Retrato do Rei Charles III: como e por que o quadro real é banhado em simbolismo


O trabalho pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira

Por Vanessa Friedman

Retratos da realeza, via de regra, tendem a ser temas bastante recatados e previsíveis. Plenos de simbolismo, decerto, mas geralmente simbolismo do tipo tradicional do establishment: símbolos do Estado, da função, da pompa e da linhagem.

Por esse motivo, o novo retrato oficial do rei Charles III, pintado por Jonathan Yeo, o primeiro produzido desde a coroação do rei, criou tamanha controvérsia.

Numa tela imensa (2,29 metros por 1,68 metro), o quadro mostra o rei de pé, trajando seu uniforme do Regimento de Guarda Galês, com as mãos sobre o cabo de sua espada, um esboço de sorriso no rosto e uma borboleta pairando sobre seu ombro direito. Todo o corpo do rei é banhando por um mar carmesim, seu rosto parece estar flutuando.

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O rei Charles III revela seu retrato feito pelo artista Jonathan Yeo, no Palácio de Buckingham, em Londres, em 14 de maio de 2024 Foto: Aaron Chown via Reuters

Apesar da borboleta ser aparentemente a peça-chave da semiologia — destinada, segundo afirmou Yeo à BBC, a representar a metamorfose do príncipe ao soberano e seu amor de longa data pelo meio ambiente — foi a cor primária da pintura que quase instantaneamente deu novo significado à ideia de “vermelho de raiva”. A cor escarlate praticamente implora por uma interpretação.

“Para mim, passa a mensagem de que a monarquia está em chamas ou que o rei está queimando no inferno”, escreveu um comentarista sob o post no perfil de Instagram da família real que revelou o retrato.

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“Parece que ele está banhado de sangue”, escreveu um outro. Outra pessoa levantou a ideia de um “banho de sangue colonial”. Houve comparações com o diabo. E por aí afora. Houve até uma menção ao escândalo do Tampax, em referência ao infame comentário de Charles revelado quando seu telefone foi grampeado durante a derrocada de seu casamento com Diana, a princesa de Gales.

Resulta que o vermelho é um gatilho para quase todo mundo — especialmente dada a missão transcendente do retrato da realeza: representar uma representação, servir à posteridade.

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Em sua entrevista à BBC, Yeo contou que, ao ver a pintura pela primeira vez, o rei ficou “inicialmente algo surpreendido pela cor forte”, o que pode ter sido um eufemismo. Yeo disse que seu objetivo foi criar um retrato da realeza mais moderno, refletindo o desejo de Charles de ser um monarca moderno, reduzindo o número de membros da família real trabalhando e a pompa da coroação (tudo relacionado).

Ainda assim, a escolha dos tons parece particularmente carregada, tendo em vista… bem, a tempestade de fogo que o rei tem enfrentado desde sua ascensão ao trono.

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Considerem, por exemplo, a briga contínua com seu segundo filho, o príncipe Harry, e a publicação do livro de memórias de Harry, com suas alegações sobre racismo na família real; os chamados pelo fim da monarquia que se seguiram; o diagnóstico de câncer de Charles; e o furor do mistério sobre Kate, a princesa de Gales, cujo diagnóstico de câncer foi revelado somente após especulações crescentemente ensandecidas sobre seu desaparecimento da vida pública.

A rainha Camilla, que atravessou seus próprios incêndios, disse ao artista, segundo relatos: “Você o captou”.

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É difícil imaginar que Yeo não tenha antecipado parte da reação ao retrato, especialmente no contexto de seus trabalhos anteriores, que incluíram retratos do príncipe Philip, o pai do rei, e da rainha Camilla, pinturas mais tradicionais. De fato, da última vez que um retratista da realeza tentou um interpretação mais abstrata e contemporânea de sua modelo — um retrato de 1998 da rainha Elizabeth II, de Justin Mortimer, que colocou a monarca sobre um fundo amarelo-neon, com uma mancha amarela sobreposta ao seu pescoço — houve indignação pública. O Daily Mail acusou o artista de cortar a cabeça da rainha.

O retrato do rei Charles seguirá em exibição na Philip Mould Gallery até meados de junho, quando será transferido para o Drapers’ Hall, em Londres. (O quadro foi encomendado pela Worshipful Company of Drapers, uma corporação medieval que virou entidade filantrópica, para figurar entre outros retratos mais ortodoxos.)

