Rússia aperta o botão de pânico e aumenta risco de guerra nuclear; leia análise


Contraofensiva ucraniana expôs um exército russo esgotado e desorganizado e desmoronou ainda mais a narrativa de propaganda de Putin em torno da guerra.

Por Ishaan Tharoor

THE WASHINGTON POST - O que muitos observadores da guerra na Ucrânia temiam está prestes a acontecer. Líderes separatistas em quatro enclaves controlados por forças russas e seus representantes na Ucrânia anunciaram “referendos” para decidir se seus territórios se juntarão à Rússia.

Esses votos, que são ilegais sob a lei ucraniana e internacional e vistos pela maioria dos analistas como uma farsa, são semelhantes ao que a Rússia desfraldou após a anexação da Crimeia em 2014. Ao contrário de então, o domínio militar do Kremlin sobre esses Estados nas regiões ucranianas de Kherson, Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia é mais tênue, com a Ucrânia no meio de uma ofensiva em andamento para expulsar as tropas russas de mais áreas do país.

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Mais anexações russas de terras ucranianas – não importa a natureza espúria do movimento – marca a última jogada do presidente russo, Vladimir Putin. Humilhado no campo de batalha nas últimas semanas, ele pode acreditar que mudar os fatos políticos no terreno pode impedir os avanços ucranianos e forçar um recálculo entre os governos ocidentais.

Soldados ucranianos acenam ao entrarem na cidade de Mala Komyshuvakha, perto de Izium, na região de Kharkiv. Foto: Yevhen Titov/ AFP

“Depois de anexar os territórios, Moscou declarará que os ataques ucranianos nessas áreas são ataques à própria Rússia, um potencial gatilho para uma mobilização militar geral ou uma escalada perigosa, como o uso de uma arma nuclear contra a Ucrânia”, escreveu meu colega no The Washington Post, Robyn Dixon.

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Putin discursou nas primeiras horas da manhã de quarta-feira, descrevendo os próximos passos da Rússia - a convocação de 300 mil reservistas e uma ameaça clara ao Ocidente. O parlamento de seu país está pressionando por um projeto de lei que endurecerá as punições para uma série de crimes, como deserção e insubordinação, se cometidos durante a mobilização militar ou situações de combate.

Os radicais pró-guerra pediram medidas mais duras para apoiar o esforço de guerra da Rússia. Eles também acreditam que um maior controle sobre o território ucraniano ocupado pela Rússia aumentará a aposta a favor do Kremlin.

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“A julgar pelo que está acontecendo e pelo que está prestes a acontecer, esta semana marca a véspera de nossa vitória iminente ou a véspera de uma guerra nuclear”, tuitou Margarita Simonyan, editora-chefe do canal de propaganda estatal RT. “Não consigo ver nenhuma terceira opção.”

As autoridades ucranianas não ficaram impressionadas. “Referendos falsos não vão mudar nada. Nem qualquer ‘mobilização’ híbrida”, respondeu o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba. “A Rússia foi e continua sendo um agressor que ocupa ilegalmente partes de terras ucranianas. A Ucrânia tem todo o direito de libertar seus territórios e continuará liberando-os, independentemente do que a Rússia tenha a dizer.”

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Esse sentimento foi ecoado pelo presidente francês Emmanuel Macron ao falar na terça-feira na Assembleia Geral da ONU. Ele classificou as ações russas desde a invasão de 24 de fevereiro como “um retorno à era do imperialismo e das colônias” e falou diretamente às nações do mundo em desenvolvimento que parecem estar em cima do muro durante esse conflito. “Aqueles que estão em silêncio agora sobre esse novo imperialismo, ou são secretamente cúmplices dele, mostram um novo cinismo que está destruindo a ordem global sem a qual a paz não é possível”, disse Macron.

Outros diplomatas ocidentais condenaram os planos de anexação debatidos. “A Rússia, sua liderança política e todos os envolvidos nesses ‘referendos’ e outras violações do direito internacional na Ucrânia serão responsabilizados e medidas restritivas adicionais contra a Rússia serão consideradas”, disse o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, em um comunicado.

Com exceção do apoio retórico de um punhado de aliados de extrema direita na Europa, Putin também não pode contar com muito apoio de outros lugares. Na semana passada, em uma cúpula no Usbequistão, ele enfrentou uma certa pressão dos líderes da China e da Índia, que têm laços historicamente calorosos com Moscou, para reduzir as hostilidades na Ucrânia.

