Resultado da eleição nos EUA: Trump vence Kamala Harris, volta à Casa Branca e promete ‘era dourada’


Com a vitória, republicano volta à Casa Branca após 4 anos com vitória esmagadora sobre a democrata Kamala Harris, com vitória em 4 dos 7 Estados-pêndulo e mais de 71 milhões de votos

Por Luiz Raatz
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON — Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos. O republicano volta a Casa Branca depois de ter conquistado ao menos 277 delegados no colégio eleitoral e uma ampla vitória no voto popular para derrotar a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, 5.

A projeção dos principais veículos americanos indica que o republicano vai voltar à Casa Branca após obter uma vantagem que não pode ser revertida no Estado de Wisconsin. Trump também já garantiu outros três Estados-pêndulo: Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em Nevada, Arizona e Michigan.

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Antes mesmo de obter os 270 delegados necessários, a vitória de Trump estava desenhada. Ao ganhar a Carolina do Norte, a Geórgia e a Pensilvânia, além dos Estados que usualmente votam nos republicanos, como Texas e Flórida, Trump aproveitou para discursar por aproximadamente 20 minutos em Palm Beach, na Flórida, na madrugada desta quarta-feira, 6.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ao discursar em Palm Beach, na Flórida, momentos antes de garantir os delegados necessários para voltar à Casa Branca  Foto: Evan Vucci/AP
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Em seu discurso, Trump adotou um tom menos agressivo do que o da campanha, mais conciliador. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas”, afirmou Trump. “Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, acrescentou o republicano.

Os principais aliados de Trump e sua família se juntaram ao republicano no palco em Palm Beach. A ex-primeira-dama Melania Trump ficou perto do marido e foi acompanhada por Barron, o filho mais novo do ex-presidente. Os filhos mais velhos de Trump, Don Jr., Eric, Ivanka e Tiffany, também se juntaram ao pai no palco.

Trump não mencionou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em seu discurso, mas sinalizou que quer união entre todos os americanos. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse Trump. “É hora de nos unirmos.”

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Durante o comício, Trump também disse que irá tornar os Estados Unidos um país seguro e próspero, sem a sua retórica agressiva que acompanhou seus comícios durante a campanha. “Alcançamos o acontecimento político mais incrível, a vitória política mais incrível, algo que o nosso país nunca viu antes”, afirmou Trump. O republicano apontou que os resultados eleitorais lhe dão um “grande sentimento de amor” e afirma que a nação lhe deu “um mandato poderoso”.

Desafios de Trump

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O republicano, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em julho, vai governar um país dividido e com severos desafios internos relacionados à imigração, transição energética, acesso ao sistema de saúde e dependência química. Na política externa, Trump terá de lidar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e com a competição econômica e influência cada vez maior da China.

Desta vez, Trump se torna o homem mais velho a ocupar o cargo de presidente, aos 78 anos e 140 dias. Ele supera o antecessor e algoz nas eleições de 2020, Joe Biden. Também é o primeiro desde Groover Cleeveland, em 1893, a voltar à Casa Branca após perder a reeleição e ser eleito depois de uma condenação criminal em primeira instância.

Imagem de 13 de julho mostra Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato em comício em Butler, na Pensilvânia. Republicano volta à Casa Branca após quatro anos Foto: Doug Mills/NYT
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A volta de Trump é uma resposta do eleitor americano a quatro anos de um governo democrata marcado pela alta da inflação, que elevou o custo de vida dos americanos e reaproximou os eleitores do Partido Republicano. Também é um sinal claro de que os eleitores americanos estão mais preocupados com a questão da imigração, tida como fora de controle, do que com outros temas. As acusações criminais contra o ex-presidente, que responde a processos de conspiração contra os EUA, retenção de informações de defesa nacional e suborno, não foram suficientes para minar sua popularidade.

Com uma vitória também no voto popular, com mais de 71 milhões de eleitores, a volta de Trump é um sinal claro de que o eleitor americano apoia a ideia de deportação em massa de imigrantes ilegais, fim da globalização e um basta ao identitarismo que tomou conta da esquerda e dos progressistas americanos.

A campanha do republicano foi marcada por uma retórica mais agressiva contra imigrantes e a memória de bonança econômica de seu primeiro mandato. Trump retomou o movimento Make America Great Again (“Faça a América Grande de Novo”, traduzido em português), que se popularizou na eleição de 2016. Ele promete deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e adotar protecionismo econômico contra rivais americanos, em especial a China. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em diversos comícios.

