‘Saúde de Elizabeth fez a monarquia britânica preparar a transição’, diz historiadora


Em entrevista ao Estadão, historiadora na Universidade de Winchester especializada em monarquias explica como ocorre a transição de reinados e a importância destes rituais

Por Fernanda Simas
Atualização:

A rainha Elizabeth II foi colocada sob supervisão médica nesta quinta-feira, 8, após seus médicos particulares expressarem preocupações com a saúde da monarca - a mais longeva a reinar o Reino Unido, por 70 anos e 200 dias.

Nos últimos dois anos, mesmo sem sinais de “aposentadoria” ou de que pretenda entregar a coroa, por causa de sua saúde, a rainha aumentou a quantidade de deveres reais que divide com outros integrantes da família real. Ela passou ao príncipe Charles, por exemplo, vários deveres reais em cerimônias, inclusive durante seu Jubileu de Platina.

Historiadores e biógrafos da monarquia acreditam que Elizabeth não deixará o trono e o Palácio de Buckingham, mas já tem planos preparados para o momento em que morrer e a transição de poder para o príncipe Charles tiver início, justamente por causa de sua saúde frágil.

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“Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças”, afirma a historiadora na Universidade de Winchester especializada em monarquias Elena Woodacre. Em entrevista ao Estadão, ela explica como ocorre a transição de reinados e a importância dos rituais.

Influência da Rainha Elizabeth II sobre políticos britânicos é sutil, mas situação de saúde dela torna futuro da monarquia incerto Foto: Chris Jackson/Pool

O papel da monarquia vai mudar após a morte de Elizabeth? E a popularidade?

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É difícil dizer com certeza qual estilo a monarquia terá e como será recebida pelo público após o longo reinado de Elizabeth II. Acredito que Charles vá preservar muito das práticas e políticas de sua mãe, para garantir o senso de tradição e continuidade, mas ele também vai colocar seu próprio selo no papel da monarquia. A rainha é extremamente popular, o que a torna uma figura muito difícil de seguir. Poucas figuras públicas hoje - e pouquíssimos monarcas em nossa história - foram personalidades tão populares quanto Elizabeth II hoje.

É possível dizer que a sucessão está em andamento?

Ao mesmo tempo em que a rainha não está se aposentando ou entregando a coroa neste momento, podemos perceber um aumento na quantidade de deveres reais que ela divide com outros integrantes da família real, particularmente com sua alteza Charles e o filho dele William. Isso é importante não apenas para ajudar a rainha na questão de sua mobilidade comprometida, que tem limitado sua capacidade de estar presente em todas as atividades, mas também ajuda a começar a pavimentar o caminho para a transição que vai ocorrer ao fim de seu reinado.

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Por que o Palácio de Buckingham tem tantos planos para os dias seguintes à morte da rainha?

É um costume ter planos para a morte de um monarca e sua sucessão. Voltando, inclusive, à Idade Média, livros de ordenanças e protocolos judiciais determinavam o que deveria acontecer nesses eventos. Isso não é incomum. Aliás, como a rainha tem um longo reinado, o palácio teve tempo suficiente para se preparar para esse momento.

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Por que o ritual da morte de um monarca britânico e a ascensão de um novo líder é tão importante?

Tradicionalmente, esses rituais foram muito importantes para manter a estabilidade política. Uma transição pode ser um momento de conflito se a sucessão não for clara devido à falta de herdeiro direto ou nomeado ou se houver um pretendente rival ao trono. Mesmo quando a sucessão estava garantida, podia haver incerteza sobre o que o futuro guardava ao novo reinado. Hoje em dia, a monarquia não tem nenhum poder político, então a mudança de reinados é menos preocupante. No entanto, uma transição suave que incorpore a ideia de ‘o rei está morto, vida longa ao rei’ - ou, neste caso, ‘a rainha está morta, vida longa à rainha’ - demonstra que a monarquia vai continuar, independente das pessoas que passem a ocupar o trono.

Rainha Elizabeth II inspeciona a guarda real ao lado do presidente americano, Donald Trump. Ela usa o broche que ficou conhecido com a foto "Three Queens in Mourning", tirada durante o funeral do Rei George IV. Foto: Chris Jackson/Pool via REUTERS
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A senhora acredita que Charles, ou William, vá tentar modernizar alguns aspectos da monarquia?

