A condenação de três homens com ligações com serviços de segurança russos pelo abate do voo MH17 da Malaysia Airlines, decidida pela Justiça da Holanda nesta quinta-feira, 17, trouxe à tona o incidente ocorrido em 2014 que matou os 298 passageiros e tripulantes da aeronave. O avião foi abatido por um míssil russo lançado por separatistas na região de Donetsk, no leste ucraniano, e foi um prenúncio do conflito que resultou na invasão da Rússia na Ucrânia este ano. Na época, grupos pró-Rússia estavam em conflito com militares ucranianos.
O Boeing 777 partiu de Amsterdã no dia 17 de julho de 2014 e tinha como destino Kuala Lumpur, na Malásia, quando foi alvejado enquanto sobrevoava a região de Donetsk. Das 298 pessoas vítimas, 196 eram holandesas, 42 eram malaias e 27 eram australianas – ao todo, cidadãos de 30 países estavam a bordo do avião.
A queda gerou uma série de acusações. O presidente da Ucrânia na época, Petro Poroshenko, acusou os separatistas de terem cometido um “ato terrorista” no mesmo dia que a queda ocorreu. Por outro lado, o presidente russo, Vladimir Putin, responsabilizou os ucranianos. “Sem dúvidas, o Estado cujo território isso ocorreu tem a responsabilidade por essa tragédia horrível”, disse na época.
No julgamento desta quinta-feira, o tribunal considerou que Moscou em 2014 tinha o controle geral da autoproclamada República Popular de Donetsk, a área separatista onde o míssil foi lançado. A área está anexada à Rússia desde 29 de setembro, após um referendo feito pelos russos e proclamado por Putin, mas não reconhecido internacionalmente.
Desde o dia do incidente, as autoridades ucranianas se mobilizaram para responsabilizar os grupos separatistas que lutavam na região. Segundo Kiev, três aviões militares ucranianos tinham sido alvejados na área nos dias anteriores. Uma mensagem divulgada após a queda do MH17 da Malaysia Airlines, atribuído ao líder separatista Igor Girkin, reforçou as suspeitas. “Avisamos para eles não voarem no nosso céu. E aqui está o vídeo de um outro ‘grande pássaro’ caindo”, dizia. Os separatistas acreditavam que se tratava de um avião militar do tipo AN-26, indica a mesma mensagem.
Autoridades ocidentais também alegaram desde o início que o avião havia sido atingido por um míssil. “Não foi um acidente”, declarou o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, na época. A repercussão gerou uma investigação internacional, aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas no dia seguinte ao incidente.
Em 2016, promotores disseram que a aeronave foi abatida por um míssil Buk 9M38, disparado do território separatista de Donetsk, controlado por rebeldes apoiados pela Rússia, e utilizando um lançador móvel russo. A investigação apontou a unidade exata que supostamente estaria envolvida no caso, detalhes sobre o foguete e uma compilação de vídeos e fotos traçando a jornada do comboio militar da Rússia ao território ucraniano em disputa. Dois anos depois, uma equipe de investigadores australianos disse que identificou a unidade militar russa que forneceu o míssil usado para derrubar a aeronave.
O Kremlin, no entanto, sempre negou qualquer envolvimento no caso e, nesta quinta-feira, afirmou que o tribunal estava sob pressão. “Lamentamos profundamente que o Tribunal Distrital de Haia tenha desrespeitado os princípios da justiça imparcial em favor da atual situação política, causando assim um sério golpe de reputação em todo o sistema judicial na Holanda”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Segundo o julgamento desta quinta-feira, os três condenados ajudaram a organizar o transporte para a Ucrânia do sistema de mísseis militar russo BUK que foi usado para derrubar o avião, embora não tenham sido eles que fisicamente dispararam. Eles são considerados fugitivos e autoridades acreditam que estejam na Rússia. Um quarto ex-suspeito, o russo Oleg Pulatov, foi absolvido de todas as acusações. /Com informações da AP