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O republicano também falou abertamente sobre usar o Departamento de Justiça para perseguir rivais, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Entre eles, estariam a deputada Liz Cheney, Joe Biden e a rival, Kamala Harris. Trump também fez alusão à censura contra a imprensa americana e espalhou durante a campanha mentiras contra imigrantes, como a afirmação de que estariam comendo animais domésticos na cidade de Springfield, em Ohio – o que desencadeou ameaças e aumento da violência na região. Ele também prometeu perdão e liberdade aos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Imagem desta terça-feira, 5, mostra eleitores republicanos em Sugar Land, no Texas. Republicano reaproximou eleitores após focar em problemas econômicos durante o governo Biden Foto: Danielle Villasana/AFP

Sobrevivente

Em julho, Trump sofreu uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em um dos episódios mais marcantes da campanha. Um atirador identificado como Thomas Matthew Cook atirou contra ele de um prédio próximo ao comício e o atingiu de raspão na orelha. Trump saiu do comício com o punho erguido e o rosto ensanguentado. “Lutem! Lutem!”, gritou para a multidão. Dois meses depois, em setembro, a polícia da Flórida impediu um segundo atentado próximo a um campo de golfe.

O atentado na Pensilvânia aconteceu quando o rival do republicano na eleição ainda era o presidente Biden. Trump aparecia à frente na maioria das pesquisas nacionais e nos Estados decisivos. Na semana seguinte, o democrata desistiu da candidatura e Kamala Harris assumiu a chapa. As pesquisas mostraram resultados mais equilibrados.

Mas o grande trunfo do republicano para ganhar a eleição foi focar na perda do poder de compra dos salários, na questão migratória e na situação econômica sob o seu governo, sobretudo antes da pandemia. A inflação esteve baixa durante o período, em contraste com a alta durante o governo Biden.

Trump voltará à Casa Branca após vencer a democrata Kamala Harris Foto: Jamie Kelter Davis/NYT

Primeiro governo

No seu primeiro mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para os americanos. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de nações historicamente aliadas, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

Trump também foi o presidente à frente dos EUA durante a pandemia de covid-19. Contrário à ciência, foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina. Ele também chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

Após a presidência

Após a perda na eleição de 2020, O republicano não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico”.

O republicano também passou a encarar diversos processos judiciais após o mandato. Nesse período, foi condenado a pagar uma indenização de US$ 5 milhões (R$ 30 milhões) à escritora E. Jean Carrol, que o acusou de estupro em um processo civil, e condenado por fraude por ter falsificado registros fiscais para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016. Ela afirma ter tido um caso com o ex-presidente.

Alguns processos, no entanto, sofreram revezes depois de a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidir que presidentes têm imunidade com relação a crimes cometidos durante o exercício da presidência. Segundo os juízes, o presidente eleito não pode ser processado por decisões relativas ao exercício do cargo. De volta ao cargo, muitos dos processos devem ser paralisados. / COM LUIZ HENRIQUE GOMES

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON — Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos. O republicano volta a Casa Branca depois de ter conquistado ao menos 277 delegados no colégio eleitoral e uma ampla vitória no voto popular para derrotar a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, 5.

A projeção dos principais veículos americanos indica que o republicano vai voltar à Casa Branca após obter uma vantagem que não pode ser revertida no Estado de Wisconsin. Trump também já garantiu outros três Estados-pêndulo: Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em Nevada, Arizona e Michigan.

Antes mesmo de obter os 270 delegados necessários, a vitória de Trump estava desenhada. Ao ganhar a Carolina do Norte, a Geórgia e a Pensilvânia, além dos Estados que usualmente votam nos republicanos, como Texas e Flórida, Trump aproveitou para discursar por aproximadamente 20 minutos em Palm Beach, na Flórida, na madrugada desta quarta-feira, 6.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ao discursar em Palm Beach, na Flórida, momentos antes de garantir os delegados necessários para voltar à Casa Branca  Foto: Evan Vucci/AP

Em seu discurso, Trump adotou um tom menos agressivo do que o da campanha, mais conciliador. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas”, afirmou Trump. “Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, acrescentou o republicano.

Os principais aliados de Trump e sua família se juntaram ao republicano no palco em Palm Beach. A ex-primeira-dama Melania Trump ficou perto do marido e foi acompanhada por Barron, o filho mais novo do ex-presidente. Os filhos mais velhos de Trump, Don Jr., Eric, Ivanka e Tiffany, também se juntaram ao pai no palco.

