Rússia toma maior usina nuclear da Europa e ONU alerta para riscos de segurança


Diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou para Kiev após Putin assinar decreto ‘nacionalizando’ usina de Zaporizhzhia e passando a responsabilidade da operação a engenheiros russos

Por Redação
Atualização:

ENERHODAR, UCRÂNIA - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto na última quarta-feira, 5, “nacionalizando” a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, e passando o seu controle para trabalhadores russos. A medida ocorre após a Rússia anexar ilegalmente quatro regiões ucranianas, incluindo a cidade de Zaporizhzhia. O diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou às pressas para Kiev por preocupações com a segurança da usina e disse que não reconhece a tomada russa.

A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, está sob controle russo desde o início da guerra na Ucrânia e tem se tornado um local de intenso combate nos últimos meses. No entanto, ela ainda era controlada por trabalhadores ucranianos. De acordo com o decreto de Putin, uma vez que as instalações agora estão localizadas em território russo - ao menos na ótica de Moscou - os trabalhos devem ficar sob controle russo.

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A mudança, no entanto, desperta intensa preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos na usina podem a levar a uma catástrofe nuclear até maior que a provocada pela explosão da usina de Chernobyl em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, chegou nesta quinta, 6, a Kiev e depois viaja para Moscou.

Militar ucraniano de guarda nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS - 04/08/2022

Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que vem fazendo desde que visitou a instalação nuclear em agosto. Ele disse no mês passado que havia negociações ativas com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as ações militares dentro e ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.

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Ao chegar em Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele afirmou que o objetivo principal da AIEA é evitar um acidente nuclear, que ele alertou ainda ser uma “possibilidade clara”, em vez de punir a Rússia por sua tentativa de aquisição da usina. E disse que a AIEA continuará mantendo os inspetores na instalação, como tem feito desde setembro. Nas próximas semanas, acrescentou, o número de inspetores passará de dois para quatro.

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Decisão ‘nula’

Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”, e disseram que continuariam a gerenciá-la, embora, na prática, não esteja claro como isso poderia ser implementado enquanto a Rússia tem o controle da usina. “Todas as outras decisões sobre a operação da estação serão tomadas diretamente no escritório central da Energoatom”, disse Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a União Europeia, o G-7 e outros aliados a impor sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, Rosatom. Além disso, pediu aos países membros da AIEA que limitem a cooperação com a Rússia.

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Separadamente, na quarta-feira, a AIEA disse que soube que a usina planeja reiniciar um de seus seis reatores. Em setembro, o último reator em operação foi desligado por questões de segurança, pois os combates continuavam nas proximidades. A usina, em plena operação, fornece cerca de um quinto do fornecimento de eletricidade da Ucrânia.

As preocupações com a usina nuclear já foram tema de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no mês passado, que defendeu que nenhum país deveria manter uma presença militar no local. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que qualquer dano na usina seria uma catástrofe para toda a Europa e além.

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Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia - comprometendo o sistema de segurança dos reatores - mais de uma vez, a preocupação dos especialistas nucleares é com o impacto a médio e longo prazo na fábrica. Constantes falhas de energia e até o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes pode comprometer a segurança dos reatores ao longo do tempo e levar a vazamentos de radiação.

Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles trabalhassem sem pressão.

Inspetores da AIEA examinam os arredores da usina nuclear de Zaporizhzia em 1º de setembro  Foto: Yuri Kochetkov/EPA/EFE
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Ataques a Zaporizhzhia deixa mortos

Enquanto Grossi chega à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparou mísseis contra bairros residenciais na cidade de Zaporizhzhia nesta quinta-feira, disseram autoridades ucranianas. Sete mísseis atingiram a cidade, provocando incêndios e causando “destruição significativa” em edifícios residenciais, disse Oleksandr Starukh, o governador local, no Telegram. Ele postou fotos mostrando uma entrada destruída para uma seção de um bloco de apartamentos de cinco andares.

Os serviços de emergência disseram que três corpos foram recuperados dos escombros. Segundo Starukh, sete pessoas, incluindo uma criança de 3 anos, foram tratadas por ferimentos e acrescentou que mais de 20 pessoas foram retiradas dos escombros. Ele também alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.