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Vladimir Putin fez pronunciamento nesta quarta-feira, 21, anunciando uma mobilização de tropas na Ucrânia. Foto: Serviço de Imprensa da Presidência russa via AP

“Esses países sinalizaram a Putin que ele deveria acabar com a guerra o mais rápido possível e parar de alegar representar a totalidade do mundo não ocidental”, tuitou Alexander Baunov, jornalista russo e especialista em política internacional. “As ações de Moscou, portanto, estão sendo tomadas para acabar com a guerra o mais rápido possível, ou, se isso não funcionar, colocar a culpa por isso em outras pessoas, e transformar a invasão russa de um país vizinho em um ataque defensivo.”

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As impressionantes vitórias da Ucrânia na região nordeste de Kharkiv prepararam a mesa para essa virada estratégica. O rápido avanço ucraniano expôs um exército russo esgotado e desorganizado que se dissolveu. Também desmoronou ainda mais a narrativa de propaganda de Putin em torno da guerra. Durante meses, o Kremlin enquadrou a invasão russa como uma “operação especial” com um resultado inevitável – trazer um pequeno vizinho rebelde de volta ao redil russo. A série de reveses pungentes ilustrou a aparente impossibilidade de uma vitória militar russa decisiva.

E muitos na Rússia também estão entendendo isso agora. “A julgar pelos comentários mordazes nos canais russos do Telegram e a mudança de tom na mídia controlada pelo Kremlin, os russos estão perdendo os últimos vislumbres de esperança com seu poder militar”, escreveram Gian Gentile e Raphael S. Cohen na revista Foreign Affairs, comparando a vitória ucraniana em Kharkiv à vitória americana sobre os britânicos em Saratoga em 1777, que virou a maré da guerra contra os britânicos.

Essa analogia pode ser um pouco prematura. Dara Massicot, colega de Gentile e Cohen na Rand Corporation, alertou que a próxima fase da guerra – ainda fortemente influenciada pelo apoio militar ocidental à Ucrânia enquanto tenta recuperar seu território perdido – pode ver toda uma nova série de provocações russas. “Se a jogada de anexação do Kremlin falhar em parar a luta e o apoio à Ucrânia, o Kremlin precisará atacar para mostrar que está falando sério”, ela twittou. “Isso significa uma escalada que pode vir de diferentes formas” – incluindo mais ataques de mísseis em áreas civis ucranianas e infraestrutura de energia, ataques cibernéticos e exercícios que envolvem o “armas nucleares simuladas”, se não usarem as reais mesmo.

Os riscos estgão aumentando. O Ocidente “deve lembrar à Rússia as regras invisíveis da guerra: que nenhum dos lados quer transformar essa guerra convencional em um confronto mais amplo entre a Otan e a Rússia”, escreveram Liana Fix e Michael Kimmage na revista Foreign Policy. “Uma escalada nuclear violaria essas regras e poderia levar ao envolvimento da Otan. Seria um prejuízo para todos.”

Enquanto isso, Fix e Kimmage argumentaram, as tentativas do Kremlin de ordenar uma mobilização geral só podem prejudicar a aprovação da guerra entre o público russo e minar o próprio controle de Putin no poder. “A Rússia de Putin foi incapaz de desenvolver um conceito claro para sua guerra, incapaz de aprender com seus erros e incapaz de executar muitas das funções de um exército de primeira classe”, escreveram. “A mobilização em si não mudaria nada disso.”

THE WASHINGTON POST - O que muitos observadores da guerra na Ucrânia temiam está prestes a acontecer. Líderes separatistas em quatro enclaves controlados por forças russas e seus representantes na Ucrânia anunciaram “referendos” para decidir se seus territórios se juntarão à Rússia.

Esses votos, que são ilegais sob a lei ucraniana e internacional e vistos pela maioria dos analistas como uma farsa, são semelhantes ao que a Rússia desfraldou após a anexação da Crimeia em 2014. Ao contrário de então, o domínio militar do Kremlin sobre esses Estados nas regiões ucranianas de Kherson, Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia é mais tênue, com a Ucrânia no meio de uma ofensiva em andamento para expulsar as tropas russas de mais áreas do país.

Mais anexações russas de terras ucranianas – não importa a natureza espúria do movimento – marca a última jogada do presidente russo, Vladimir Putin. Humilhado no campo de batalha nas últimas semanas, ele pode acreditar que mudar os fatos políticos no terreno pode impedir os avanços ucranianos e forçar um recálculo entre os governos ocidentais.

Soldados ucranianos acenam ao entrarem na cidade de Mala Komyshuvakha, perto de Izium, na região de Kharkiv. Foto: Yevhen Titov/ AFP

“Depois de anexar os territórios, Moscou declarará que os ataques ucranianos nessas áreas são ataques à própria Rússia, um potencial gatilho para uma mobilização militar geral ou uma escalada perigosa, como o uso de uma arma nuclear contra a Ucrânia”, escreveu meu colega no The Washington Post, Robyn Dixon.

