WASHINGTON - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, nesta quarta-feira, 18, o impeachment do presidente americano, Donald Trump, por obstrução do Congresso (229 votos a 198) e abuso de poder (230 votos a 197), fazendo dele o terceiro presidente na história dos Estados Unidos a sofrer um processo de impeachment.
Em um evento de campanha em Michigan, Trump disse que a aprovação do processo de impeachment é “um suicídio político” e “uma eterna marca de vergonha” para os democratas.
Agora, os senadores se preparam para julgá-lo no início de 2020. Mitch McConnell, líder dos republicanos no Senado, já anunciou a estratégia do partido: o processo deve ser acelerado e terminar o mais rápido possível com a absolvição do presidente americano.
No Senado, o impeachment deve ganhar um tratamento frio por parte da maioria republicana. Apesar de o julgamento ser comandado pelo presidente da Suprema Corte, o juiz John Roberts, são os republicanos que darão as cartas.
Do total de 100 senadores, o partido de Trump tem 53 – os democratas, 45 e 2 são independentes, mas costumam apoiar a agenda democrata. Para que o presidente seja destituído, são necessários dois terços do Senado – ou seja, 20 senadores republicanos teriam de mudar de lado.
Ontem, McConnell prometeu audiências curtas e descartou convocar testemunhas. Ele também já admitiu que vem trabalhando “em coordenação total” com a Casa Branca. “Eu não serei imparcial”, disse o senador, declaração que provocou fúria entre os congressistas democratas.
Outro aliado de Trump, o senador republicano Lindsey Graham, adota o mesmo discurso. “Eu já tomei minha decisão”, afirmou. “E não vou esconder o fato de eu ter completo desprezo pelas acusações e pelo processo de impeachment.”
No fim de semana, falando ao programa This Week, da ABC, o senador Ted Cruz, também um defensor do presidente, tentou justificar o veredicto antes do julgamento. “Ser jurado em um caso criminal é diferente de ser jurado do impeachment, que é essencialmente político.”
Em campanha.
No entanto, antes mesmo de o processo chegar ao Senado e sabendo que Trump será absolvido em janeiro, democratas e republicanos já pensam adiante e traçam planos para as eleições de novembro. A campanha à reeleição de Trump vem tentado monetizar o impeachment e garante ter recebido 600 mil novos doadores desde que a Câmara dos Deputados iniciou o inquérito, em setembro.
Brad Parscale, chefe da campanha de Trump, disse ontem que o processo de impeachment é uma “farsa” e um “teatro”. “Os democratas podem comemorar agora, mas o presidente Trump fará todo mundo chorar (na eleição) em novembro”, escreveu Parscale em sua conta no Twitter.
Do outro lado, o Comitê Nacional Democrata afirma que as peças comerciais relacionadas ao impeachment são 70% mais eficientes do que a média dos outros anúncios. Mesmo assim, muitos estrategistas do partido preferem virar logo a página e mudar de assunto, focando a campanha em temas mais favoráveis, como seguro de saúde e imigração.
Sem saída.
O processo de impeachment foi motivado pela pressão de Trump sobre o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski. Em um telefonema ao ucraniano, em julho, o americano pediu uma investigação sobre o democrata Joe Biden e o filho dele, Hunter. Biden foi vice-presidente de Barack Obama e é o principal rival de Trump na eleição presidencial de 2020.
A Casa Branca aceitou divulgar a transcrição da conversa em setembro. Na ocasião, os democratas também descobriram que Trump – além da investigação sobre Biden – havia condicionado o envio de US$ 391 milhões em ajuda militar para a Ucrânia a um encontro pedido por Zelenski.
No dia 24 de setembro, a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, que vinha rejeitando os pedidos de impeachment feitos pela ala mais radical do partido, anunciou finalmente a abertura do processo. “O presidente precisa ser responsabilizado pelos seus atos”, disse Pelosi. “Ninguém está acima da lei.”
Os três meses seguintes foram preenchidos por depoimentos a portas fechadas e intimações não cumpridas pela Casa Branca – que vetou a liberação de documentos e proibiu assessores de testemunhar. Há duas semanas, os democratas aceleraram o processo para concluir o inquérito antes do recesso de fim de ano.
A liderança do partido quis evitar que o impeachment se arrastasse no Congresso e atrapalhasse a temporada de primárias, que começa em fevereiro. Muitos senadores democratas são pré-candidatos à Casa Branca e um debate desgastante no Senado poderia atrapalhar a campanha.