Resistir na cadeia ou militar no exterior: opositores de Putin debatem qual melhor estratégia


Repressão contra opositores cresce na Rússia após guerra na Ucrânia e força oposição a repensar estratégias

Por Valerie Hopkins

Pouco depois da Rússia chocar o mundo iniciando seu ataque contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Ilia Yashin, vereador de Moscou e proeminente figura da oposição, decidiu que era hora de ir ao dentista.

O Kremlin empreendia o processo de criminalizar críticas contra a guerra, e Yashin, um crítico bastante franco, decidiu ficar em seu país e continuar a fazer oposição ao presidente Vladimir Putin. Acabar na cadeia, ponderou ele, era algo muito provável.

“Morro de medo de dentistas, honestamente”, afirmou Yashin em uma entrevista recente publicada no YouTube, “mas me controlei e fui à consulta porque me dei conta de que, se eu acabasse na cadeia, não haveria dentistas por lá”.

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Imagem do dia 27 de fevereiro deste ano mostra Ilia Yashin deixando flores em local onde opositor russo Boris Nemtsov foi morto a tiros em 2015, em Moscou Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Duas semanas depois da entrevista ser postada, Yashin, de 39 anos, de fato foi preso. Ele está sob prisão preventiva e aguarda julgamento, em Moscou, acusado de “disseminar informação falsa” sobre a guerra. E poderá ser sentenciado a até 10 anos de cadeia.

A prisão de Yashin sublinhou o veloz processo de sufocamento das vias da dissidência dentro da Rússia, à medida que Putin reprime qualquer divergência em relação à narrativa oficial a respeito da invasão. Além disso, o caso reacendeu o debate entre a oposição na Rússia sobre como figuras proeminentes como Yashin podem servir melhor à causa de minar Putin: fora do país que eles querem reformar, ou dentro de uma colônia penal?

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Yashin continua convencido de que fez a escolha certa. “Que crime eu cometi?”, perguntou ele retoricamente em uma carta escrita a mão dentro da prisão e enviada ao New York Times. “No meu canal de YouTube, critiquei a operação militar especial na Ucrânia e qualifiquei o que está acontecendo abertamente como guerra.”

Mas algumas figuras da oposição discordam, afirmando que ficar no país para lutar pode parecer um ato de coragem, mas a prisão é uma plataforma ineficaz para impulsionar reformas.

“Yashin é destemido — é um lutador, é corajoso”, afirmou Dmitri Gudkov, líder opositor russo que deixou a Rússia no ano passado. “Tenho certeza que ele não vai recuar”, continuou ele. “Mas estou triste porque ele vai desperdiçar a própria vida. Isso não é compreensível.”

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Policiais russos em marcha na Praça Vermelha de Moscou em imagem do dia 2 de fevereiro de 2021. Após início da guerra na Ucrânia, repressão contra opositores cresceu na Rússia Foto: Sergey Ponomarev / NYT

Gudkov partiu para o exílio depois do que descreveu como “ameaças críveis” de que um caso criminal que corre contra ele resultaria em cadeia. Gudkov afirmou que encorajou Yashin, seu amigo de longa data, a também partir para o exílio.

Yevgenia Albats, jornalista e amiga de Yashin que também decidiu ficar, assumiu a posição oposta, afirmando que é impossível se envolver com política a partir do exterior.

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“Você não pode ser um político russo em Nova York, em Manhattan”, afirmou Albats em entrevista por telefone, falando de Moscou. “Você não pode se dizer um político russo e viver em Londres.” Ainda assim, admitiu ela, “Os riscos são muito elevados e estão aumentando ainda mais”.

Yashin também reconheceu isso na entrevista postada no YouTube pouco antes de sua prisão, concedida para o jornalista russo Yuri Dud. “Estou ciente de que cada dia poderá ser meu último como um homem livre”, afirmou ele.

Posteriormente ele escreveu nas redes sociais que acreditava que sua clara recusa em deixar o país, expressa naquela entrevista, foi o que provocou sua prisão.