Claro. Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças nas práticas da monarquia para mantê-la em contato com as mudanças da sociedade moderna.

A senhora acredita que possa ocorrer um declínio da monarquia após a morte da rainha?

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É muito difícil prever o que pode ocorrer com a monarquia após o reinado da rainha. Novamente, ela é uma pessoa extremamente amada e respeitada, até por aqueles contrários à monarquia como instituição. A monarquia vai precisar trabalhar muito para demonstrar que continua relevante e popular se quiser continuar a sobreviver e não declinar no próximo reinado.

Barack Obama foi o décimo presidente a conhecer a rainha Elizabeth II, em 2011. A monarca recebeu o presidente e a então primeira-dama, Michelle, para um jantar em Londres. Foto: AP Photo/Charles Dharapak

Vimos ao longo dessas décadas a relação da rainha com diversos políticos britânicos. Esse estilo deve ser mantido por Charles e, posteriormente, William?

É difícil dizer porque o que acontece nas audiências privadas com o primeiro-ministro é confidencial. Dizem que a rainha tem tido uma influência sutil no direcionamento dos políticos sem ser abertamente partidária. No passado, Charles foi criticado por ter certas opiniões, digamos, estridentes, mas nos últimos anos ele tem sido mais contido em expor seu ponto de vista. O relacionamento dele com os políticos será diferente do que a da mãe, já que sua própria personalidade e gênero influenciarão essas trocas.

A rainha Elizabeth II foi colocada sob supervisão médica nesta quinta-feira, 8, após seus médicos particulares expressarem preocupações com a saúde da monarca - a mais longeva a reinar o Reino Unido, por 70 anos e 200 dias.

Nos últimos dois anos, mesmo sem sinais de “aposentadoria” ou de que pretenda entregar a coroa, por causa de sua saúde, a rainha aumentou a quantidade de deveres reais que divide com outros integrantes da família real. Ela passou ao príncipe Charles, por exemplo, vários deveres reais em cerimônias, inclusive durante seu Jubileu de Platina.

Historiadores e biógrafos da monarquia acreditam que Elizabeth não deixará o trono e o Palácio de Buckingham, mas já tem planos preparados para o momento em que morrer e a transição de poder para o príncipe Charles tiver início, justamente por causa de sua saúde frágil.

“Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças”, afirma a historiadora na Universidade de Winchester especializada em monarquias Elena Woodacre. Em entrevista ao Estadão, ela explica como ocorre a transição de reinados e a importância dos rituais.

Influência da Rainha Elizabeth II sobre políticos britânicos é sutil, mas situação de saúde dela torna futuro da monarquia incerto Foto: Chris Jackson/Pool

O papel da monarquia vai mudar após a morte de Elizabeth? E a popularidade?

É difícil dizer com certeza qual estilo a monarquia terá e como será recebida pelo público após o longo reinado de Elizabeth II. Acredito que Charles vá preservar muito das práticas e políticas de sua mãe, para garantir o senso de tradição e continuidade, mas ele também vai colocar seu próprio selo no papel da monarquia. A rainha é extremamente popular, o que a torna uma figura muito difícil de seguir. Poucas figuras públicas hoje - e pouquíssimos monarcas em nossa história - foram personalidades tão populares quanto Elizabeth II hoje.

É possível dizer que a sucessão está em andamento?

Ao mesmo tempo em que a rainha não está se aposentando ou entregando a coroa neste momento, podemos perceber um aumento na quantidade de deveres reais que ela divide com outros integrantes da família real, particularmente com sua alteza Charles e o filho dele William. Isso é importante não apenas para ajudar a rainha na questão de sua mobilidade comprometida, que tem limitado sua capacidade de estar presente em todas as atividades, mas também ajuda a começar a pavimentar o caminho para a transição que vai ocorrer ao fim de seu reinado.

Por que o Palácio de Buckingham tem tantos planos para os dias seguintes à morte da rainha?

É um costume ter planos para a morte de um monarca e sua sucessão. Voltando, inclusive, à Idade Média, livros de ordenanças e protocolos judiciais determinavam o que deveria acontecer nesses eventos. Isso não é incomum. Aliás, como a rainha tem um longo reinado, o palácio teve tempo suficiente para se preparar para esse momento.

