Rússia ameaça Lituânia por sanções em exclave de Kaliningrado


Chefe do conselho de segurança do Kremlin prometeu ‘impacto negativo significativo’ à população lituana; premiê do país-membro da UE ironizou reação russa

Por Redação
Atualização:

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

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O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

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Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

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Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

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“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

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O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

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“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

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