recebeu repetidas ameaças de morte.

No evento de campanha não muito longe de sua cidade natal, Márquez ficou cercada pela guarda indígena, uma unidade de segurança tradicional que carrega cajados de madeira que representam paz e força.

Perto havia um esquadrão de guarda-costas à paisana com cara de pedra e, além deles, um círculo de policiais vestidos de verde.

No meio da multidão, em meio a um tocador de marimba e uma faixa que dizia “ouse votar”, havia um corte transversal da Colômbia, incluindo muitas mulheres de turbante, que passaram a simbolizar a luta e a força afro-colombianas./AFP e NYT

BOGOTÁ - Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra será a vice-presidente do país.

Francia Márquez, uma ativista ambiental do departamento montanhoso de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando décadas de frustração dos eleitores e obrigando o novo presidente eleito do país, Gustavo Petro, a nomeá-la como sua companheira de chapa.

Márquez, 40 anos, escolheu concorrer ao cargo, disse ela, “porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz”.

Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais para sustentar seu filho e, eventualmente, procurou trabalho como empregada doméstica.

Sua ascensão é significativa porque ela vem da pobreza em um país onde a classe econômica muitas vezes define o lugar de uma pessoa na sociedade. Os ex-presidentes mais recentes foram educados no exterior e estão ligados às famílias poderosas.

A vice-presidente eleita de esquerda da Colômbia, Francia Márquez, da coalizão Pacto Histórico Foto: Edwin Rodriguez Pipicano/Reuters

Apesar dos ganhos econômicos nas últimas décadas, a Colômbia continua extremamente desigual, uma tendência que se agravou durante a pandemia, com comunidades negras, indígenas e rurais ficando para trás. Quarenta por cento do país vive na pobreza.

Márquez tornou-se ativista quando tinha cerca de 13 anos, em meio a uma proposta de expansão de um projeto de barragem que teria desviado um grande rio em sua região, prejudicando a vida da comunidade. Ela acabou indo para a faculdade de direito, ganhando uma campanha legal para impedir que grandes empresas de mineração tentassem se mudar para a área.

Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração em terras de afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman, também conhecido como o Nobel do meio ambiente.

Seu navegador não suporta esse video.

“Os ninguéns, os que não são reconhecidos por nossa humanidade, os que não são reconhecidos por seus direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política”, disse Márquez em entrevista à AFP em março.

Nas primárias da coalizão de esquerda Pacto Histórico, Francia obteve a segunda melhor votação (785.000) depois de Petro (4,4 milhões).

Para um segmento de colombianos que clamam por mudanças e por uma representação mais diversificada, Márquez é a campeã. A questão é se o resto do país está pronto para ela.

Alguns críticos a chamaram de divisiva, dizendo que ela faz parte de uma coalizão de esquerda que busca destruir, em vez de construir sobre normas passadas.

Ela também nunca ocupou um cargo político, e Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma empresa de consultoria, disse que “há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ser comandante em chefe, se ela gerenciaria a política econômica , ou política externa, de forma a dar continuidade ao país”.

Seus oponentes mais extremistas têm apontado diretamente para ela com tropos racistas e criticam sua classe e legitimidade política.

Mas na campanha eleitoral, a análise persistente, franca e mordaz de Márquez sobre as disparidades sociais na Colômbia abriu uma discussão sobre raça e classe de uma maneira raramente ouvida nos círculos políticos mais públicos e poderosos do país.

Confetes explodem em uma tela mostrando fotos do candidato presidencial Gustavo Petro, à esquerda, e sua companheira de chapa Francia Márquez depois de vencerem o segundo turno na sede da noite eleitoral em Bogotá, Colômbia Foto: Fernando Vergara/AP

Esses temas, “muitos em nossa sociedade os negam ou os tratam como menores”, disse Santiago Arboleda, professor de história afro-andina da Universidade Andina Simón Bolívar. “Hoje, eles estão na primeira página.”

Com sua ascensão, também emergiu um racismo enterrado. Desde abril, Márquez foi alvo de 1.083 comentários e mensagens racistas na mídia e nas redes, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidade dos Andes.

Com a vitória de Petro, Márquez certamente tentará empurrá-lo para uma plataforma mais feminista, e ela às vezes o criticou abertamente seu histórico em questões femininas.

Em um debate presidencial, Petro se recusou a oferecer apoio total aos direitos ao aborto, dizendo que pressionaria por programas de prevenção da gravidez que levariam o país ao “aborto zero”. No palco do debate, Márquez voltou-se para seu aliado: “Pergunto a Petro, quantas mulheres têm que morrer, quantas mulheres têm que passar por essas situações dolorosas até chegar o ‘aborto zero’?”

Pela primeira vez cinco dos candidatos à vice-presidência do país no primeiro turno eram afro-colombianos, algo que Guzmán atribuiu à ascensão de Márquez. “Uma vez que Francia se tornou candidata, a inclusão se tornou uma narrativa central na eleição”, disse ele.

Como muitos ativistas na Colômbia que desafiam o status quo, Márquez recebeu repetidas ameaças de morte.

No evento de campanha não muito longe de sua cidade natal, Márquez ficou cercada pela guarda indígena, uma unidade de segurança tradicional que carrega cajados de madeira que representam paz e força.

Perto havia um esquadrão de guarda-costas à paisana com cara de pedra e, além deles, um círculo de policiais vestidos de verde.