Apesar da anexação recente pela Rússia - junto com as regiões de Luhansk, Donetsk e Kherson - Zaporizhzhia tem sido palco de alguns dos ataques mais letais contra civis nas últimas semanas, incluindo um ataque com foguetes nos arredores da cidade que, segundo autoridades, matou pelo menos 30 civis em um posto de controle e ponto de ônibus na semana passada enquanto tentavam fugir.

Zaporizhzhia, um grande centro regional no Rio Dniper, costuma ser o primeiro porto de escala para civis que fogem do território controlado pela Rússia ao sul, uma estação de alimentação e abrigo antes de se mudarem para outras partes do país, geralmente para o oeste, longe da luta./ NYT e AFP

ENERHODAR, UCRÂNIA - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto na última quarta-feira, 5, “nacionalizando” a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, e passando o seu controle para trabalhadores russos. A medida ocorre após a Rússia anexar ilegalmente quatro regiões ucranianas, incluindo a cidade de Zaporizhzhia. O diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou às pressas para Kiev por preocupações com a segurança da usina e disse que não reconhece a tomada russa.

A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, está sob controle russo desde o início da guerra na Ucrânia e tem se tornado um local de intenso combate nos últimos meses. No entanto, ela ainda era controlada por trabalhadores ucranianos. De acordo com o decreto de Putin, uma vez que as instalações agora estão localizadas em território russo - ao menos na ótica de Moscou - os trabalhos devem ficar sob controle russo.

A mudança, no entanto, desperta intensa preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos na usina podem a levar a uma catástrofe nuclear até maior que a provocada pela explosão da usina de Chernobyl em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, chegou nesta quinta, 6, a Kiev e depois viaja para Moscou.

Militar ucraniano de guarda nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS - 04/08/2022

Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que vem fazendo desde que visitou a instalação nuclear em agosto. Ele disse no mês passado que havia negociações ativas com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as ações militares dentro e ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.

Ao chegar em Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele afirmou que o objetivo principal da AIEA é evitar um acidente nuclear, que ele alertou ainda ser uma “possibilidade clara”, em vez de punir a Rússia por sua tentativa de aquisição da usina. E disse que a AIEA continuará mantendo os inspetores na instalação, como tem feito desde setembro. Nas próximas semanas, acrescentou, o número de inspetores passará de dois para quatro.

Decisão ‘nula’

Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”, e disseram que continuariam a gerenciá-la, embora, na prática, não esteja claro como isso poderia ser implementado enquanto a Rússia tem o controle da usina. “Todas as outras decisões sobre a operação da estação serão tomadas diretamente no escritório central da Energoatom”, disse Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a União Europeia, o G-7 e outros aliados a impor sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, Rosatom. Além disso, pediu aos países membros da AIEA que limitem a cooperação com a Rússia.

Separadamente, na quarta-feira, a AIEA disse que soube que a usina planeja reiniciar um de seus seis reatores. Em setembro, o último reator em operação foi desligado por questões de segurança, pois os combates continuavam nas proximidades. A usina, em plena operação, fornece cerca de um quinto do fornecimento de eletricidade da Ucrânia.

As preocupações com a usina nuclear já foram tema de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no mês passado, que defendeu que nenhum país deveria manter uma presença militar no local. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que qualquer dano na usina seria uma catástrofe para toda a Europa e além.

Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia - comprometendo o sistema de segurança dos reatores - mais de uma vez, a preocupação dos especialistas nucleares é com o impacto a médio e longo prazo na fábrica. Constantes falhas de energia e até o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes pode comprometer a segurança dos reatores ao longo do tempo e levar a vazamentos de radiação.

Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles trabalhassem sem pressão.

Inspetores da AIEA examinam os arredores da usina nuclear de Zaporizhzia em 1º de setembro  Foto: Yuri Kochetkov/EPA/EFE

Ataques a Zaporizhzhia deixa mortos

Enquanto Grossi chega à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparou mísseis contra bairros residenciais na cidade de Zaporizhzhia nesta quinta-feira, disseram autoridades ucranianas. Sete mísseis atingiram a cidade, provocando incêndios e causando “destruição significativa” em edifícios residenciais, disse Oleksandr Starukh, o governador local, no Telegram. Ele postou fotos mostrando uma entrada destruída para uma seção de um bloco de apartamentos de cinco andares.

