‘Revolta da piscina’ contra o avanço das construtoras nas ilhas gregas mobiliza população local


Críticos dizem que o desenvolvimento está descontrolado em regiões como as ilhas Mykonos e Paros, onde complexos hoteleiros de grande escala floresceram nos anos recentes

Por Niki Kitsantonis

THE NEW YORK TIMES — Com torrentes de visitantes estrangeiros alimentando um desenvolvimento aparentemente incessante em ilhas gregas anteriormente intocadas, moradores e autoridades locais começam a reagir, movimentando-se para combater uma onda de construções de novos imóveis que começam a provocar faltas de água e alterar sua singular identidade cultural.

O turismo, responsável pela geração de um quinto da produção econômica da Grécia, é crucial no país, e comunidades de muitas ilhas dependem dele. Mas críticos afirmam que o desenvolvimento explodiu e está descontrolado em certas regiões, particularmente em ilhas como Mykonos e Paros, onde complexos hoteleiros de grande escala floresceram nos anos recentes.

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Professores e outros profissionais que vivem nessas e em outras ilhas Cíclades, um arquipélago popular no Mar Ageu, têm tido dificuldades para encontrar habitações acessíveis economicamente em meio ao fluxo de visitantes e compradores de residências, o que alimenta crescentes protestos de cidadãos contra as consequências do turismo desenfreado.

A ilhas, vitrines da explosão do turismo na Grécia, estão testemunhando chamados cada vez mais urgentes pela preservação de sua natureza e herança cultural.

O números de visitantes estrangeiros quebrou outro recorde na Grécia em 2023, com 30,9 milhões de turistas chegando de outros países nos primeiros 10 meses do ano, de acordo com o Banco da Grécia — um aumento de 17% em relação ao ano anterior e ultrapassando níveis pré-pandêmicos de turismo.

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Turistas esperam para embarcar em uma balsa no porto de Pireu, na Grécia. O número de chegadas de estrangeiros à Grécia bateu outro recorde em 2023, com 30 milhões nos primeiros 10 meses do ano. Foto: Marco Arguello/The New York Times

Para atender tamanha demanda, 461 novos hotéis abriram nas ilhas do Egeu Meridional entre 2020 e 2023, de acordo com dados da Câmara Helênica de Hotéis compilados pelo Instituto de Pesquisa em Turismo, sediado em Atenas. Desses novos hotéis, 126 foram inaugurados no ano passado, de acordo com o instituto.

A proliferação de piscinas colocou uma grave pressão sobre o abastecimento de água em ilhas Cíclades como Sifnos e Tinos, e a agressiva expansão de bares à beira-mar sobre praias intocadas em muitas ilhas tem gerado indignação entre os moradores.

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Conservacionistas e arquitetos também estão liderando um esforço para preservar a alma das Cíclades, que, afirmam eles, corre o risco de ser apagada em meio a uma homogeneização guiada pelo mercado imobiliário de destinações de férias.

O Museu de Arte Cicládica, em Atenas, que exibe singulares esculturas figurativas de mármore produzidas naquelas ilhas durante a Antiguidade, que influenciaram os rumos da arte ocidental, está trabalhando com autoridades e associações locais com o mesmo objetivo.

A ministra grega do Turismo, Olga Kefalogianni, prometeu recentemente que o crescimento passará a ser regulado.

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“Nós temos uma visão clara e um objetivo de sustentabilidade nas destinações e no nosso produto turístico”, afirmou ela no mês passado, durante uma conferência em Atenas. Kefalogianni disse que no futuro haverá uma ênfase maior na proteção do meio ambiente e da identidade cultural de cada destinação individualmente e que leis estão sendo formuladas para dar apoio a esse esforço.

Quem pressiona por mudança não está convencido.

“É muito fácil falar sobre desenvolvimento sustentável, mas tudo o que eles fazem realmente é aprovar novos investimentos”, afirmou Ioannis Spilanis, ex-secretário-geral para políticas destinadas às ilhas do Ministério de Navegação e Política Insular, que atualmente dirige o Observatório Ageu de Turismo Sustentável.

