Rússia diz que deixará a Estação Espacial Internacional após 2024


A Nasa planeja manter a ISS em operação até 2030, mas não está claro como o projeto funcionará sem Moscou; a retirada já era um desejo antigo dos russos que pode ter sido acelerado pelas sanções

Por Redação
Atualização:

MOSCOU - A Rússia anunciou nesta terça-feira, 26, que deixará de operar na Estação Espacial Internacional (ISS) após o fim de seu compromisso no fim de 2024 e se concentrará na construção de seu próprio posto em órbita. O pronunciamento foi feito durante uma reunião entre o chefe da agência espacial russa Roscosmos, Yuri Borissov, e o presidente russo, Vladimir Putin. A Nasa disse que não recebeu uma notificação formal sobre a saída. A medida pode levar ao fim duas décadas de cooperação no espaço entre Estados Unidos e Rússia.

“Nós certamente cumpriremos todas as nossas obrigações para com nossos parceiros” da ISS, declarou Borissov, durante a reunião televisionada com Putin. “Mas foi tomada a decisão de deixar esta estação depois de 2024″, disse ele.

“Acredito que então começaremos a criar a estação orbital russa, que será a principal prioridade” do programa espacial nacional”, continuou. “O futuro dos voos tripulados russos deve se basear, sobretudo, num programa científico sistêmico e equilibrado para que cada voo nos enriqueça com conhecimentos na área espacial”.

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O presidente russo Vladimir Putin participa de uma reunião televisionada com o diretor-geral da Roscosmos State Space Corporation, Yuri Borisov, no Kremlin em Moscou, Rússia Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV/KREMLIN/SPUTNIK/EPA/EFE

A declaração de Borisov reafirmou falas anteriores de autoridades espaciais russas sobre a intenção de Moscou de deixar a estação espacial após 2024, quando os atuais acordos internacionais para sua operação terminarem. Autoridades russas discutem deixar o projeto desde pelo menos 2021, citando equipamentos antigos e crescentes riscos de segurança.

A Nasa e outros parceiros internacionais esperam manter a estação espacial funcionando até 2030, quando devem aposentá-la, mas os russos relutam em assumir compromissos além de 2024. Procurada, a agência especial americana disse que não recebeu uma notificação oficial dos russos.

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Robyn Gatens, diretora da Nasa responsável pela estação, disse que a ideia é manter a ISS até 2030 e depois e passar a trabalhar com estações espaciais comerciais. Perguntada se ela queria o fim das relações espaciais EUA-Rússia , ela respondeu: “De jeito nenhum”. “Eles têm sido bons parceiros, assim como todos os nossos parceiros, e queremos permanecer juntos como uma parceria para continuar operando a estação espacial ao longo desta década”, disse ela.

A Casa Branca lamentou o anúncio “surpreendente” da Rússia, que considerou “infeliz” devido ao importante trabalho científico realizado na ISS, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a repórteres.

Impacto das sanções

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Embora já houvesse um desejo anterior dos russos de se retirarem da ISS, o conflito na Ucrânia e a enxurrada de restrições econômicas do Ocidente parecem ter acelerado a retirada. No mês passado, o chefe anterior da Roscosmos, Dmitri Rogozin, disse que as conversas sobre o envolvimento russo após 2024 só eram possíveis se as sanções dos Estados Unidos contra a indústria espacial russa e outros setores da economia fossem retiradas.

Logo após as tropas russas entrarem na Ucrânia em fevereiro, o presidente americano, Joe Biden, impôs novas sanções contra a Rússia que pretendiam “degradar” o programa espacial do país. “Estimamos que cortaremos mais da metade das importações de alta tecnologia da Rússia. Isso será um golpe em sua capacidade de continuar a modernizar suas forças armadas. Isso degradará sua indústria aeroespacial, incluindo seu programa espacial”, disse Biden na época.

Os tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) astronauta norte-americano Joseph Acaba, à esquerda, cosmonautas russos Gennady Padalka, ao centro, e Sergei Revin sentam-se dentro da cápsula Soyuz TMA-04M logo após pousar perto da cidade de Arkalik, no norte do Casaquistão, em 17 de setembro de 2012 Foto: Shamil Zhumatov via AP
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Em resposta às sanções, Rogozin, conhecido por suas réplicas e uma rivalidade de anos no Twitter com Elon Musk, da Space X, ameaçou que a Rússia permitiria que a estação colidisse com a Terra. “Existe a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?” Rogozin disse então.

