Quem é o que pensa a mulher responsável pela campanha de reeleição Joe Biden


Nervoso sobre a eleição de novembro? Julie Chavez Rodriguez, a diretora de campanha de Biden, parece bastante calma, apesar de tudo

Por Jesús Rodríguez

SCOTTSDALE, Arizona -A coordenadora da campanha do presidente Joe Biden à reeleição terminava de comer sua omelete de claras e imaginou o que aconteceria se a eleição de novembro desse errado. Em uma palavra, o que ela acha que aconteceria se Donald Trump vencer? “Em uma palavra? Uau. Difícil”, afirmou Julie Chávez Rodriguez. E pensou por um momento. “Para mim, é tipo ou estrago ou devastação. Fico entre os dois. Acho que seria devastador para as nossas comunidades. E acho que causaria estrago na nossa política e às políticas que colocamos em prática.”

Chávez Rodriguez tomava café da manhã no suntuoso resort em que Biden e sua equipe estavam hospedados, um palácio cujo pernoite mais barato em um de seus 750 quartos vale US$ 800. A campanha de Biden estava aqui, neste Estado ferozmente disputado, onde o presidente venceu por apenas 10.457 votos quatro anos atrás, como parte de um giro no oeste por Nevada, Arizona e Texas. Na noite anterior, Biden esteve diante de aproximadamente 50 apoiadores em um modesto restaurante mexicano em um bairro próximo ao aeroporto, para o lançamento de um esforço de campanha chamado “Latinos com Biden-Harris”.

“Eu preciso de vocês”, disse Biden aos seus apoiadores nesse evento. “Preciso muito de vocês. Preciso de sua ajuda. Kamala e eu precisamos muito da sua ajuda.”

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A coordenadora de campanha de Joe Biden, Julie Chávez Rodriguez, está confiante de que Biden pode ser reeleito  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente elogiou três latinos de seu gabinete e mencionou políticas que, em sua visão, seu governo está colocando em prática para favorecer a comunidade: baixar preços de medicamentos que requerem prescrição, diminuir dívidas estudantis e reduzir índices de desemprego.

Biden também elogiou a coordenadora de sua campanha. A Organizadora.

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“Está um pouco em seu sangue. Ela é neta do César Chávez”, afirmou o presidente, levantando as sobrancelhas conforme aludiu para o venerado líder trabalhista e defensor dos direitos civis — que também estava aqui presente, de certa maneira, encarando Biden a partir de um pôster pendurado na parede oposta, com a imagem de um selo postal que carrega sua efígie.

Chávez Rodriguez está aqui em parte porque eleitores negros e não brancos são ingredientes essenciais na receita da vitória — e têm se amargado com Biden. Em 2020, 81% dos eleitores negros escolheram Biden, de acordo com uma média entre pesquisas eleitorais e outras sondagens; em uma média de pesquisas recentes elaborada pelo Washington Post, Biden tinha vantagem de 49% entre os eleitores negros registrados. Biden conquistou 29% mais eleitores latinos, mas pesquisas recentes constataram que Trump está quase empatado com Biden nesse grupo, apesar de haver menos sondagens de alta qualidade sobre eleitores latinos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Evan Vucci/AP
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Chávez Rodriguez pretende recordar os eleitores latinos de que, no último ano de seu mandato, Trump foi responsável por uma economia pandêmica que ocasionou alto desemprego entre os latinos e deixou pequenas empresas em dificuldades. Mas a imagem persistente entre os latinos de Trump como um “empresário bem-sucedido” o torna um desafio singular enquanto oponente. “Acho que há algum entendimento e uma afinidade em relação a alguém que é, de certa maneira, em suas mentes, um empreendedor de origem humilde que venceu na vida”, afirmou Chávez Rodriguez no resort.

“O que nós sabemos que não é verdade”, acrescentou ela, aludindo para as origens não tão humildes do ex-presidente, filho de um magnata do mercado imobiliário de Nova York.

Chávez Rodriguez é herdeira de um legado americano muito diferente. Ela passou parte da infância na comunidade Nuestra Señora Reina de la Paz, um labirinto de prédios e casas em uma propriedade de 75,7 hectares que serviu como sede da União de Camponeses (UFW). Chávez vivia ao lado do avô na pequena casa de sua família. Seu pai, Arturo Rodríguez, que quase não esteve presente em seu nascimento porque César Chávez o havia mandado organizar agricultores de cítricos e morangos a 240 quilômetros de lá, veio a se tornar diretor da UFW. Desde muito cedo, a vida de Chávez Rodriguez foi repleta de protestos, boicotes, marchas e reuniões. Ela se recorda de acompanhar em silêncio as reuniões, passear por Los Angeles e ser presa aos 9 anos panfletando em Nova Jersey.

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Coordenação

Atualmente, Chávez Rodriguez, hoje com 46 anos, soa mais como uma operadora de Washington que como ativista — consequência, talvez, de uma vida adulta trabalhando para democratas profissionais (um senador do Colorado, o governo Obama, a campanha de Kamala Harris e então Biden). Suas atribuições, conforme ela as descreve, incluíram coordenar operações do dia a dia, gastar baldes de dinheiro das campanhas e “construir” comitês centrais e estaduais. Na semana passada, a campanha de Biden anunciou novos comitês na Carolina do Norte e no Michigan e uma nova equipe de coordenação na Flórida — Chávez Rodriguez disse que a campanha precisava contratar 350 funcionários até meados de abril.

Apesar das acomodações luxuosas e da omelete de claras, “o trabalho não é fácil”, afirmou ela. “Não é, entende. O dia a dia não é nada glamuroso.”

