NAIRÓBI – O comissão eleitoral do Quênia anunciou nesta segunda-feira, 15, a vitória do atual vice-presidente do país, William Ruto, nas eleições presidenciais, mas a validade do resultado está incerta. Minutos antes do anúncio, a maioria dos comissários eleitorais declararam não poder apoiar o resultado, dentro de uma disputa crucial para a estabilidade do país. Pancadarias entre comissários, apoiadores da oposição e forças militares foram registradas, com ao menos três feridos.
O resultado foi um triunfo para um candidato que abalou a política da nação da África Oriental, apelando para as preocupações econômicas dos quenianos em vez de suas alianças étnicas. Em um discurso logo após o anúncio da vitória, ele afirmou que o “poder soberano pertence ao povo do Quênia”. “É uma ocasião muito histórica e democrática que move nosso país para o próximo nível”, acrescentou.
William Ruto disputou a eleição contra Raila Odinga, líder de 77 anos, veterano da oposição e que perdeu quatro eleições anteriores. Segundo a comissão eleitoral, Ruto recebeu cerca de 50,5% dos votos contra quase 49% de Odinga na votação.
“Eu sei que muitos estão se perguntando, especialmente aqueles que fizeram muitas coisas contra nós. Quero dizer a eles que não têm nada a temer”, disse. “Não há espaço para vingança, não há espaço para olhar para trás, estamos olhando para o futuro.”
A vice-presidente da Comissão Independente de Eleições e Limites, Juliana Cherera, falando em nome de quatro dos sete comissários do país, disse que a comissão não poderia se apropriar dos resultados devido à “natureza opaca” da condução da eleição.
Ruto disse a repórteres que as divisões entre os comissários eleitorais eram apenas um “espetáculo paralelo” e “não representam nenhuma ameaça à legalidade da declaração”. “O que aconteceu esta noite é uma situação infeliz, acho que uma tentativa de nossos concorrentes de reverter o que conseguimos como país”, disse. Ele elogiou a eleição, que para muitos quenianos representava um salto em transparência e paz, em grande parte livre de divisões étnicas que no passado resultaram em conflitos.
O Quênia é a maior economia da África Oriental, considerada fundamental não só para a estabilidade da região, mas como um centro de comércio e segurança. A corrida presidencial, a mais apertada do Quênia desde a primeira eleição verdadeiramente competitiva do país há 20 anos, é examinada de perto por aliados ocidentais e regionais como um teste chave para a democracia em uma das nações poderosas da África.
O Ocidente considera o Quênia um importante parceiro de contraterrorismo. Forças americanas e britânicas operam militarmente no país a partir de pequenas bases ao longo da fronteira nordeste, onde realizam ataques contra militantes do Al-Shabaab, uma organização ligada à Al-Qaeda, que atuam na vizinha Somália. Tropas quenianas também estão sediadas na Somália.
O país também é uma âncora diplomática, ajudando ou sendo anfitriã de esforços de mediação de conflitos para a Etiópia, o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo e a Somália.
Os cidadãos esperavam por uma transição pacífica do poder depois de quase uma década sob o governo do presidente Uhuru Kenyatta, mas, antes do resultado, já havia preocupações sobre possíveis fraudes eleitorais e da eclosão de violência como ocorreu nas últimas eleições.
Ruto, de 55 anos, é um rico empresário que se lançou durante a campanha como alguém que ascendeu socialmente após passar a infância como vendedor de frango. Ele disse aos eleitores que a eleição foi uma disputa entre “trapaceiros” de origens modestas (jovens que, em sua maioria, não têm emprego e educação) e as “dinastias” do Quênia, representado por Odinga, cujos pais foram o primeiro presidente e vice-presidente da nação.
A mensagem era popular entre muitos quenianos que lutavam contra o aumento dos preços, poucas oportunidades de trabalho e corrupção generalizada.
As celebrações eclodiram na cidade de Eldoret, um reduto de Ruto, imediatamente após o anúncio. A multidão acenou cartazes com o rosto de Ruto e vestiam camisetas amarelas e lenços de acordo com as cores oficiais do partido que ele faz parte. /NEW YORK TIMES, ASSOCIATED PRESS