Trump não mencionou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em seu discurso, mas sinalizou que quer união entre todos os americanos. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse Trump. “É hora de nos unirmos.”

Durante o comício, Trump também disse que irá tornar os Estados Unidos um país seguro e próspero, sem a sua retórica agressiva que acompanhou seus comícios durante a campanha. “Alcançamos o acontecimento político mais incrível, a vitória política mais incrível, algo que o nosso país nunca viu antes”, afirmou Trump. O republicano apontou que os resultados eleitorais lhe dão um “grande sentimento de amor” e afirma que a nação lhe deu “um mandato poderoso”.

Desafios de Trump

O republicano, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em julho, vai governar um país dividido e com severos desafios internos relacionados à imigração, transição energética, acesso ao sistema de saúde e dependência química. Na política externa, Trump terá de lidar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e com a competição econômica e influência cada vez maior da China.

Desta vez, Trump se torna o homem mais velho a ocupar o cargo de presidente, aos 78 anos e 140 dias. Ele supera o antecessor e algoz nas eleições de 2020, Joe Biden. Também é o primeiro desde Groover Cleeveland, em 1893, a voltar à Casa Branca após perder a reeleição e ser eleito depois de uma condenação criminal em primeira instância.

Imagem de 13 de julho mostra Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato em comício em Butler, na Pensilvânia. Republicano volta à Casa Branca após quatro anos Foto: Doug Mills/NYT

A volta de Trump é uma resposta do eleitor americano a quatro anos de um governo democrata marcado pela alta da inflação, que elevou o custo de vida dos americanos e reaproximou os eleitores do Partido Republicano. Também é um sinal claro de que os eleitores americanos estão mais preocupados com a questão da imigração, tida como fora de controle, do que com outros temas. As acusações criminais contra o ex-presidente, que responde a processos de conspiração contra os EUA, retenção de informações de defesa nacional e suborno, não foram suficientes para minar sua popularidade.

Com uma vitória também no voto popular, com mais de 71 milhões de eleitores, a volta de Trump é um sinal claro de que o eleitor americano apoia a ideia de deportação em massa de imigrantes ilegais, fim da globalização e um basta ao identitarismo que tomou conta da esquerda e dos progressistas americanos.

A campanha do republicano foi marcada por uma retórica mais agressiva contra imigrantes e a memória de bonança econômica de seu primeiro mandato. Trump retomou o movimento Make America Great Again (“Faça a América Grande de Novo”, traduzido em português), que se popularizou na eleição de 2016. Ele promete deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e adotar protecionismo econômico contra rivais americanos, em especial a China. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em diversos comícios.

O republicano também falou abertamente sobre usar o Departamento de Justiça para perseguir rivais, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Entre eles, estariam a deputada Liz Cheney, Joe Biden e a rival, Kamala Harris. Trump também fez alusão à censura contra a imprensa americana e espalhou durante a campanha mentiras contra imigrantes, como a afirmação de que estariam comendo animais domésticos na cidade de Springfield, em Ohio – o que desencadeou ameaças e aumento da violência na região. Ele também prometeu perdão e liberdade aos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Imagem desta terça-feira, 5, mostra eleitores republicanos em Sugar Land, no Texas. Republicano reaproximou eleitores após focar em problemas econômicos durante o governo Biden Foto: Danielle Villasana/AFP

Sobrevivente

Em julho, Trump sofreu uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em um dos episódios mais marcantes da campanha. Um atirador identificado como Thomas Matthew Cook atirou contra ele de um prédio próximo ao comício e o atingiu de raspão na orelha. Trump saiu do comício com o punho erguido e o rosto ensanguentado. “Lutem! Lutem!”, gritou para a multidão. Dois meses depois, em setembro, a polícia da Flórida impediu um segundo atentado próximo a um campo de golfe.

O atentado na Pensilvânia aconteceu quando o rival do republicano na eleição ainda era o presidente Biden. Trump aparecia à frente na maioria das pesquisas nacionais e nos Estados decisivos. Na semana seguinte, o democrata desistiu da candidatura e Kamala Harris assumiu a chapa. As pesquisas mostraram resultados mais equilibrados.

Mas o grande trunfo do republicano para ganhar a eleição foi focar na perda do poder de compra dos salários, na questão migratória e na situação econômica sob o seu governo, sobretudo antes da pandemia. A inflação esteve baixa durante o período, em contraste com a alta durante o governo Biden.