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Multidão de turistas espera pelo pôr do sol em Mykonos. À medida que o desenvolvimento altera a natureza e a cultura das ilhas gregas, os habitantes locais recuam.  Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Natural de Sérifos, Spilanis foi um dos vários especialistas que compareceram a uma conferência em Mykonos, em novembro, sobre como o turismo “mudou radicalmente as ilhas Cíclades. O evento foi organizado por autoridades locais que recentemente acionaram um tribunal superior da Grécia em razão do projeto de um hotel 5 estrelas cujo complexo incluía uma marina para superiates. (A corte permitiu a construção, mas limitou o tamanho da marina.)

O ex-eurodeputado Nikos Chrysogelos, que integra o partido Verdes Ecologistas e lançou uma iniciativa de sustentabilidade que abrange todas as Cíclades, afirmou que os empreendedores imobiliários desconsideram as características singulares das ilhas e as trata como subúrbios urbanos.

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“A gente via benfeitorias rurais, muros de pedra solta — havia uma harmonia na paisagem”, afirmou Chrysogelos, que é natural de Sifnos. “Agora a gente vê estradas, complexos hoteleiros, muros altos. Poderia ser Dubai ou Atenas.”

O diretor de escola de ensino médio Nikos Belios, que coordena a cooperativa de produtores rurais e apicultores de Sifnos, afirmou que a ilha testemunhou uma entrada de investidores “de todo o planeta construindo estruturas colossais, como fortes, com muros enormes”, para hospedar turistas ricos.

“Eles chegam, carregam seus Cayennes, Jeeps ou Hummers e se trancam”, afirmou Belios sobre os turistas. “Eles não se importam com Sifnos — a ilha é só um ponto no mapa para eles.”

No ano passado, a prefeita de Sifnos, Maria Nadali, pediu para o governo grego pôr um freio no “vertiginoso” desenvolvimento turístico — incluindo um banimento na construção de mais piscinas privadas e “casas-caverna” em encostas de montanhas, uma tendência que, afirmou ela, está alterando “a singular morfologia e a fisionomia arquitetônica”.

Cali, hotel inaugurado em 2022 em Mykonos. Enquanto a proliferação de piscinas ameaça alguns suprimentos de água e os custos disparam, moradores dizem que a essência das ilhas do Egeu está sendo perdida para a homogeneização imobiliária. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

O Museu de Arte Cicládica também se envolveu tentando ajudar os ilhéus a proteger a natureza e a herança cultural. O museu mantém programas em oito ilhas, com tópicos que incluem preservar as jazidas ancestrais de mármore em Paros — fonte de muitos dos artefatos cicládicos da Antiguidade — e documentar e promover práticas tradicionais de gestão hídrica em Andros.

“Estamos tentando ajudá-los a proteger sua herança”, afirmou a diretora-executiva e presidente do museu, Kassandra Marinopoulou, citando como principais ameaças o aumento no turismo, o abandono de tradições locais e os efeitos da mudança climática.

A iniciativa também se destina a dar apoio ao turismo cultural nas ilhas, organizando excursões de caminhadas com guia digital e promovendo a gastronomia local, afirmou Marinopoulou, cuja família é oriunda de Andros.

“Nós não queremos que a cozinha cicládica desapareça porque a geração mais jovem vendeu a taverna da família e ela virou um sushi-bar”, afirmou ela. “O visitante quer autenticidade, não a mesma coisa que viu em Ibiza — isso não é autêntico.”

Taverna Teraza, na vila de Myrsini, Tinos, Grécia. Moradores defendem a proteção da natureza e da herança cultural local, incluindo a alimentação. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Em meio à saturação de hotéis 5 estrelas, algumas empresas buscam promover a “slow travel” como um modelo alternativo de turismo, que apoia comunidades locais em vez de escanteá-las.

Uma delas, a startup de turismo Boundless Life, coloca visitantes estrangeiros em contato com a cultura local em oficinas de cerâmica, visitas a fábricas têxteis e aulas de língua grega. “Quando escolhemos novas locações Boundless, nós nos preocupamos muito em identificar joias culturais e protegê-las”, afirmou Elodie Ferchaud, uma das fundadoras da startup de turismo, que levou muitas famílias de estrangeiros para estadias de três meses em Syros.