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Na carta que ele mandou para o Times, que foi escaneada e enviada ao jornal na semana passada, Yashin escreveu que as “prisões (russas) estão sendo rapidamente lotadas com prisioneiros políticos”, porque Putin se sente ameaçado.

Líder da oposição russa, Alexei Nalvani, em audição no tribunal de Moscou em imagem de 28 de fevereiro de 2021. Para opositores que escolheram ficar na Rússia após invasão na Ucrânia, prisão parece uma questão de tempo Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Essas duras repressões”, escreveu Yashin, “confirmam indiretamente que a atual campanha militar é desprovida de legitimidade”.

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Após o início da invasão, em fevereiro, Yashin continuou a denunciar o governo de Putin fazendo transmissões ao vivo regulares em seu canal no YouTube, nas quais criticava o poder dos serviços de segurança na Rússia. Ele também documentou uma visita que fez ao opositor russo mais proeminente, Alexei Navalni, na penitenciária onde ele está preso, e citou uma reportagem da BBC a respeito das atrocidades cometidas pelas forças russas em Bucha – o que constituiu a base da acusação por disseminação de informação falsa a que Yashin responde.

As únicas opções que restam para os políticos russos de oposição atualmente são “emigrar ou ser preso”, afirmou Liubov Sobol, que foi forçada a emigrar depois que seu chefe, Navalni, sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento, retornou para a Rússia e foi preso assim que chegou ao país. Yashin foi ao dentista atendendo um conselho de Navalni.

Mesmo preso, Navalni continua influente. A grande equipe que ele reuniu antes de ir para a cadeia se reconstituiu no exterior. Observadores afirmam que manter um perfil público dessa magnitude de dentro da prisão requer um grande aparato, como o de Navalni; até aqui, Yashin tem conseguido contrabandear para o mundo exterior mensagens que são postadas posteriormente nas redes sociais.

Sobol, que é advogada, afirmou que não pode criticar um colega que está na cadeia. Mas afirmou que ninguém na Rússia tem capacidade para substituir Yashin, seja no YouTube ou na arena política.

Jornalistas e funcionários da indústria de tecnologia que deixaram a Rússia em encontro em Istambul, no dia 12 de março deste ano Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Ele tinha um canal no YouTube de alcance imenso, uma enorme audiência que confiava nele”, afirmou ela sobre Yashin, que tem 1,3 milhão de seguidores. “Conheço muita gente que mandava os vídeos deles para os avós, que mudavam de ideia em relação à propaganda russa porque ele falava numa linguagem muito simples, inteligente e adequada”.

“Não há mais ninguém” na Rússia neste momento capaz de fazer isso, afirmou ela.

Yashin atua na política desde os 17 anos, quando Putin ascendia ao poder, e cresceu rapidamente, passando a liderar o comitê da juventude do partido progressista Yabloko. Quando o Yabloko republicou uma tradução do romance distópico de George Orwell “1984″, Yashin escreveu a introdução, alertando que a “era do Grande Irmão” havia começado na Rússia.

Eventualmente ele ficou próximo do político de oposição Boris Nemtsov, que foi morto a tiros em Moscou, em 2015, por assassinos ligados, acredita-se, a Ramzan Kadirov, o homem-forte que lidera a região russa da Chechênia desde 2007. Quando foi assassinado, Nemtsov estava compilando um relatório a respeito do envolvimento de soldados russos na guerra que irrompeu no leste da Ucrânia em 2014. Yashin terminou o relatório e o publicou, tornando-se um dos poucos políticos russos dispostos a criticar abertamente o líder checheno.

Em 2017, Yashin e outros candidatos aliados de oposição conquistaram 7 dos 10 assentos da legislatura local do Distrito de Krasnoselski, em Moscou.

Em uma mensagem publicada no aplicativo de rede social Telegram na terça-feira, Yashin qualificou a decisão de ficar na Rússia como “muito difícil, mas correta”.