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Julie Chávez Rodriguez conversa com fazendeiros em um evento de campanha de Biden  Foto: Mark J. Terrill/AP

Ainda assim, Chávez Rodriguez pode ser uma das emissárias mais críveis da campanha para partes da base democrata que não se sentem conectadas com o próprio Biden. Depois que El Portal se esvaziou, ela concedeu uma entrevista para Enrique Acevedo, o âncora da Univision que foi criticado recentemente por sua entrevista a Trump. (A emissora está produzindo um especial sobre Biden.) Em um esforço para tentar conquistar eleitores negros, a campanha democrata está enfatizando os novos investimentos para faculdades e universidades historicamente negras por parte do governo Biden, a indicação para a Suprema Corte da ministra Ketanji Brown Jackson e aumentos na contratação de seguros-saúde entre os negros. Mirar meios de comunicação negros também é parte de uma campanha publicitária de US$ 30 milhões anunciada em março.

Escutar

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Uma parte do trabalho é falar, mas a outra é escutar, uma habilidade que Chávez Rodriguez tem aprimorado há um bom tempo. Quando assumiu como coordenadora de engajamento público do governo Obama, ela pediu à presidente e diretora-executiva da organização política Voto Latino, Maria Teresa Kumar, para encontrá-la na Praça Lafayette e conversar sobre ambas trabalharem conjuntamente. “Minha impressão foi que ela é uma ótima ouvinte, e ela fez muitas perguntas”, afirmou Kumar. “Isso é raro em Washington, porque as pessoas sempre querem dar opinião sobre como consertar as coisas.”

Em janeiro, Chávez Rodriguez viajou a Dearborn, Michigan, para uma reunião planejada com cerca de 15 líderes árabe-americanos em meio a uma grande reação naquele Estado indeciso contra o apoio do governo Biden à campanha militar de Israel em Gaza. Mas os líderes árabe-americanos cancelaram o encontro após membros de sua comunidade pedirem para eles não participarem. Os sentimentos de conexão pessoal com a guerra entre alguns integrantes dessa comunidade eram “mais profundos do que eu pude captar plenamente”, afirmou ela.

“Se houver disposição de sua parte — ou quando houver — nós queremos continuar a trabalhar e envolver essas comunidades”, acrescentou Chávez Rodriguez, notando que se encontrou com outros líderes árabe-americanos naquela viagem a Michigan. A campanha está percebendo algumas “aberturas importantes”, afirmou ela: a deputada Ilhan Omar (democrata de Minnesota), uma das duas únicas mulheres muçulmanas no Congresso, “passou realmente a definir o que está em jogo nesta eleição”.

Mulher segura cartaz pedindo que votantes optem por colocar "descomprometido" nas primárias democratas no Estado de Michigan, que abriga uma grande comunidade árabe-americana e protesta contra o apoio americano a Israel durante a guerra na Faixa de Gaza  Foto: Emily Elconin/NYT

Pressão

A importância da eleição de novembro coloca todos os cérebros da campanha de Biden sob enorme pressão. Não faltam sinais de que um segundo governo Trump poderia ser orientado por vinganças contra indivíduos e instituições que ele percebe como inimigos e por uma reforma radical no governo federal. Também poderia haver deportações em massa e, se os republicanos assumirem o controle da Casa Branca e do Congresso, um banimento nacional ao aborto.

“Seríamos idiotas se não estivéssemos nervosos”, afirmou o veterano estrategista democrata James Carville. “Isso está desconfortavelmente próximo, e a alternativa seria acabar com a Constituição.”

“Como meu avô costumava dizer, ‘Estou nervoso como um gato numa sala cheia de cadeiras de balanço’. Sim, muito nervoso mesmo”, afirmou o advogado John Morgan, da Flórida Central, um dos principais arrecadadores de recursos do Partido Democrata, em sua residência de inverno, em Maui.

“Acredito que, se nós não reelegermos o presidente, em nome de nossos filhos, e por isso estamos aqui, todas as coisas em que acreditamos enquanto país se despedaçarão bem diante dos nossos olhos”, afirmou a chefe da campanha de Biden pela reeleição, Jen O’Malley Dillon.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício de campanha em Schnecksville, Pensilvânia  Foto: Joe Lamberti/AP

“E acho que isso é um fardo que ela carrega”, continuou O’Malley Dillon, referindo-se a Chávez Rodriguez. “E ela carrega com leveza.”

É um fardo compartilhado. O presidente consulta há muito tempo um grupo de estrategistas e aliados quando está tomando suas decisões — O’Malley Dillon, Mike Donilon, Annie Tomasini, Steve Ricchetti, Cedric Richmond e outros.

O’Malley Dillon não quis o título de coordenadora de campanha que teve em 2020, de acordo com várias fontes familiarizadas com as conversas da liderança na primavera passada (Hemisfério Norte), que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizadas a mencionar publicamente essas discussões. Depois de várias entrevistas com outros candidatos para o cargo, afirmou O’Malley Dillon, ela e outros conselheiros disseram a Biden que Chávez Rodriguez, então conselheira-sênior na Casa Branca, deveria assumir a função. Ela assumiu em abril. Em janeiro, o ex-presidente Barack Obama tinha pedido que Biden enviasse seus conselheiros mais próximos para Wilmington prontamente, notando o sucesso da estrutura de sua campanha em 2012. Posteriormente naquele mês, O’Malley Dillon e Donilon deixaram suas posições oficiais na Casa Branca e se instalaram nos comitês da campanha. O’Malley Dillon assumiu o título de “chefe de campanha”, e Donilon virou “estrategista-chefe”.