No meio da multidão, em meio a um tocador de marimba e uma faixa que dizia “ouse votar”, havia um corte transversal da Colômbia, incluindo muitas mulheres de turbante, que passaram a simbolizar a luta e a força afro-colombianas./AFP e NYT

BOGOTÁ - Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra será a vice-presidente do país.

Francia Márquez, uma ativista ambiental do departamento montanhoso de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando décadas de frustração dos eleitores e obrigando o novo presidente eleito do país, Gustavo Petro, a nomeá-la como sua companheira de chapa.

Márquez, 40 anos, escolheu concorrer ao cargo, disse ela, “porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz”.

Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais para sustentar seu filho e, eventualmente, procurou trabalho como empregada doméstica.

Sua ascensão é significativa porque ela vem da pobreza em um país onde a classe econômica muitas vezes define o lugar de uma pessoa na sociedade. Os ex-presidentes mais recentes foram educados no exterior e estão ligados às famílias poderosas.

A vice-presidente eleita de esquerda da Colômbia, Francia Márquez, da coalizão Pacto Histórico Foto: Edwin Rodriguez Pipicano/Reuters

Apesar dos ganhos econômicos nas últimas décadas, a Colômbia continua extremamente desigual, uma tendência que se agravou durante a pandemia, com comunidades negras, indígenas e rurais ficando para trás. Quarenta por cento do país vive na pobreza.

Márquez tornou-se ativista quando tinha cerca de 13 anos, em meio a uma proposta de expansão de um projeto de barragem que teria desviado um grande rio em sua região, prejudicando a vida da comunidade. Ela acabou indo para a faculdade de direito, ganhando uma campanha legal para impedir que grandes empresas de mineração tentassem se mudar para a área.

Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração em terras de afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman, também conhecido como o Nobel do meio ambiente.

Seu navegador não suporta esse video.

“Os ninguéns, os que não são reconhecidos por nossa humanidade, os que não são reconhecidos por seus direitos neste país, levantam-se para mudar a história, para ocupar a política”, disse Márquez em entrevista à AFP em março.

Nas primárias da coalizão de esquerda Pacto Histórico, Francia obteve a segunda melhor votação (785.000) depois de Petro (4,4 milhões).

Para um segmento de colombianos que clamam por mudanças e por uma representação mais diversificada, Márquez é a campeã. A questão é se o resto do país está pronto para ela.

Alguns críticos a chamaram de divisiva, dizendo que ela faz parte de uma coalizão de esquerda que busca destruir, em vez de construir sobre normas passadas.

Ela também nunca ocupou um cargo político, e Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, uma empresa de consultoria, disse que “há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ser comandante em chefe, se ela gerenciaria a política econômica , ou política externa, de forma a dar continuidade ao país”.

Seus oponentes mais extremistas têm apontado diretamente para ela com tropos racistas e criticam sua classe e legitimidade política.

Mas na campanha eleitoral, a análise persistente, franca e mordaz de Márquez sobre as disparidades sociais na Colômbia abriu uma discussão sobre raça e classe de uma maneira raramente ouvida nos círculos políticos mais públicos e poderosos do país.

Confetes explodem em uma tela mostrando fotos do candidato presidencial Gustavo Petro, à esquerda, e sua companheira de chapa Francia Márquez depois de vencerem o segundo turno na sede da noite eleitoral em Bogotá, Colômbia Foto: Fernando Vergara/AP

Esses temas, “muitos em nossa sociedade os negam ou os tratam como menores”, disse Santiago Arboleda, professor de história afro-andina da Universidade Andina Simón Bolívar. “Hoje, eles estão na primeira página.”

Com sua ascensão, também emergiu um racismo enterrado. Desde abril, Márquez foi alvo de 1.083 comentários e mensagens racistas na mídia e nas redes, segundo o Observatório de Discriminação Racial da Universidade dos Andes.

Com a vitória de Petro, Márquez certamente tentará empurrá-lo para uma plataforma mais feminista, e ela às vezes o criticou abertamente seu histórico em questões femininas.

Em um debate presidencial, Petro se recusou a oferecer apoio total aos direitos ao aborto, dizendo que pressionaria por programas de prevenção da gravidez que levariam o país ao “aborto zero”. No palco do debate, Márquez voltou-se para seu aliado: “Pergunto a Petro, quantas mulheres têm que morrer, quantas mulheres têm que passar por essas situações dolorosas até chegar o ‘aborto zero’?”

Pela primeira vez cinco dos candidatos à vice-presidência do país no primeiro turno eram afro-colombianos, algo que Guzmán atribuiu à ascensão de Márquez. “Uma vez que Francia se tornou candidata, a inclusão se tornou uma narrativa central na eleição”, disse ele.

Como muitos ativistas na Colômbia que desafiam o status quo, Márquez recebeu repetidas ameaças de morte.

No evento de campanha não muito longe de sua cidade natal, Márquez ficou cercada pela guarda indígena, uma unidade de segurança tradicional que carrega cajados de madeira que representam paz e força.

Perto havia um esquadrão de guarda-costas à paisana com cara de pedra e, além deles, um círculo de policiais vestidos de verde.

No meio da multidão, em meio a um tocador de marimba e uma faixa que dizia “ouse votar”, havia um corte transversal da Colômbia, incluindo muitas mulheres de turbante, que passaram a simbolizar a luta e a força afro-colombianas./AFP e NYT

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