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Nesse cenário, o trabalho de Yeo pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Retratos da realeza, via de regra, tendem a ser temas bastante recatados e previsíveis. Plenos de simbolismo, decerto, mas geralmente simbolismo do tipo tradicional do establishment: símbolos do Estado, da função, da pompa e da linhagem.

Por esse motivo, o novo retrato oficial do rei Charles III, pintado por Jonathan Yeo, o primeiro produzido desde a coroação do rei, criou tamanha controvérsia.

Numa tela imensa (2,29 metros por 1,68 metro), o quadro mostra o rei de pé, trajando seu uniforme do Regimento de Guarda Galês, com as mãos sobre o cabo de sua espada, um esboço de sorriso no rosto e uma borboleta pairando sobre seu ombro direito. Todo o corpo do rei é banhando por um mar carmesim, seu rosto parece estar flutuando.

O rei Charles III revela seu retrato feito pelo artista Jonathan Yeo, no Palácio de Buckingham, em Londres, em 14 de maio de 2024 Foto: Aaron Chown via Reuters

Apesar da borboleta ser aparentemente a peça-chave da semiologia — destinada, segundo afirmou Yeo à BBC, a representar a metamorfose do príncipe ao soberano e seu amor de longa data pelo meio ambiente — foi a cor primária da pintura que quase instantaneamente deu novo significado à ideia de “vermelho de raiva”. A cor escarlate praticamente implora por uma interpretação.

“Para mim, passa a mensagem de que a monarquia está em chamas ou que o rei está queimando no inferno”, escreveu um comentarista sob o post no perfil de Instagram da família real que revelou o retrato.

“Parece que ele está banhado de sangue”, escreveu um outro. Outra pessoa levantou a ideia de um “banho de sangue colonial”. Houve comparações com o diabo. E por aí afora. Houve até uma menção ao escândalo do Tampax, em referência ao infame comentário de Charles revelado quando seu telefone foi grampeado durante a derrocada de seu casamento com Diana, a princesa de Gales.

Resulta que o vermelho é um gatilho para quase todo mundo — especialmente dada a missão transcendente do retrato da realeza: representar uma representação, servir à posteridade.

Em sua entrevista à BBC, Yeo contou que, ao ver a pintura pela primeira vez, o rei ficou “inicialmente algo surpreendido pela cor forte”, o que pode ter sido um eufemismo. Yeo disse que seu objetivo foi criar um retrato da realeza mais moderno, refletindo o desejo de Charles de ser um monarca moderno, reduzindo o número de membros da família real trabalhando e a pompa da coroação (tudo relacionado).

Ainda assim, a escolha dos tons parece particularmente carregada, tendo em vista… bem, a tempestade de fogo que o rei tem enfrentado desde sua ascensão ao trono.

Considerem, por exemplo, a briga contínua com seu segundo filho, o príncipe Harry, e a publicação do livro de memórias de Harry, com suas alegações sobre racismo na família real; os chamados pelo fim da monarquia que se seguiram; o diagnóstico de câncer de Charles; e o furor do mistério sobre Kate, a princesa de Gales, cujo diagnóstico de câncer foi revelado somente após especulações crescentemente ensandecidas sobre seu desaparecimento da vida pública.

A rainha Camilla, que atravessou seus próprios incêndios, disse ao artista, segundo relatos: “Você o captou”.

É difícil imaginar que Yeo não tenha antecipado parte da reação ao retrato, especialmente no contexto de seus trabalhos anteriores, que incluíram retratos do príncipe Philip, o pai do rei, e da rainha Camilla, pinturas mais tradicionais. De fato, da última vez que um retratista da realeza tentou um interpretação mais abstrata e contemporânea de sua modelo — um retrato de 1998 da rainha Elizabeth II, de Justin Mortimer, que colocou a monarca sobre um fundo amarelo-neon, com uma mancha amarela sobreposta ao seu pescoço — houve indignação pública. O Daily Mail acusou o artista de cortar a cabeça da rainha.

O retrato do rei Charles seguirá em exibição na Philip Mould Gallery até meados de junho, quando será transferido para o Drapers’ Hall, em Londres. (O quadro foi encomendado pela Worshipful Company of Drapers, uma corporação medieval que virou entidade filantrópica, para figurar entre outros retratos mais ortodoxos.)