Trump voltará à Casa Branca após vencer a democrata Kamala Harris Foto: Jamie Kelter Davis/NYT

Primeiro governo

No seu primeiro mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para os americanos. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de nações historicamente aliadas, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

Trump também foi o presidente à frente dos EUA durante a pandemia de covid-19. Contrário à ciência, foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina. Ele também chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

Após a presidência

Após a perda na eleição de 2020, O republicano não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico”.

O republicano também passou a encarar diversos processos judiciais após o mandato. Nesse período, foi condenado a pagar uma indenização de US$ 5 milhões (R$ 30 milhões) à escritora E. Jean Carrol, que o acusou de estupro em um processo civil, e condenado por fraude por ter falsificado registros fiscais para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016. Ela afirma ter tido um caso com o ex-presidente.

Alguns processos, no entanto, sofreram revezes depois de a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidir que presidentes têm imunidade com relação a crimes cometidos durante o exercício da presidência. Segundo os juízes, o presidente eleito não pode ser processado por decisões relativas ao exercício do cargo. De volta ao cargo, muitos dos processos devem ser paralisados. / COM LUIZ HENRIQUE GOMES

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON — Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos. O republicano volta a Casa Branca depois de ter conquistado ao menos 277 delegados no colégio eleitoral e uma ampla vitória no voto popular para derrotar a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, 5.

A projeção dos principais veículos americanos indica que o republicano vai voltar à Casa Branca após obter uma vantagem que não pode ser revertida no Estado de Wisconsin. Trump também já garantiu outros três Estados-pêndulo: Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em Nevada, Arizona e Michigan.

Antes mesmo de obter os 270 delegados necessários, a vitória de Trump estava desenhada. Ao ganhar a Carolina do Norte, a Geórgia e a Pensilvânia, além dos Estados que usualmente votam nos republicanos, como Texas e Flórida, Trump aproveitou para discursar por aproximadamente 20 minutos em Palm Beach, na Flórida, na madrugada desta quarta-feira, 6.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ao discursar em Palm Beach, na Flórida, momentos antes de garantir os delegados necessários para voltar à Casa Branca  Foto: Evan Vucci/AP

Em seu discurso, Trump adotou um tom menos agressivo do que o da campanha, mais conciliador. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas”, afirmou Trump. “Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, acrescentou o republicano.

Os principais aliados de Trump e sua família se juntaram ao republicano no palco em Palm Beach. A ex-primeira-dama Melania Trump ficou perto do marido e foi acompanhada por Barron, o filho mais novo do ex-presidente. Os filhos mais velhos de Trump, Don Jr., Eric, Ivanka e Tiffany, também se juntaram ao pai no palco.

Trump não mencionou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em seu discurso, mas sinalizou que quer união entre todos os americanos. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse Trump. “É hora de nos unirmos.”

Durante o comício, Trump também disse que irá tornar os Estados Unidos um país seguro e próspero, sem a sua retórica agressiva que acompanhou seus comícios durante a campanha. “Alcançamos o acontecimento político mais incrível, a vitória política mais incrível, algo que o nosso país nunca viu antes”, afirmou Trump. O republicano apontou que os resultados eleitorais lhe dão um “grande sentimento de amor” e afirma que a nação lhe deu “um mandato poderoso”.

Desafios de Trump

O republicano, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em julho, vai governar um país dividido e com severos desafios internos relacionados à imigração, transição energética, acesso ao sistema de saúde e dependência química. Na política externa, Trump terá de lidar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e com a competição econômica e influência cada vez maior da China.

Desta vez, Trump se torna o homem mais velho a ocupar o cargo de presidente, aos 78 anos e 140 dias. Ele supera o antecessor e algoz nas eleições de 2020, Joe Biden. Também é o primeiro desde Groover Cleeveland, em 1893, a voltar à Casa Branca após perder a reeleição e ser eleito depois de uma condenação criminal em primeira instância.

Imagem de 13 de julho mostra Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato em comício em Butler, na Pensilvânia. Republicano volta à Casa Branca após quatro anos Foto: Doug Mills/NYT

A volta de Trump é uma resposta do eleitor americano a quatro anos de um governo democrata marcado pela alta da inflação, que elevou o custo de vida dos americanos e reaproximou os eleitores do Partido Republicano. Também é um sinal claro de que os eleitores americanos estão mais preocupados com a questão da imigração, tida como fora de controle, do que com outros temas. As acusações criminais contra o ex-presidente, que responde a processos de conspiração contra os EUA, retenção de informações de defesa nacional e suborno, não foram suficientes para minar sua popularidade.