A Roscosmos sob o comando de Rogozin também gerou polêmica quando postou fotos de seus três cosmonautas segurando as bandeiras de duas autoproclamadas repúblicas no leste da Ucrânia, onde a Rússia lançou sua invasão. O post marcou a captura de Lisichansk, a última cidade no que os separatistas pró-russos chamam de República Popular de Luhansk a cair nas mãos das forças russas, e foi legendado “um dia de libertação para celebrar tanto na Terra quanto no espaço”.

O ato com as bandeiras e as aparentes tentativas da Rússia de usar o projeto como moeda de troca nos esforços para aliviar as sanções foram condenados pela NASA.

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“A NASA repreende fortemente [a Rússia] por usar a Estação Espacial Internacional para fins políticos para apoiar sua guerra contra a Ucrânia, o que é fundamentalmente inconsistente com a função primária da estação entre os 15 países participantes internacionais para avançar a ciência e desenvolver tecnologia para fins pacíficos”, a agência disse no início de julho. Mas a NASA fez tentou manter a cooperação e buscou impedir que a guerra afetasse a parceria com a ISS, prometendo no início deste ano que o trabalho conjunto continuaria.

Nesta imagem de arquivo de 2 de junho de 2021 tirada do vídeo da Roscosmos, os cosmonautas russos Oleg Novitsky, à direita, e Piotr Dubrov, membros da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS), realizam sua primeira caminhada espacial para substituir baterias antigas fora da ISS Foto: Roscosmos via AP

Futuro incerto da ISS

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A estação espacial é administrada em conjunto pelas agências espaciais da Rússia, EUA, Europa, Japão e Canadá. A primeira peça foi colocada em órbita em 1998, e o posto avançado foi continuamente habitado por quase 22 anos. Ela é usada para realizar pesquisas científicas em gravidade zero e testar equipamentos para futuras viagens espaciais. Normalmente tem uma tripulação de sete pessoas, que passam meses a bordo, uma vez que orbita a cerca de 400 Km da Terra. Três russos, três americanos e um italiano estão agora a bordo.

O complexo, que tem o tamanho de um campo de futebol, consiste em duas seções principais, uma administrada pela Rússia, outra pelos EUA e outros países. Não ficou imediatamente claro o que terá que ser feito no lado russo do complexo para continuar operando com segurança a estação espacial depois que Moscou sair.

A Rússia é responsável pelos sistemas críticos de controle de propulsão da estação espacial, que mantêm a ISS na órbita correta enquanto a gravidade da Terra a puxa lentamente para a atmosfera. O segmento norte-americano é responsável pelo fornecimento de energia. Não está claro se a ISS pode ser sustentada com um lado abandonando o projeto.

O cosmonauta russo Anton Shkaplerov, em baixo, o astronauta norte-americano Scott Tingle, acima, e o astronauta japonês Norishige Kanai, membros da tripulação da missão à Estação Espacial Internacional, acenam perto do foguete antes do lançamento do foguete Soyuz-FG em o cosmódromo de Baikonur, alugado pela Rússia, no Casaquistão, em 17 de dezembro de 2017 Foto: Shamil Zhumatov via AP

Com a empresa Space X de Musk agora transportando astronautas da Nasa de e para a estação espacial, a Agência Espacial Russa perdeu uma importante fonte de renda. Durante anos, a Nasa pagou dezenas de milhões de dólares por assento para viagens de e para a estação a bordo de foguetes russos.

Apesar das tensões sobre a Ucrânia, a Nasa e a Roscosmos fecharam um acordo no início deste mês para que os astronautas continuem pilotando foguetes russos e para os cosmonautas russos pegarem carona para a estação espacial com a Space X a partir deste outono. Mas os voos não envolverão troca de dinheiro.

O acordo garante que a estação espacial sempre terá pelo menos um americano e um russo a bordo para manter ambos os lados do posto avançado funcionando sem problemas, de acordo com autoridades russas e da Nasa.

