Região do agro argentino e votos de Bullrich definirão segundo turno, afirma analista


Candidata derrotada e sua coalizão ainda não deram indícios de quem devem apoiar no segundo turno, mas a tendência é de que o Juntos pela Mudança se fragmente

Por Carolina Marins
Entrevista comFacundo Cruz Analista político e de dados eleitorais do Observatório Pulsar.UBA

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Finalizado o primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina, os vencedores Sergio Massa, peronista da coalizão União pela Pátria, e Javier Milei, libertário do A Liberdade Avança, começam a correr atrás dos votos dos derrotados. Nesse sentido, o apoio de Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança será fundamental e continua um mistério no dia seguinte ao pleito.

Segundo Facundo Cruz, analista político e de dados eleitorais do Observatório Pulsar, da Universidade de Buenos Aires, a tendência é de que a coalizão oposicionista se quebre com a divisão de apoios. A chapa, que é encabeçada por dois grandes partidos da direita argentina: o Proposta Republicana (PRO), liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri, e a União Cívica Radical (UCR). A expectativa é que as duas forças se dividam entre Massa e Milei, colocando em jogo o futuro da coalizão.

Indo contra a maioria das pesquisas eleitorais, Sergio Massa terminou a noite de ontem como grande vencedor, com 36%, seguido por Javier Milei, com 30%. Bullrich amargou um terceiro lugar com 23%, o que representa mais de 6 milhões de votos, pouco menos que os votos totais de Milei, que foram de 7,8 milhões.

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Os membros da coalizão Juntos pela Mudança: Luis Petri, Patricia Bullrich e Mauricio Macri Foto: Daniel Jayo/AP

Entre os apoiadores do libertário, a expectativa é de que os votos de Bullrich migrem automaticamente a Milei, já que ambos adotam uma “linha dura”, mas não é como veem muitos analistas, que destacam o discurso de “união nacional” feito por Massa.

Confira a entrevista com o analista político argentino:

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Qual a tendência que podemos ver com os votos de Patricia Bullrich, tendem a ir para Javier Milei ou podem se dividir?

Os votos da Patrícia Bullrich são os ovos de ouro que todo mundo busca agora. Se antes os ovos eram os ausentes nas primárias, agora a Patricia Bullrich está na mesma situação de Sergio Massa em 2015, quando ficou em terceiro lugar com cerca de 20% dos votos. Ontem em seu discurso ela mostrou alguns indícios. Deu a entender que não concorda com o populismo e não vai apoiar nenhum projeto populista, a questão vai ser o que acontece se ambos forem considerados populistas. Tanto Milei quanto Massa.

Ainda temos que esperar alguns dias para ver como essa situação se processa no Juntos pela Mudança, porque há muitas tensões ao mesmo tempo não há lideranças. Claramente a transferência de liderança de Mauricio Macri para Patricia não deu frutos, porque não agradou ao eleitorado e isso gerou muita perturbação interna, então agora temos que ver como se ajustam os atores que conquistaram cargos no Juntos pela Mudança. Também temos para ver o que acontece com a cidade de Buenos Aires, em que Jorge Macri também foi ao segundo turno. Se tivesse ganhado em primeiro turno ontem, muito provavelmente teria se tornado o novo líder nacional do PRO, porque é o distrito bastião do PRO, mas eu diria que ainda é cedo para saber o que pode acontecer com os eleitores da Patricia Bullrich.

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Acho que agora começa uma nova campanha. O governo vai tentar satisfazê-los e acima de tudo vai haver muito foco naquela que é a área central do país, que são as províncias de Entre Ríos, Santa Fé e Córdoba e podemos estender até Missiones, que são lugares onde a Liberdade Avança teve um desempenho muito bom, mas também são os lugares que se pode obter o pouco que foi conquistado pelo Juntos pela Mudança. Então agora haverá uma bateria de medidas e discursos governamentais certamente visando satisfazer esse eleitorado nas primeiras semanas de campanha.

Após duas derrotas tão contundentes, qual será o futuro da coalizão Juntos pela Mudança?

