O Uruguai realizou neste domingo, 27, o primeiro turno de suas eleições presidenciais com o candidato de centro-esquerda Yamandú Orsi como favorito. Segundo as projeções divulgadas na noite deste domingo, 27, ele aparece na frente e pode tirar do poder a centro-direita encabeçada pelo veterinário Alvaro Delgado, herdeiro do popular presidente Luis Lacalle Pou.
As projeções indicam que ele obteve entre 43% e 44% dos votos, número que, segundo analistas, costuma ser a base sólida da coalizão de esquerda Frente Ampla.
Seu principal adversário aparece atrás, com menos de 30% dos votos. Com a folga na vantagem, Orsi se deu o privilégio de não conceder entrevistas ou participar de debates na reta final do pleito. Sua campanha foi feita nas ruas.
Uma forte crítica é a falta de um programa de governo. Ele avisou que não publicaria um programa até o dia da eleição, mas sim um documento com 200 medidas. Em setembro, ele publicou um outro documento com suas 48 prioridades. “Quero ser o presidente que vem para a unir”, disse.
“Yamandú Orsi faz parte da Frente Ampla, uma coalizão de partidos de esquerda, que tem em seu discurso a vocação de ajudar os mais fracos e os menos privilegiados, de ter um maior gasto público, maior imposto sobre a produção, etc.”, explica o analista e estrategista político uruguaio Daniel Supervielle.
“A Frente Ampla já governou por 15 anos, e Orsi adota o que tem sido um pouco o grande discurso de toda a vida da esquerda uruguaia e da Frente Amplia, ou seja, um pouco mais de Estado, um pouco menos de mercado”, continua.
Yamandú Ramón Antonio Orsi Martínez, 57 anos, é apadrinhado pelo popular ex-presidente José “Pepe” Mujica. Nasceu na zona rural, em uma casa sem luz, conta, e cresceu na cidade de Canelones, onde estudou em escola pública.
Em 1991 formou-se professor de História e lecionou em escolas de Ensino Médio do interior até 2005, quando iniciou sua carreira no governo de Canelones, primeiro como secretário-geral por quase 10 anos e depois como prefeito por dois mandatos.
Ele renunciou ao cargo para disputar as internas partidárias da Frente Ampla em junho, que venceu com mais de 60% dos votos, superando em muito a ex-prefeita de Montevidéu Carolina Cosse, que contava com o apoio de comunistas e socialistas e se tornou sua companheira de chapa.
Para a sua vitória, o apoio de Mujica foi fundamental. “O apoio de Mujica foi decisivo para que Orsi fosse o candidato. De certo modo é como se estivéssemos olhando para o herdeiro designado por Mujica”, afirma Adolfo Garcé, professor e pesquisador na Universidade da República do Uruguai.
No último fim de semana, Mujica subiu ao placo, apesar da saúde frágil, para defender seu candidato.
Quando jovem, Orsi cuidava da loja de seus pais, foi coroinha na Igreja Católica e dançarino de folclore, descreve em sua biografia. Em 1989 aderiu ao Movimento de Participação Popular fundado por Mujica, hoje principal partido da coalizão.
Orsi foi casado duas vezes, a última com a mãe de seus filhos gêmeos de 11 anos.
Embora seja de centro-esquerda, sua campanha foi marcada por caminhar mais ao centro. “Não existe no Uruguai hoje um ambiente para mudanças drásticas”, diz Supervielle. “A inflação está controlada, o desemprego está baixo, o risco de investimento do país está bom, a economia está funcionando, não há distúrbios sociais nas ruas, as pessoas estão trabalhando bem, o presidente tem 50% e aprovação”.
“Por isso o discurso de Orsi é tão moderado. É muito um discurso de ‘vamos continuar por este rumo e melhorar, dar a nossa marca’”./Com AFP