Putin discursou nas primeiras horas da manhã de quarta-feira, descrevendo os próximos passos da Rússia - a convocação de 300 mil reservistas e uma ameaça clara ao Ocidente. O parlamento de seu país está pressionando por um projeto de lei que endurecerá as punições para uma série de crimes, como deserção e insubordinação, se cometidos durante a mobilização militar ou situações de combate.

Os radicais pró-guerra pediram medidas mais duras para apoiar o esforço de guerra da Rússia. Eles também acreditam que um maior controle sobre o território ucraniano ocupado pela Rússia aumentará a aposta a favor do Kremlin.

“A julgar pelo que está acontecendo e pelo que está prestes a acontecer, esta semana marca a véspera de nossa vitória iminente ou a véspera de uma guerra nuclear”, tuitou Margarita Simonyan, editora-chefe do canal de propaganda estatal RT. “Não consigo ver nenhuma terceira opção.”

As autoridades ucranianas não ficaram impressionadas. “Referendos falsos não vão mudar nada. Nem qualquer ‘mobilização’ híbrida”, respondeu o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba. “A Rússia foi e continua sendo um agressor que ocupa ilegalmente partes de terras ucranianas. A Ucrânia tem todo o direito de libertar seus territórios e continuará liberando-os, independentemente do que a Rússia tenha a dizer.”

Esse sentimento foi ecoado pelo presidente francês Emmanuel Macron ao falar na terça-feira na Assembleia Geral da ONU. Ele classificou as ações russas desde a invasão de 24 de fevereiro como “um retorno à era do imperialismo e das colônias” e falou diretamente às nações do mundo em desenvolvimento que parecem estar em cima do muro durante esse conflito. “Aqueles que estão em silêncio agora sobre esse novo imperialismo, ou são secretamente cúmplices dele, mostram um novo cinismo que está destruindo a ordem global sem a qual a paz não é possível”, disse Macron.

Outros diplomatas ocidentais condenaram os planos de anexação debatidos. “A Rússia, sua liderança política e todos os envolvidos nesses ‘referendos’ e outras violações do direito internacional na Ucrânia serão responsabilizados e medidas restritivas adicionais contra a Rússia serão consideradas”, disse o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, em um comunicado.

Com exceção do apoio retórico de um punhado de aliados de extrema direita na Europa, Putin também não pode contar com muito apoio de outros lugares. Na semana passada, em uma cúpula no Usbequistão, ele enfrentou uma certa pressão dos líderes da China e da Índia, que têm laços historicamente calorosos com Moscou, para reduzir as hostilidades na Ucrânia.

Vladimir Putin fez pronunciamento nesta quarta-feira, 21, anunciando uma mobilização de tropas na Ucrânia. Foto: Serviço de Imprensa da Presidência russa via AP

“Esses países sinalizaram a Putin que ele deveria acabar com a guerra o mais rápido possível e parar de alegar representar a totalidade do mundo não ocidental”, tuitou Alexander Baunov, jornalista russo e especialista em política internacional. “As ações de Moscou, portanto, estão sendo tomadas para acabar com a guerra o mais rápido possível, ou, se isso não funcionar, colocar a culpa por isso em outras pessoas, e transformar a invasão russa de um país vizinho em um ataque defensivo.”

As impressionantes vitórias da Ucrânia na região nordeste de Kharkiv prepararam a mesa para essa virada estratégica. O rápido avanço ucraniano expôs um exército russo esgotado e desorganizado que se dissolveu. Também desmoronou ainda mais a narrativa de propaganda de Putin em torno da guerra. Durante meses, o Kremlin enquadrou a invasão russa como uma “operação especial” com um resultado inevitável – trazer um pequeno vizinho rebelde de volta ao redil russo. A série de reveses pungentes ilustrou a aparente impossibilidade de uma vitória militar russa decisiva.

E muitos na Rússia também estão entendendo isso agora. “A julgar pelos comentários mordazes nos canais russos do Telegram e a mudança de tom na mídia controlada pelo Kremlin, os russos estão perdendo os últimos vislumbres de esperança com seu poder militar”, escreveram Gian Gentile e Raphael S. Cohen na revista Foreign Affairs, comparando a vitória ucraniana em Kharkiv à vitória americana sobre os britânicos em Saratoga em 1777, que virou a maré da guerra contra os britânicos.

