MOSCOU - A Justiça da Rússia condenou nesta sexta-feira, 19, o jornalista americano Evan Gershkovich a 16 anos de prisão por espionagem, uma acusação que o repórter, sua família e os Estados Unidos negam com veemência.
O jornalista do Wall Street Journal, de 32 anos, foi detido em 29 de março de 2023, durante uma viagem para a cidade de Yekaterinburg, para fazer uma reportagem. As autoridades alegaram, sem oferecer nenhuma evidência, que ele estava reunindo informações secretas para os Estados Unidos.
Gershkovich deverá cumprir a sentença em uma colônia penitenciária de regime fechado em Yekaterinburg, ordenou o juiz Andrei Mineyev.
Os argumentos finais ocorreram a portas fechadas, onde Gershkovich não admitiu nenhuma culpa, de acordo com o serviço de imprensa do tribunal. Os promotores pediram uma sentença de 18 anos, mas o juiz optou por uma condenação mais curta.
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Ele está atrás das grades desde sua prisão, tempo que será contado como parte de sua sentença. Na maior parte do tempo desde março de 2023, o jornalista esteve preso na notória Prisão de Lefortovo, em Moscou — uma cela da era czarista usada durante os expurgos de Josef Stalin, quando as execuções eram realizadas em seu porão.
A Promotoria o acusou de compilar informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, Uralvagonzavod, que produz os tanques T-90 usados na Ucrânia. Gershkovich foi o primeiro jornalista dos EUA preso por acusações de espionagem desde Nicholas Daniloff em 1986, no auge da Guerra Fria.
Autoridades americanas rejeitaram a acusação. “Evan nunca foi empregado pelo governo dos Estados Unidos. Evan não é um espião”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, no mês passado.
O Wall Street Journal criticou a condenação e prometeu seguir pressionando por sua libertação.
“Esta vergonhosa e falsa condenação acontece depois de Evan ter passado 478 dias na prisão, detido injustamente, longe de sua família e amigos, impedido de informar, tudo por fazer o seu trabalho como jornalista”, afirmaram o editor do jornal, Almar Latour, e a editora-chefe Emma Tucker em um comunicado.
Filho de imigrantes soviéticos que se estabeleceram em Nova Jersey, nos Estados Unidos, Gershkovich era fluente em russo e se mudou para o país em 2017 para trabalhar no jornal The Moscow Times antes de ser contratado pelo Journal em 2022.
Possível troca de prisioneiros
Os Estados Unidos acreditam que a prisão de Gershkovich tem o objetivo de forçar uma possível troca de prisioneiros no auge das tensões entre Moscou e Washington sobre a guerra na Ucrânia.
“Trabalhamos incansavelmente pela libertação de Evan e continuaremos a fazê-lo”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em um comunicado.
Questionado nesta sexta-feira sobre uma possível troca de prisioneiros envolvendo Gershkovich, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a comentar. O Ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov disse na quarta-feira, 17, que os “serviços especiais” de Moscou e Washington estão discutindo o assunto.
O presidente russo Vladimir Putin deu a entender no início deste ano que estaria aberto a trocar Gershkovich por Vadim Krasikov, um russo que cumpre pena perpétua na Alemanha pelo assassinato de um cidadão georgiano de ascendência chechena em 2019.
A prisão do jornalista americano provocou uma grande onda de solidariedade e de indignação entre países do Ocidente. Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chamou a condenação do repórter de “desprezível”, enquanto a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, chamou-a de “parte da propaganda de guerra de Putin”.
No primeiro dia de julgamento, em 26 de junho, o jornalista apareceu com a cabeça raspada e sorridente na cabine de vidro reservada aos acusados. Ele não foi autorizado a falar, mas fez sinais para as pessoas que conhecia dentro do tribunal.
No momento, ele só consegue se comunicar com a família e amigos por meio de cartas lidas e censuradas pela administração penitenciária. Nas correspondências, o jornalista afirma que continua de bom humor e estava resignado com uma possível condenação./AFP e AP.