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É possível que o Juntos pela Mudança se desintegre, pela simples razão de que existem opiniões diferentes sobre as causas do mau resultado eleitoral e, sobretudo, porque o Juntos pela Mudança perdeu os seus próprios votos em quase todas as províncias, manteve apenas três ou quatro províncias.

Conseguiu crescer os votos que obteve nas primárias, mas na maioria dos distritos perdeu votos. Na verdade perdeu cerca de 440 mil votos a nível nacional. A leitura sobre as causas que levaram a esse resultado muito provavelmente irá gerar tensões que podem acabar rachando o Juntos pela Mudança. Em particular porque Sergio Massa está chamando por um governo de unidade nacional e isso vai gerar incentivos para que líderes de diferentes províncias se juntem a esse governo. Da mesma forma que também há incentivos para que vários líderes do PRO colaborem com Javier Milei em um eventual o governo de Milei.

Então agora começa uma nova jogada. Acho que teremos que esperar semanas para ver para onde vão os votos e em nessas mesmas semanas certamente haverá movimentos para ver o que vai acontecer com o Juntos pela Mudança.

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Acho que existe a possibilidade de que a coalizão se quebre ou pelo menos pare de funcionar como tem funcionado até agora, mas ainda é uma incógnita porque ontem tentaram manter uma certa imagem de unidade e eles não fizeram nenhum movimento estratégico abrupto, então eu seria cauteloso quanto a isso por enquanto.

Que narrativa podemos esperar das duas campanhas a partir de agora?

Provavelmente se espera maior polarização porque são dois modelos e dois espaços totalmente opostos. Seria de se esperar que Milei tentasse incorporar a lógica de Bullrich na campanha: a corrupção, que foi um eixo no qual focaram toda a sua campanha no Juntos pela Mudança. Já a União pela Pátria manterá a lógica das políticas públicas voltadas para grupos específicos. Vamos ver decisões que incidem sobre a zona central do país, a região mais agrícola. Mas não veremos ataques pessoais contra Milei. Massa continuará questionando suas qualidades para governar com um programa político e econômico inviável.

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Houve uma ausência eleitoral considerável. Os primeiros números indicavam 74%, que seria a menor participação da história democrática, mas depois se corrigiram para 77%, se tornando a segunda menor participação. O que essa ausência significa para o processo eleitoral argentino?

Em termos de ausências, esta é a segunda eleição presidencial com menor participação eleitoral, mas é uma espécie de tendência que vem da última década, onde vota entre 70 e 75% do eleitorado. A cada década na Argentina a participação eleitoral cai uns cinco pontos. Na verdade chegou a 77%, mas a expectativa é que nas eleições daqui em diante fique entre 70% e 75%, enquanto na década anterior rondava entre 75% e 80%. Também é verdade que aconteceu o maior salto na participação eleitoral entre as primárias e as gerais desde que as primárias foram implementadas na Argentina, o que também mostra que há interesse por parte dos cidadãos em votar, que haja um compromisso cívico. Embora parece um valor inferior em comparação com os últimos 40 anos, não é um número negativo, é um número esperado.

Como será a governabilidade de um evento governo de Sergio Massa com o Congresso e o Senado? E de Javier Milei?

Em termos de governabilidade, a importante recuperação do peronismo nas eleições de ontem fez com que não perdessem tantas cadeiras que concorriam. Os números provisórios dizem que perderia apenas 10 cadeiras, ou seja, teve 69 cadeiras em jogo e ganhou 57, e isso lhe deixará cerca de 108 cadeiras na Câmara dos Deputados, o que é próximo ao número que o governo tem hoje. Mas dado o resultado das primárias e da importante recuperação, essa queda de cadeiras não é tão dramática e é uma governabilidade que Sergio Massa, especialmente com o seu apelo a um governo de unidade nacional, pode reconstruir e aproximar-se do maioria.

Então a vitória de Sergio Massa no segundo turno daria a um novo presidente peronista a chance de estar muito perto de ter maioria própria, porque no Senado ele também manteve todas as cadeiras que disputou.