“Agora as pessoas veem: Não estamos fugindo para lugar nenhum, estamos aqui resistindo e compartilhamos do destino do nosso país”, escreveu ele. “Isso torna nossas palavras mais valorosas e fortalece nossos argumentos. Mais importante ainda, nos dá a chance de reconquistar nossa pátria-mãe. Afinal, o vencedor não será quem é mais forte agora, mas quem estiver disposto a ir até o fim.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Pouco depois da Rússia chocar o mundo iniciando seu ataque contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Ilia Yashin, vereador de Moscou e proeminente figura da oposição, decidiu que era hora de ir ao dentista.

O Kremlin empreendia o processo de criminalizar críticas contra a guerra, e Yashin, um crítico bastante franco, decidiu ficar em seu país e continuar a fazer oposição ao presidente Vladimir Putin. Acabar na cadeia, ponderou ele, era algo muito provável.

“Morro de medo de dentistas, honestamente”, afirmou Yashin em uma entrevista recente publicada no YouTube, “mas me controlei e fui à consulta porque me dei conta de que, se eu acabasse na cadeia, não haveria dentistas por lá”.

Imagem do dia 27 de fevereiro deste ano mostra Ilia Yashin deixando flores em local onde opositor russo Boris Nemtsov foi morto a tiros em 2015, em Moscou Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Duas semanas depois da entrevista ser postada, Yashin, de 39 anos, de fato foi preso. Ele está sob prisão preventiva e aguarda julgamento, em Moscou, acusado de “disseminar informação falsa” sobre a guerra. E poderá ser sentenciado a até 10 anos de cadeia.

A prisão de Yashin sublinhou o veloz processo de sufocamento das vias da dissidência dentro da Rússia, à medida que Putin reprime qualquer divergência em relação à narrativa oficial a respeito da invasão. Além disso, o caso reacendeu o debate entre a oposição na Rússia sobre como figuras proeminentes como Yashin podem servir melhor à causa de minar Putin: fora do país que eles querem reformar, ou dentro de uma colônia penal?

Yashin continua convencido de que fez a escolha certa. “Que crime eu cometi?”, perguntou ele retoricamente em uma carta escrita a mão dentro da prisão e enviada ao New York Times. “No meu canal de YouTube, critiquei a operação militar especial na Ucrânia e qualifiquei o que está acontecendo abertamente como guerra.”

Mas algumas figuras da oposição discordam, afirmando que ficar no país para lutar pode parecer um ato de coragem, mas a prisão é uma plataforma ineficaz para impulsionar reformas.

“Yashin é destemido — é um lutador, é corajoso”, afirmou Dmitri Gudkov, líder opositor russo que deixou a Rússia no ano passado. “Tenho certeza que ele não vai recuar”, continuou ele. “Mas estou triste porque ele vai desperdiçar a própria vida. Isso não é compreensível.”

Policiais russos em marcha na Praça Vermelha de Moscou em imagem do dia 2 de fevereiro de 2021. Após início da guerra na Ucrânia, repressão contra opositores cresceu na Rússia Foto: Sergey Ponomarev / NYT

Gudkov partiu para o exílio depois do que descreveu como “ameaças críveis” de que um caso criminal que corre contra ele resultaria em cadeia. Gudkov afirmou que encorajou Yashin, seu amigo de longa data, a também partir para o exílio.

Yevgenia Albats, jornalista e amiga de Yashin que também decidiu ficar, assumiu a posição oposta, afirmando que é impossível se envolver com política a partir do exterior.

“Você não pode ser um político russo em Nova York, em Manhattan”, afirmou Albats em entrevista por telefone, falando de Moscou. “Você não pode se dizer um político russo e viver em Londres.” Ainda assim, admitiu ela, “Os riscos são muito elevados e estão aumentando ainda mais”.

Yashin também reconheceu isso na entrevista postada no YouTube pouco antes de sua prisão, concedida para o jornalista russo Yuri Dud. “Estou ciente de que cada dia poderá ser meu último como um homem livre”, afirmou ele.

Posteriormente ele escreveu nas redes sociais que acreditava que sua clara recusa em deixar o país, expressa naquela entrevista, foi o que provocou sua prisão.

Na carta que ele mandou para o Times, que foi escaneada e enviada ao jornal na semana passada, Yashin escreveu que as “prisões (russas) estão sendo rapidamente lotadas com prisioneiros políticos”, porque Putin se sente ameaçado.

