As forças russas se retiraram da estratégica cidade de Liman neste sábado, 1º, em um revés significativo para Moscou apenas um dia depois que o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a região onde ela está localizada agora faz parte da Rússia.
A batalha por Liman, uma cidade na Província de Donetsk com uma população pré-guerra de 20 mil habitantes, é particularmente um problema para o Kremlin, ocorrendo logo após Putin declarar ilegalmente a anexação de quatro regiões na Ucrânia onde as batalhas ainda estão acontecendo. Ocorre também um mês depois de Kiev declarar vitórias no nordeste do país.
A perda do centro ferroviário coloca pressão adicional sobre o Kremlin, que vem enfrentando uma reação em casa em razão de suas perdas no campo de batalha e pelo recrutamento de centenas de milhares de homens para lutar na Ucrânia. O país foi invadido por Moscou em 24 de fevereiro.
Horas depois que o Ministério da Defesa da Ucrânia disse que suas forças estavam entrando na cidade, o Ministério da Defesa da Rússia disse que tomou a decisão de sair de Liman. A retirada evitou um possível cenário pior para o Kremlin, no qual as tropas russas ficaram cercadas.
“Devido ao risco de serem cercados, as forças aliadas foram retiradas da cidade para locais mais vantajosos”, afirmou o ministério em comunicado publicado no canal Telegram.
Anteriormente, o Ministério da Defesa da Ucrânia havia postado um vídeo no Twitter mostrando dois soldados hasteando uma bandeira amarela e azul do país em uma placa que marca os limites da cidade. O Exército “sempre terá o voto decisivo nos ‘referendos’ de hoje e em qualquer futuro”, acrescentou em uma referência às votações desacreditadas para justificar a anexação.
Um alto oficial militar ucraniano, falando sob condição de anonimato, disse que Liman “já foi libertado”. “Uma limpeza está em andamento”, disse o funcionário. “Os russos não têm para onde fugir.”
Cidade estratégica
A abrangente e bem-sucedida contraofensiva ucraniana do mês passado no nordeste do país fez soldados russos se retirarem, deixando as tropas de Moscou em Liman isoladas e separadas de suas linhas de abastecimento.
Mas essa vitória ucraniana teve um custo: as forças russas conseguiram enviar tropas para Liman, lutando ferozmente pela cidade em meio às novas reivindicações territoriais de Putin no leste e sul da Ucrânia.
Liman, que caiu para os russos em maio, serve como um centro ferroviário que flui para Donbas, a região rica em minerais formada pelas províncias de Donetsk e Luhansk, que há muito tem sido o foco dos objetivos de guerra de Putin.
A capacidade da Ucrânia de recapturar Liman é a prova mais significativa de que as condições da Rússia de controlar o Donbas são tudo menos certas.
Com Liman sob controle ucraniano, a batalha pelo Donbas entra em uma nova fase. A recaptura da cidade significa que as tropas da Ucrânia ganharam uma nova posição na região e estão posicionadas para recuperar território antes que o inverno (no Hemisfério Norte) chegue.
O próximo alvo, se os militares ucranianos continuarem seu avanço, provavelmente será Svatove, uma cidade ao nordeste de Liman, onde os russos recuaram após a derrota no nordeste, segundo analistas.
As forças armadas da Rússia, esgotadas e perdendo terreno, provavelmente serão confrontadas com uma decisão que envolve transportar recursos de outras partes da frente de batalha para retardar o avanço da Ucrânia ou continuar a perder pedaços do Donbas.
Alguns dos reforços russos mais próximos estão a cerca de 40 quilômetros a sudeste, ao redor da cidade de Bakhmut. O grupo Wagner, uma infame unidade paramilitar que se reporta diretamente ao Kremlin, atacou os defensores ucranianos, mas não conseguiu conquistar partes significativas da cidade.
A lenta ofensiva da Ucrânia no sul em direção à cidade portuária de Kherson foi amplamente ofuscada pelos eventos no leste. Mas os combates continuam ferozes, já que as forças russas mais bem treinadas têm resistido firmemente ao avanço das tropas ucranianas.