Os serviços de emergência disseram que três corpos foram recuperados dos escombros. Segundo Starukh, sete pessoas, incluindo uma criança de 3 anos, foram tratadas por ferimentos e acrescentou que mais de 20 pessoas foram retiradas dos escombros. Ele também alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.

Apesar da anexação recente pela Rússia - junto com as regiões de Luhansk, Donetsk e Kherson - Zaporizhzhia tem sido palco de alguns dos ataques mais letais contra civis nas últimas semanas, incluindo um ataque com foguetes nos arredores da cidade que, segundo autoridades, matou pelo menos 30 civis em um posto de controle e ponto de ônibus na semana passada enquanto tentavam fugir.

Zaporizhzhia, um grande centro regional no Rio Dniper, costuma ser o primeiro porto de escala para civis que fogem do território controlado pela Rússia ao sul, uma estação de alimentação e abrigo antes de se mudarem para outras partes do país, geralmente para o oeste, longe da luta./ NYT e AFP

ENERHODAR, UCRÂNIA - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto na última quarta-feira, 5, “nacionalizando” a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, e passando o seu controle para trabalhadores russos. A medida ocorre após a Rússia anexar ilegalmente quatro regiões ucranianas, incluindo a cidade de Zaporizhzhia. O diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou às pressas para Kiev por preocupações com a segurança da usina e disse que não reconhece a tomada russa.

A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, está sob controle russo desde o início da guerra na Ucrânia e tem se tornado um local de intenso combate nos últimos meses. No entanto, ela ainda era controlada por trabalhadores ucranianos. De acordo com o decreto de Putin, uma vez que as instalações agora estão localizadas em território russo - ao menos na ótica de Moscou - os trabalhos devem ficar sob controle russo.

A mudança, no entanto, desperta intensa preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos na usina podem a levar a uma catástrofe nuclear até maior que a provocada pela explosão da usina de Chernobyl em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, chegou nesta quinta, 6, a Kiev e depois viaja para Moscou.

Militar ucraniano de guarda nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS - 04/08/2022

Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que vem fazendo desde que visitou a instalação nuclear em agosto. Ele disse no mês passado que havia negociações ativas com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as ações militares dentro e ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.

Ao chegar em Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele afirmou que o objetivo principal da AIEA é evitar um acidente nuclear, que ele alertou ainda ser uma “possibilidade clara”, em vez de punir a Rússia por sua tentativa de aquisição da usina. E disse que a AIEA continuará mantendo os inspetores na instalação, como tem feito desde setembro. Nas próximas semanas, acrescentou, o número de inspetores passará de dois para quatro.

Decisão ‘nula’

Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”, e disseram que continuariam a gerenciá-la, embora, na prática, não esteja claro como isso poderia ser implementado enquanto a Rússia tem o controle da usina. “Todas as outras decisões sobre a operação da estação serão tomadas diretamente no escritório central da Energoatom”, disse Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a União Europeia, o G-7 e outros aliados a impor sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, Rosatom. Além disso, pediu aos países membros da AIEA que limitem a cooperação com a Rússia.

Separadamente, na quarta-feira, a AIEA disse que soube que a usina planeja reiniciar um de seus seis reatores. Em setembro, o último reator em operação foi desligado por questões de segurança, pois os combates continuavam nas proximidades. A usina, em plena operação, fornece cerca de um quinto do fornecimento de eletricidade da Ucrânia.

As preocupações com a usina nuclear já foram tema de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no mês passado, que defendeu que nenhum país deveria manter uma presença militar no local. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que qualquer dano na usina seria uma catástrofe para toda a Europa e além.

Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia - comprometendo o sistema de segurança dos reatores - mais de uma vez, a preocupação dos especialistas nucleares é com o impacto a médio e longo prazo na fábrica. Constantes falhas de energia e até o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes pode comprometer a segurança dos reatores ao longo do tempo e levar a vazamentos de radiação.

Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles trabalhassem sem pressão.

Inspetores da AIEA examinam os arredores da usina nuclear de Zaporizhzia em 1º de setembro  Foto: Yuri Kochetkov/EPA/EFE

Ataques a Zaporizhzhia deixa mortos

Enquanto Grossi chega à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparou mísseis contra bairros residenciais na cidade de Zaporizhzhia nesta quinta-feira, disseram autoridades ucranianas. Sete mísseis atingiram a cidade, provocando incêndios e causando “destruição significativa” em edifícios residenciais, disse Oleksandr Starukh, o governador local, no Telegram. Ele postou fotos mostrando uma entrada destruída para uma seção de um bloco de apartamentos de cinco andares.

Os serviços de emergência disseram que três corpos foram recuperados dos escombros. Segundo Starukh, sete pessoas, incluindo uma criança de 3 anos, foram tratadas por ferimentos e acrescentou que mais de 20 pessoas foram retiradas dos escombros. Ele também alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.

Apesar da anexação recente pela Rússia - junto com as regiões de Luhansk, Donetsk e Kherson - Zaporizhzhia tem sido palco de alguns dos ataques mais letais contra civis nas últimas semanas, incluindo um ataque com foguetes nos arredores da cidade que, segundo autoridades, matou pelo menos 30 civis em um posto de controle e ponto de ônibus na semana passada enquanto tentavam fugir.

Zaporizhzhia, um grande centro regional no Rio Dniper, costuma ser o primeiro porto de escala para civis que fogem do território controlado pela Rússia ao sul, uma estação de alimentação e abrigo antes de se mudarem para outras partes do país, geralmente para o oeste, longe da luta./ NYT e AFP

ENERHODAR, UCRÂNIA - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto na última quarta-feira, 5, “nacionalizando” a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, e passando o seu controle para trabalhadores russos. A medida ocorre após a Rússia anexar ilegalmente quatro regiões ucranianas, incluindo a cidade de Zaporizhzhia. O diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou às pressas para Kiev por preocupações com a segurança da usina e disse que não reconhece a tomada russa.

A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, está sob controle russo desde o início da guerra na Ucrânia e tem se tornado um local de intenso combate nos últimos meses. No entanto, ela ainda era controlada por trabalhadores ucranianos. De acordo com o decreto de Putin, uma vez que as instalações agora estão localizadas em território russo - ao menos na ótica de Moscou - os trabalhos devem ficar sob controle russo.

A mudança, no entanto, desperta intensa preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos na usina podem a levar a uma catástrofe nuclear até maior que a provocada pela explosão da usina de Chernobyl em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, chegou nesta quinta, 6, a Kiev e depois viaja para Moscou.

Militar ucraniano de guarda nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS - 04/08/2022

Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que vem fazendo desde que visitou a instalação nuclear em agosto. Ele disse no mês passado que havia negociações ativas com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as ações militares dentro e ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.

Ao chegar em Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele afirmou que o objetivo principal da AIEA é evitar um acidente nuclear, que ele alertou ainda ser uma “possibilidade clara”, em vez de punir a Rússia por sua tentativa de aquisição da usina. E disse que a AIEA continuará mantendo os inspetores na instalação, como tem feito desde setembro. Nas próximas semanas, acrescentou, o número de inspetores passará de dois para quatro.

Decisão ‘nula’

Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”, e disseram que continuariam a gerenciá-la, embora, na prática, não esteja claro como isso poderia ser implementado enquanto a Rússia tem o controle da usina. “Todas as outras decisões sobre a operação da estação serão tomadas diretamente no escritório central da Energoatom”, disse Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a União Europeia, o G-7 e outros aliados a impor sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, Rosatom. Além disso, pediu aos países membros da AIEA que limitem a cooperação com a Rússia.

Separadamente, na quarta-feira, a AIEA disse que soube que a usina planeja reiniciar um de seus seis reatores. Em setembro, o último reator em operação foi desligado por questões de segurança, pois os combates continuavam nas proximidades. A usina, em plena operação, fornece cerca de um quinto do fornecimento de eletricidade da Ucrânia.