Líder da oposição russa, Alexei Nalvani, em audição no tribunal de Moscou em imagem de 28 de fevereiro de 2021. Para opositores que escolheram ficar na Rússia após invasão na Ucrânia, prisão parece uma questão de tempo Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Essas duras repressões”, escreveu Yashin, “confirmam indiretamente que a atual campanha militar é desprovida de legitimidade”.

Após o início da invasão, em fevereiro, Yashin continuou a denunciar o governo de Putin fazendo transmissões ao vivo regulares em seu canal no YouTube, nas quais criticava o poder dos serviços de segurança na Rússia. Ele também documentou uma visita que fez ao opositor russo mais proeminente, Alexei Navalni, na penitenciária onde ele está preso, e citou uma reportagem da BBC a respeito das atrocidades cometidas pelas forças russas em Bucha – o que constituiu a base da acusação por disseminação de informação falsa a que Yashin responde.

As únicas opções que restam para os políticos russos de oposição atualmente são “emigrar ou ser preso”, afirmou Liubov Sobol, que foi forçada a emigrar depois que seu chefe, Navalni, sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento, retornou para a Rússia e foi preso assim que chegou ao país. Yashin foi ao dentista atendendo um conselho de Navalni.

Mesmo preso, Navalni continua influente. A grande equipe que ele reuniu antes de ir para a cadeia se reconstituiu no exterior. Observadores afirmam que manter um perfil público dessa magnitude de dentro da prisão requer um grande aparato, como o de Navalni; até aqui, Yashin tem conseguido contrabandear para o mundo exterior mensagens que são postadas posteriormente nas redes sociais.

Sobol, que é advogada, afirmou que não pode criticar um colega que está na cadeia. Mas afirmou que ninguém na Rússia tem capacidade para substituir Yashin, seja no YouTube ou na arena política.

Jornalistas e funcionários da indústria de tecnologia que deixaram a Rússia em encontro em Istambul, no dia 12 de março deste ano Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Ele tinha um canal no YouTube de alcance imenso, uma enorme audiência que confiava nele”, afirmou ela sobre Yashin, que tem 1,3 milhão de seguidores. “Conheço muita gente que mandava os vídeos deles para os avós, que mudavam de ideia em relação à propaganda russa porque ele falava numa linguagem muito simples, inteligente e adequada”.

“Não há mais ninguém” na Rússia neste momento capaz de fazer isso, afirmou ela.

Yashin atua na política desde os 17 anos, quando Putin ascendia ao poder, e cresceu rapidamente, passando a liderar o comitê da juventude do partido progressista Yabloko. Quando o Yabloko republicou uma tradução do romance distópico de George Orwell “1984″, Yashin escreveu a introdução, alertando que a “era do Grande Irmão” havia começado na Rússia.

Eventualmente ele ficou próximo do político de oposição Boris Nemtsov, que foi morto a tiros em Moscou, em 2015, por assassinos ligados, acredita-se, a Ramzan Kadirov, o homem-forte que lidera a região russa da Chechênia desde 2007. Quando foi assassinado, Nemtsov estava compilando um relatório a respeito do envolvimento de soldados russos na guerra que irrompeu no leste da Ucrânia em 2014. Yashin terminou o relatório e o publicou, tornando-se um dos poucos políticos russos dispostos a criticar abertamente o líder checheno.

Em 2017, Yashin e outros candidatos aliados de oposição conquistaram 7 dos 10 assentos da legislatura local do Distrito de Krasnoselski, em Moscou.

Em uma mensagem publicada no aplicativo de rede social Telegram na terça-feira, Yashin qualificou a decisão de ficar na Rússia como “muito difícil, mas correta”.

“Agora as pessoas veem: Não estamos fugindo para lugar nenhum, estamos aqui resistindo e compartilhamos do destino do nosso país”, escreveu ele. “Isso torna nossas palavras mais valorosas e fortalece nossos argumentos. Mais importante ainda, nos dá a chance de reconquistar nossa pátria-mãe. Afinal, o vencedor não será quem é mais forte agora, mas quem estiver disposto a ir até o fim.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Pouco depois da Rússia chocar o mundo iniciando seu ataque contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Ilia Yashin, vereador de Moscou e proeminente figura da oposição, decidiu que era hora de ir ao dentista.