Mas muitos nativos das ilhas Cíclades afirmam que o modelo turístico da Grécia precisa ser completamente reformado. “Nós precisamos encontrar uma maneira de sobreviver”, afirmou Spilanis. “Destruir os recursos que temos não é o caminho.”/TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.

THE NEW YORK TIMES — Com torrentes de visitantes estrangeiros alimentando um desenvolvimento aparentemente incessante em ilhas gregas anteriormente intocadas, moradores e autoridades locais começam a reagir, movimentando-se para combater uma onda de construções de novos imóveis que começam a provocar faltas de água e alterar sua singular identidade cultural.

O turismo, responsável pela geração de um quinto da produção econômica da Grécia, é crucial no país, e comunidades de muitas ilhas dependem dele. Mas críticos afirmam que o desenvolvimento explodiu e está descontrolado em certas regiões, particularmente em ilhas como Mykonos e Paros, onde complexos hoteleiros de grande escala floresceram nos anos recentes.

Professores e outros profissionais que vivem nessas e em outras ilhas Cíclades, um arquipélago popular no Mar Ageu, têm tido dificuldades para encontrar habitações acessíveis economicamente em meio ao fluxo de visitantes e compradores de residências, o que alimenta crescentes protestos de cidadãos contra as consequências do turismo desenfreado.

A ilhas, vitrines da explosão do turismo na Grécia, estão testemunhando chamados cada vez mais urgentes pela preservação de sua natureza e herança cultural.

O números de visitantes estrangeiros quebrou outro recorde na Grécia em 2023, com 30,9 milhões de turistas chegando de outros países nos primeiros 10 meses do ano, de acordo com o Banco da Grécia — um aumento de 17% em relação ao ano anterior e ultrapassando níveis pré-pandêmicos de turismo.

Turistas esperam para embarcar em uma balsa no porto de Pireu, na Grécia. O número de chegadas de estrangeiros à Grécia bateu outro recorde em 2023, com 30 milhões nos primeiros 10 meses do ano. Foto: Marco Arguello/The New York Times

Para atender tamanha demanda, 461 novos hotéis abriram nas ilhas do Egeu Meridional entre 2020 e 2023, de acordo com dados da Câmara Helênica de Hotéis compilados pelo Instituto de Pesquisa em Turismo, sediado em Atenas. Desses novos hotéis, 126 foram inaugurados no ano passado, de acordo com o instituto.

A proliferação de piscinas colocou uma grave pressão sobre o abastecimento de água em ilhas Cíclades como Sifnos e Tinos, e a agressiva expansão de bares à beira-mar sobre praias intocadas em muitas ilhas tem gerado indignação entre os moradores.

Conservacionistas e arquitetos também estão liderando um esforço para preservar a alma das Cíclades, que, afirmam eles, corre o risco de ser apagada em meio a uma homogeneização guiada pelo mercado imobiliário de destinações de férias.

O Museu de Arte Cicládica, em Atenas, que exibe singulares esculturas figurativas de mármore produzidas naquelas ilhas durante a Antiguidade, que influenciaram os rumos da arte ocidental, está trabalhando com autoridades e associações locais com o mesmo objetivo.

A ministra grega do Turismo, Olga Kefalogianni, prometeu recentemente que o crescimento passará a ser regulado.

“Nós temos uma visão clara e um objetivo de sustentabilidade nas destinações e no nosso produto turístico”, afirmou ela no mês passado, durante uma conferência em Atenas. Kefalogianni disse que no futuro haverá uma ênfase maior na proteção do meio ambiente e da identidade cultural de cada destinação individualmente e que leis estão sendo formuladas para dar apoio a esse esforço.

Quem pressiona por mudança não está convencido.

“É muito fácil falar sobre desenvolvimento sustentável, mas tudo o que eles fazem realmente é aprovar novos investimentos”, afirmou Ioannis Spilanis, ex-secretário-geral para políticas destinadas às ilhas do Ministério de Navegação e Política Insular, que atualmente dirige o Observatório Ageu de Turismo Sustentável.