As preocupações com a usina nuclear já foram tema de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no mês passado, que defendeu que nenhum país deveria manter uma presença militar no local. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que qualquer dano na usina seria uma catástrofe para toda a Europa e além.

Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia - comprometendo o sistema de segurança dos reatores - mais de uma vez, a preocupação dos especialistas nucleares é com o impacto a médio e longo prazo na fábrica. Constantes falhas de energia e até o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes pode comprometer a segurança dos reatores ao longo do tempo e levar a vazamentos de radiação.

Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles trabalhassem sem pressão.

Inspetores da AIEA examinam os arredores da usina nuclear de Zaporizhzia em 1º de setembro  Foto: Yuri Kochetkov/EPA/EFE

Ataques a Zaporizhzhia deixa mortos

Enquanto Grossi chega à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparou mísseis contra bairros residenciais na cidade de Zaporizhzhia nesta quinta-feira, disseram autoridades ucranianas. Sete mísseis atingiram a cidade, provocando incêndios e causando “destruição significativa” em edifícios residenciais, disse Oleksandr Starukh, o governador local, no Telegram. Ele postou fotos mostrando uma entrada destruída para uma seção de um bloco de apartamentos de cinco andares.

Os serviços de emergência disseram que três corpos foram recuperados dos escombros. Segundo Starukh, sete pessoas, incluindo uma criança de 3 anos, foram tratadas por ferimentos e acrescentou que mais de 20 pessoas foram retiradas dos escombros. Ele também alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.

Apesar da anexação recente pela Rússia - junto com as regiões de Luhansk, Donetsk e Kherson - Zaporizhzhia tem sido palco de alguns dos ataques mais letais contra civis nas últimas semanas, incluindo um ataque com foguetes nos arredores da cidade que, segundo autoridades, matou pelo menos 30 civis em um posto de controle e ponto de ônibus na semana passada enquanto tentavam fugir.

Zaporizhzhia, um grande centro regional no Rio Dniper, costuma ser o primeiro porto de escala para civis que fogem do território controlado pela Rússia ao sul, uma estação de alimentação e abrigo antes de se mudarem para outras partes do país, geralmente para o oeste, longe da luta./ NYT e AFP

ENERHODAR, UCRÂNIA - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto na última quarta-feira, 5, “nacionalizando” a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, e passando o seu controle para trabalhadores russos. A medida ocorre após a Rússia anexar ilegalmente quatro regiões ucranianas, incluindo a cidade de Zaporizhzhia. O diretor-geral da agência nuclear da ONU viajou às pressas para Kiev por preocupações com a segurança da usina e disse que não reconhece a tomada russa.

A usina nuclear, que é a maior da Europa e uma das dez maiores do mundo, está sob controle russo desde o início da guerra na Ucrânia e tem se tornado um local de intenso combate nos últimos meses. No entanto, ela ainda era controlada por trabalhadores ucranianos. De acordo com o decreto de Putin, uma vez que as instalações agora estão localizadas em território russo - ao menos na ótica de Moscou - os trabalhos devem ficar sob controle russo.

A mudança, no entanto, desperta intensa preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois erros ou falhas dos engenheiros russos na usina podem a levar a uma catástrofe nuclear até maior que a provocada pela explosão da usina de Chernobyl em 1986. Pelo risco, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, chegou nesta quinta, 6, a Kiev e depois viaja para Moscou.

Militar ucraniano de guarda nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS - 04/08/2022

Grossi reforçou seu pedido por uma zona de segurança ao redor da usina, uma demanda que vem fazendo desde que visitou a instalação nuclear em agosto. Ele disse no mês passado que havia negociações ativas com a Ucrânia e a Rússia para encerrar as ações militares dentro e ao redor da usina, mas deu poucos detalhes.