Com uma vitória também no voto popular, com mais de 71 milhões de eleitores, a volta de Trump é um sinal claro de que o eleitor americano apoia a ideia de deportação em massa de imigrantes ilegais, fim da globalização e um basta ao identitarismo que tomou conta da esquerda e dos progressistas americanos.

A campanha do republicano foi marcada por uma retórica mais agressiva contra imigrantes e a memória de bonança econômica de seu primeiro mandato. Trump retomou o movimento Make America Great Again (“Faça a América Grande de Novo”, traduzido em português), que se popularizou na eleição de 2016. Ele promete deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e adotar protecionismo econômico contra rivais americanos, em especial a China. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em diversos comícios.

O republicano também falou abertamente sobre usar o Departamento de Justiça para perseguir rivais, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Entre eles, estariam a deputada Liz Cheney, Joe Biden e a rival, Kamala Harris. Trump também fez alusão à censura contra a imprensa americana e espalhou durante a campanha mentiras contra imigrantes, como a afirmação de que estariam comendo animais domésticos na cidade de Springfield, em Ohio – o que desencadeou ameaças e aumento da violência na região. Ele também prometeu perdão e liberdade aos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Imagem desta terça-feira, 5, mostra eleitores republicanos em Sugar Land, no Texas. Republicano reaproximou eleitores após focar em problemas econômicos durante o governo Biden Foto: Danielle Villasana/AFP

Sobrevivente

Em julho, Trump sofreu uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em um dos episódios mais marcantes da campanha. Um atirador identificado como Thomas Matthew Cook atirou contra ele de um prédio próximo ao comício e o atingiu de raspão na orelha. Trump saiu do comício com o punho erguido e o rosto ensanguentado. “Lutem! Lutem!”, gritou para a multidão. Dois meses depois, em setembro, a polícia da Flórida impediu um segundo atentado próximo a um campo de golfe.

O atentado na Pensilvânia aconteceu quando o rival do republicano na eleição ainda era o presidente Biden. Trump aparecia à frente na maioria das pesquisas nacionais e nos Estados decisivos. Na semana seguinte, o democrata desistiu da candidatura e Kamala Harris assumiu a chapa. As pesquisas mostraram resultados mais equilibrados.

Mas o grande trunfo do republicano para ganhar a eleição foi focar na perda do poder de compra dos salários, na questão migratória e na situação econômica sob o seu governo, sobretudo antes da pandemia. A inflação esteve baixa durante o período, em contraste com a alta durante o governo Biden.

Trump voltará à Casa Branca após vencer a democrata Kamala Harris Foto: Jamie Kelter Davis/NYT

Primeiro governo

No seu primeiro mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para os americanos. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de nações historicamente aliadas, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

Trump também foi o presidente à frente dos EUA durante a pandemia de covid-19. Contrário à ciência, foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina. Ele também chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

Após a presidência

Após a perda na eleição de 2020, O republicano não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico”.

O republicano também passou a encarar diversos processos judiciais após o mandato. Nesse período, foi condenado a pagar uma indenização de US$ 5 milhões (R$ 30 milhões) à escritora E. Jean Carrol, que o acusou de estupro em um processo civil, e condenado por fraude por ter falsificado registros fiscais para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016. Ela afirma ter tido um caso com o ex-presidente.

Alguns processos, no entanto, sofreram revezes depois de a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidir que presidentes têm imunidade com relação a crimes cometidos durante o exercício da presidência. Segundo os juízes, o presidente eleito não pode ser processado por decisões relativas ao exercício do cargo. De volta ao cargo, muitos dos processos devem ser paralisados. / COM LUIZ HENRIQUE GOMES

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON — Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos. O republicano volta a Casa Branca depois de ter conquistado ao menos 277 delegados no colégio eleitoral e uma ampla vitória no voto popular para derrotar a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, 5.

A projeção dos principais veículos americanos indica que o republicano vai voltar à Casa Branca após obter uma vantagem que não pode ser revertida no Estado de Wisconsin. Trump também já garantiu outros três Estados-pêndulo: Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em Nevada, Arizona e Michigan.

Antes mesmo de obter os 270 delegados necessários, a vitória de Trump estava desenhada. Ao ganhar a Carolina do Norte, a Geórgia e a Pensilvânia, além dos Estados que usualmente votam nos republicanos, como Texas e Flórida, Trump aproveitou para discursar por aproximadamente 20 minutos em Palm Beach, na Flórida, na madrugada desta quarta-feira, 6.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ao discursar em Palm Beach, na Flórida, momentos antes de garantir os delegados necessários para voltar à Casa Branca  Foto: Evan Vucci/AP

Em seu discurso, Trump adotou um tom menos agressivo do que o da campanha, mais conciliador. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas”, afirmou Trump. “Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, acrescentou o republicano.