O grande derrotado aqui em termos Legislativos é o Juntos pela Mudança porque recebeu o terceiro lugar e sobretudo ter menos de 25% dos votos fez com que muitas províncias perdessem assentos e sobretudo para a Liberdade Avança, razão pela qual também se esperaria que esse bloco do Juntos pela Mudança, dependendo de como vai avançar a coalizão, se vai permanecer unida ou se acaba se rompendo, pode se fracionar e isso seria um benefício para um Sergio Massa presidente.

No caso de Javier Milei presidente, ele teria que construir uma maioria e estaria muito mais longe de o fazer porque só contaria com 8 senadores e 40 cadeiras de deputados nacionais. Aí ele teria muito mais dificuldades, principalmente considerando os discursos que ele tem feito em referência ao que é negociação política, acordos políticos, principalmente trabalhar com o sistema político.

Se somarmos a isso as províncias Sergio Massa vai encontrar um mapa federal muito mais colorido que aquele dos dois últimos governos. Houve um crescimento das forças provinciais. Desta vez houve uma queda nas províncias que o peronismo governou, então nesse sentido temos que ver qual o posicionamento desses governos provinciais e como estão começando a se relacionar com o nacional governo em virtudes que são novos atores que ainda não conhecemos. São atores tradicionais na política provincial, sim, têm um porque têm um histórico, não são novos atores que as províncias e distritos não conhecem, mas deram forma para novos espaços políticos com novas identidades diferentes lideranças e uma nova identidade mais provinciana. Teremos que ver como se desenrola esse jogo de negociações entre a Casa Rosada e as diferentes províncias. Mas sem dúvida um Massa presidente encontrará um mapa muito mais colorido tanto na Câmara dos Deputados como nas províncias.

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Finalizado o primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina, os vencedores Sergio Massa, peronista da coalizão União pela Pátria, e Javier Milei, libertário do A Liberdade Avança, começam a correr atrás dos votos dos derrotados. Nesse sentido, o apoio de Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança será fundamental e continua um mistério no dia seguinte ao pleito.

Segundo Facundo Cruz, analista político e de dados eleitorais do Observatório Pulsar, da Universidade de Buenos Aires, a tendência é de que a coalizão oposicionista se quebre com a divisão de apoios. A chapa, que é encabeçada por dois grandes partidos da direita argentina: o Proposta Republicana (PRO), liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri, e a União Cívica Radical (UCR). A expectativa é que as duas forças se dividam entre Massa e Milei, colocando em jogo o futuro da coalizão.

Indo contra a maioria das pesquisas eleitorais, Sergio Massa terminou a noite de ontem como grande vencedor, com 36%, seguido por Javier Milei, com 30%. Bullrich amargou um terceiro lugar com 23%, o que representa mais de 6 milhões de votos, pouco menos que os votos totais de Milei, que foram de 7,8 milhões.

Os membros da coalizão Juntos pela Mudança: Luis Petri, Patricia Bullrich e Mauricio Macri Foto: Daniel Jayo/AP

Entre os apoiadores do libertário, a expectativa é de que os votos de Bullrich migrem automaticamente a Milei, já que ambos adotam uma “linha dura”, mas não é como veem muitos analistas, que destacam o discurso de “união nacional” feito por Massa.

Confira a entrevista com o analista político argentino:

Qual a tendência que podemos ver com os votos de Patricia Bullrich, tendem a ir para Javier Milei ou podem se dividir?

Os votos da Patrícia Bullrich são os ovos de ouro que todo mundo busca agora. Se antes os ovos eram os ausentes nas primárias, agora a Patricia Bullrich está na mesma situação de Sergio Massa em 2015, quando ficou em terceiro lugar com cerca de 20% dos votos. Ontem em seu discurso ela mostrou alguns indícios. Deu a entender que não concorda com o populismo e não vai apoiar nenhum projeto populista, a questão vai ser o que acontece se ambos forem considerados populistas. Tanto Milei quanto Massa.