Ao chegar em Kiev, Grossi disse que ainda vê a usina como uma instalação ucraniana, já que a carta da ONU não reconhece anexações ilegais. “Esta é uma questão que tem a ver com o direito internacional”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele afirmou que o objetivo principal da AIEA é evitar um acidente nuclear, que ele alertou ainda ser uma “possibilidade clara”, em vez de punir a Rússia por sua tentativa de aquisição da usina. E disse que a AIEA continuará mantendo os inspetores na instalação, como tem feito desde setembro. Nas próximas semanas, acrescentou, o número de inspetores passará de dois para quatro.

Decisão ‘nula’

Autoridades ucranianas criticaram a decisão russa, classificando o decreto de Putin como “nulo”, “sem valor”, “absurdo” e “inadequado”, e disseram que continuariam a gerenciá-la, embora, na prática, não esteja claro como isso poderia ser implementado enquanto a Rússia tem o controle da usina. “Todas as outras decisões sobre a operação da estação serão tomadas diretamente no escritório central da Energoatom”, disse Petro Kotin, chefe da empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a União Europeia, o G-7 e outros aliados a impor sanções à empresa estatal de energia nuclear da Rússia, Rosatom. Além disso, pediu aos países membros da AIEA que limitem a cooperação com a Rússia.

Separadamente, na quarta-feira, a AIEA disse que soube que a usina planeja reiniciar um de seus seis reatores. Em setembro, o último reator em operação foi desligado por questões de segurança, pois os combates continuavam nas proximidades. A usina, em plena operação, fornece cerca de um quinto do fornecimento de eletricidade da Ucrânia.

As preocupações com a usina nuclear já foram tema de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no mês passado, que defendeu que nenhum país deveria manter uma presença militar no local. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que qualquer dano na usina seria uma catástrofe para toda a Europa e além.

Além dos bombardeios constantes, que já afetaram o fornecimento de energia - comprometendo o sistema de segurança dos reatores - mais de uma vez, a preocupação dos especialistas nucleares é com o impacto a médio e longo prazo na fábrica. Constantes falhas de energia e até o risco de ter trabalhadores cansados ou expostos a situações estressantes pode comprometer a segurança dos reatores ao longo do tempo e levar a vazamentos de radiação.

Mesmo depois de tomar a usina, os militares russos deixaram as operações para os engenheiros ucranianos, o que garantiu até então a manutenção das operações. No relatório que a AIEA produziu após sua visita, os inspetores observaram a situação extrema dos trabalhadores ucranianos e pedia que eles trabalhassem sem pressão.

Inspetores da AIEA examinam os arredores da usina nuclear de Zaporizhzia em 1º de setembro  Foto: Yuri Kochetkov/EPA/EFE

Ataques a Zaporizhzhia deixa mortos

Enquanto Grossi chega à Ucrânia, pelo menos três civis morreram após a Rússia disparou mísseis contra bairros residenciais na cidade de Zaporizhzhia nesta quinta-feira, disseram autoridades ucranianas. Sete mísseis atingiram a cidade, provocando incêndios e causando “destruição significativa” em edifícios residenciais, disse Oleksandr Starukh, o governador local, no Telegram. Ele postou fotos mostrando uma entrada destruída para uma seção de um bloco de apartamentos de cinco andares.

Os serviços de emergência disseram que três corpos foram recuperados dos escombros. Segundo Starukh, sete pessoas, incluindo uma criança de 3 anos, foram tratadas por ferimentos e acrescentou que mais de 20 pessoas foram retiradas dos escombros. Ele também alertou que havia uma alta probabilidade de mais ataques.

Apesar da anexação recente pela Rússia - junto com as regiões de Luhansk, Donetsk e Kherson - Zaporizhzhia tem sido palco de alguns dos ataques mais letais contra civis nas últimas semanas, incluindo um ataque com foguetes nos arredores da cidade que, segundo autoridades, matou pelo menos 30 civis em um posto de controle e ponto de ônibus na semana passada enquanto tentavam fugir.

Zaporizhzhia, um grande centro regional no Rio Dniper, costuma ser o primeiro porto de escala para civis que fogem do território controlado pela Rússia ao sul, uma estação de alimentação e abrigo antes de se mudarem para outras partes do país, geralmente para o oeste, longe da luta./ NYT e AFP

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