Os principais aliados de Trump e sua família se juntaram ao republicano no palco em Palm Beach. A ex-primeira-dama Melania Trump ficou perto do marido e foi acompanhada por Barron, o filho mais novo do ex-presidente. Os filhos mais velhos de Trump, Don Jr., Eric, Ivanka e Tiffany, também se juntaram ao pai no palco.

Trump não mencionou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em seu discurso, mas sinalizou que quer união entre todos os americanos. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse Trump. “É hora de nos unirmos.”

Durante o comício, Trump também disse que irá tornar os Estados Unidos um país seguro e próspero, sem a sua retórica agressiva que acompanhou seus comícios durante a campanha. “Alcançamos o acontecimento político mais incrível, a vitória política mais incrível, algo que o nosso país nunca viu antes”, afirmou Trump. O republicano apontou que os resultados eleitorais lhe dão um “grande sentimento de amor” e afirma que a nação lhe deu “um mandato poderoso”.

Desafios de Trump

O republicano, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em julho, vai governar um país dividido e com severos desafios internos relacionados à imigração, transição energética, acesso ao sistema de saúde e dependência química. Na política externa, Trump terá de lidar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e com a competição econômica e influência cada vez maior da China.

Desta vez, Trump se torna o homem mais velho a ocupar o cargo de presidente, aos 78 anos e 140 dias. Ele supera o antecessor e algoz nas eleições de 2020, Joe Biden. Também é o primeiro desde Groover Cleeveland, em 1893, a voltar à Casa Branca após perder a reeleição e ser eleito depois de uma condenação criminal em primeira instância.

Imagem de 13 de julho mostra Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato em comício em Butler, na Pensilvânia. Republicano volta à Casa Branca após quatro anos Foto: Doug Mills/NYT

A volta de Trump é uma resposta do eleitor americano a quatro anos de um governo democrata marcado pela alta da inflação, que elevou o custo de vida dos americanos e reaproximou os eleitores do Partido Republicano. Também é um sinal claro de que os eleitores americanos estão mais preocupados com a questão da imigração, tida como fora de controle, do que com outros temas. As acusações criminais contra o ex-presidente, que responde a processos de conspiração contra os EUA, retenção de informações de defesa nacional e suborno, não foram suficientes para minar sua popularidade.

Com uma vitória também no voto popular, com mais de 71 milhões de eleitores, a volta de Trump é um sinal claro de que o eleitor americano apoia a ideia de deportação em massa de imigrantes ilegais, fim da globalização e um basta ao identitarismo que tomou conta da esquerda e dos progressistas americanos.

A campanha do republicano foi marcada por uma retórica mais agressiva contra imigrantes e a memória de bonança econômica de seu primeiro mandato. Trump retomou o movimento Make America Great Again (“Faça a América Grande de Novo”, traduzido em português), que se popularizou na eleição de 2016. Ele promete deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e adotar protecionismo econômico contra rivais americanos, em especial a China. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em diversos comícios.

O republicano também falou abertamente sobre usar o Departamento de Justiça para perseguir rivais, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Entre eles, estariam a deputada Liz Cheney, Joe Biden e a rival, Kamala Harris. Trump também fez alusão à censura contra a imprensa americana e espalhou durante a campanha mentiras contra imigrantes, como a afirmação de que estariam comendo animais domésticos na cidade de Springfield, em Ohio – o que desencadeou ameaças e aumento da violência na região. Ele também prometeu perdão e liberdade aos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Imagem desta terça-feira, 5, mostra eleitores republicanos em Sugar Land, no Texas. Republicano reaproximou eleitores após focar em problemas econômicos durante o governo Biden Foto: Danielle Villasana/AFP

Sobrevivente

Em julho, Trump sofreu uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em um dos episódios mais marcantes da campanha. Um atirador identificado como Thomas Matthew Cook atirou contra ele de um prédio próximo ao comício e o atingiu de raspão na orelha. Trump saiu do comício com o punho erguido e o rosto ensanguentado. “Lutem! Lutem!”, gritou para a multidão. Dois meses depois, em setembro, a polícia da Flórida impediu um segundo atentado próximo a um campo de golfe.