Moscou e Washington cooperaram no espaço mesmo no auge da Guerra Fria, quando as espaçonaves Apollo e Soyuz atracaram em órbita em 1975 na primeira missão espacial internacional tripulada, ajudando a melhorar as relações EUA-Soviética./AP, AFP e W.POST

MOSCOU - A Rússia anunciou nesta terça-feira, 26, que deixará de operar na Estação Espacial Internacional (ISS) após o fim de seu compromisso no fim de 2024 e se concentrará na construção de seu próprio posto em órbita. O pronunciamento foi feito durante uma reunião entre o chefe da agência espacial russa Roscosmos, Yuri Borissov, e o presidente russo, Vladimir Putin. A Nasa disse que não recebeu uma notificação formal sobre a saída. A medida pode levar ao fim duas décadas de cooperação no espaço entre Estados Unidos e Rússia.

“Nós certamente cumpriremos todas as nossas obrigações para com nossos parceiros” da ISS, declarou Borissov, durante a reunião televisionada com Putin. “Mas foi tomada a decisão de deixar esta estação depois de 2024″, disse ele.

“Acredito que então começaremos a criar a estação orbital russa, que será a principal prioridade” do programa espacial nacional”, continuou. “O futuro dos voos tripulados russos deve se basear, sobretudo, num programa científico sistêmico e equilibrado para que cada voo nos enriqueça com conhecimentos na área espacial”.

O presidente russo Vladimir Putin participa de uma reunião televisionada com o diretor-geral da Roscosmos State Space Corporation, Yuri Borisov, no Kremlin em Moscou, Rússia Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV/KREMLIN/SPUTNIK/EPA/EFE

A declaração de Borisov reafirmou falas anteriores de autoridades espaciais russas sobre a intenção de Moscou de deixar a estação espacial após 2024, quando os atuais acordos internacionais para sua operação terminarem. Autoridades russas discutem deixar o projeto desde pelo menos 2021, citando equipamentos antigos e crescentes riscos de segurança.

A Nasa e outros parceiros internacionais esperam manter a estação espacial funcionando até 2030, quando devem aposentá-la, mas os russos relutam em assumir compromissos além de 2024. Procurada, a agência especial americana disse que não recebeu uma notificação oficial dos russos.

Robyn Gatens, diretora da Nasa responsável pela estação, disse que a ideia é manter a ISS até 2030 e depois e passar a trabalhar com estações espaciais comerciais. Perguntada se ela queria o fim das relações espaciais EUA-Rússia , ela respondeu: “De jeito nenhum”. “Eles têm sido bons parceiros, assim como todos os nossos parceiros, e queremos permanecer juntos como uma parceria para continuar operando a estação espacial ao longo desta década”, disse ela.

A Casa Branca lamentou o anúncio “surpreendente” da Rússia, que considerou “infeliz” devido ao importante trabalho científico realizado na ISS, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a repórteres.

Impacto das sanções

Embora já houvesse um desejo anterior dos russos de se retirarem da ISS, o conflito na Ucrânia e a enxurrada de restrições econômicas do Ocidente parecem ter acelerado a retirada. No mês passado, o chefe anterior da Roscosmos, Dmitri Rogozin, disse que as conversas sobre o envolvimento russo após 2024 só eram possíveis se as sanções dos Estados Unidos contra a indústria espacial russa e outros setores da economia fossem retiradas.

Logo após as tropas russas entrarem na Ucrânia em fevereiro, o presidente americano, Joe Biden, impôs novas sanções contra a Rússia que pretendiam “degradar” o programa espacial do país. “Estimamos que cortaremos mais da metade das importações de alta tecnologia da Rússia. Isso será um golpe em sua capacidade de continuar a modernizar suas forças armadas. Isso degradará sua indústria aeroespacial, incluindo seu programa espacial”, disse Biden na época.

Os tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) astronauta norte-americano Joseph Acaba, à esquerda, cosmonautas russos Gennady Padalka, ao centro, e Sergei Revin sentam-se dentro da cápsula Soyuz TMA-04M logo após pousar perto da cidade de Arkalik, no norte do Casaquistão, em 17 de setembro de 2012 Foto: Shamil Zhumatov via AP

Em resposta às sanções, Rogozin, conhecido por suas réplicas e uma rivalidade de anos no Twitter com Elon Musk, da Space X, ameaçou que a Rússia permitiria que a estação colidisse com a Terra. “Existe a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?” Rogozin disse então.