Multidão de turistas espera pelo pôr do sol em Mykonos. À medida que o desenvolvimento altera a natureza e a cultura das ilhas gregas, os habitantes locais recuam.  Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Natural de Sérifos, Spilanis foi um dos vários especialistas que compareceram a uma conferência em Mykonos, em novembro, sobre como o turismo “mudou radicalmente as ilhas Cíclades. O evento foi organizado por autoridades locais que recentemente acionaram um tribunal superior da Grécia em razão do projeto de um hotel 5 estrelas cujo complexo incluía uma marina para superiates. (A corte permitiu a construção, mas limitou o tamanho da marina.)

O ex-eurodeputado Nikos Chrysogelos, que integra o partido Verdes Ecologistas e lançou uma iniciativa de sustentabilidade que abrange todas as Cíclades, afirmou que os empreendedores imobiliários desconsideram as características singulares das ilhas e as trata como subúrbios urbanos.

“A gente via benfeitorias rurais, muros de pedra solta — havia uma harmonia na paisagem”, afirmou Chrysogelos, que é natural de Sifnos. “Agora a gente vê estradas, complexos hoteleiros, muros altos. Poderia ser Dubai ou Atenas.”

O diretor de escola de ensino médio Nikos Belios, que coordena a cooperativa de produtores rurais e apicultores de Sifnos, afirmou que a ilha testemunhou uma entrada de investidores “de todo o planeta construindo estruturas colossais, como fortes, com muros enormes”, para hospedar turistas ricos.

“Eles chegam, carregam seus Cayennes, Jeeps ou Hummers e se trancam”, afirmou Belios sobre os turistas. “Eles não se importam com Sifnos — a ilha é só um ponto no mapa para eles.”

No ano passado, a prefeita de Sifnos, Maria Nadali, pediu para o governo grego pôr um freio no “vertiginoso” desenvolvimento turístico — incluindo um banimento na construção de mais piscinas privadas e “casas-caverna” em encostas de montanhas, uma tendência que, afirmou ela, está alterando “a singular morfologia e a fisionomia arquitetônica”.

Cali, hotel inaugurado em 2022 em Mykonos. Enquanto a proliferação de piscinas ameaça alguns suprimentos de água e os custos disparam, moradores dizem que a essência das ilhas do Egeu está sendo perdida para a homogeneização imobiliária. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

O Museu de Arte Cicládica também se envolveu tentando ajudar os ilhéus a proteger a natureza e a herança cultural. O museu mantém programas em oito ilhas, com tópicos que incluem preservar as jazidas ancestrais de mármore em Paros — fonte de muitos dos artefatos cicládicos da Antiguidade — e documentar e promover práticas tradicionais de gestão hídrica em Andros.

“Estamos tentando ajudá-los a proteger sua herança”, afirmou a diretora-executiva e presidente do museu, Kassandra Marinopoulou, citando como principais ameaças o aumento no turismo, o abandono de tradições locais e os efeitos da mudança climática.

A iniciativa também se destina a dar apoio ao turismo cultural nas ilhas, organizando excursões de caminhadas com guia digital e promovendo a gastronomia local, afirmou Marinopoulou, cuja família é oriunda de Andros.

“Nós não queremos que a cozinha cicládica desapareça porque a geração mais jovem vendeu a taverna da família e ela virou um sushi-bar”, afirmou ela. “O visitante quer autenticidade, não a mesma coisa que viu em Ibiza — isso não é autêntico.”

Taverna Teraza, na vila de Myrsini, Tinos, Grécia. Moradores defendem a proteção da natureza e da herança cultural local, incluindo a alimentação. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Em meio à saturação de hotéis 5 estrelas, algumas empresas buscam promover a “slow travel” como um modelo alternativo de turismo, que apoia comunidades locais em vez de escanteá-las.

Uma delas, a startup de turismo Boundless Life, coloca visitantes estrangeiros em contato com a cultura local em oficinas de cerâmica, visitas a fábricas têxteis e aulas de língua grega. “Quando escolhemos novas locações Boundless, nós nos preocupamos muito em identificar joias culturais e protegê-las”, afirmou Elodie Ferchaud, uma das fundadoras da startup de turismo, que levou muitas famílias de estrangeiros para estadias de três meses em Syros.

Mas muitos nativos das ilhas Cíclades afirmam que o modelo turístico da Grécia precisa ser completamente reformado. “Nós precisamos encontrar uma maneira de sobreviver”, afirmou Spilanis. “Destruir os recursos que temos não é o caminho.”/TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.

