WASHINGTON – Assombrada pelo que viu, a filha de um magnata – e viúva de outro – deixou a Ucrânia devastada pela guerra e foi para sua casa em Maryland com um único foco: como ajudar? É uma pergunta que Mitzi Perdue, de 81 anos, costuma fazer – e responder com dinheiro, tempo e conexões. Desta vez, o problema era a guerra e tudo que a acompanha.
Depois de cinco dias percorrendo a Ucrânia, em julho, e de testemunhar o que Mitzi acreditou ser tráfico de mulheres na fronteira, ela pensou no anel de 400 anos que brilhava havia tanto tempo em seu dedo. A esmeralda avaliada em US$ 70 mil foi leiloada, no dia 7 de dezembro, por US$ 1,197 milhão (cerca de R$ 6,3 milhões), segundo a revista Forbes.
O leilão foi o capítulo seguinte de uma joia lendária, cuja calamitosa jornada começou no galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, retaguarda da frota que deixou Havana, em setembro de 1622, transportando 265 pessoas e 40 toneladas de prata da América do Sul.
Uma série de furacões aniquilou a frota, espalhando seus destroços entre os arquipélagos de Marquesas e Dry Tortugas, a oeste da Flórida.
Caçadores de tesouros procuraram por décadas o naufrágio do Atocha sem conseguir recuperar suas riquezas. Frank Perdue, da Perdue Farms, era conhecido por ter transformado a empresa de seu pai em um conglomerado multimilionário de granjas de frango, cujo sucesso tornou sua família uma das mais ricas dos EUA, criticada por impactos ambientais, por manter funcionários mal pagos e práticas desumanas.
Perdue tinha fascinação por caça a tesouros, escreveu Mitzi em suas memórias a respeito da história de seu marido com a esmeralda. A expedição que trouxe a esmeralda cobrou vidas e durou 16 anos.
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As buscas começaram no fim dos anos 60, quando Mel Fisher, um granjeiro de frangos (coincidentemente), virou caçador de tesouros e iniciou a própria empreitada para encontrar o Atocha.
Fisher passou anos liderando a expedição. Em 1985, o sucesso. Após quase 400 anos no fundo do mar, sua equipe recuperou US$ 400 milhões em barras, dobrões e joias de ouro e prata, assim como 2,7 quilos de esmeraldas.
Enquanto investidor, Perdue recebeu parte dos dobrões, pedras preciosas e pratarias – e doou quase tudo para a Smithsonian Institution. Ele mandou lapidar a pedra e a colocou em um anel. Depois, a guardou em um cofre até presenteá-la para Mitzi em seu noivado, em 1988.
Agora, a escritora e ativista vai destinar o dinheiro para a construção de abrigos para mulheres em risco de se tornar vítimas de tráfico humano na fronteira ucraniana. Mitzi tem certeza de que a ideia agradaria a seu finado marido. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL