BRUXELAS - O Reino Unido deve encaminhar um pedido de desfiliação da União Europeia (UE) após o referendo de quinta-feira que decidiu pela saída do país do bloco. Após a decisão, britânicos terão dois anos para negociar transição.
Veja abaixo as possíveis consequências do rompimento para o Reino Unido e para a UE:
Referendo que definiu saída de britânicos da UE divide Reino Unido
Política externa
Assim como a França, o Reino Unido é a maior potência da política externa da União Europeia, podendo se vangloriar de um grande contingente militar e laços estreitos com os Estados Unidos. Washington já deixou claro que, após a desfiliação, terá menos interesse em Londres como aliado em razão da percepção da perda de influência.
O Reino Unido não estará mais sujeito às posições conjuntas do bloco, por exemplo em sanções econômicas contra a Rússia, mas continuará sendo membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Justiça e assuntos internos
O Reino Unido tem muitas exceções em questões políticas de justiça e assuntos internos, sobretudo a dispensa da zona de circulação conhecida como Espaço Schengen. Não está claro que restrições os britânicos adotarão para a entrada de estrangeiros. A UE prometeu reagir à altura.
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O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta sexta-feira que deixará o cargo em outubro. A notícia veio após a confirmação de que a maioria dos eleitores do Reino Unido decidiu deixar a União Europeia, contrariando os apelos do premiê.
Atualmente, o Reino Unido reconhece mandados de prisão de outros países da UE, compartilha informações entre as polícias, inclusive dados pessoais, e é membro da polícia do bloco, a Europol. Seu envolvimento futuro, incluindo o acesso a bancos de dados do bloco, pode diminuir, o que significará menos cooperação no policiamento e no combate ao crime.
Questão climática
O Reino Unido é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa na Europa e suas empresas prestadoras de serviços estão entre os maiores compradores de créditos de carbono do Sistema de Comércio de Emissões (ETS, na sigla em inglês) da UE.
Embora a maioria dos analistas acredite que o Reino Unido irá se manter no esquema de compra de créditos de carbono, o referendo é visto como hostil ao mercado, já que o Reino Unido não conseguirá mais adotar reformas rígidas para elevar o preço.
A desfiliação britânica também irá interromper os planos do bloco de dividir o fardo de seu compromisso com o acordo climático de Paris.
Os defensores do meio ambiente temem ainda que as metas climáticas da UE sejam menos ambiciosas sem a liderança britânica para equilibrar Estados-membros mais relutantes, como a Polônia, que é muito dependente de sua indústria carvoeira.
Relações comerciais
O restante da UE tem um superávit comercial de bens de cerca de 100 bilhões de euros com o Reino Unido, que exporta cerca de 20 bilhões de euros a mais em serviços do que importa, sobretudo em razão dos serviços financeiros.
Os defensores da desfiliação dizem que é do interesse do bloco europeu concordar com um acordo de livre comércio com o Reino Unido se o país deixar o bloco. Mas existe a tendência de o foco se concentrar mais em bens do que em serviços nos acordos de livre comércio.
A Suíça, onde os serviços financeiros representam uma fatia maior do Produto Interno Bruto (PIB) do que no Reino Unido, não tem acesso generalizado aos mercados de serviços financeiros da UE e acumula um déficit no comércio de serviços financeiros com o bloco.
Finanças
As empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido, de bancos a câmaras de compensação e fundos, podem perder os rentáveis "passaportes" da UE, que lhes permitem vender serviços em todo o bloco de 28 nações com custos baixos e um conjunto único de regras.
O sistema de passaportes contribuiu para tornar Londres um dos maiores centros financeiros do mundo. Alguns bancos americanos, japoneses e não europeus que têm sede na capital britânica já disseram que cogitarão transferir partes de seus negócios dentro da UE.
Economia
O Reino Unido não estará mais sujeito às regras orçamentárias do bloco europeu, que limitam o déficit orçamentário dos governos a 3% do PIB e a dívida pública a 60% dele. O país, portanto, poderá ter qualquer déficit orçamentário que quiser sem ser repreendido pela Comissão Europeia e por outros ministros do bloco.
Os britânicos também estariam livres do monitoramento da Comissão e de recomendações sobre ações futuras. /Reuters