A Roscosmos sob o comando de Rogozin também gerou polêmica quando postou fotos de seus três cosmonautas segurando as bandeiras de duas autoproclamadas repúblicas no leste da Ucrânia, onde a Rússia lançou sua invasão. O post marcou a captura de Lisichansk, a última cidade no que os separatistas pró-russos chamam de República Popular de Luhansk a cair nas mãos das forças russas, e foi legendado “um dia de libertação para celebrar tanto na Terra quanto no espaço”.

O ato com as bandeiras e as aparentes tentativas da Rússia de usar o projeto como moeda de troca nos esforços para aliviar as sanções foram condenados pela NASA.

“A NASA repreende fortemente [a Rússia] por usar a Estação Espacial Internacional para fins políticos para apoiar sua guerra contra a Ucrânia, o que é fundamentalmente inconsistente com a função primária da estação entre os 15 países participantes internacionais para avançar a ciência e desenvolver tecnologia para fins pacíficos”, a agência disse no início de julho. Mas a NASA fez tentou manter a cooperação e buscou impedir que a guerra afetasse a parceria com a ISS, prometendo no início deste ano que o trabalho conjunto continuaria.

Nesta imagem de arquivo de 2 de junho de 2021 tirada do vídeo da Roscosmos, os cosmonautas russos Oleg Novitsky, à direita, e Piotr Dubrov, membros da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS), realizam sua primeira caminhada espacial para substituir baterias antigas fora da ISS Foto: Roscosmos via AP

Futuro incerto da ISS

A estação espacial é administrada em conjunto pelas agências espaciais da Rússia, EUA, Europa, Japão e Canadá. A primeira peça foi colocada em órbita em 1998, e o posto avançado foi continuamente habitado por quase 22 anos. Ela é usada para realizar pesquisas científicas em gravidade zero e testar equipamentos para futuras viagens espaciais. Normalmente tem uma tripulação de sete pessoas, que passam meses a bordo, uma vez que orbita a cerca de 400 Km da Terra. Três russos, três americanos e um italiano estão agora a bordo.

O complexo, que tem o tamanho de um campo de futebol, consiste em duas seções principais, uma administrada pela Rússia, outra pelos EUA e outros países. Não ficou imediatamente claro o que terá que ser feito no lado russo do complexo para continuar operando com segurança a estação espacial depois que Moscou sair.

A Rússia é responsável pelos sistemas críticos de controle de propulsão da estação espacial, que mantêm a ISS na órbita correta enquanto a gravidade da Terra a puxa lentamente para a atmosfera. O segmento norte-americano é responsável pelo fornecimento de energia. Não está claro se a ISS pode ser sustentada com um lado abandonando o projeto.

O cosmonauta russo Anton Shkaplerov, em baixo, o astronauta norte-americano Scott Tingle, acima, e o astronauta japonês Norishige Kanai, membros da tripulação da missão à Estação Espacial Internacional, acenam perto do foguete antes do lançamento do foguete Soyuz-FG em o cosmódromo de Baikonur, alugado pela Rússia, no Casaquistão, em 17 de dezembro de 2017 Foto: Shamil Zhumatov via AP

Com a empresa Space X de Musk agora transportando astronautas da Nasa de e para a estação espacial, a Agência Espacial Russa perdeu uma importante fonte de renda. Durante anos, a Nasa pagou dezenas de milhões de dólares por assento para viagens de e para a estação a bordo de foguetes russos.

Apesar das tensões sobre a Ucrânia, a Nasa e a Roscosmos fecharam um acordo no início deste mês para que os astronautas continuem pilotando foguetes russos e para os cosmonautas russos pegarem carona para a estação espacial com a Space X a partir deste outono. Mas os voos não envolverão troca de dinheiro.

O acordo garante que a estação espacial sempre terá pelo menos um americano e um russo a bordo para manter ambos os lados do posto avançado funcionando sem problemas, de acordo com autoridades russas e da Nasa.

