CAIRO - O presidente do Egito, Abdul-Fattah al-Sissi, renovou em 2018 seu mandato para mais quatro anos no poder, após vencer as eleições de março, o que lhe permitiu continuar governando em meio a acusações de repressão e perseguição de opositores e ativistas.
Com 97% dos votos e pouco mais de 40% de participação do censo eleitoral, o ex-marechal venceu a eleição realizada durante três dias contra um único oponente, Mustafa Musa, um político pouco conhecido que durante a campanha teceu elogios a Sissi e não o criticou uma só vez.
Todos os rivais de peso de Al-Sissi ficaram fora da corrida presidencial antes da campanha. O ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq, que retornou ao Egito após anunciar sua intenção de concorrer, foi retido ao aterrissar no Cairo e acabou desistindo um mês mais tarde.
O ex-chefe do Estado-Maior, Sami Anan, foi detido por supostas "irregularidades" e esteve vários dias desaparecido após tornar pública sua inesperada candidatura. A autoridade eleitoral o eliminou da corrida presidencial alegando que "ainda era militar".
O único candidato procedente das fileiras progressistas, o advogado de direitos humanos Khaled Ali, desistiu após as detenções dos demais oponentes e pelas dificuldades que ele mesmo enfrentou.
No meio do processo eleitoral houve mais detenções, entre elas a do político islamita Abdelmenem Abul Futuh, candidato presidencial em 2012, após ter convocado um boicote contra a "farsa eleitoral".
Organizações como Human Rights Watch denunciaram a intensificação da repressão contra os opositores e qualquer voz crítica ao governo de Al-Sissi, incluindo a de um ex-colaborador do presidente na campanha eleitoral de 2014, Hazem Abdelazim.
Neste ano, também foi lembrado o quinto aniversário do massacre da praça Rabaa al-Adawiya, no qual morreram entre 600 e 800 pessoas - dependendo da fonte - durante uma violenta operação policial.
Em 8 de setembro, a Justiça confirmou 75 penas de morte e 659 sentenças de prisão para seguidores do ex-presidente Mohammed Morsi, que acamparam na praça em protesto contra o golpe de Estado contra o islamita em julho de 2013, mas nenhum oficial das forças de segurança foi julgado por esses incidentes, os quais organizações de direitos humanos responsabilizam pelo massacre.
A onda de detenções de ativistas e opositores continuou e também as denúncias de desaparições forçadas, quando as autoridades levam um detido e não informam seu paradeiro nem ao advogado nem à família.
A situação econômica também não melhorou para a maioria dos egípcios, que viram o preço da eletricidade subir entre 25% e 40%.
A alta do preço do bilhete de metrô em mais de 50% provocou um dos poucos protestos que aconteceram publicamente este ano e que terminou com dezenas de detidos, alguns deles enviados à Promotoria da Segurança do Estado, órgão que tem se encarregado de perseguir judicialmente os opositores.
O governo e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fecharam um acordo para iniciar várias medidas para reduzir o déficit e eliminar subvenções aos serviços públicos.
O FMI concedeu em 2016 um empréstimo de US$ 12 bilhões em troca de medidas que pesam no bolso dos egípcios. A instituição calculou que o Egito está crescendo a um ritmo de 5,3%, acima dos 4,2% do ano passado, e que o déficit por conta corrente caiu para 2,4% - foi de 5,6% em 2017.
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O Egito realiza eleições presidenciais a partir desta segunda-feira. Com apenas um adversário, o atual presidente, Abdel Fatah Al-Sissi, é favorito para se manter no poder.
Ainda que a inflação tenha diminuído em 2018 e ficado abaixo de 20% nos últimos meses, se comparado com os 30% do ano anterior, os preços continuam sendo elevados para grande parte dos egípcios, 27,8% dos quais vivem na pobreza, segundo o Programa de Desenvolvimento da ONU.
Enquanto isso, o governo continuou implementando grandes projetos e construindo novas cidades, com especial atenção à nova capital administrativa, que leva o selo pessoal de Al-Sissi e que deve ser inaugurada no próximo ano a 30 quilômetros da superpovoada capital Cairo.
No âmbito da luta antiterrorista, o Egito fecha o ano sem ter conseguido pôr fim à operação que o exército lançou em fevereiro na Península do Sinai contra os grupos armados que têm se fortalecido nesta área desértica, onde a filial local do Estado Islâmico tem base. / EFE