O presidente do Equador, Lenín Moreno, completará seis meses de sua eleição rompido com seu mentor, o ex-presidente Rafael Correa, e o companheiro de chapa, o vice Jorge Glas. O comportamento independente do presidente, que, segundo analistas, se deve a escândalos de corrupção e à crise econômica, é bem avaliado pelos equatorianos: 76,5% da população o aprova.
Segundo a última pesquisa do Instituto Cedatos/Gallup, a aprovação à gestão do presidente subiu 10,5 pontos porcentuais desde a posse. Analistas creditam o sucesso ao distanciamento do núcleo duro do correísmo e, principalmente, sua agenda anticorrupção.
“O distanciamento entre Moreno e Correa se deve a vários fatores: a economia não era tão saudável quanto o ex-presidente dizia ser. Além disso, as denúncias de corrupção sobre funcionários de Correa fizeram com que Moreno buscasse distância dele”, disse ao Estado o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). “Além disso, Correa tentou ser uma espécie de tutor para Moreno, o que ele rejeitou.”
A luta contra a corrupção foi um dos temas principais da campanha eleitoral. A resistência da Procuradoria-Geral em divulgar os nomes suspeitos de receber propina da Odebrecht revoltou a oposição, que acusava o correísmo de omitir os dados para beneficiar a chapa de Moreno e Glas, uma vez que o candidato a vice já tinha o nome envolvido em denúncias.
Ao assumir, Moreno prometeu realizar uma “cirurgia” contra a corrupção e estendeu a mão à oposição, prometendo um governo de união, depois de uma acirrada disputa em dois turnos contra o economista Guillermo Lasso.
Nas primeiras semanas de governo, Moreno também cortou impostos e acenou para dois setores rompidos com Correa: a imprensa, trocando toda a cúpula do conselho criado pelo antecessor para regular a mídia, e a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). Não tardou para as rusgas com Correa começarem.
O ex-presidente acusou o sucessor de entregar ativos do Estado à oposição. Moreno respondeu insinuando que Correa sofria de abstinência do poder. Na sexta-feira, Moreno disse ter descoberto em seu gabinete uma câmara instalada há anos por Correa, que não teve a gentileza de avisar que deixava o equipamento ativo. “O distanciamento entre os dois começou com a chamada guerra de tuítes, mas já vinha de antes”, diz a analista Natalia Sierra, da PUC do Equador. “Moreno rompeu com Correa porque precisava ratificar seu compromisso de combater a corrupção.”
A situação se agravou com o avanço das investigações sobre Glas. Revelações de que ele estaria implicado no caso Odebrecht fizeram com que Moreno retirasse as funções do vice, muito ativo na gestão de Correa e agora figura decorativa com o novo presidente. Em acordo de delação premiada, a empresa disse ter pago US$ 33,5 milhões a autoridades equatorianas para obter obras no país. Glas teria pedido parte desse dinheiro à empresa.
O Congresso, no qual o Alianza País é maioria, autorizou no mês passado investigação contra Glas. A ruptura de Moreno com Glas e Correa criou também um cisma no partido governista e analistas já veem a “revolução cidadã” do ex-presidente em xeque como projeto político. O correísmo dependia fundamentalmente da liderança de Correa. E sem ele nota-se que começa a desmoronar.”, afirma Pachano. “ O destino dessa relação dependerá do que acontecer com Glas, se será julgado.”
Em nota, a empreiteira brasileira afirma que está colaborando com a Justiça, já reconheceu seus erros, pediu desculpas e assinou um acordo de leniência com autoridades de Brasil, EUA, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá.
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Lenín Moreno tomou posse como presidente do Equador nesta quarta-feira com o objetivo de fazer avançar o modelo de esquerda conhecido como socialismo do século XXI, seguindo o rastro de Rafael Correa.