A Europa enfrenta um momento “único em uma geração” para garantir a sua segurança, disse o premiê britânico Keir Starmer neste domingo, 2, ao abrir uma cúpula sobre segurança do continente e a guerra da Rússia na Ucrânia ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, e do ucraniano Volodmir Zelenski.
Dois dias depois do bate-boca entre Donald Trump e Zelenski na Casa Branca, o presidente ucraniano foi calorosamente recebido em Londres pelos principais líderes europeus reunidos na capital britânica. Quando ele chegou ao número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro, um grupo de apoiadores o esperava e ovacionou o líder ucraniano. “Estamos todos com você, com a Ucrânia, pelo tempo que for necessário”, disse Starmer.
O premiê britânico, no entanto, advertiu que “este é um momento único em uma geração para a segurança da Europa”, e “conseguir um bom resultado para a Ucrânia não é apenas uma questão de certo ou errado; é vital para a segurança de cada nação aqui e de muitas outras também”.

Starmer disse ter falado com as nações Bálticas anteriormente, já que elas são “obviamente parte da nossa discussão”. Lituânia, Letônia e Estônia formam os países bálticos que fazem fronteira com Rússia e Belarus, aliado de Putin, e se sentem ameaçados pela Rússia.
O premiê também disse que o Reino Unido e a França trabalharão juntos com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, para apresentar plano de paz a Washington que ponha fim à guerra da Rússia na Ucrânia.
Ao capitanear esforços para a criação de um plano de cessar-fogo da guerra entre Ucrânia e Rússia, ele defendeu que as nações europeias deveriam reforçar suas fronteiras e apoiar a Ucrânia com todo o seu peso. “Cada nação deve contribuir para isso da melhor maneira que puder, trazendo diferentes capacidades e apoio à mesa, mas todos assumindo a responsabilidade de agir, todos aumentando sua própria parcela do fardo”, disse.
Após a reunião, o presidente francês Emmanuel Macron disse ao jornal Le Figaro que França e Reino Unido propuseram uma trégua de um mês na Ucrânia “no ar, no mar e nas infraestruturas energéticas”.
Starmer, organizador da cúpula, classificou a reunião como “um momento único em uma geração para a segurança da Europa”. Já o primeiro-ministro da Holanda, Dick Schoof, após participar da cúpula, afirmou que a Europa “precisa desempenhar um papel maior na salvaguarda da segurança do continente”. “A Europa deve assumir mais responsabilidade por sua própria segurança, inclusive reforçando as capacidades de defesa europeias”.
O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, disse que fortes garantias de segurança são necessárias para uma paz duradoura na Ucrânia e garantir que o país devastado pela guerra não seja invadido novamente.
Costa, que lidera o órgão da UE que representa seus 27 Estados-membros, disse que os aliados deveriam aprender com o passado e evitar repetir “a experiência de Minsk”. Ele fez referência aos chamados Acordos de Minsk, uma série de acordos de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia que não se mantiveram antes da invasão em larga escala da Rússia em fevereiro de 2022.
Já o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que “as perspectivas russas não podem ser aceitas” na busca pelo fim da guerra na Ucrânia. “A Rússia sempre teve como objetivo estabelecer um governo na Ucrânia que siga suas ordens. Isso não pode ser aceito”, disse.
“A Ucrânia é um país europeu que escolheu buscar a adesão à União Europeia - uma nação democrática e soberana. E deve permanecer assim”, disse Scholz, após a reunião em Londres.
Ele também disse que uma demanda russa de que a Ucrânia seja desmilitarizada é inaceitável e que “a Ucrânia deve ser forte o suficiente… para garantir que nunca mais seja atacada”.
Aproximação com a Rússia
Starmer e os presidentes da França e da Ucrânia, Emmanuel Macron e Volodmir Zelenski, viajaram separadamente para Washington nesta semana para se encontrar com o presidente dos EUA, Donald Trump, e buscar a paz para um conflito que já está em seu terceiro ano.
A Ucrânia e a Europa estão acompanhando com preocupação a aproximação entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, que iniciou negociações bilaterais para acabar com a guerra sem convidar a Ucrânia ou os europeus.
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O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a mudança radical na política externa dos EUA em relação à Rússia estava “amplamente” alinhada com a visão de Moscou, em uma entrevista transmitida pela televisão estatal no domingo.
De acordo com o governo britânico, as conversações em Londres se concentram no “fortalecimento da posição da Ucrânia, incluindo o apoio militar contínuo e o aumento da pressão econômica sobre a Rússia”. Os participantes também discutiram “a necessidade de a Europa desempenhar seu papel na defesa” e os “próximos passos no planejamento de fortes garantias de segurança” no continente, dado o risco de retirada do guarda-chuva militar e nuclear dos EUA.
Bate-boca entre Trump e Zelenski
Poucas horas após a confirmação da organização dessa cúpula, as preocupações foram desencadeadas pela briga verbal de sexta-feira na Casa Branca, na qual Trump repreendeu Zelenski, acusando-o de brincar “com o risco de uma 3ª Guerra Mundial”.
Após o incidente, Zelenski recebeu apoio da maioria dos líderes europeus e também de outros líderes mundiais. Após a altercação com Trump, Zelenski chegou a Londres no sábado para participar da cúpula e se reuniu por cerca de uma hora com o primeiro-ministro britânico em sua residência em Downing Street.
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O presidente ucraniano viajou para Washington para assinar a resolução sobre extração de minerais na Ucrânia, mas o encontro com Trump terminou em bate-boca.
Starmer disse à BBC na entrevista deste domingo que “ninguém quer ver” cenas como as da Casa Branca, embora tenha observado que “está claro para mim que ele [Trump] quer uma paz duradoura”.
Starmer disse a Zelenski em Londres no sábado que ele era “muito bem-vindo” e insistiu na “determinação absoluta” do Reino Unido em apoiar a Ucrânia em seu conflito com a Rússia.
Dezenas de pessoas reunidas do lado de fora da Downing Street aplaudiram o presidente ucraniano, que também se encontrará com o rei britânico Charles III neste domingo.
Zelenski ficou grato
Na recepção, Zelenski agradeceu “ao povo do Reino Unido por seu grande apoio desde o início desta guerra”.
Logo após a reunião entre Starmer e Zelenski, os dois governos assinaram um acordo para um empréstimo britânico de 2,26 bilhões de libras para apoiar as capacidades de defesa da Ucrânia. “O dinheiro será usado para construir armas na Ucrânia”, disse Zelenski no Telegram.
A reunião deste domingo em Londres acontece antes de outra cúpula europeia extraordinária sobre a Ucrânia, marcada para 6 de março em Bruxelas. Zelenski insistiu no sábado que o apoio de Trump continua sendo “crucial” para a Ucrânia, apesar do bate-boca na Casa Branca.
Zelenski também disse no site de rede social X que estava pronto para assinar com Washington o acordo sobre os minerais ucranianos, que foi deixado no ar depois que ele foi expulso da Casa Branca.
A Rússia classificou a visita de Zelenski a Washington como um “completo fracasso político e diplomático”, como disse a porta-voz diplomática russa Maria Zakharova no sábado, acusando Zelenski de “rejeitar a paz”.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que pediu a Zelenski que “consertasse” seu relacionamento com Trump. “Temos que ficar juntos, os Estados Unidos, a Ucrânia e a Europa, para levar a Ucrânia a uma paz duradoura”, insistiu ele.