Por que o ritual da morte de um monarca britânico e a ascensão de um novo líder é tão importante?

Tradicionalmente, esses rituais foram muito importantes para manter a estabilidade política. Uma transição pode ser um momento de conflito se a sucessão não for clara devido à falta de herdeiro direto ou nomeado ou se houver um pretendente rival ao trono. Mesmo quando a sucessão estava garantida, podia haver incerteza sobre o que o futuro guardava ao novo reinado. Hoje em dia, a monarquia não tem nenhum poder político, então a mudança de reinados é menos preocupante. No entanto, uma transição suave que incorpore a ideia de ‘o rei está morto, vida longa ao rei’ - ou, neste caso, ‘a rainha está morta, vida longa à rainha’ - demonstra que a monarquia vai continuar, independente das pessoas que passem a ocupar o trono.

Rainha Elizabeth II inspeciona a guarda real ao lado do presidente americano, Donald Trump. Ela usa o broche que ficou conhecido com a foto "Three Queens in Mourning", tirada durante o funeral do Rei George IV. Foto: Chris Jackson/Pool via REUTERS

A senhora acredita que Charles, ou William, vá tentar modernizar alguns aspectos da monarquia?

Claro. Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças nas práticas da monarquia para mantê-la em contato com as mudanças da sociedade moderna.

A senhora acredita que possa ocorrer um declínio da monarquia após a morte da rainha?

É muito difícil prever o que pode ocorrer com a monarquia após o reinado da rainha. Novamente, ela é uma pessoa extremamente amada e respeitada, até por aqueles contrários à monarquia como instituição. A monarquia vai precisar trabalhar muito para demonstrar que continua relevante e popular se quiser continuar a sobreviver e não declinar no próximo reinado.

Barack Obama foi o décimo presidente a conhecer a rainha Elizabeth II, em 2011. A monarca recebeu o presidente e a então primeira-dama, Michelle, para um jantar em Londres. Foto: AP Photo/Charles Dharapak

Vimos ao longo dessas décadas a relação da rainha com diversos políticos britânicos. Esse estilo deve ser mantido por Charles e, posteriormente, William?

É difícil dizer porque o que acontece nas audiências privadas com o primeiro-ministro é confidencial. Dizem que a rainha tem tido uma influência sutil no direcionamento dos políticos sem ser abertamente partidária. No passado, Charles foi criticado por ter certas opiniões, digamos, estridentes, mas nos últimos anos ele tem sido mais contido em expor seu ponto de vista. O relacionamento dele com os políticos será diferente do que a da mãe, já que sua própria personalidade e gênero influenciarão essas trocas.

A rainha Elizabeth II foi colocada sob supervisão médica nesta quinta-feira, 8, após seus médicos particulares expressarem preocupações com a saúde da monarca - a mais longeva a reinar o Reino Unido, por 70 anos e 200 dias.

Nos últimos dois anos, mesmo sem sinais de “aposentadoria” ou de que pretenda entregar a coroa, por causa de sua saúde, a rainha aumentou a quantidade de deveres reais que divide com outros integrantes da família real. Ela passou ao príncipe Charles, por exemplo, vários deveres reais em cerimônias, inclusive durante seu Jubileu de Platina.

Historiadores e biógrafos da monarquia acreditam que Elizabeth não deixará o trono e o Palácio de Buckingham, mas já tem planos preparados para o momento em que morrer e a transição de poder para o príncipe Charles tiver início, justamente por causa de sua saúde frágil.

“Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças”, afirma a historiadora na Universidade de Winchester especializada em monarquias Elena Woodacre. Em entrevista ao Estadão, ela explica como ocorre a transição de reinados e a importância dos rituais.

Influência da Rainha Elizabeth II sobre políticos britânicos é sutil, mas situação de saúde dela torna futuro da monarquia incerto Foto: Chris Jackson/Pool

O papel da monarquia vai mudar após a morte de Elizabeth? E a popularidade?