Nesse cenário, o trabalho de Yeo pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Retratos da realeza, via de regra, tendem a ser temas bastante recatados e previsíveis. Plenos de simbolismo, decerto, mas geralmente simbolismo do tipo tradicional do establishment: símbolos do Estado, da função, da pompa e da linhagem.

Por esse motivo, o novo retrato oficial do rei Charles III, pintado por Jonathan Yeo, o primeiro produzido desde a coroação do rei, criou tamanha controvérsia.

Numa tela imensa (2,29 metros por 1,68 metro), o quadro mostra o rei de pé, trajando seu uniforme do Regimento de Guarda Galês, com as mãos sobre o cabo de sua espada, um esboço de sorriso no rosto e uma borboleta pairando sobre seu ombro direito. Todo o corpo do rei é banhando por um mar carmesim, seu rosto parece estar flutuando.

O rei Charles III revela seu retrato feito pelo artista Jonathan Yeo, no Palácio de Buckingham, em Londres, em 14 de maio de 2024 Foto: Aaron Chown via Reuters

Apesar da borboleta ser aparentemente a peça-chave da semiologia — destinada, segundo afirmou Yeo à BBC, a representar a metamorfose do príncipe ao soberano e seu amor de longa data pelo meio ambiente — foi a cor primária da pintura que quase instantaneamente deu novo significado à ideia de “vermelho de raiva”. A cor escarlate praticamente implora por uma interpretação.

“Para mim, passa a mensagem de que a monarquia está em chamas ou que o rei está queimando no inferno”, escreveu um comentarista sob o post no perfil de Instagram da família real que revelou o retrato.

“Parece que ele está banhado de sangue”, escreveu um outro. Outra pessoa levantou a ideia de um “banho de sangue colonial”. Houve comparações com o diabo. E por aí afora. Houve até uma menção ao escândalo do Tampax, em referência ao infame comentário de Charles revelado quando seu telefone foi grampeado durante a derrocada de seu casamento com Diana, a princesa de Gales.

Resulta que o vermelho é um gatilho para quase todo mundo — especialmente dada a missão transcendente do retrato da realeza: representar uma representação, servir à posteridade.

Em sua entrevista à BBC, Yeo contou que, ao ver a pintura pela primeira vez, o rei ficou “inicialmente algo surpreendido pela cor forte”, o que pode ter sido um eufemismo. Yeo disse que seu objetivo foi criar um retrato da realeza mais moderno, refletindo o desejo de Charles de ser um monarca moderno, reduzindo o número de membros da família real trabalhando e a pompa da coroação (tudo relacionado).

Ainda assim, a escolha dos tons parece particularmente carregada, tendo em vista… bem, a tempestade de fogo que o rei tem enfrentado desde sua ascensão ao trono.

Considerem, por exemplo, a briga contínua com seu segundo filho, o príncipe Harry, e a publicação do livro de memórias de Harry, com suas alegações sobre racismo na família real; os chamados pelo fim da monarquia que se seguiram; o diagnóstico de câncer de Charles; e o furor do mistério sobre Kate, a princesa de Gales, cujo diagnóstico de câncer foi revelado somente após especulações crescentemente ensandecidas sobre seu desaparecimento da vida pública.

A rainha Camilla, que atravessou seus próprios incêndios, disse ao artista, segundo relatos: “Você o captou”.

É difícil imaginar que Yeo não tenha antecipado parte da reação ao retrato, especialmente no contexto de seus trabalhos anteriores, que incluíram retratos do príncipe Philip, o pai do rei, e da rainha Camilla, pinturas mais tradicionais. De fato, da última vez que um retratista da realeza tentou um interpretação mais abstrata e contemporânea de sua modelo — um retrato de 1998 da rainha Elizabeth II, de Justin Mortimer, que colocou a monarca sobre um fundo amarelo-neon, com uma mancha amarela sobreposta ao seu pescoço — houve indignação pública. O Daily Mail acusou o artista de cortar a cabeça da rainha.

O retrato do rei Charles seguirá em exibição na Philip Mould Gallery até meados de junho, quando será transferido para o Drapers’ Hall, em Londres. (O quadro foi encomendado pela Worshipful Company of Drapers, uma corporação medieval que virou entidade filantrópica, para figurar entre outros retratos mais ortodoxos.)

