Congressistas do Partido Republicano estão começando a reconhecer a realidade, mas a maioria ainda afirma que não pressionará Donald Trump para iniciar o processo de transição presidencial. Quase duas semanas após a eleição, há sinais de que os republicanos começam a aceitar a derrota.
A campanha do presidente Trump para reverter sua derrota eleitoral desmorona ao seu redor e não há possibilidade de que ele possa reverter margens de mais de 10 mil votos nos cinco Estados em que ganhou em 2016, mas onde perdeu desta vez.
A maioria dos republicanos reluta em contradizer a afirmação de Trump de que ele ainda pode ocupar a Casa Branca, mas cada vez mais congressistas estão se descolando da falsa alegação de que Trump foi roubado, temendo os efeitos disso em seu próprio eleitorado.
Depois que Trump tuitou na segunda que venceu a eleição, o senador Roger Wicker, do Mississippi, disse aos repórteres: "Eu não teria aconselhado que ele colocasse as coisas dessa maneira."
O senador John Cornyn, republicano do Texas, disse que Trump pode e deve continuar seus desafios jurídicos, mas tem "toda a confiança de que no dia 20 de janeiro teremos a posse de um presidente. E provavelmente será Joe Biden".
Marco Rubio, republicano da Flórida e presidente do Comitê de Inteligência do Senado, referiu-se a Biden como o presidente eleito: "É isso que os resultados parecem indicar, e certamente temos que antecipar que é o mais provável neste ponto".
“Temos que presumir agora, com base na contagem eleitoral atual, que estamos nos aproximando do ponto em que os fatos confirmarão isso”, disse o senador Mike Rounds, da Dakota do Sul, quando questionado sobre os processos de Trump. “Parece que o presidente será Biden. Nós entendemos isso".
“O vice-presidente Biden deve receber instruções e a transição deve estar em andamento para que haja uma infraestrutura para isso. E se ele acabar ganhando, como parece provável que vá, não terá que começar a trabalhar apenas em janeiro", disse o senador Kevin Cramer, republicano de Dakota do Norte.
Preocupação com a Geórgia
A relutância de Trump em aceitar os resultados está fazendo com algumas lideranças fiquem cada vez mais procupadas com a capacidade do partido de vencer adversários democratas nas duas eleições de segundo turno do Senado da Geórgia - e descreveram o presidente Trump como um “fardo político”. Muitos começam a admitir a vitória de Biden e dizer que o bloqueio de Trump para uma transição pacífica é um erro.
As avaliações mais contundentes foram feitas em 10 de novembro com doadores em encontro virtual do Comitê Senatorial Republicano Nacional. O encontro apresentou os incumbentes do Partido Republicano, David Perdue e Kelly Loeffler, enfrentando dificuldades na corrida pelo Senado na Geórgia.
Karl Rove, um estrategista veterano que está coordenando a arrecadação de fundos para o segundo turno, criticou Trump. Enquanto o presidente insiste que ganhou a eleição fazendo alegações infundadas de fraude eleitoral e crescentes contestações legais, os republicanos retrataram no encontro esses esforços como um protesto compreensível, mas inútil.
“O que teremos de fazer é garantir que obteremos todos os votos da eleição geral e recuperá-los”, disse Perdue. “Isso é sempre uma coisa difícil de fazer em um ano presidencial, especialmente este ano, dado que o presidente Trump parece não ser capaz de resistir mais.”
Perdue acrescentou que apoia Trump e sua disputa pelos resultados em vários Estados, mas se mostra preocupado. "Estamos presumindo que ficaremos aqui sozinhos. E isso significa que temos que obter a votação, não importa qual seja o resultado desses processos, e a recontagem em dois Estados".
Perdue enfrentou o "voto anti-Trump na Geórgia" no primeiro turno e disse que o segundo turno é sobre conseguir "republicanos conservadores suficientes para votar" nos subúrbios de Atlanta e em outros lugares que poderiam se opor à reeleição do presidente.
A abordagem delicada de Perdue - estando com Trump, mas reconhecendo que o tempo do presidente no poder pode estar diminuindo - se estendeu a outros no encontro online, que tentaram equilibrar a lealdade a Trump com a apreensão sobre o que é necessário na Geórgia para salvar a maioria republicana no Senado.
"Estou presumindo o pior, mas esperando o melhor. E o pior cenário é que temos um democrata na Casa Branca, que temos Nancy Pelosi ainda com as mãos no martelo do Congresso, o que parece quase uma certeza", disse o senador Todd Young, de Indiana.
Biden venceu a Geórgia por cerca de 14 mil votos - a primeira vez que um candidato presidencial democrata venceu lá desde 1992 - e uma recontagem manual está em andamento. Ambos os senadores pediram que o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, um republicano, renuncie por não ter sido "transparente", sem citar nada que ele possa ter feito de errado.
Angústia
O encontro online deixou clara a angústia do partido com a campanha que ocorre sob a nuvem da recontagem presidencial da Geórgia e a recusa de Trump em assumir a derrota, enquanto democratas parecem encorajados pela vitória de Biden no Estado.
Alguns participantes expressaram preocupação especial com o eleitorado em rápida mudança da Geórgia, impulsionado pela região metropolitana de Atlanta, cada vez mais liberal, e a campanha de Stacey Abrams, candidata ao governo do Estado em 2018, para conquistar mais eleitores democratas.
Os democratas esperam que o candidato que desafiou Loeffler no segundo turno, o reverendo Raphael Warnock - o pastor da icônica Igreja Batista Ebenezer de Atlanta, onde o reverendo Martin Luther King Jr. pregou - ajude a energizar os eleitores negros.
“Eles mudaram a face do eleitorado na Geórgia. Muitos desses novos eleitores são da Califórnia, Illinois, Nova York, Nova Jersey, e eles não são conservadores”, disse Perdue na teleconferência. Loeffler e Perdue expuseram suas estratégias para as semanas finais, com ênfase em fazer ataques incendiários aos democratas e reunir a base do Partido Republicano na Geórgia, de maioria branca.
“Temos que reverter o momento”, disse Karl Rove na ligação enquanto instava os doadores a se organizarem rapidamente e juntarem dinheiro para o segundo turno. Ele também os avisou que o bilionário democrata Mike Bloomberg, o ex-prefeito de Nova York, “vai jogar 20 milhões de dólares em nossas cabeças”.
Rove questionou: “A questão é: teremos dinheiro suficiente? Vamos ter mais dinheiro?" O estrategista alertou que os republicanos devem prestar muita atenção em Abrams e garantir que os eleitores do Partido Republicano apareçam em janeiro. “Teremos um grande problema com as cédulas de correio que Stacey Abrams vem trabalhando há anos”, afirmou. / Washington Post e NYT