O Kremlin empreendia o processo de criminalizar críticas contra a guerra, e Yashin, um crítico bastante franco, decidiu ficar em seu país e continuar a fazer oposição ao presidente Vladimir Putin. Acabar na cadeia, ponderou ele, era algo muito provável.

“Morro de medo de dentistas, honestamente”, afirmou Yashin em uma entrevista recente publicada no YouTube, “mas me controlei e fui à consulta porque me dei conta de que, se eu acabasse na cadeia, não haveria dentistas por lá”.

Imagem do dia 27 de fevereiro deste ano mostra Ilia Yashin deixando flores em local onde opositor russo Boris Nemtsov foi morto a tiros em 2015, em Moscou Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Duas semanas depois da entrevista ser postada, Yashin, de 39 anos, de fato foi preso. Ele está sob prisão preventiva e aguarda julgamento, em Moscou, acusado de “disseminar informação falsa” sobre a guerra. E poderá ser sentenciado a até 10 anos de cadeia.

A prisão de Yashin sublinhou o veloz processo de sufocamento das vias da dissidência dentro da Rússia, à medida que Putin reprime qualquer divergência em relação à narrativa oficial a respeito da invasão. Além disso, o caso reacendeu o debate entre a oposição na Rússia sobre como figuras proeminentes como Yashin podem servir melhor à causa de minar Putin: fora do país que eles querem reformar, ou dentro de uma colônia penal?

Yashin continua convencido de que fez a escolha certa. “Que crime eu cometi?”, perguntou ele retoricamente em uma carta escrita a mão dentro da prisão e enviada ao New York Times. “No meu canal de YouTube, critiquei a operação militar especial na Ucrânia e qualifiquei o que está acontecendo abertamente como guerra.”

Mas algumas figuras da oposição discordam, afirmando que ficar no país para lutar pode parecer um ato de coragem, mas a prisão é uma plataforma ineficaz para impulsionar reformas.

“Yashin é destemido — é um lutador, é corajoso”, afirmou Dmitri Gudkov, líder opositor russo que deixou a Rússia no ano passado. “Tenho certeza que ele não vai recuar”, continuou ele. “Mas estou triste porque ele vai desperdiçar a própria vida. Isso não é compreensível.”

Policiais russos em marcha na Praça Vermelha de Moscou em imagem do dia 2 de fevereiro de 2021. Após início da guerra na Ucrânia, repressão contra opositores cresceu na Rússia Foto: Sergey Ponomarev / NYT

Gudkov partiu para o exílio depois do que descreveu como “ameaças críveis” de que um caso criminal que corre contra ele resultaria em cadeia. Gudkov afirmou que encorajou Yashin, seu amigo de longa data, a também partir para o exílio.

Yevgenia Albats, jornalista e amiga de Yashin que também decidiu ficar, assumiu a posição oposta, afirmando que é impossível se envolver com política a partir do exterior.

“Você não pode ser um político russo em Nova York, em Manhattan”, afirmou Albats em entrevista por telefone, falando de Moscou. “Você não pode se dizer um político russo e viver em Londres.” Ainda assim, admitiu ela, “Os riscos são muito elevados e estão aumentando ainda mais”.

Yashin também reconheceu isso na entrevista postada no YouTube pouco antes de sua prisão, concedida para o jornalista russo Yuri Dud. “Estou ciente de que cada dia poderá ser meu último como um homem livre”, afirmou ele.

Posteriormente ele escreveu nas redes sociais que acreditava que sua clara recusa em deixar o país, expressa naquela entrevista, foi o que provocou sua prisão.

Na carta que ele mandou para o Times, que foi escaneada e enviada ao jornal na semana passada, Yashin escreveu que as “prisões (russas) estão sendo rapidamente lotadas com prisioneiros políticos”, porque Putin se sente ameaçado.