O atentado na Pensilvânia aconteceu quando o rival do republicano na eleição ainda era o presidente Biden. Trump aparecia à frente na maioria das pesquisas nacionais e nos Estados decisivos. Na semana seguinte, o democrata desistiu da candidatura e Kamala Harris assumiu a chapa. As pesquisas mostraram resultados mais equilibrados.

Mas o grande trunfo do republicano para ganhar a eleição foi focar na perda do poder de compra dos salários, na questão migratória e na situação econômica sob o seu governo, sobretudo antes da pandemia. A inflação esteve baixa durante o período, em contraste com a alta durante o governo Biden.

Trump voltará à Casa Branca após vencer a democrata Kamala Harris Foto: Jamie Kelter Davis/NYT

Primeiro governo

No seu primeiro mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para os americanos. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de nações historicamente aliadas, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

Trump também foi o presidente à frente dos EUA durante a pandemia de covid-19. Contrário à ciência, foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina. Ele também chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

Após a presidência

Após a perda na eleição de 2020, O republicano não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico”.

O republicano também passou a encarar diversos processos judiciais após o mandato. Nesse período, foi condenado a pagar uma indenização de US$ 5 milhões (R$ 30 milhões) à escritora E. Jean Carrol, que o acusou de estupro em um processo civil, e condenado por fraude por ter falsificado registros fiscais para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016. Ela afirma ter tido um caso com o ex-presidente.

Alguns processos, no entanto, sofreram revezes depois de a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidir que presidentes têm imunidade com relação a crimes cometidos durante o exercício da presidência. Segundo os juízes, o presidente eleito não pode ser processado por decisões relativas ao exercício do cargo. De volta ao cargo, muitos dos processos devem ser paralisados. / COM LUIZ HENRIQUE GOMES

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON — Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos. O republicano volta a Casa Branca depois de ter conquistado ao menos 277 delegados no colégio eleitoral e uma ampla vitória no voto popular para derrotar a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, 5.

A projeção dos principais veículos americanos indica que o republicano vai voltar à Casa Branca após obter uma vantagem que não pode ser revertida no Estado de Wisconsin. Trump também já garantiu outros três Estados-pêndulo: Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e lidera em Nevada, Arizona e Michigan.

Antes mesmo de obter os 270 delegados necessários, a vitória de Trump estava desenhada. Ao ganhar a Carolina do Norte, a Geórgia e a Pensilvânia, além dos Estados que usualmente votam nos republicanos, como Texas e Flórida, Trump aproveitou para discursar por aproximadamente 20 minutos em Palm Beach, na Flórida, na madrugada desta quarta-feira, 6.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ao discursar em Palm Beach, na Flórida, momentos antes de garantir os delegados necessários para voltar à Casa Branca  Foto: Evan Vucci/AP

Em seu discurso, Trump adotou um tom menos agressivo do que o da campanha, mais conciliador. “Vamos curar nosso país, que precisa muito de ajuda. Vamos consertar nossas fronteiras e muitas coisas que precisam ser consertadas”, afirmou Trump. “Está será verdadeiramente a era dourada para a América”, acrescentou o republicano.

Os principais aliados de Trump e sua família se juntaram ao republicano no palco em Palm Beach. A ex-primeira-dama Melania Trump ficou perto do marido e foi acompanhada por Barron, o filho mais novo do ex-presidente. Os filhos mais velhos de Trump, Don Jr., Eric, Ivanka e Tiffany, também se juntaram ao pai no palco.

Trump não mencionou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em seu discurso, mas sinalizou que quer união entre todos os americanos. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse Trump. “É hora de nos unirmos.”

Durante o comício, Trump também disse que irá tornar os Estados Unidos um país seguro e próspero, sem a sua retórica agressiva que acompanhou seus comícios durante a campanha. “Alcançamos o acontecimento político mais incrível, a vitória política mais incrível, algo que o nosso país nunca viu antes”, afirmou Trump. O republicano apontou que os resultados eleitorais lhe dão um “grande sentimento de amor” e afirma que a nação lhe deu “um mandato poderoso”.

Desafios de Trump

O republicano, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em julho, vai governar um país dividido e com severos desafios internos relacionados à imigração, transição energética, acesso ao sistema de saúde e dependência química. Na política externa, Trump terá de lidar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e com a competição econômica e influência cada vez maior da China.

Desta vez, Trump se torna o homem mais velho a ocupar o cargo de presidente, aos 78 anos e 140 dias. Ele supera o antecessor e algoz nas eleições de 2020, Joe Biden. Também é o primeiro desde Groover Cleeveland, em 1893, a voltar à Casa Branca após perder a reeleição e ser eleito depois de uma condenação criminal em primeira instância.