Questionada sobre sua posição ser igual ou inferior à desses conselheiros, Chávez Rodriguez rebateu. “Nós todos temos conversas estratégicas conforme a necessidade, e então eu sou capaz ainda de operacionalizar essas estratégias no dia a dia, dentro do nosso aparato de campanha”, afirmou ela, acrescentando que se dá bem com os conselheiros-sêniores e confia em sua experiência.

A coordenadora da campanha de Biden projeta uma autoconfiança serena a respeito de novembro — afirmando que o presidente é capaz de vencer “quem quer que apareça na cédula”, em referência a candidatos de outros partidos e ao mesmo tempo enfatizando que a campanha não presume que nada está garantido. Aqui no Arizona, por exemplo, uma pesquisa da Fox News realizada em março constatou uma vantagem de 4 pontos de Trump sobre Biden levando em conta a disputa entre os dois candidatos.

“Na tradição de que venho, nós sempre trabalhamos como se estivéssemos 5 pontos atrás, garantindo que alcançamos nossa comunidade e a beneficiamos”, afirmou Chávez Rodriguez no café da manhã.

Dinheiro

A diferença hoje é o dinheiro. “Em algumas coordenações que fiz, bem, os outros tinham mais dinheiro que a gente. Afortunadamente, neste momento nós temos muito mais dinheiro que os republicanos”, afirmou ela, deixando escapar um leve sorriso, e acrescentando, “Eu não consigo deixar de rir”.

Chávez Rodriguez tem esperança de que as tentativas dos republicanos de dificultar o acesso e diminuir os direitos ao aborto — um tema “globalizante e mobilizador” que ajudou os democratas a evitar grandes derrotas nas eleições de meio de mandato — poderiam elevar o comparecimento às urnas em novembro. Mas quando se trata da retórica própria de Biden nessa frente, alguns ativistas pró-aborto recentemente o criticaram por se desviar de suas declarações planejadas para o discurso sobre o estado da União e ter evitado a palavra “aborto”. “Eu não sabia que isso seria um problema”, afirmou Chávez Rodriguez sobre a crítica. “Desculpem.”

Sobre imigração, Biden pressionou por uma lei que teria lhe dado mais poder para, como ele descreveu, “fechar” a fronteira sul caso necessário. Mas Chávez Rodriguez foi categórica afirmando que “o presidente não fala sobre fechar a fronteira” e “não defende o fechamento da fronteira”. “O que as pessoas querem ver é ordem e humanidade no nosso sistema imigratório”, disse ela. (No evento “Latinos com Biden-Harris”, em Phoenix, o presidente não falou sobre o tema a não ser para criticar a retórica de Trump sobre imigrantes.)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento de arrecadação de campanha com o ex-presidente americano Barack Obama e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

E os problemas de Trump com a lei? Biden falará sobre isso em algum momento? “Para nós, é importante colocar o foco realmente em como seria a agenda de um segundo mandato de Trump”, afirmou Chávez Rodriguez.

“Estrago e devastação”, como ela definiu. E o que acontecerá se a coordenadora da campanha de Biden não conseguir evitá-los?

“Seja qual for o resultado, não acho que as pessoas colocarão a culpa em Julie como colocaram em Robby Mook pela derrota de Hillary. Porque Hillary deveria ter ganhado”, afirmou Morgan, o irritadiço doador, referindo-se à última candidata e coordenador de campanha que perderam a presidência para Trump.

“Todos nós sabemos que é uma disputa de bola ao ar”, continuou ele. “Em 2016, nós estávamos preparando Nate Silver totalmente despreocupados. E quando acordamos, nos demos conta que que não tínhamos passado por Wisconsin, não tínhamos passado por Michigan, e todos que criticam depois do fato consumado vieram para cima. Não será assim com Julie”, afirmou ele, “porque todos nós estamos preparados para perder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

SCOTTSDALE, Arizona -A coordenadora da campanha do presidente Joe Biden à reeleição terminava de comer sua omelete de claras e imaginou o que aconteceria se a eleição de novembro desse errado. Em uma palavra, o que ela acha que aconteceria se Donald Trump vencer? “Em uma palavra? Uau. Difícil”, afirmou Julie Chávez Rodriguez. E pensou por um momento. “Para mim, é tipo ou estrago ou devastação. Fico entre os dois. Acho que seria devastador para as nossas comunidades. E acho que causaria estrago na nossa política e às políticas que colocamos em prática.”

Chávez Rodriguez tomava café da manhã no suntuoso resort em que Biden e sua equipe estavam hospedados, um palácio cujo pernoite mais barato em um de seus 750 quartos vale US$ 800. A campanha de Biden estava aqui, neste Estado ferozmente disputado, onde o presidente venceu por apenas 10.457 votos quatro anos atrás, como parte de um giro no oeste por Nevada, Arizona e Texas. Na noite anterior, Biden esteve diante de aproximadamente 50 apoiadores em um modesto restaurante mexicano em um bairro próximo ao aeroporto, para o lançamento de um esforço de campanha chamado “Latinos com Biden-Harris”.

“Eu preciso de vocês”, disse Biden aos seus apoiadores nesse evento. “Preciso muito de vocês. Preciso de sua ajuda. Kamala e eu precisamos muito da sua ajuda.”

A coordenadora de campanha de Joe Biden, Julie Chávez Rodriguez, está confiante de que Biden pode ser reeleito  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente elogiou três latinos de seu gabinete e mencionou políticas que, em sua visão, seu governo está colocando em prática para favorecer a comunidade: baixar preços de medicamentos que requerem prescrição, diminuir dívidas estudantis e reduzir índices de desemprego.

