KIEV - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta segunda-feira, 4, que as forças do país que prossigam com a ofensiva no leste da Ucrânia, após a conquista de Luhansk, anunciada pelo Ministério da Defesa da Rússia no domingo, 3.
As forças russas “devem executar suas missões de acordo com os planos previamente aprovados”, declarou Putin, durante uma reunião com o ministro da Defesa, Serguei Shoigu.
Autoridades russas informaram no domingo que suas forças tomaram o controle de Lisichansk, no leste da Ucrânia, última grande cidade da província de Luhansk que ainda não era controlada pelos russos. O porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia, Yuriy Sak, rebateu dizendo que “Lisichansk não estava sob o controle total” do país vizinho, mas mais tarde autoridades ucranianas admitiram que o Exército de Putin dominava toda a cidade.
Em comunicado, o Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas afirmou que tomou a decisão de se retirar da cidade “para preservar a vida dos defensores ucranianos, dadas as condições de superioridade múltipla das tropas russas em artilharia, força aérea, lançadores de mísseis, munições e pessoal, continuar a defesa da cidade teria consequências fatais”.
Em um discurso no domingo à noite, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, tentou manter as aparências e citou outras frentes de batalha na região de Kharkiv, no nordeste, ou Kherson, no sul, onde afirmou que o país conseguiu “progressos”.
“Chegará o dia em que falaremos o mesmo sobre o Donbas”, declarou Zelenski. Em outra declaração, o presidente prometeu que a região seria retomada: “Graças às nossas táticas, graças ao aumento do fornecimento de armas modernas. A Ucrânia não abre mão de nada”.
Lisichansk é chave na batalha da Rússia para capturar a região de Donbas, área na fronteira com a Rússia parcialmente controlada por separatistas leais a Moscou. Em 2014, os rebeldes estabeleceram unilateralmente duas repúblicas independentes na região. Na ocasião, Putin divulgou informações falsas sobre um “genocídio” ucraniano contra moradores de língua russa como justificativa para ajudar os separatistas.
Um vídeo postado no Twitter ontem mostrou soldados russos entrando em Lisichansk sem encontrar resistência. Em outras imagens também veiculadas pela mesma rede social, homens do Exército da Rússia seguram bandeiras do Estado separatista pró-Moscou, a República Popular de Donetsk. Eles também posaram para fotos do lado de fora do que parecia ser a prefeitura e gritaram palavras de ordem como “Lisichansk é nossa”. Nos dois vídeos, os soldados estavam relaxados e não pareciam enfrentar uma ameaça militar.
“Para os ucranianos, o valor da vida humana é uma prioridade, então às vezes podemos nos retirar de certas áreas para que possamos retomá-las no futuro”, disse Sak à BBC. O Instituto para o Estudo da Guerra, órgão de pesquisa com sede em Washington, divulgou relatório ontem dizendo que “as forças ucranianas provavelmente conduziram uma retirada deliberada de Lisichansk, resultando na tomada russa da cidade em 2 de julho (sábado)”.
O governador de Luhansk, Serhi Haidai, disse nesta segunda-feira que as forças ucranianas ainda controlam uma “pequena parte” da província. A expectativa das autoridades ucranianas é de que Moscou intensifique agora as ofensivas em Sloviansk e Bakhmut.
Nesta segunda-feira, 4, a alta cúpula do governo ucraniano se reúne com lideranças de países ocidentais e do setor privado na Suíça para a elaboração de um plano de reconstrução da Ucrânia no pós-guerra - no que vem sendo comparado por especialistas a um “plano Marshall” para a Ucrânia.
Nova estratégia russa na Ucrânia surte efeito
O controle sobre Donbas é o objetivo da operação militar de Moscou na Ucrânia, depois de não conseguir tomar a capital do país, Kiev. Tropas russas e seus aliados separatistas têm obtido ganhos constantes no leste. As autoridades ucranianas dizem estar ficando sem munição.
A captura de Lisichansk pode dar a Moscou não apenas o controle total da região, mas também oferecer uma base para reagrupar e montar ofensivas nas cidades ao sudoeste, principalmente Sloviansk, Kramatorsk e Bakhmut.
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Em Madri para uma cúpula da Otan, o presidente americano, Joe Biden, voltou a culpar Moscou pela crise de alimentos e nos preços dos combustíveis.
Já ontem o prefeito de Sloviansk, Vadim Liakh, disse que a cidade sofreu um bombardeio pesado. Pelo menos seis pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas, disse ele em um post no Facebook. A retirada ucraniana valida a estratégia russa adotada para a região, de semanas de bombardeios e posterior avanço de tropas e tanques por terra. No mês passado, a Rússia havia tomado Sievierodonetsk usando a mesma tática. Em ambas cidades, houve grande destruição.
A decisão da Rússia de concentrar seu poder de fogo, e em particular na sua artilharia de longo alcance contra alvos específicos da Ucrânia, é uma resposta ao fracasso em Kiev e também na segunda maior cidade do país, Kharkiv, no início da guerra, em fevereiro.
A Rússia já controla cerca de 20% do país vizinho e a queda de Lisichansk é um duro golpe para os ucranianos. “Nossas emoções não são um interruptor que pode ser desligado”, disse Ivan Shybkov, que fugiu da cidade no mês passado. “Portanto, é claro, isso nos machuca muito./ NYT e WP