Ainda temos que esperar alguns dias para ver como essa situação se processa no Juntos pela Mudança, porque há muitas tensões ao mesmo tempo não há lideranças. Claramente a transferência de liderança de Mauricio Macri para Patricia não deu frutos, porque não agradou ao eleitorado e isso gerou muita perturbação interna, então agora temos que ver como se ajustam os atores que conquistaram cargos no Juntos pela Mudança. Também temos para ver o que acontece com a cidade de Buenos Aires, em que Jorge Macri também foi ao segundo turno. Se tivesse ganhado em primeiro turno ontem, muito provavelmente teria se tornado o novo líder nacional do PRO, porque é o distrito bastião do PRO, mas eu diria que ainda é cedo para saber o que pode acontecer com os eleitores da Patricia Bullrich.

Acho que agora começa uma nova campanha. O governo vai tentar satisfazê-los e acima de tudo vai haver muito foco naquela que é a área central do país, que são as províncias de Entre Ríos, Santa Fé e Córdoba e podemos estender até Missiones, que são lugares onde a Liberdade Avança teve um desempenho muito bom, mas também são os lugares que se pode obter o pouco que foi conquistado pelo Juntos pela Mudança. Então agora haverá uma bateria de medidas e discursos governamentais certamente visando satisfazer esse eleitorado nas primeiras semanas de campanha.

Após duas derrotas tão contundentes, qual será o futuro da coalizão Juntos pela Mudança?

É possível que o Juntos pela Mudança se desintegre, pela simples razão de que existem opiniões diferentes sobre as causas do mau resultado eleitoral e, sobretudo, porque o Juntos pela Mudança perdeu os seus próprios votos em quase todas as províncias, manteve apenas três ou quatro províncias.

Conseguiu crescer os votos que obteve nas primárias, mas na maioria dos distritos perdeu votos. Na verdade perdeu cerca de 440 mil votos a nível nacional. A leitura sobre as causas que levaram a esse resultado muito provavelmente irá gerar tensões que podem acabar rachando o Juntos pela Mudança. Em particular porque Sergio Massa está chamando por um governo de unidade nacional e isso vai gerar incentivos para que líderes de diferentes províncias se juntem a esse governo. Da mesma forma que também há incentivos para que vários líderes do PRO colaborem com Javier Milei em um eventual o governo de Milei.

Então agora começa uma nova jogada. Acho que teremos que esperar semanas para ver para onde vão os votos e em nessas mesmas semanas certamente haverá movimentos para ver o que vai acontecer com o Juntos pela Mudança.

Acho que existe a possibilidade de que a coalizão se quebre ou pelo menos pare de funcionar como tem funcionado até agora, mas ainda é uma incógnita porque ontem tentaram manter uma certa imagem de unidade e eles não fizeram nenhum movimento estratégico abrupto, então eu seria cauteloso quanto a isso por enquanto.

Que narrativa podemos esperar das duas campanhas a partir de agora?

Provavelmente se espera maior polarização porque são dois modelos e dois espaços totalmente opostos. Seria de se esperar que Milei tentasse incorporar a lógica de Bullrich na campanha: a corrupção, que foi um eixo no qual focaram toda a sua campanha no Juntos pela Mudança. Já a União pela Pátria manterá a lógica das políticas públicas voltadas para grupos específicos. Vamos ver decisões que incidem sobre a zona central do país, a região mais agrícola. Mas não veremos ataques pessoais contra Milei. Massa continuará questionando suas qualidades para governar com um programa político e econômico inviável.

Houve uma ausência eleitoral considerável. Os primeiros números indicavam 74%, que seria a menor participação da história democrática, mas depois se corrigiram para 77%, se tornando a segunda menor participação. O que essa ausência significa para o processo eleitoral argentino?

Em termos de ausências, esta é a segunda eleição presidencial com menor participação eleitoral, mas é uma espécie de tendência que vem da última década, onde vota entre 70 e 75% do eleitorado. A cada década na Argentina a participação eleitoral cai uns cinco pontos. Na verdade chegou a 77%, mas a expectativa é que nas eleições daqui em diante fique entre 70% e 75%, enquanto na década anterior rondava entre 75% e 80%. Também é verdade que aconteceu o maior salto na participação eleitoral entre as primárias e as gerais desde que as primárias foram implementadas na Argentina, o que também mostra que há interesse por parte dos cidadãos em votar, que haja um compromisso cívico. Embora parece um valor inferior em comparação com os últimos 40 anos, não é um número negativo, é um número esperado.