Biden também elogiou a coordenadora de sua campanha. A Organizadora.

“Está um pouco em seu sangue. Ela é neta do César Chávez”, afirmou o presidente, levantando as sobrancelhas conforme aludiu para o venerado líder trabalhista e defensor dos direitos civis — que também estava aqui presente, de certa maneira, encarando Biden a partir de um pôster pendurado na parede oposta, com a imagem de um selo postal que carrega sua efígie.

Chávez Rodriguez está aqui em parte porque eleitores negros e não brancos são ingredientes essenciais na receita da vitória — e têm se amargado com Biden. Em 2020, 81% dos eleitores negros escolheram Biden, de acordo com uma média entre pesquisas eleitorais e outras sondagens; em uma média de pesquisas recentes elaborada pelo Washington Post, Biden tinha vantagem de 49% entre os eleitores negros registrados. Biden conquistou 29% mais eleitores latinos, mas pesquisas recentes constataram que Trump está quase empatado com Biden nesse grupo, apesar de haver menos sondagens de alta qualidade sobre eleitores latinos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Evan Vucci/AP

Chávez Rodriguez pretende recordar os eleitores latinos de que, no último ano de seu mandato, Trump foi responsável por uma economia pandêmica que ocasionou alto desemprego entre os latinos e deixou pequenas empresas em dificuldades. Mas a imagem persistente entre os latinos de Trump como um “empresário bem-sucedido” o torna um desafio singular enquanto oponente. “Acho que há algum entendimento e uma afinidade em relação a alguém que é, de certa maneira, em suas mentes, um empreendedor de origem humilde que venceu na vida”, afirmou Chávez Rodriguez no resort.

“O que nós sabemos que não é verdade”, acrescentou ela, aludindo para as origens não tão humildes do ex-presidente, filho de um magnata do mercado imobiliário de Nova York.

Chávez Rodriguez é herdeira de um legado americano muito diferente. Ela passou parte da infância na comunidade Nuestra Señora Reina de la Paz, um labirinto de prédios e casas em uma propriedade de 75,7 hectares que serviu como sede da União de Camponeses (UFW). Chávez vivia ao lado do avô na pequena casa de sua família. Seu pai, Arturo Rodríguez, que quase não esteve presente em seu nascimento porque César Chávez o havia mandado organizar agricultores de cítricos e morangos a 240 quilômetros de lá, veio a se tornar diretor da UFW. Desde muito cedo, a vida de Chávez Rodriguez foi repleta de protestos, boicotes, marchas e reuniões. Ela se recorda de acompanhar em silêncio as reuniões, passear por Los Angeles e ser presa aos 9 anos panfletando em Nova Jersey.

Coordenação

Atualmente, Chávez Rodriguez, hoje com 46 anos, soa mais como uma operadora de Washington que como ativista — consequência, talvez, de uma vida adulta trabalhando para democratas profissionais (um senador do Colorado, o governo Obama, a campanha de Kamala Harris e então Biden). Suas atribuições, conforme ela as descreve, incluíram coordenar operações do dia a dia, gastar baldes de dinheiro das campanhas e “construir” comitês centrais e estaduais. Na semana passada, a campanha de Biden anunciou novos comitês na Carolina do Norte e no Michigan e uma nova equipe de coordenação na Flórida — Chávez Rodriguez disse que a campanha precisava contratar 350 funcionários até meados de abril.

Apesar das acomodações luxuosas e da omelete de claras, “o trabalho não é fácil”, afirmou ela. “Não é, entende. O dia a dia não é nada glamuroso.”

Julie Chávez Rodriguez conversa com fazendeiros em um evento de campanha de Biden  Foto: Mark J. Terrill/AP

Ainda assim, Chávez Rodriguez pode ser uma das emissárias mais críveis da campanha para partes da base democrata que não se sentem conectadas com o próprio Biden. Depois que El Portal se esvaziou, ela concedeu uma entrevista para Enrique Acevedo, o âncora da Univision que foi criticado recentemente por sua entrevista a Trump. (A emissora está produzindo um especial sobre Biden.) Em um esforço para tentar conquistar eleitores negros, a campanha democrata está enfatizando os novos investimentos para faculdades e universidades historicamente negras por parte do governo Biden, a indicação para a Suprema Corte da ministra Ketanji Brown Jackson e aumentos na contratação de seguros-saúde entre os negros. Mirar meios de comunicação negros também é parte de uma campanha publicitária de US$ 30 milhões anunciada em março.

Escutar

Uma parte do trabalho é falar, mas a outra é escutar, uma habilidade que Chávez Rodriguez tem aprimorado há um bom tempo. Quando assumiu como coordenadora de engajamento público do governo Obama, ela pediu à presidente e diretora-executiva da organização política Voto Latino, Maria Teresa Kumar, para encontrá-la na Praça Lafayette e conversar sobre ambas trabalharem conjuntamente. “Minha impressão foi que ela é uma ótima ouvinte, e ela fez muitas perguntas”, afirmou Kumar. “Isso é raro em Washington, porque as pessoas sempre querem dar opinião sobre como consertar as coisas.”

Em janeiro, Chávez Rodriguez viajou a Dearborn, Michigan, para uma reunião planejada com cerca de 15 líderes árabe-americanos em meio a uma grande reação naquele Estado indeciso contra o apoio do governo Biden à campanha militar de Israel em Gaza. Mas os líderes árabe-americanos cancelaram o encontro após membros de sua comunidade pedirem para eles não participarem. Os sentimentos de conexão pessoal com a guerra entre alguns integrantes dessa comunidade eram “mais profundos do que eu pude captar plenamente”, afirmou ela.