Nesse cenário, o trabalho de Yeo pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Retratos da realeza, via de regra, tendem a ser temas bastante recatados e previsíveis. Plenos de simbolismo, decerto, mas geralmente simbolismo do tipo tradicional do establishment: símbolos do Estado, da função, da pompa e da linhagem.

Por esse motivo, o novo retrato oficial do rei Charles III, pintado por Jonathan Yeo, o primeiro produzido desde a coroação do rei, criou tamanha controvérsia.

Numa tela imensa (2,29 metros por 1,68 metro), o quadro mostra o rei de pé, trajando seu uniforme do Regimento de Guarda Galês, com as mãos sobre o cabo de sua espada, um esboço de sorriso no rosto e uma borboleta pairando sobre seu ombro direito. Todo o corpo do rei é banhando por um mar carmesim, seu rosto parece estar flutuando.

O rei Charles III revela seu retrato feito pelo artista Jonathan Yeo, no Palácio de Buckingham, em Londres, em 14 de maio de 2024 Foto: Aaron Chown via Reuters

Apesar da borboleta ser aparentemente a peça-chave da semiologia — destinada, segundo afirmou Yeo à BBC, a representar a metamorfose do príncipe ao soberano e seu amor de longa data pelo meio ambiente — foi a cor primária da pintura que quase instantaneamente deu novo significado à ideia de “vermelho de raiva”. A cor escarlate praticamente implora por uma interpretação.

“Para mim, passa a mensagem de que a monarquia está em chamas ou que o rei está queimando no inferno”, escreveu um comentarista sob o post no perfil de Instagram da família real que revelou o retrato.

“Parece que ele está banhado de sangue”, escreveu um outro. Outra pessoa levantou a ideia de um “banho de sangue colonial”. Houve comparações com o diabo. E por aí afora. Houve até uma menção ao escândalo do Tampax, em referência ao infame comentário de Charles revelado quando seu telefone foi grampeado durante a derrocada de seu casamento com Diana, a princesa de Gales.

Resulta que o vermelho é um gatilho para quase todo mundo — especialmente dada a missão transcendente do retrato da realeza: representar uma representação, servir à posteridade.

Em sua entrevista à BBC, Yeo contou que, ao ver a pintura pela primeira vez, o rei ficou “inicialmente algo surpreendido pela cor forte”, o que pode ter sido um eufemismo. Yeo disse que seu objetivo foi criar um retrato da realeza mais moderno, refletindo o desejo de Charles de ser um monarca moderno, reduzindo o número de membros da família real trabalhando e a pompa da coroação (tudo relacionado).

Ainda assim, a escolha dos tons parece particularmente carregada, tendo em vista… bem, a tempestade de fogo que o rei tem enfrentado desde sua ascensão ao trono.

Considerem, por exemplo, a briga contínua com seu segundo filho, o príncipe Harry, e a publicação do livro de memórias de Harry, com suas alegações sobre racismo na família real; os chamados pelo fim da monarquia que se seguiram; o diagnóstico de câncer de Charles; e o furor do mistério sobre Kate, a princesa de Gales, cujo diagnóstico de câncer foi revelado somente após especulações crescentemente ensandecidas sobre seu desaparecimento da vida pública.

A rainha Camilla, que atravessou seus próprios incêndios, disse ao artista, segundo relatos: “Você o captou”.

É difícil imaginar que Yeo não tenha antecipado parte da reação ao retrato, especialmente no contexto de seus trabalhos anteriores, que incluíram retratos do príncipe Philip, o pai do rei, e da rainha Camilla, pinturas mais tradicionais. De fato, da última vez que um retratista da realeza tentou um interpretação mais abstrata e contemporânea de sua modelo — um retrato de 1998 da rainha Elizabeth II, de Justin Mortimer, que colocou a monarca sobre um fundo amarelo-neon, com uma mancha amarela sobreposta ao seu pescoço — houve indignação pública. O Daily Mail acusou o artista de cortar a cabeça da rainha.

O retrato do rei Charles seguirá em exibição na Philip Mould Gallery até meados de junho, quando será transferido para o Drapers’ Hall, em Londres. (O quadro foi encomendado pela Worshipful Company of Drapers, uma corporação medieval que virou entidade filantrópica, para figurar entre outros retratos mais ortodoxos.)

Nesse cenário, o trabalho de Yeo pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Retratos da realeza, via de regra, tendem a ser temas bastante recatados e previsíveis. Plenos de simbolismo, decerto, mas geralmente simbolismo do tipo tradicional do establishment: símbolos do Estado, da função, da pompa e da linhagem.