Líder da oposição russa, Alexei Nalvani, em audição no tribunal de Moscou em imagem de 28 de fevereiro de 2021. Para opositores que escolheram ficar na Rússia após invasão na Ucrânia, prisão parece uma questão de tempo Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Essas duras repressões”, escreveu Yashin, “confirmam indiretamente que a atual campanha militar é desprovida de legitimidade”.

Após o início da invasão, em fevereiro, Yashin continuou a denunciar o governo de Putin fazendo transmissões ao vivo regulares em seu canal no YouTube, nas quais criticava o poder dos serviços de segurança na Rússia. Ele também documentou uma visita que fez ao opositor russo mais proeminente, Alexei Navalni, na penitenciária onde ele está preso, e citou uma reportagem da BBC a respeito das atrocidades cometidas pelas forças russas em Bucha – o que constituiu a base da acusação por disseminação de informação falsa a que Yashin responde.

As únicas opções que restam para os políticos russos de oposição atualmente são “emigrar ou ser preso”, afirmou Liubov Sobol, que foi forçada a emigrar depois que seu chefe, Navalni, sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento, retornou para a Rússia e foi preso assim que chegou ao país. Yashin foi ao dentista atendendo um conselho de Navalni.

Mesmo preso, Navalni continua influente. A grande equipe que ele reuniu antes de ir para a cadeia se reconstituiu no exterior. Observadores afirmam que manter um perfil público dessa magnitude de dentro da prisão requer um grande aparato, como o de Navalni; até aqui, Yashin tem conseguido contrabandear para o mundo exterior mensagens que são postadas posteriormente nas redes sociais.

Sobol, que é advogada, afirmou que não pode criticar um colega que está na cadeia. Mas afirmou que ninguém na Rússia tem capacidade para substituir Yashin, seja no YouTube ou na arena política.

Jornalistas e funcionários da indústria de tecnologia que deixaram a Rússia em encontro em Istambul, no dia 12 de março deste ano Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Ele tinha um canal no YouTube de alcance imenso, uma enorme audiência que confiava nele”, afirmou ela sobre Yashin, que tem 1,3 milhão de seguidores. “Conheço muita gente que mandava os vídeos deles para os avós, que mudavam de ideia em relação à propaganda russa porque ele falava numa linguagem muito simples, inteligente e adequada”.

“Não há mais ninguém” na Rússia neste momento capaz de fazer isso, afirmou ela.

Yashin atua na política desde os 17 anos, quando Putin ascendia ao poder, e cresceu rapidamente, passando a liderar o comitê da juventude do partido progressista Yabloko. Quando o Yabloko republicou uma tradução do romance distópico de George Orwell “1984″, Yashin escreveu a introdução, alertando que a “era do Grande Irmão” havia começado na Rússia.

Eventualmente ele ficou próximo do político de oposição Boris Nemtsov, que foi morto a tiros em Moscou, em 2015, por assassinos ligados, acredita-se, a Ramzan Kadirov, o homem-forte que lidera a região russa da Chechênia desde 2007. Quando foi assassinado, Nemtsov estava compilando um relatório a respeito do envolvimento de soldados russos na guerra que irrompeu no leste da Ucrânia em 2014. Yashin terminou o relatório e o publicou, tornando-se um dos poucos políticos russos dispostos a criticar abertamente o líder checheno.

Em 2017, Yashin e outros candidatos aliados de oposição conquistaram 7 dos 10 assentos da legislatura local do Distrito de Krasnoselski, em Moscou.

Em uma mensagem publicada no aplicativo de rede social Telegram na terça-feira, Yashin qualificou a decisão de ficar na Rússia como “muito difícil, mas correta”.

“Agora as pessoas veem: Não estamos fugindo para lugar nenhum, estamos aqui resistindo e compartilhamos do destino do nosso país”, escreveu ele. “Isso torna nossas palavras mais valorosas e fortalece nossos argumentos. Mais importante ainda, nos dá a chance de reconquistar nossa pátria-mãe. Afinal, o vencedor não será quem é mais forte agora, mas quem estiver disposto a ir até o fim.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Pouco depois da Rússia chocar o mundo iniciando seu ataque contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Ilia Yashin, vereador de Moscou e proeminente figura da oposição, decidiu que era hora de ir ao dentista.