Como será a governabilidade de um evento governo de Sergio Massa com o Congresso e o Senado? E de Javier Milei?

Em termos de governabilidade, a importante recuperação do peronismo nas eleições de ontem fez com que não perdessem tantas cadeiras que concorriam. Os números provisórios dizem que perderia apenas 10 cadeiras, ou seja, teve 69 cadeiras em jogo e ganhou 57, e isso lhe deixará cerca de 108 cadeiras na Câmara dos Deputados, o que é próximo ao número que o governo tem hoje. Mas dado o resultado das primárias e da importante recuperação, essa queda de cadeiras não é tão dramática e é uma governabilidade que Sergio Massa, especialmente com o seu apelo a um governo de unidade nacional, pode reconstruir e aproximar-se do maioria.

Então a vitória de Sergio Massa no segundo turno daria a um novo presidente peronista a chance de estar muito perto de ter maioria própria, porque no Senado ele também manteve todas as cadeiras que disputou.

O grande derrotado aqui em termos Legislativos é o Juntos pela Mudança porque recebeu o terceiro lugar e sobretudo ter menos de 25% dos votos fez com que muitas províncias perdessem assentos e sobretudo para a Liberdade Avança, razão pela qual também se esperaria que esse bloco do Juntos pela Mudança, dependendo de como vai avançar a coalizão, se vai permanecer unida ou se acaba se rompendo, pode se fracionar e isso seria um benefício para um Sergio Massa presidente.

No caso de Javier Milei presidente, ele teria que construir uma maioria e estaria muito mais longe de o fazer porque só contaria com 8 senadores e 40 cadeiras de deputados nacionais. Aí ele teria muito mais dificuldades, principalmente considerando os discursos que ele tem feito em referência ao que é negociação política, acordos políticos, principalmente trabalhar com o sistema político.

Se somarmos a isso as províncias Sergio Massa vai encontrar um mapa federal muito mais colorido que aquele dos dois últimos governos. Houve um crescimento das forças provinciais. Desta vez houve uma queda nas províncias que o peronismo governou, então nesse sentido temos que ver qual o posicionamento desses governos provinciais e como estão começando a se relacionar com o nacional governo em virtudes que são novos atores que ainda não conhecemos. São atores tradicionais na política provincial, sim, têm um porque têm um histórico, não são novos atores que as províncias e distritos não conhecem, mas deram forma para novos espaços políticos com novas identidades diferentes lideranças e uma nova identidade mais provinciana. Teremos que ver como se desenrola esse jogo de negociações entre a Casa Rosada e as diferentes províncias. Mas sem dúvida um Massa presidente encontrará um mapa muito mais colorido tanto na Câmara dos Deputados como nas províncias.

ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - Finalizado o primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina, os vencedores Sergio Massa, peronista da coalizão União pela Pátria, e Javier Milei, libertário do A Liberdade Avança, começam a correr atrás dos votos dos derrotados. Nesse sentido, o apoio de Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança será fundamental e continua um mistério no dia seguinte ao pleito.

Segundo Facundo Cruz, analista político e de dados eleitorais do Observatório Pulsar, da Universidade de Buenos Aires, a tendência é de que a coalizão oposicionista se quebre com a divisão de apoios. A chapa, que é encabeçada por dois grandes partidos da direita argentina: o Proposta Republicana (PRO), liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri, e a União Cívica Radical (UCR). A expectativa é que as duas forças se dividam entre Massa e Milei, colocando em jogo o futuro da coalizão.

Indo contra a maioria das pesquisas eleitorais, Sergio Massa terminou a noite de ontem como grande vencedor, com 36%, seguido por Javier Milei, com 30%. Bullrich amargou um terceiro lugar com 23%, o que representa mais de 6 milhões de votos, pouco menos que os votos totais de Milei, que foram de 7,8 milhões.

Os membros da coalizão Juntos pela Mudança: Luis Petri, Patricia Bullrich e Mauricio Macri Foto: Daniel Jayo/AP

Entre os apoiadores do libertário, a expectativa é de que os votos de Bullrich migrem automaticamente a Milei, já que ambos adotam uma “linha dura”, mas não é como veem muitos analistas, que destacam o discurso de “união nacional” feito por Massa.