Por esse motivo, o novo retrato oficial do rei Charles III, pintado por Jonathan Yeo, o primeiro produzido desde a coroação do rei, criou tamanha controvérsia.

Numa tela imensa (2,29 metros por 1,68 metro), o quadro mostra o rei de pé, trajando seu uniforme do Regimento de Guarda Galês, com as mãos sobre o cabo de sua espada, um esboço de sorriso no rosto e uma borboleta pairando sobre seu ombro direito. Todo o corpo do rei é banhando por um mar carmesim, seu rosto parece estar flutuando.

O rei Charles III revela seu retrato feito pelo artista Jonathan Yeo, no Palácio de Buckingham, em Londres, em 14 de maio de 2024 Foto: Aaron Chown via Reuters

Apesar da borboleta ser aparentemente a peça-chave da semiologia — destinada, segundo afirmou Yeo à BBC, a representar a metamorfose do príncipe ao soberano e seu amor de longa data pelo meio ambiente — foi a cor primária da pintura que quase instantaneamente deu novo significado à ideia de “vermelho de raiva”. A cor escarlate praticamente implora por uma interpretação.

“Para mim, passa a mensagem de que a monarquia está em chamas ou que o rei está queimando no inferno”, escreveu um comentarista sob o post no perfil de Instagram da família real que revelou o retrato.

“Parece que ele está banhado de sangue”, escreveu um outro. Outra pessoa levantou a ideia de um “banho de sangue colonial”. Houve comparações com o diabo. E por aí afora. Houve até uma menção ao escândalo do Tampax, em referência ao infame comentário de Charles revelado quando seu telefone foi grampeado durante a derrocada de seu casamento com Diana, a princesa de Gales.

Resulta que o vermelho é um gatilho para quase todo mundo — especialmente dada a missão transcendente do retrato da realeza: representar uma representação, servir à posteridade.

Em sua entrevista à BBC, Yeo contou que, ao ver a pintura pela primeira vez, o rei ficou “inicialmente algo surpreendido pela cor forte”, o que pode ter sido um eufemismo. Yeo disse que seu objetivo foi criar um retrato da realeza mais moderno, refletindo o desejo de Charles de ser um monarca moderno, reduzindo o número de membros da família real trabalhando e a pompa da coroação (tudo relacionado).

Ainda assim, a escolha dos tons parece particularmente carregada, tendo em vista… bem, a tempestade de fogo que o rei tem enfrentado desde sua ascensão ao trono.

Considerem, por exemplo, a briga contínua com seu segundo filho, o príncipe Harry, e a publicação do livro de memórias de Harry, com suas alegações sobre racismo na família real; os chamados pelo fim da monarquia que se seguiram; o diagnóstico de câncer de Charles; e o furor do mistério sobre Kate, a princesa de Gales, cujo diagnóstico de câncer foi revelado somente após especulações crescentemente ensandecidas sobre seu desaparecimento da vida pública.

A rainha Camilla, que atravessou seus próprios incêndios, disse ao artista, segundo relatos: “Você o captou”.

É difícil imaginar que Yeo não tenha antecipado parte da reação ao retrato, especialmente no contexto de seus trabalhos anteriores, que incluíram retratos do príncipe Philip, o pai do rei, e da rainha Camilla, pinturas mais tradicionais. De fato, da última vez que um retratista da realeza tentou um interpretação mais abstrata e contemporânea de sua modelo — um retrato de 1998 da rainha Elizabeth II, de Justin Mortimer, que colocou a monarca sobre um fundo amarelo-neon, com uma mancha amarela sobreposta ao seu pescoço — houve indignação pública. O Daily Mail acusou o artista de cortar a cabeça da rainha.

O retrato do rei Charles seguirá em exibição na Philip Mould Gallery até meados de junho, quando será transferido para o Drapers’ Hall, em Londres. (O quadro foi encomendado pela Worshipful Company of Drapers, uma corporação medieval que virou entidade filantrópica, para figurar entre outros retratos mais ortodoxos.)

Nesse cenário, o trabalho de Yeo pode ser especialmente revelador: refletindo não apenas um monarca, mas também a evolução do próprio papel, dos conflitos em volta da função e de um rei capturado em um trono que lembra cada vez mais uma fogueira. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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