O Kremlin empreendia o processo de criminalizar críticas contra a guerra, e Yashin, um crítico bastante franco, decidiu ficar em seu país e continuar a fazer oposição ao presidente Vladimir Putin. Acabar na cadeia, ponderou ele, era algo muito provável.

“Morro de medo de dentistas, honestamente”, afirmou Yashin em uma entrevista recente publicada no YouTube, “mas me controlei e fui à consulta porque me dei conta de que, se eu acabasse na cadeia, não haveria dentistas por lá”.

Imagem do dia 27 de fevereiro deste ano mostra Ilia Yashin deixando flores em local onde opositor russo Boris Nemtsov foi morto a tiros em 2015, em Moscou Foto: Sergey Ponomarev/The New York Times

Duas semanas depois da entrevista ser postada, Yashin, de 39 anos, de fato foi preso. Ele está sob prisão preventiva e aguarda julgamento, em Moscou, acusado de “disseminar informação falsa” sobre a guerra. E poderá ser sentenciado a até 10 anos de cadeia.

A prisão de Yashin sublinhou o veloz processo de sufocamento das vias da dissidência dentro da Rússia, à medida que Putin reprime qualquer divergência em relação à narrativa oficial a respeito da invasão. Além disso, o caso reacendeu o debate entre a oposição na Rússia sobre como figuras proeminentes como Yashin podem servir melhor à causa de minar Putin: fora do país que eles querem reformar, ou dentro de uma colônia penal?

Yashin continua convencido de que fez a escolha certa. “Que crime eu cometi?”, perguntou ele retoricamente em uma carta escrita a mão dentro da prisão e enviada ao New York Times. “No meu canal de YouTube, critiquei a operação militar especial na Ucrânia e qualifiquei o que está acontecendo abertamente como guerra.”

Mas algumas figuras da oposição discordam, afirmando que ficar no país para lutar pode parecer um ato de coragem, mas a prisão é uma plataforma ineficaz para impulsionar reformas.

“Yashin é destemido — é um lutador, é corajoso”, afirmou Dmitri Gudkov, líder opositor russo que deixou a Rússia no ano passado. “Tenho certeza que ele não vai recuar”, continuou ele. “Mas estou triste porque ele vai desperdiçar a própria vida. Isso não é compreensível.”

Policiais russos em marcha na Praça Vermelha de Moscou em imagem do dia 2 de fevereiro de 2021. Após início da guerra na Ucrânia, repressão contra opositores cresceu na Rússia Foto: Sergey Ponomarev / NYT

Gudkov partiu para o exílio depois do que descreveu como “ameaças críveis” de que um caso criminal que corre contra ele resultaria em cadeia. Gudkov afirmou que encorajou Yashin, seu amigo de longa data, a também partir para o exílio.

Yevgenia Albats, jornalista e amiga de Yashin que também decidiu ficar, assumiu a posição oposta, afirmando que é impossível se envolver com política a partir do exterior.

“Você não pode ser um político russo em Nova York, em Manhattan”, afirmou Albats em entrevista por telefone, falando de Moscou. “Você não pode se dizer um político russo e viver em Londres.” Ainda assim, admitiu ela, “Os riscos são muito elevados e estão aumentando ainda mais”.

Yashin também reconheceu isso na entrevista postada no YouTube pouco antes de sua prisão, concedida para o jornalista russo Yuri Dud. “Estou ciente de que cada dia poderá ser meu último como um homem livre”, afirmou ele.

Posteriormente ele escreveu nas redes sociais que acreditava que sua clara recusa em deixar o país, expressa naquela entrevista, foi o que provocou sua prisão.

Na carta que ele mandou para o Times, que foi escaneada e enviada ao jornal na semana passada, Yashin escreveu que as “prisões (russas) estão sendo rapidamente lotadas com prisioneiros políticos”, porque Putin se sente ameaçado.