Essa analogia pode ser um pouco prematura. Dara Massicot, colega de Gentile e Cohen na Rand Corporation, alertou que a próxima fase da guerra – ainda fortemente influenciada pelo apoio militar ocidental à Ucrânia enquanto tenta recuperar seu território perdido – pode ver toda uma nova série de provocações russas. “Se a jogada de anexação do Kremlin falhar em parar a luta e o apoio à Ucrânia, o Kremlin precisará atacar para mostrar que está falando sério”, ela twittou. “Isso significa uma escalada que pode vir de diferentes formas” – incluindo mais ataques de mísseis em áreas civis ucranianas e infraestrutura de energia, ataques cibernéticos e exercícios que envolvem o “armas nucleares simuladas”, se não usarem as reais mesmo.

Os riscos estgão aumentando. O Ocidente “deve lembrar à Rússia as regras invisíveis da guerra: que nenhum dos lados quer transformar essa guerra convencional em um confronto mais amplo entre a Otan e a Rússia”, escreveram Liana Fix e Michael Kimmage na revista Foreign Policy. “Uma escalada nuclear violaria essas regras e poderia levar ao envolvimento da Otan. Seria um prejuízo para todos.”

Enquanto isso, Fix e Kimmage argumentaram, as tentativas do Kremlin de ordenar uma mobilização geral só podem prejudicar a aprovação da guerra entre o público russo e minar o próprio controle de Putin no poder. “A Rússia de Putin foi incapaz de desenvolver um conceito claro para sua guerra, incapaz de aprender com seus erros e incapaz de executar muitas das funções de um exército de primeira classe”, escreveram. “A mobilização em si não mudaria nada disso.”

THE WASHINGTON POST - O que muitos observadores da guerra na Ucrânia temiam está prestes a acontecer. Líderes separatistas em quatro enclaves controlados por forças russas e seus representantes na Ucrânia anunciaram “referendos” para decidir se seus territórios se juntarão à Rússia.

Esses votos, que são ilegais sob a lei ucraniana e internacional e vistos pela maioria dos analistas como uma farsa, são semelhantes ao que a Rússia desfraldou após a anexação da Crimeia em 2014. Ao contrário de então, o domínio militar do Kremlin sobre esses Estados nas regiões ucranianas de Kherson, Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia é mais tênue, com a Ucrânia no meio de uma ofensiva em andamento para expulsar as tropas russas de mais áreas do país.

Mais anexações russas de terras ucranianas – não importa a natureza espúria do movimento – marca a última jogada do presidente russo, Vladimir Putin. Humilhado no campo de batalha nas últimas semanas, ele pode acreditar que mudar os fatos políticos no terreno pode impedir os avanços ucranianos e forçar um recálculo entre os governos ocidentais.

Soldados ucranianos acenam ao entrarem na cidade de Mala Komyshuvakha, perto de Izium, na região de Kharkiv. Foto: Yevhen Titov/ AFP

“Depois de anexar os territórios, Moscou declarará que os ataques ucranianos nessas áreas são ataques à própria Rússia, um potencial gatilho para uma mobilização militar geral ou uma escalada perigosa, como o uso de uma arma nuclear contra a Ucrânia”, escreveu meu colega no The Washington Post, Robyn Dixon.

Putin discursou nas primeiras horas da manhã de quarta-feira, descrevendo os próximos passos da Rússia - a convocação de 300 mil reservistas e uma ameaça clara ao Ocidente. O parlamento de seu país está pressionando por um projeto de lei que endurecerá as punições para uma série de crimes, como deserção e insubordinação, se cometidos durante a mobilização militar ou situações de combate.

Os radicais pró-guerra pediram medidas mais duras para apoiar o esforço de guerra da Rússia. Eles também acreditam que um maior controle sobre o território ucraniano ocupado pela Rússia aumentará a aposta a favor do Kremlin.

“A julgar pelo que está acontecendo e pelo que está prestes a acontecer, esta semana marca a véspera de nossa vitória iminente ou a véspera de uma guerra nuclear”, tuitou Margarita Simonyan, editora-chefe do canal de propaganda estatal RT. “Não consigo ver nenhuma terceira opção.”

As autoridades ucranianas não ficaram impressionadas. “Referendos falsos não vão mudar nada. Nem qualquer ‘mobilização’ híbrida”, respondeu o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba. “A Rússia foi e continua sendo um agressor que ocupa ilegalmente partes de terras ucranianas. A Ucrânia tem todo o direito de libertar seus territórios e continuará liberando-os, independentemente do que a Rússia tenha a dizer.”