Confira a entrevista com o analista político argentino:

Qual a tendência que podemos ver com os votos de Patricia Bullrich, tendem a ir para Javier Milei ou podem se dividir?

Os votos da Patrícia Bullrich são os ovos de ouro que todo mundo busca agora. Se antes os ovos eram os ausentes nas primárias, agora a Patricia Bullrich está na mesma situação de Sergio Massa em 2015, quando ficou em terceiro lugar com cerca de 20% dos votos. Ontem em seu discurso ela mostrou alguns indícios. Deu a entender que não concorda com o populismo e não vai apoiar nenhum projeto populista, a questão vai ser o que acontece se ambos forem considerados populistas. Tanto Milei quanto Massa.

Ainda temos que esperar alguns dias para ver como essa situação se processa no Juntos pela Mudança, porque há muitas tensões ao mesmo tempo não há lideranças. Claramente a transferência de liderança de Mauricio Macri para Patricia não deu frutos, porque não agradou ao eleitorado e isso gerou muita perturbação interna, então agora temos que ver como se ajustam os atores que conquistaram cargos no Juntos pela Mudança. Também temos para ver o que acontece com a cidade de Buenos Aires, em que Jorge Macri também foi ao segundo turno. Se tivesse ganhado em primeiro turno ontem, muito provavelmente teria se tornado o novo líder nacional do PRO, porque é o distrito bastião do PRO, mas eu diria que ainda é cedo para saber o que pode acontecer com os eleitores da Patricia Bullrich.

Acho que agora começa uma nova campanha. O governo vai tentar satisfazê-los e acima de tudo vai haver muito foco naquela que é a área central do país, que são as províncias de Entre Ríos, Santa Fé e Córdoba e podemos estender até Missiones, que são lugares onde a Liberdade Avança teve um desempenho muito bom, mas também são os lugares que se pode obter o pouco que foi conquistado pelo Juntos pela Mudança. Então agora haverá uma bateria de medidas e discursos governamentais certamente visando satisfazer esse eleitorado nas primeiras semanas de campanha.

Após duas derrotas tão contundentes, qual será o futuro da coalizão Juntos pela Mudança?

É possível que o Juntos pela Mudança se desintegre, pela simples razão de que existem opiniões diferentes sobre as causas do mau resultado eleitoral e, sobretudo, porque o Juntos pela Mudança perdeu os seus próprios votos em quase todas as províncias, manteve apenas três ou quatro províncias.

Conseguiu crescer os votos que obteve nas primárias, mas na maioria dos distritos perdeu votos. Na verdade perdeu cerca de 440 mil votos a nível nacional. A leitura sobre as causas que levaram a esse resultado muito provavelmente irá gerar tensões que podem acabar rachando o Juntos pela Mudança. Em particular porque Sergio Massa está chamando por um governo de unidade nacional e isso vai gerar incentivos para que líderes de diferentes províncias se juntem a esse governo. Da mesma forma que também há incentivos para que vários líderes do PRO colaborem com Javier Milei em um eventual o governo de Milei.

Então agora começa uma nova jogada. Acho que teremos que esperar semanas para ver para onde vão os votos e em nessas mesmas semanas certamente haverá movimentos para ver o que vai acontecer com o Juntos pela Mudança.

Acho que existe a possibilidade de que a coalizão se quebre ou pelo menos pare de funcionar como tem funcionado até agora, mas ainda é uma incógnita porque ontem tentaram manter uma certa imagem de unidade e eles não fizeram nenhum movimento estratégico abrupto, então eu seria cauteloso quanto a isso por enquanto.

Que narrativa podemos esperar das duas campanhas a partir de agora?

Provavelmente se espera maior polarização porque são dois modelos e dois espaços totalmente opostos. Seria de se esperar que Milei tentasse incorporar a lógica de Bullrich na campanha: a corrupção, que foi um eixo no qual focaram toda a sua campanha no Juntos pela Mudança. Já a União pela Pátria manterá a lógica das políticas públicas voltadas para grupos específicos. Vamos ver decisões que incidem sobre a zona central do país, a região mais agrícola. Mas não veremos ataques pessoais contra Milei. Massa continuará questionando suas qualidades para governar com um programa político e econômico inviável.