Líder da oposição russa, Alexei Nalvani, em audição no tribunal de Moscou em imagem de 28 de fevereiro de 2021. Para opositores que escolheram ficar na Rússia após invasão na Ucrânia, prisão parece uma questão de tempo Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Essas duras repressões”, escreveu Yashin, “confirmam indiretamente que a atual campanha militar é desprovida de legitimidade”.

Após o início da invasão, em fevereiro, Yashin continuou a denunciar o governo de Putin fazendo transmissões ao vivo regulares em seu canal no YouTube, nas quais criticava o poder dos serviços de segurança na Rússia. Ele também documentou uma visita que fez ao opositor russo mais proeminente, Alexei Navalni, na penitenciária onde ele está preso, e citou uma reportagem da BBC a respeito das atrocidades cometidas pelas forças russas em Bucha – o que constituiu a base da acusação por disseminação de informação falsa a que Yashin responde.

As únicas opções que restam para os políticos russos de oposição atualmente são “emigrar ou ser preso”, afirmou Liubov Sobol, que foi forçada a emigrar depois que seu chefe, Navalni, sobreviveu a uma tentativa de assassinato por envenenamento, retornou para a Rússia e foi preso assim que chegou ao país. Yashin foi ao dentista atendendo um conselho de Navalni.

Mesmo preso, Navalni continua influente. A grande equipe que ele reuniu antes de ir para a cadeia se reconstituiu no exterior. Observadores afirmam que manter um perfil público dessa magnitude de dentro da prisão requer um grande aparato, como o de Navalni; até aqui, Yashin tem conseguido contrabandear para o mundo exterior mensagens que são postadas posteriormente nas redes sociais.

Sobol, que é advogada, afirmou que não pode criticar um colega que está na cadeia. Mas afirmou que ninguém na Rússia tem capacidade para substituir Yashin, seja no YouTube ou na arena política.

Jornalistas e funcionários da indústria de tecnologia que deixaram a Rússia em encontro em Istambul, no dia 12 de março deste ano Foto: Sergey Ponomarev / NYT

“Ele tinha um canal no YouTube de alcance imenso, uma enorme audiência que confiava nele”, afirmou ela sobre Yashin, que tem 1,3 milhão de seguidores. “Conheço muita gente que mandava os vídeos deles para os avós, que mudavam de ideia em relação à propaganda russa porque ele falava numa linguagem muito simples, inteligente e adequada”.

“Não há mais ninguém” na Rússia neste momento capaz de fazer isso, afirmou ela.

Yashin atua na política desde os 17 anos, quando Putin ascendia ao poder, e cresceu rapidamente, passando a liderar o comitê da juventude do partido progressista Yabloko. Quando o Yabloko republicou uma tradução do romance distópico de George Orwell “1984″, Yashin escreveu a introdução, alertando que a “era do Grande Irmão” havia começado na Rússia.

Eventualmente ele ficou próximo do político de oposição Boris Nemtsov, que foi morto a tiros em Moscou, em 2015, por assassinos ligados, acredita-se, a Ramzan Kadirov, o homem-forte que lidera a região russa da Chechênia desde 2007. Quando foi assassinado, Nemtsov estava compilando um relatório a respeito do envolvimento de soldados russos na guerra que irrompeu no leste da Ucrânia em 2014. Yashin terminou o relatório e o publicou, tornando-se um dos poucos políticos russos dispostos a criticar abertamente o líder checheno.

Em 2017, Yashin e outros candidatos aliados de oposição conquistaram 7 dos 10 assentos da legislatura local do Distrito de Krasnoselski, em Moscou.

Em uma mensagem publicada no aplicativo de rede social Telegram na terça-feira, Yashin qualificou a decisão de ficar na Rússia como “muito difícil, mas correta”.

“Agora as pessoas veem: Não estamos fugindo para lugar nenhum, estamos aqui resistindo e compartilhamos do destino do nosso país”, escreveu ele. “Isso torna nossas palavras mais valorosas e fortalece nossos argumentos. Mais importante ainda, nos dá a chance de reconquistar nossa pátria-mãe. Afinal, o vencedor não será quem é mais forte agora, mas quem estiver disposto a ir até o fim.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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