É difícil dizer com certeza qual estilo a monarquia terá e como será recebida pelo público após o longo reinado de Elizabeth II. Acredito que Charles vá preservar muito das práticas e políticas de sua mãe, para garantir o senso de tradição e continuidade, mas ele também vai colocar seu próprio selo no papel da monarquia. A rainha é extremamente popular, o que a torna uma figura muito difícil de seguir. Poucas figuras públicas hoje - e pouquíssimos monarcas em nossa história - foram personalidades tão populares quanto Elizabeth II hoje.

É possível dizer que a sucessão está em andamento?

Ao mesmo tempo em que a rainha não está se aposentando ou entregando a coroa neste momento, podemos perceber um aumento na quantidade de deveres reais que ela divide com outros integrantes da família real, particularmente com sua alteza Charles e o filho dele William. Isso é importante não apenas para ajudar a rainha na questão de sua mobilidade comprometida, que tem limitado sua capacidade de estar presente em todas as atividades, mas também ajuda a começar a pavimentar o caminho para a transição que vai ocorrer ao fim de seu reinado.

Por que o Palácio de Buckingham tem tantos planos para os dias seguintes à morte da rainha?

É um costume ter planos para a morte de um monarca e sua sucessão. Voltando, inclusive, à Idade Média, livros de ordenanças e protocolos judiciais determinavam o que deveria acontecer nesses eventos. Isso não é incomum. Aliás, como a rainha tem um longo reinado, o palácio teve tempo suficiente para se preparar para esse momento.

Por que o ritual da morte de um monarca britânico e a ascensão de um novo líder é tão importante?

Tradicionalmente, esses rituais foram muito importantes para manter a estabilidade política. Uma transição pode ser um momento de conflito se a sucessão não for clara devido à falta de herdeiro direto ou nomeado ou se houver um pretendente rival ao trono. Mesmo quando a sucessão estava garantida, podia haver incerteza sobre o que o futuro guardava ao novo reinado. Hoje em dia, a monarquia não tem nenhum poder político, então a mudança de reinados é menos preocupante. No entanto, uma transição suave que incorpore a ideia de ‘o rei está morto, vida longa ao rei’ - ou, neste caso, ‘a rainha está morta, vida longa à rainha’ - demonstra que a monarquia vai continuar, independente das pessoas que passem a ocupar o trono.

Rainha Elizabeth II inspeciona a guarda real ao lado do presidente americano, Donald Trump. Ela usa o broche que ficou conhecido com a foto "Three Queens in Mourning", tirada durante o funeral do Rei George IV. Foto: Chris Jackson/Pool via REUTERS

A senhora acredita que Charles, ou William, vá tentar modernizar alguns aspectos da monarquia?

Claro. Parte da razão de a monarquia continuar sobrevivendo e, inclusive, prosperando, é a habilidade de manter um equilíbrio entre tradição e modernização. Eu esperaria que Charles e William continuassem fazendo mudanças nas práticas da monarquia para mantê-la em contato com as mudanças da sociedade moderna.

A senhora acredita que possa ocorrer um declínio da monarquia após a morte da rainha?

É muito difícil prever o que pode ocorrer com a monarquia após o reinado da rainha. Novamente, ela é uma pessoa extremamente amada e respeitada, até por aqueles contrários à monarquia como instituição. A monarquia vai precisar trabalhar muito para demonstrar que continua relevante e popular se quiser continuar a sobreviver e não declinar no próximo reinado.

Barack Obama foi o décimo presidente a conhecer a rainha Elizabeth II, em 2011. A monarca recebeu o presidente e a então primeira-dama, Michelle, para um jantar em Londres. Foto: AP Photo/Charles Dharapak

Vimos ao longo dessas décadas a relação da rainha com diversos políticos britânicos. Esse estilo deve ser mantido por Charles e, posteriormente, William?

É difícil dizer porque o que acontece nas audiências privadas com o primeiro-ministro é confidencial. Dizem que a rainha tem tido uma influência sutil no direcionamento dos políticos sem ser abertamente partidária. No passado, Charles foi criticado por ter certas opiniões, digamos, estridentes, mas nos últimos anos ele tem sido mais contido em expor seu ponto de vista. O relacionamento dele com os políticos será diferente do que a da mãe, já que sua própria personalidade e gênero influenciarão essas trocas.

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