Houve uma ausência eleitoral considerável. Os primeiros números indicavam 74%, que seria a menor participação da história democrática, mas depois se corrigiram para 77%, se tornando a segunda menor participação. O que essa ausência significa para o processo eleitoral argentino?

Em termos de ausências, esta é a segunda eleição presidencial com menor participação eleitoral, mas é uma espécie de tendência que vem da última década, onde vota entre 70 e 75% do eleitorado. A cada década na Argentina a participação eleitoral cai uns cinco pontos. Na verdade chegou a 77%, mas a expectativa é que nas eleições daqui em diante fique entre 70% e 75%, enquanto na década anterior rondava entre 75% e 80%. Também é verdade que aconteceu o maior salto na participação eleitoral entre as primárias e as gerais desde que as primárias foram implementadas na Argentina, o que também mostra que há interesse por parte dos cidadãos em votar, que haja um compromisso cívico. Embora parece um valor inferior em comparação com os últimos 40 anos, não é um número negativo, é um número esperado.

Como será a governabilidade de um evento governo de Sergio Massa com o Congresso e o Senado? E de Javier Milei?

Em termos de governabilidade, a importante recuperação do peronismo nas eleições de ontem fez com que não perdessem tantas cadeiras que concorriam. Os números provisórios dizem que perderia apenas 10 cadeiras, ou seja, teve 69 cadeiras em jogo e ganhou 57, e isso lhe deixará cerca de 108 cadeiras na Câmara dos Deputados, o que é próximo ao número que o governo tem hoje. Mas dado o resultado das primárias e da importante recuperação, essa queda de cadeiras não é tão dramática e é uma governabilidade que Sergio Massa, especialmente com o seu apelo a um governo de unidade nacional, pode reconstruir e aproximar-se do maioria.

Então a vitória de Sergio Massa no segundo turno daria a um novo presidente peronista a chance de estar muito perto de ter maioria própria, porque no Senado ele também manteve todas as cadeiras que disputou.

O grande derrotado aqui em termos Legislativos é o Juntos pela Mudança porque recebeu o terceiro lugar e sobretudo ter menos de 25% dos votos fez com que muitas províncias perdessem assentos e sobretudo para a Liberdade Avança, razão pela qual também se esperaria que esse bloco do Juntos pela Mudança, dependendo de como vai avançar a coalizão, se vai permanecer unida ou se acaba se rompendo, pode se fracionar e isso seria um benefício para um Sergio Massa presidente.

No caso de Javier Milei presidente, ele teria que construir uma maioria e estaria muito mais longe de o fazer porque só contaria com 8 senadores e 40 cadeiras de deputados nacionais. Aí ele teria muito mais dificuldades, principalmente considerando os discursos que ele tem feito em referência ao que é negociação política, acordos políticos, principalmente trabalhar com o sistema político.

Se somarmos a isso as províncias Sergio Massa vai encontrar um mapa federal muito mais colorido que aquele dos dois últimos governos. Houve um crescimento das forças provinciais. Desta vez houve uma queda nas províncias que o peronismo governou, então nesse sentido temos que ver qual o posicionamento desses governos provinciais e como estão começando a se relacionar com o nacional governo em virtudes que são novos atores que ainda não conhecemos. São atores tradicionais na política provincial, sim, têm um porque têm um histórico, não são novos atores que as províncias e distritos não conhecem, mas deram forma para novos espaços políticos com novas identidades diferentes lideranças e uma nova identidade mais provinciana. Teremos que ver como se desenrola esse jogo de negociações entre a Casa Rosada e as diferentes províncias. Mas sem dúvida um Massa presidente encontrará um mapa muito mais colorido tanto na Câmara dos Deputados como nas províncias.

Entrevista por Carolina Marins

Jornalista formada pela ECA-USP. Repórter da editoria de Internacional, com interesse em América Latina. Já fiz coberturas in loco na Argentina, em Israel e na Ucrânia

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