“Se houver disposição de sua parte — ou quando houver — nós queremos continuar a trabalhar e envolver essas comunidades”, acrescentou Chávez Rodriguez, notando que se encontrou com outros líderes árabe-americanos naquela viagem a Michigan. A campanha está percebendo algumas “aberturas importantes”, afirmou ela: a deputada Ilhan Omar (democrata de Minnesota), uma das duas únicas mulheres muçulmanas no Congresso, “passou realmente a definir o que está em jogo nesta eleição”.

Mulher segura cartaz pedindo que votantes optem por colocar "descomprometido" nas primárias democratas no Estado de Michigan, que abriga uma grande comunidade árabe-americana e protesta contra o apoio americano a Israel durante a guerra na Faixa de Gaza  Foto: Emily Elconin/NYT

Pressão

A importância da eleição de novembro coloca todos os cérebros da campanha de Biden sob enorme pressão. Não faltam sinais de que um segundo governo Trump poderia ser orientado por vinganças contra indivíduos e instituições que ele percebe como inimigos e por uma reforma radical no governo federal. Também poderia haver deportações em massa e, se os republicanos assumirem o controle da Casa Branca e do Congresso, um banimento nacional ao aborto.

“Seríamos idiotas se não estivéssemos nervosos”, afirmou o veterano estrategista democrata James Carville. “Isso está desconfortavelmente próximo, e a alternativa seria acabar com a Constituição.”

“Como meu avô costumava dizer, ‘Estou nervoso como um gato numa sala cheia de cadeiras de balanço’. Sim, muito nervoso mesmo”, afirmou o advogado John Morgan, da Flórida Central, um dos principais arrecadadores de recursos do Partido Democrata, em sua residência de inverno, em Maui.

“Acredito que, se nós não reelegermos o presidente, em nome de nossos filhos, e por isso estamos aqui, todas as coisas em que acreditamos enquanto país se despedaçarão bem diante dos nossos olhos”, afirmou a chefe da campanha de Biden pela reeleição, Jen O’Malley Dillon.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício de campanha em Schnecksville, Pensilvânia  Foto: Joe Lamberti/AP

“E acho que isso é um fardo que ela carrega”, continuou O’Malley Dillon, referindo-se a Chávez Rodriguez. “E ela carrega com leveza.”

É um fardo compartilhado. O presidente consulta há muito tempo um grupo de estrategistas e aliados quando está tomando suas decisões — O’Malley Dillon, Mike Donilon, Annie Tomasini, Steve Ricchetti, Cedric Richmond e outros.

O’Malley Dillon não quis o título de coordenadora de campanha que teve em 2020, de acordo com várias fontes familiarizadas com as conversas da liderança na primavera passada (Hemisfério Norte), que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizadas a mencionar publicamente essas discussões. Depois de várias entrevistas com outros candidatos para o cargo, afirmou O’Malley Dillon, ela e outros conselheiros disseram a Biden que Chávez Rodriguez, então conselheira-sênior na Casa Branca, deveria assumir a função. Ela assumiu em abril. Em janeiro, o ex-presidente Barack Obama tinha pedido que Biden enviasse seus conselheiros mais próximos para Wilmington prontamente, notando o sucesso da estrutura de sua campanha em 2012. Posteriormente naquele mês, O’Malley Dillon e Donilon deixaram suas posições oficiais na Casa Branca e se instalaram nos comitês da campanha. O’Malley Dillon assumiu o título de “chefe de campanha”, e Donilon virou “estrategista-chefe”.

Questionada sobre sua posição ser igual ou inferior à desses conselheiros, Chávez Rodriguez rebateu. “Nós todos temos conversas estratégicas conforme a necessidade, e então eu sou capaz ainda de operacionalizar essas estratégias no dia a dia, dentro do nosso aparato de campanha”, afirmou ela, acrescentando que se dá bem com os conselheiros-sêniores e confia em sua experiência.

A coordenadora da campanha de Biden projeta uma autoconfiança serena a respeito de novembro — afirmando que o presidente é capaz de vencer “quem quer que apareça na cédula”, em referência a candidatos de outros partidos e ao mesmo tempo enfatizando que a campanha não presume que nada está garantido. Aqui no Arizona, por exemplo, uma pesquisa da Fox News realizada em março constatou uma vantagem de 4 pontos de Trump sobre Biden levando em conta a disputa entre os dois candidatos.

“Na tradição de que venho, nós sempre trabalhamos como se estivéssemos 5 pontos atrás, garantindo que alcançamos nossa comunidade e a beneficiamos”, afirmou Chávez Rodriguez no café da manhã.

Dinheiro

A diferença hoje é o dinheiro. “Em algumas coordenações que fiz, bem, os outros tinham mais dinheiro que a gente. Afortunadamente, neste momento nós temos muito mais dinheiro que os republicanos”, afirmou ela, deixando escapar um leve sorriso, e acrescentando, “Eu não consigo deixar de rir”.

Chávez Rodriguez tem esperança de que as tentativas dos republicanos de dificultar o acesso e diminuir os direitos ao aborto — um tema “globalizante e mobilizador” que ajudou os democratas a evitar grandes derrotas nas eleições de meio de mandato — poderiam elevar o comparecimento às urnas em novembro. Mas quando se trata da retórica própria de Biden nessa frente, alguns ativistas pró-aborto recentemente o criticaram por se desviar de suas declarações planejadas para o discurso sobre o estado da União e ter evitado a palavra “aborto”. “Eu não sabia que isso seria um problema”, afirmou Chávez Rodriguez sobre a crítica. “Desculpem.”