THE NEW YORK TIMES — Com torrentes de visitantes estrangeiros alimentando um desenvolvimento aparentemente incessante em ilhas gregas anteriormente intocadas, moradores e autoridades locais começam a reagir, movimentando-se para combater uma onda de construções de novos imóveis que começam a provocar faltas de água e alterar sua singular identidade cultural.

O turismo, responsável pela geração de um quinto da produção econômica da Grécia, é crucial no país, e comunidades de muitas ilhas dependem dele. Mas críticos afirmam que o desenvolvimento explodiu e está descontrolado em certas regiões, particularmente em ilhas como Mykonos e Paros, onde complexos hoteleiros de grande escala floresceram nos anos recentes.

Professores e outros profissionais que vivem nessas e em outras ilhas Cíclades, um arquipélago popular no Mar Ageu, têm tido dificuldades para encontrar habitações acessíveis economicamente em meio ao fluxo de visitantes e compradores de residências, o que alimenta crescentes protestos de cidadãos contra as consequências do turismo desenfreado.

A ilhas, vitrines da explosão do turismo na Grécia, estão testemunhando chamados cada vez mais urgentes pela preservação de sua natureza e herança cultural.

O números de visitantes estrangeiros quebrou outro recorde na Grécia em 2023, com 30,9 milhões de turistas chegando de outros países nos primeiros 10 meses do ano, de acordo com o Banco da Grécia — um aumento de 17% em relação ao ano anterior e ultrapassando níveis pré-pandêmicos de turismo.

Turistas esperam para embarcar em uma balsa no porto de Pireu, na Grécia. O número de chegadas de estrangeiros à Grécia bateu outro recorde em 2023, com 30 milhões nos primeiros 10 meses do ano. Foto: Marco Arguello/The New York Times

Para atender tamanha demanda, 461 novos hotéis abriram nas ilhas do Egeu Meridional entre 2020 e 2023, de acordo com dados da Câmara Helênica de Hotéis compilados pelo Instituto de Pesquisa em Turismo, sediado em Atenas. Desses novos hotéis, 126 foram inaugurados no ano passado, de acordo com o instituto.

A proliferação de piscinas colocou uma grave pressão sobre o abastecimento de água em ilhas Cíclades como Sifnos e Tinos, e a agressiva expansão de bares à beira-mar sobre praias intocadas em muitas ilhas tem gerado indignação entre os moradores.

Conservacionistas e arquitetos também estão liderando um esforço para preservar a alma das Cíclades, que, afirmam eles, corre o risco de ser apagada em meio a uma homogeneização guiada pelo mercado imobiliário de destinações de férias.

O Museu de Arte Cicládica, em Atenas, que exibe singulares esculturas figurativas de mármore produzidas naquelas ilhas durante a Antiguidade, que influenciaram os rumos da arte ocidental, está trabalhando com autoridades e associações locais com o mesmo objetivo.

A ministra grega do Turismo, Olga Kefalogianni, prometeu recentemente que o crescimento passará a ser regulado.

“Nós temos uma visão clara e um objetivo de sustentabilidade nas destinações e no nosso produto turístico”, afirmou ela no mês passado, durante uma conferência em Atenas. Kefalogianni disse que no futuro haverá uma ênfase maior na proteção do meio ambiente e da identidade cultural de cada destinação individualmente e que leis estão sendo formuladas para dar apoio a esse esforço.

Quem pressiona por mudança não está convencido.

“É muito fácil falar sobre desenvolvimento sustentável, mas tudo o que eles fazem realmente é aprovar novos investimentos”, afirmou Ioannis Spilanis, ex-secretário-geral para políticas destinadas às ilhas do Ministério de Navegação e Política Insular, que atualmente dirige o Observatório Ageu de Turismo Sustentável.

Multidão de turistas espera pelo pôr do sol em Mykonos. À medida que o desenvolvimento altera a natureza e a cultura das ilhas gregas, os habitantes locais recuam.  Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Natural de Sérifos, Spilanis foi um dos vários especialistas que compareceram a uma conferência em Mykonos, em novembro, sobre como o turismo “mudou radicalmente as ilhas Cíclades. O evento foi organizado por autoridades locais que recentemente acionaram um tribunal superior da Grécia em razão do projeto de um hotel 5 estrelas cujo complexo incluía uma marina para superiates. (A corte permitiu a construção, mas limitou o tamanho da marina.)

