WASHINGTON - A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos rejeitou uma tentativa de derrubar os votos no colégio eleitoral do Estado da Pensilvânia. O debate sobre a objeção aos votos, que também foi recusada pelo Senado um pouco antes, fez com que o processo de certificação para atestar o triunfo de Joe Biden se arrastassse pela madrugada desta quinta-feira, 7. Mais cedo, as duas Casas recusaram a objeção apresentada pelos republicanos para os votos do Arizona.
Após a rejeição pela Câmara e pelo Senado, a sessão conjunta entre as duas casas foi retomada. O vice-presidente Mike Pence, que preside a sessão, confirmou o resultado apresentado pelo colégio eleitoral do Estado. Minutos depois o Congresso confirmou que Joe Biden será o próximo presidente dos Estados Unidos.
A sessão no Congresso foi retomada seis horas depois que uma multidão de extremistas pró-Donald Trump invadiu o Capitólio após um discurso em que o presidente americano prometeu nunca admitir sua derrota, em desafio ao rito parlamentar que confirmaria a vitória democrata.
O grupo interrompeu a certificação dos votos. A polícia precisou retirar o vice-presidente americano, Mike Pence, que presidia o Senado, e os demais legisladores do prédio em um cenário de violência que abalou um pilar da democracia americana e deixou ao menos quatro mortos.
A invasão começou por volta das 14h15 (16h15 de Brasília), enquanto a Câmara e o Senado iniciavam os debates. Seguranças correram até Pence para retirá-lo do Capitólio, o Congresso americano. Antes de presidir a sessão, o vice, como presidente do Senado, desafiou a pressão de Trump e disse que não cabia a ele anular qualquer voto.
O edifício foi fechado depois de vândalos derrubarem as grades de segurança do lado de fora. Houve quebra-quebra, a polícia jogou gás lacrimogêneo, mas não conseguiu impedir a invasão. Imagens postadas nas redes sociais mostraram extremistas brigando violentamente com a polícia. Pelo menos um explosivo foi encontrado pela polícia perto do Capitólio. Senadores e membros da Câmara chegaram a ficar presos em seus gabinetes.
Uma mulher identificada como Ashli Babbitt, uma ex-oficial militar da Força Aérea e fervorosa defensora de Trump, e que estava com o grupo que invadiu o Capitólio pode ser vista em um vídeo postado nas redes sociais levando um tiro dentro do prédio. Ela chegou a receber atendimento no local, mas morreu. Ela foi atingida por um integrante da polícia no momento da invasão. Outras três outras pessoas morreram em emergências médicas, segundo as autoridades locais, que não deram mais detalhes.
“Isso é o que vocês conseguiram, rapazes”, gritou o senador Mitt Romney, republicano de Utah, enquanto a confusão se desenrolava, aparentemente dirigindo-se aos colegas de partido que lideravam a tentativa de bloquear a certificação de Biden. “Isso é o que o presidente causou hoje, essa insurreição”, disse Romney.
A agitação levou a prefeita de Washington, Muriel Bowser, a declarar toque de recolher em toda a cidade das 18h de ontem até às 6h de hoje. Mais tarde, disse que o estado de emergência na cidade ficaria em vigor até o dia da posse de Biden, em 20 de janeiro.
Em seguida, o governador da Virgínia, Ralph Northam, declarou estado de emergência e impôs também toque de recolher em Arlington e Alexandria, nos arredores da capital. O secretário de Defesa dos EUA em exercício, Chris Miller, ativou os 1,1 mil soldados da Guarda Nacional do Distrito de Columbia, onde fica Washington.
Invasão ao Capitólio
Biden fez um pronunciamento contundente contra a violência. Ao mesmo tempo, os democratas conquistavam a maioria do Senado com as duas vitórias dos candidatos que disputaram o segundo turno na Geórgia. Após a confusão, congressistas republicanos, democratas e um grupo de empresários começaram a pressionar Pence para que ele acione a 25.ª Emenda da Constituição para afastar Trump antes do dia 20. Um processo de impeachment contra ele foi rejeitado no Senado em 2019, onde seriam necessários 67 votos para destituí-lo – os democratas têm agora 50 assentos. Saiba mais sobre como Trump poderia ser destituído de seu cargo antes de seu mandato terminar.
Trump foi ao Twitter algumas vezes ao longo do dia. Depois de voltar a contestar as eleições, pediu a seus seguidores que se manifestassem pacificamente, após eles terem invadido a sede do Legislativo. Pela noite, voltou a desafiar o resultado da eleição em um tuíte apagado em seguida. “São coisas e eventos que acontecem quando uma vitória eleitoral sagrada esmagadora é cruelmente retirada de grandes patriotas que foram mal e injustamente tratados por tanto tempo”, afirmou.
A conta dele foi bloqueada por 12 horas pela rede social, que ameaçou ainda com suspensão permanente se ele não deletasse mensagens que contestam o resultado da eleição e estimulam a violência. Mais tarde, o Facebook também bloqueou o presidente pelo mesmo motivo, mas por 24 horas.
Pelo menos três assessores da Casa Branca pediram demissão após a invasão do Congresso e, de acordo com a CNN, mais funcionários do alto escalão devem renunciar aos seus cargos na esteira dos atos violentos. / NYT, AP, REUTERS