Moscou e Washington cooperaram no espaço mesmo no auge da Guerra Fria, quando as espaçonaves Apollo e Soyuz atracaram em órbita em 1975 na primeira missão espacial internacional tripulada, ajudando a melhorar as relações EUA-Soviética./AP, AFP e W.POST

MOSCOU - A Rússia anunciou nesta terça-feira, 26, que deixará de operar na Estação Espacial Internacional (ISS) após o fim de seu compromisso no fim de 2024 e se concentrará na construção de seu próprio posto em órbita. O pronunciamento foi feito durante uma reunião entre o chefe da agência espacial russa Roscosmos, Yuri Borissov, e o presidente russo, Vladimir Putin. A Nasa disse que não recebeu uma notificação formal sobre a saída. A medida pode levar ao fim duas décadas de cooperação no espaço entre Estados Unidos e Rússia.

“Nós certamente cumpriremos todas as nossas obrigações para com nossos parceiros” da ISS, declarou Borissov, durante a reunião televisionada com Putin. “Mas foi tomada a decisão de deixar esta estação depois de 2024″, disse ele.

“Acredito que então começaremos a criar a estação orbital russa, que será a principal prioridade” do programa espacial nacional”, continuou. “O futuro dos voos tripulados russos deve se basear, sobretudo, num programa científico sistêmico e equilibrado para que cada voo nos enriqueça com conhecimentos na área espacial”.

O presidente russo Vladimir Putin participa de uma reunião televisionada com o diretor-geral da Roscosmos State Space Corporation, Yuri Borisov, no Kremlin em Moscou, Rússia Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV/KREMLIN/SPUTNIK/EPA/EFE

A declaração de Borisov reafirmou falas anteriores de autoridades espaciais russas sobre a intenção de Moscou de deixar a estação espacial após 2024, quando os atuais acordos internacionais para sua operação terminarem. Autoridades russas discutem deixar o projeto desde pelo menos 2021, citando equipamentos antigos e crescentes riscos de segurança.

A Nasa e outros parceiros internacionais esperam manter a estação espacial funcionando até 2030, quando devem aposentá-la, mas os russos relutam em assumir compromissos além de 2024. Procurada, a agência especial americana disse que não recebeu uma notificação oficial dos russos.

Robyn Gatens, diretora da Nasa responsável pela estação, disse que a ideia é manter a ISS até 2030 e depois e passar a trabalhar com estações espaciais comerciais. Perguntada se ela queria o fim das relações espaciais EUA-Rússia , ela respondeu: “De jeito nenhum”. “Eles têm sido bons parceiros, assim como todos os nossos parceiros, e queremos permanecer juntos como uma parceria para continuar operando a estação espacial ao longo desta década”, disse ela.

A Casa Branca lamentou o anúncio “surpreendente” da Rússia, que considerou “infeliz” devido ao importante trabalho científico realizado na ISS, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a repórteres.

Impacto das sanções

Embora já houvesse um desejo anterior dos russos de se retirarem da ISS, o conflito na Ucrânia e a enxurrada de restrições econômicas do Ocidente parecem ter acelerado a retirada. No mês passado, o chefe anterior da Roscosmos, Dmitri Rogozin, disse que as conversas sobre o envolvimento russo após 2024 só eram possíveis se as sanções dos Estados Unidos contra a indústria espacial russa e outros setores da economia fossem retiradas.

Logo após as tropas russas entrarem na Ucrânia em fevereiro, o presidente americano, Joe Biden, impôs novas sanções contra a Rússia que pretendiam “degradar” o programa espacial do país. “Estimamos que cortaremos mais da metade das importações de alta tecnologia da Rússia. Isso será um golpe em sua capacidade de continuar a modernizar suas forças armadas. Isso degradará sua indústria aeroespacial, incluindo seu programa espacial”, disse Biden na época.

Os tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) astronauta norte-americano Joseph Acaba, à esquerda, cosmonautas russos Gennady Padalka, ao centro, e Sergei Revin sentam-se dentro da cápsula Soyuz TMA-04M logo após pousar perto da cidade de Arkalik, no norte do Casaquistão, em 17 de setembro de 2012 Foto: Shamil Zhumatov via AP

Em resposta às sanções, Rogozin, conhecido por suas réplicas e uma rivalidade de anos no Twitter com Elon Musk, da Space X, ameaçou que a Rússia permitiria que a estação colidisse com a Terra. “Existe a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?” Rogozin disse então.