Sobre imigração, Biden pressionou por uma lei que teria lhe dado mais poder para, como ele descreveu, “fechar” a fronteira sul caso necessário. Mas Chávez Rodriguez foi categórica afirmando que “o presidente não fala sobre fechar a fronteira” e “não defende o fechamento da fronteira”. “O que as pessoas querem ver é ordem e humanidade no nosso sistema imigratório”, disse ela. (No evento “Latinos com Biden-Harris”, em Phoenix, o presidente não falou sobre o tema a não ser para criticar a retórica de Trump sobre imigrantes.)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento de arrecadação de campanha com o ex-presidente americano Barack Obama e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

E os problemas de Trump com a lei? Biden falará sobre isso em algum momento? “Para nós, é importante colocar o foco realmente em como seria a agenda de um segundo mandato de Trump”, afirmou Chávez Rodriguez.

“Estrago e devastação”, como ela definiu. E o que acontecerá se a coordenadora da campanha de Biden não conseguir evitá-los?

“Seja qual for o resultado, não acho que as pessoas colocarão a culpa em Julie como colocaram em Robby Mook pela derrota de Hillary. Porque Hillary deveria ter ganhado”, afirmou Morgan, o irritadiço doador, referindo-se à última candidata e coordenador de campanha que perderam a presidência para Trump.

“Todos nós sabemos que é uma disputa de bola ao ar”, continuou ele. “Em 2016, nós estávamos preparando Nate Silver totalmente despreocupados. E quando acordamos, nos demos conta que que não tínhamos passado por Wisconsin, não tínhamos passado por Michigan, e todos que criticam depois do fato consumado vieram para cima. Não será assim com Julie”, afirmou ele, “porque todos nós estamos preparados para perder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

SCOTTSDALE, Arizona -A coordenadora da campanha do presidente Joe Biden à reeleição terminava de comer sua omelete de claras e imaginou o que aconteceria se a eleição de novembro desse errado. Em uma palavra, o que ela acha que aconteceria se Donald Trump vencer? “Em uma palavra? Uau. Difícil”, afirmou Julie Chávez Rodriguez. E pensou por um momento. “Para mim, é tipo ou estrago ou devastação. Fico entre os dois. Acho que seria devastador para as nossas comunidades. E acho que causaria estrago na nossa política e às políticas que colocamos em prática.”

Chávez Rodriguez tomava café da manhã no suntuoso resort em que Biden e sua equipe estavam hospedados, um palácio cujo pernoite mais barato em um de seus 750 quartos vale US$ 800. A campanha de Biden estava aqui, neste Estado ferozmente disputado, onde o presidente venceu por apenas 10.457 votos quatro anos atrás, como parte de um giro no oeste por Nevada, Arizona e Texas. Na noite anterior, Biden esteve diante de aproximadamente 50 apoiadores em um modesto restaurante mexicano em um bairro próximo ao aeroporto, para o lançamento de um esforço de campanha chamado “Latinos com Biden-Harris”.

“Eu preciso de vocês”, disse Biden aos seus apoiadores nesse evento. “Preciso muito de vocês. Preciso de sua ajuda. Kamala e eu precisamos muito da sua ajuda.”

A coordenadora de campanha de Joe Biden, Julie Chávez Rodriguez, está confiante de que Biden pode ser reeleito  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente elogiou três latinos de seu gabinete e mencionou políticas que, em sua visão, seu governo está colocando em prática para favorecer a comunidade: baixar preços de medicamentos que requerem prescrição, diminuir dívidas estudantis e reduzir índices de desemprego.

Biden também elogiou a coordenadora de sua campanha. A Organizadora.

“Está um pouco em seu sangue. Ela é neta do César Chávez”, afirmou o presidente, levantando as sobrancelhas conforme aludiu para o venerado líder trabalhista e defensor dos direitos civis — que também estava aqui presente, de certa maneira, encarando Biden a partir de um pôster pendurado na parede oposta, com a imagem de um selo postal que carrega sua efígie.

Chávez Rodriguez está aqui em parte porque eleitores negros e não brancos são ingredientes essenciais na receita da vitória — e têm se amargado com Biden. Em 2020, 81% dos eleitores negros escolheram Biden, de acordo com uma média entre pesquisas eleitorais e outras sondagens; em uma média de pesquisas recentes elaborada pelo Washington Post, Biden tinha vantagem de 49% entre os eleitores negros registrados. Biden conquistou 29% mais eleitores latinos, mas pesquisas recentes constataram que Trump está quase empatado com Biden nesse grupo, apesar de haver menos sondagens de alta qualidade sobre eleitores latinos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento em Washington, Estados Unidos  Foto: Evan Vucci/AP

Chávez Rodriguez pretende recordar os eleitores latinos de que, no último ano de seu mandato, Trump foi responsável por uma economia pandêmica que ocasionou alto desemprego entre os latinos e deixou pequenas empresas em dificuldades. Mas a imagem persistente entre os latinos de Trump como um “empresário bem-sucedido” o torna um desafio singular enquanto oponente. “Acho que há algum entendimento e uma afinidade em relação a alguém que é, de certa maneira, em suas mentes, um empreendedor de origem humilde que venceu na vida”, afirmou Chávez Rodriguez no resort.

“O que nós sabemos que não é verdade”, acrescentou ela, aludindo para as origens não tão humildes do ex-presidente, filho de um magnata do mercado imobiliário de Nova York.