Esse sentimento foi ecoado pelo presidente francês Emmanuel Macron ao falar na terça-feira na Assembleia Geral da ONU. Ele classificou as ações russas desde a invasão de 24 de fevereiro como “um retorno à era do imperialismo e das colônias” e falou diretamente às nações do mundo em desenvolvimento que parecem estar em cima do muro durante esse conflito. “Aqueles que estão em silêncio agora sobre esse novo imperialismo, ou são secretamente cúmplices dele, mostram um novo cinismo que está destruindo a ordem global sem a qual a paz não é possível”, disse Macron.

Outros diplomatas ocidentais condenaram os planos de anexação debatidos. “A Rússia, sua liderança política e todos os envolvidos nesses ‘referendos’ e outras violações do direito internacional na Ucrânia serão responsabilizados e medidas restritivas adicionais contra a Rússia serão consideradas”, disse o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, em um comunicado.

Com exceção do apoio retórico de um punhado de aliados de extrema direita na Europa, Putin também não pode contar com muito apoio de outros lugares. Na semana passada, em uma cúpula no Usbequistão, ele enfrentou uma certa pressão dos líderes da China e da Índia, que têm laços historicamente calorosos com Moscou, para reduzir as hostilidades na Ucrânia.

Vladimir Putin fez pronunciamento nesta quarta-feira, 21, anunciando uma mobilização de tropas na Ucrânia. Foto: Serviço de Imprensa da Presidência russa via AP

“Esses países sinalizaram a Putin que ele deveria acabar com a guerra o mais rápido possível e parar de alegar representar a totalidade do mundo não ocidental”, tuitou Alexander Baunov, jornalista russo e especialista em política internacional. “As ações de Moscou, portanto, estão sendo tomadas para acabar com a guerra o mais rápido possível, ou, se isso não funcionar, colocar a culpa por isso em outras pessoas, e transformar a invasão russa de um país vizinho em um ataque defensivo.”

As impressionantes vitórias da Ucrânia na região nordeste de Kharkiv prepararam a mesa para essa virada estratégica. O rápido avanço ucraniano expôs um exército russo esgotado e desorganizado que se dissolveu. Também desmoronou ainda mais a narrativa de propaganda de Putin em torno da guerra. Durante meses, o Kremlin enquadrou a invasão russa como uma “operação especial” com um resultado inevitável – trazer um pequeno vizinho rebelde de volta ao redil russo. A série de reveses pungentes ilustrou a aparente impossibilidade de uma vitória militar russa decisiva.

E muitos na Rússia também estão entendendo isso agora. “A julgar pelos comentários mordazes nos canais russos do Telegram e a mudança de tom na mídia controlada pelo Kremlin, os russos estão perdendo os últimos vislumbres de esperança com seu poder militar”, escreveram Gian Gentile e Raphael S. Cohen na revista Foreign Affairs, comparando a vitória ucraniana em Kharkiv à vitória americana sobre os britânicos em Saratoga em 1777, que virou a maré da guerra contra os britânicos.

Essa analogia pode ser um pouco prematura. Dara Massicot, colega de Gentile e Cohen na Rand Corporation, alertou que a próxima fase da guerra – ainda fortemente influenciada pelo apoio militar ocidental à Ucrânia enquanto tenta recuperar seu território perdido – pode ver toda uma nova série de provocações russas. “Se a jogada de anexação do Kremlin falhar em parar a luta e o apoio à Ucrânia, o Kremlin precisará atacar para mostrar que está falando sério”, ela twittou. “Isso significa uma escalada que pode vir de diferentes formas” – incluindo mais ataques de mísseis em áreas civis ucranianas e infraestrutura de energia, ataques cibernéticos e exercícios que envolvem o “armas nucleares simuladas”, se não usarem as reais mesmo.

Os riscos estgão aumentando. O Ocidente “deve lembrar à Rússia as regras invisíveis da guerra: que nenhum dos lados quer transformar essa guerra convencional em um confronto mais amplo entre a Otan e a Rússia”, escreveram Liana Fix e Michael Kimmage na revista Foreign Policy. “Uma escalada nuclear violaria essas regras e poderia levar ao envolvimento da Otan. Seria um prejuízo para todos.”

Enquanto isso, Fix e Kimmage argumentaram, as tentativas do Kremlin de ordenar uma mobilização geral só podem prejudicar a aprovação da guerra entre o público russo e minar o próprio controle de Putin no poder. “A Rússia de Putin foi incapaz de desenvolver um conceito claro para sua guerra, incapaz de aprender com seus erros e incapaz de executar muitas das funções de um exército de primeira classe”, escreveram. “A mobilização em si não mudaria nada disso.”

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