O ex-eurodeputado Nikos Chrysogelos, que integra o partido Verdes Ecologistas e lançou uma iniciativa de sustentabilidade que abrange todas as Cíclades, afirmou que os empreendedores imobiliários desconsideram as características singulares das ilhas e as trata como subúrbios urbanos.

“A gente via benfeitorias rurais, muros de pedra solta — havia uma harmonia na paisagem”, afirmou Chrysogelos, que é natural de Sifnos. “Agora a gente vê estradas, complexos hoteleiros, muros altos. Poderia ser Dubai ou Atenas.”

O diretor de escola de ensino médio Nikos Belios, que coordena a cooperativa de produtores rurais e apicultores de Sifnos, afirmou que a ilha testemunhou uma entrada de investidores “de todo o planeta construindo estruturas colossais, como fortes, com muros enormes”, para hospedar turistas ricos.

“Eles chegam, carregam seus Cayennes, Jeeps ou Hummers e se trancam”, afirmou Belios sobre os turistas. “Eles não se importam com Sifnos — a ilha é só um ponto no mapa para eles.”

No ano passado, a prefeita de Sifnos, Maria Nadali, pediu para o governo grego pôr um freio no “vertiginoso” desenvolvimento turístico — incluindo um banimento na construção de mais piscinas privadas e “casas-caverna” em encostas de montanhas, uma tendência que, afirmou ela, está alterando “a singular morfologia e a fisionomia arquitetônica”.

Cali, hotel inaugurado em 2022 em Mykonos. Enquanto a proliferação de piscinas ameaça alguns suprimentos de água e os custos disparam, moradores dizem que a essência das ilhas do Egeu está sendo perdida para a homogeneização imobiliária. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

O Museu de Arte Cicládica também se envolveu tentando ajudar os ilhéus a proteger a natureza e a herança cultural. O museu mantém programas em oito ilhas, com tópicos que incluem preservar as jazidas ancestrais de mármore em Paros — fonte de muitos dos artefatos cicládicos da Antiguidade — e documentar e promover práticas tradicionais de gestão hídrica em Andros.

“Estamos tentando ajudá-los a proteger sua herança”, afirmou a diretora-executiva e presidente do museu, Kassandra Marinopoulou, citando como principais ameaças o aumento no turismo, o abandono de tradições locais e os efeitos da mudança climática.

A iniciativa também se destina a dar apoio ao turismo cultural nas ilhas, organizando excursões de caminhadas com guia digital e promovendo a gastronomia local, afirmou Marinopoulou, cuja família é oriunda de Andros.

“Nós não queremos que a cozinha cicládica desapareça porque a geração mais jovem vendeu a taverna da família e ela virou um sushi-bar”, afirmou ela. “O visitante quer autenticidade, não a mesma coisa que viu em Ibiza — isso não é autêntico.”

Taverna Teraza, na vila de Myrsini, Tinos, Grécia. Moradores defendem a proteção da natureza e da herança cultural local, incluindo a alimentação. Foto: Maria Mavropoulou/The New York Times

Em meio à saturação de hotéis 5 estrelas, algumas empresas buscam promover a “slow travel” como um modelo alternativo de turismo, que apoia comunidades locais em vez de escanteá-las.

Uma delas, a startup de turismo Boundless Life, coloca visitantes estrangeiros em contato com a cultura local em oficinas de cerâmica, visitas a fábricas têxteis e aulas de língua grega. “Quando escolhemos novas locações Boundless, nós nos preocupamos muito em identificar joias culturais e protegê-las”, afirmou Elodie Ferchaud, uma das fundadoras da startup de turismo, que levou muitas famílias de estrangeiros para estadias de três meses em Syros.

Mas muitos nativos das ilhas Cíclades afirmam que o modelo turístico da Grécia precisa ser completamente reformado. “Nós precisamos encontrar uma maneira de sobreviver”, afirmou Spilanis. “Destruir os recursos que temos não é o caminho.”/TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.

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