Chávez Rodriguez é herdeira de um legado americano muito diferente. Ela passou parte da infância na comunidade Nuestra Señora Reina de la Paz, um labirinto de prédios e casas em uma propriedade de 75,7 hectares que serviu como sede da União de Camponeses (UFW). Chávez vivia ao lado do avô na pequena casa de sua família. Seu pai, Arturo Rodríguez, que quase não esteve presente em seu nascimento porque César Chávez o havia mandado organizar agricultores de cítricos e morangos a 240 quilômetros de lá, veio a se tornar diretor da UFW. Desde muito cedo, a vida de Chávez Rodriguez foi repleta de protestos, boicotes, marchas e reuniões. Ela se recorda de acompanhar em silêncio as reuniões, passear por Los Angeles e ser presa aos 9 anos panfletando em Nova Jersey.

Coordenação

Atualmente, Chávez Rodriguez, hoje com 46 anos, soa mais como uma operadora de Washington que como ativista — consequência, talvez, de uma vida adulta trabalhando para democratas profissionais (um senador do Colorado, o governo Obama, a campanha de Kamala Harris e então Biden). Suas atribuições, conforme ela as descreve, incluíram coordenar operações do dia a dia, gastar baldes de dinheiro das campanhas e “construir” comitês centrais e estaduais. Na semana passada, a campanha de Biden anunciou novos comitês na Carolina do Norte e no Michigan e uma nova equipe de coordenação na Flórida — Chávez Rodriguez disse que a campanha precisava contratar 350 funcionários até meados de abril.

Apesar das acomodações luxuosas e da omelete de claras, “o trabalho não é fácil”, afirmou ela. “Não é, entende. O dia a dia não é nada glamuroso.”

Julie Chávez Rodriguez conversa com fazendeiros em um evento de campanha de Biden  Foto: Mark J. Terrill/AP

Ainda assim, Chávez Rodriguez pode ser uma das emissárias mais críveis da campanha para partes da base democrata que não se sentem conectadas com o próprio Biden. Depois que El Portal se esvaziou, ela concedeu uma entrevista para Enrique Acevedo, o âncora da Univision que foi criticado recentemente por sua entrevista a Trump. (A emissora está produzindo um especial sobre Biden.) Em um esforço para tentar conquistar eleitores negros, a campanha democrata está enfatizando os novos investimentos para faculdades e universidades historicamente negras por parte do governo Biden, a indicação para a Suprema Corte da ministra Ketanji Brown Jackson e aumentos na contratação de seguros-saúde entre os negros. Mirar meios de comunicação negros também é parte de uma campanha publicitária de US$ 30 milhões anunciada em março.

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Uma parte do trabalho é falar, mas a outra é escutar, uma habilidade que Chávez Rodriguez tem aprimorado há um bom tempo. Quando assumiu como coordenadora de engajamento público do governo Obama, ela pediu à presidente e diretora-executiva da organização política Voto Latino, Maria Teresa Kumar, para encontrá-la na Praça Lafayette e conversar sobre ambas trabalharem conjuntamente. “Minha impressão foi que ela é uma ótima ouvinte, e ela fez muitas perguntas”, afirmou Kumar. “Isso é raro em Washington, porque as pessoas sempre querem dar opinião sobre como consertar as coisas.”

Em janeiro, Chávez Rodriguez viajou a Dearborn, Michigan, para uma reunião planejada com cerca de 15 líderes árabe-americanos em meio a uma grande reação naquele Estado indeciso contra o apoio do governo Biden à campanha militar de Israel em Gaza. Mas os líderes árabe-americanos cancelaram o encontro após membros de sua comunidade pedirem para eles não participarem. Os sentimentos de conexão pessoal com a guerra entre alguns integrantes dessa comunidade eram “mais profundos do que eu pude captar plenamente”, afirmou ela.

“Se houver disposição de sua parte — ou quando houver — nós queremos continuar a trabalhar e envolver essas comunidades”, acrescentou Chávez Rodriguez, notando que se encontrou com outros líderes árabe-americanos naquela viagem a Michigan. A campanha está percebendo algumas “aberturas importantes”, afirmou ela: a deputada Ilhan Omar (democrata de Minnesota), uma das duas únicas mulheres muçulmanas no Congresso, “passou realmente a definir o que está em jogo nesta eleição”.

Mulher segura cartaz pedindo que votantes optem por colocar "descomprometido" nas primárias democratas no Estado de Michigan, que abriga uma grande comunidade árabe-americana e protesta contra o apoio americano a Israel durante a guerra na Faixa de Gaza  Foto: Emily Elconin/NYT

Pressão

A importância da eleição de novembro coloca todos os cérebros da campanha de Biden sob enorme pressão. Não faltam sinais de que um segundo governo Trump poderia ser orientado por vinganças contra indivíduos e instituições que ele percebe como inimigos e por uma reforma radical no governo federal. Também poderia haver deportações em massa e, se os republicanos assumirem o controle da Casa Branca e do Congresso, um banimento nacional ao aborto.

“Seríamos idiotas se não estivéssemos nervosos”, afirmou o veterano estrategista democrata James Carville. “Isso está desconfortavelmente próximo, e a alternativa seria acabar com a Constituição.”

“Como meu avô costumava dizer, ‘Estou nervoso como um gato numa sala cheia de cadeiras de balanço’. Sim, muito nervoso mesmo”, afirmou o advogado John Morgan, da Flórida Central, um dos principais arrecadadores de recursos do Partido Democrata, em sua residência de inverno, em Maui.