Imagem de 13 de julho mostra Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato em comício em Butler, na Pensilvânia. Republicano volta à Casa Branca após quatro anos Foto: Doug Mills/NYT

A volta de Trump é uma resposta do eleitor americano a quatro anos de um governo democrata marcado pela alta da inflação, que elevou o custo de vida dos americanos e reaproximou os eleitores do Partido Republicano. Também é um sinal claro de que os eleitores americanos estão mais preocupados com a questão da imigração, tida como fora de controle, do que com outros temas. As acusações criminais contra o ex-presidente, que responde a processos de conspiração contra os EUA, retenção de informações de defesa nacional e suborno, não foram suficientes para minar sua popularidade.

Com uma vitória também no voto popular, com mais de 71 milhões de eleitores, a volta de Trump é um sinal claro de que o eleitor americano apoia a ideia de deportação em massa de imigrantes ilegais, fim da globalização e um basta ao identitarismo que tomou conta da esquerda e dos progressistas americanos.

A campanha do republicano foi marcada por uma retórica mais agressiva contra imigrantes e a memória de bonança econômica de seu primeiro mandato. Trump retomou o movimento Make America Great Again (“Faça a América Grande de Novo”, traduzido em português), que se popularizou na eleição de 2016. Ele promete deportar 11 milhões de imigrantes ilegais e adotar protecionismo econômico contra rivais americanos, em especial a China. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em diversos comícios.

O republicano também falou abertamente sobre usar o Departamento de Justiça para perseguir rivais, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata. Entre eles, estariam a deputada Liz Cheney, Joe Biden e a rival, Kamala Harris. Trump também fez alusão à censura contra a imprensa americana e espalhou durante a campanha mentiras contra imigrantes, como a afirmação de que estariam comendo animais domésticos na cidade de Springfield, em Ohio – o que desencadeou ameaças e aumento da violência na região. Ele também prometeu perdão e liberdade aos responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Imagem desta terça-feira, 5, mostra eleitores republicanos em Sugar Land, no Texas. Republicano reaproximou eleitores após focar em problemas econômicos durante o governo Biden Foto: Danielle Villasana/AFP

Sobrevivente

Em julho, Trump sofreu uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em um dos episódios mais marcantes da campanha. Um atirador identificado como Thomas Matthew Cook atirou contra ele de um prédio próximo ao comício e o atingiu de raspão na orelha. Trump saiu do comício com o punho erguido e o rosto ensanguentado. “Lutem! Lutem!”, gritou para a multidão. Dois meses depois, em setembro, a polícia da Flórida impediu um segundo atentado próximo a um campo de golfe.

O atentado na Pensilvânia aconteceu quando o rival do republicano na eleição ainda era o presidente Biden. Trump aparecia à frente na maioria das pesquisas nacionais e nos Estados decisivos. Na semana seguinte, o democrata desistiu da candidatura e Kamala Harris assumiu a chapa. As pesquisas mostraram resultados mais equilibrados.

Mas o grande trunfo do republicano para ganhar a eleição foi focar na perda do poder de compra dos salários, na questão migratória e na situação econômica sob o seu governo, sobretudo antes da pandemia. A inflação esteve baixa durante o período, em contraste com a alta durante o governo Biden.

Trump voltará à Casa Branca após vencer a democrata Kamala Harris Foto: Jamie Kelter Davis/NYT

Primeiro governo

No seu primeiro mandato, Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para os americanos. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de nações historicamente aliadas, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

Trump também foi o presidente à frente dos EUA durante a pandemia de covid-19. Contrário à ciência, foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina. Ele também chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

Após a presidência

Após a perda na eleição de 2020, O republicano não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico”.

O republicano também passou a encarar diversos processos judiciais após o mandato. Nesse período, foi condenado a pagar uma indenização de US$ 5 milhões (R$ 30 milhões) à escritora E. Jean Carrol, que o acusou de estupro em um processo civil, e condenado por fraude por ter falsificado registros fiscais para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels na eleição de 2016. Ela afirma ter tido um caso com o ex-presidente.

Alguns processos, no entanto, sofreram revezes depois de a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidir que presidentes têm imunidade com relação a crimes cometidos durante o exercício da presidência. Segundo os juízes, o presidente eleito não pode ser processado por decisões relativas ao exercício do cargo. De volta ao cargo, muitos dos processos devem ser paralisados. / COM LUIZ HENRIQUE GOMES

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