A Roscosmos sob o comando de Rogozin também gerou polêmica quando postou fotos de seus três cosmonautas segurando as bandeiras de duas autoproclamadas repúblicas no leste da Ucrânia, onde a Rússia lançou sua invasão. O post marcou a captura de Lisichansk, a última cidade no que os separatistas pró-russos chamam de República Popular de Luhansk a cair nas mãos das forças russas, e foi legendado “um dia de libertação para celebrar tanto na Terra quanto no espaço”.

O ato com as bandeiras e as aparentes tentativas da Rússia de usar o projeto como moeda de troca nos esforços para aliviar as sanções foram condenados pela NASA.

“A NASA repreende fortemente [a Rússia] por usar a Estação Espacial Internacional para fins políticos para apoiar sua guerra contra a Ucrânia, o que é fundamentalmente inconsistente com a função primária da estação entre os 15 países participantes internacionais para avançar a ciência e desenvolver tecnologia para fins pacíficos”, a agência disse no início de julho. Mas a NASA fez tentou manter a cooperação e buscou impedir que a guerra afetasse a parceria com a ISS, prometendo no início deste ano que o trabalho conjunto continuaria.

Nesta imagem de arquivo de 2 de junho de 2021 tirada do vídeo da Roscosmos, os cosmonautas russos Oleg Novitsky, à direita, e Piotr Dubrov, membros da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS), realizam sua primeira caminhada espacial para substituir baterias antigas fora da ISS Foto: Roscosmos via AP

Futuro incerto da ISS

A estação espacial é administrada em conjunto pelas agências espaciais da Rússia, EUA, Europa, Japão e Canadá. A primeira peça foi colocada em órbita em 1998, e o posto avançado foi continuamente habitado por quase 22 anos. Ela é usada para realizar pesquisas científicas em gravidade zero e testar equipamentos para futuras viagens espaciais. Normalmente tem uma tripulação de sete pessoas, que passam meses a bordo, uma vez que orbita a cerca de 400 Km da Terra. Três russos, três americanos e um italiano estão agora a bordo.

O complexo, que tem o tamanho de um campo de futebol, consiste em duas seções principais, uma administrada pela Rússia, outra pelos EUA e outros países. Não ficou imediatamente claro o que terá que ser feito no lado russo do complexo para continuar operando com segurança a estação espacial depois que Moscou sair.

A Rússia é responsável pelos sistemas críticos de controle de propulsão da estação espacial, que mantêm a ISS na órbita correta enquanto a gravidade da Terra a puxa lentamente para a atmosfera. O segmento norte-americano é responsável pelo fornecimento de energia. Não está claro se a ISS pode ser sustentada com um lado abandonando o projeto.

O cosmonauta russo Anton Shkaplerov, em baixo, o astronauta norte-americano Scott Tingle, acima, e o astronauta japonês Norishige Kanai, membros da tripulação da missão à Estação Espacial Internacional, acenam perto do foguete antes do lançamento do foguete Soyuz-FG em o cosmódromo de Baikonur, alugado pela Rússia, no Casaquistão, em 17 de dezembro de 2017 Foto: Shamil Zhumatov via AP

Com a empresa Space X de Musk agora transportando astronautas da Nasa de e para a estação espacial, a Agência Espacial Russa perdeu uma importante fonte de renda. Durante anos, a Nasa pagou dezenas de milhões de dólares por assento para viagens de e para a estação a bordo de foguetes russos.

Apesar das tensões sobre a Ucrânia, a Nasa e a Roscosmos fecharam um acordo no início deste mês para que os astronautas continuem pilotando foguetes russos e para os cosmonautas russos pegarem carona para a estação espacial com a Space X a partir deste outono. Mas os voos não envolverão troca de dinheiro.

O acordo garante que a estação espacial sempre terá pelo menos um americano e um russo a bordo para manter ambos os lados do posto avançado funcionando sem problemas, de acordo com autoridades russas e da Nasa.

Moscou e Washington cooperaram no espaço mesmo no auge da Guerra Fria, quando as espaçonaves Apollo e Soyuz atracaram em órbita em 1975 na primeira missão espacial internacional tripulada, ajudando a melhorar as relações EUA-Soviética./AP, AFP e W.POST

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