“Acredito que, se nós não reelegermos o presidente, em nome de nossos filhos, e por isso estamos aqui, todas as coisas em que acreditamos enquanto país se despedaçarão bem diante dos nossos olhos”, afirmou a chefe da campanha de Biden pela reeleição, Jen O’Malley Dillon.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump participa de um comício de campanha em Schnecksville, Pensilvânia  Foto: Joe Lamberti/AP

“E acho que isso é um fardo que ela carrega”, continuou O’Malley Dillon, referindo-se a Chávez Rodriguez. “E ela carrega com leveza.”

É um fardo compartilhado. O presidente consulta há muito tempo um grupo de estrategistas e aliados quando está tomando suas decisões — O’Malley Dillon, Mike Donilon, Annie Tomasini, Steve Ricchetti, Cedric Richmond e outros.

O’Malley Dillon não quis o título de coordenadora de campanha que teve em 2020, de acordo com várias fontes familiarizadas com as conversas da liderança na primavera passada (Hemisfério Norte), que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizadas a mencionar publicamente essas discussões. Depois de várias entrevistas com outros candidatos para o cargo, afirmou O’Malley Dillon, ela e outros conselheiros disseram a Biden que Chávez Rodriguez, então conselheira-sênior na Casa Branca, deveria assumir a função. Ela assumiu em abril. Em janeiro, o ex-presidente Barack Obama tinha pedido que Biden enviasse seus conselheiros mais próximos para Wilmington prontamente, notando o sucesso da estrutura de sua campanha em 2012. Posteriormente naquele mês, O’Malley Dillon e Donilon deixaram suas posições oficiais na Casa Branca e se instalaram nos comitês da campanha. O’Malley Dillon assumiu o título de “chefe de campanha”, e Donilon virou “estrategista-chefe”.

Questionada sobre sua posição ser igual ou inferior à desses conselheiros, Chávez Rodriguez rebateu. “Nós todos temos conversas estratégicas conforme a necessidade, e então eu sou capaz ainda de operacionalizar essas estratégias no dia a dia, dentro do nosso aparato de campanha”, afirmou ela, acrescentando que se dá bem com os conselheiros-sêniores e confia em sua experiência.

A coordenadora da campanha de Biden projeta uma autoconfiança serena a respeito de novembro — afirmando que o presidente é capaz de vencer “quem quer que apareça na cédula”, em referência a candidatos de outros partidos e ao mesmo tempo enfatizando que a campanha não presume que nada está garantido. Aqui no Arizona, por exemplo, uma pesquisa da Fox News realizada em março constatou uma vantagem de 4 pontos de Trump sobre Biden levando em conta a disputa entre os dois candidatos.

“Na tradição de que venho, nós sempre trabalhamos como se estivéssemos 5 pontos atrás, garantindo que alcançamos nossa comunidade e a beneficiamos”, afirmou Chávez Rodriguez no café da manhã.

Dinheiro

A diferença hoje é o dinheiro. “Em algumas coordenações que fiz, bem, os outros tinham mais dinheiro que a gente. Afortunadamente, neste momento nós temos muito mais dinheiro que os republicanos”, afirmou ela, deixando escapar um leve sorriso, e acrescentando, “Eu não consigo deixar de rir”.

Chávez Rodriguez tem esperança de que as tentativas dos republicanos de dificultar o acesso e diminuir os direitos ao aborto — um tema “globalizante e mobilizador” que ajudou os democratas a evitar grandes derrotas nas eleições de meio de mandato — poderiam elevar o comparecimento às urnas em novembro. Mas quando se trata da retórica própria de Biden nessa frente, alguns ativistas pró-aborto recentemente o criticaram por se desviar de suas declarações planejadas para o discurso sobre o estado da União e ter evitado a palavra “aborto”. “Eu não sabia que isso seria um problema”, afirmou Chávez Rodriguez sobre a crítica. “Desculpem.”

Sobre imigração, Biden pressionou por uma lei que teria lhe dado mais poder para, como ele descreveu, “fechar” a fronteira sul caso necessário. Mas Chávez Rodriguez foi categórica afirmando que “o presidente não fala sobre fechar a fronteira” e “não defende o fechamento da fronteira”. “O que as pessoas querem ver é ordem e humanidade no nosso sistema imigratório”, disse ela. (No evento “Latinos com Biden-Harris”, em Phoenix, o presidente não falou sobre o tema a não ser para criticar a retórica de Trump sobre imigrantes.)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de um evento de arrecadação de campanha com o ex-presidente americano Barack Obama e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

E os problemas de Trump com a lei? Biden falará sobre isso em algum momento? “Para nós, é importante colocar o foco realmente em como seria a agenda de um segundo mandato de Trump”, afirmou Chávez Rodriguez.

“Estrago e devastação”, como ela definiu. E o que acontecerá se a coordenadora da campanha de Biden não conseguir evitá-los?

“Seja qual for o resultado, não acho que as pessoas colocarão a culpa em Julie como colocaram em Robby Mook pela derrota de Hillary. Porque Hillary deveria ter ganhado”, afirmou Morgan, o irritadiço doador, referindo-se à última candidata e coordenador de campanha que perderam a presidência para Trump.

“Todos nós sabemos que é uma disputa de bola ao ar”, continuou ele. “Em 2016, nós estávamos preparando Nate Silver totalmente despreocupados. E quando acordamos, nos demos conta que que não tínhamos passado por Wisconsin, não tínhamos passado por Michigan, e todos que criticam depois do fato consumado vieram para cima. Não será assim com Julie”, afirmou ele, “porque todos nós estamos preparados para perder”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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