A Comissão Eleitoral da Rússia vetou neste sábado, 23, a candidatura à eleição presidencial da jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova, uma ativista da democracia que defende o fim da ofensiva russa na Ucrânia. A comissão alegou “erros na documentação” apresentadas para o registro da candidatura, informou a imprensa russa.
A presidente da comissão, Ella Pamfilova, declarou que o organismo decidiu por unanimidade impedir a candidatura da mulher de 40 anos às eleições de março. O atual mandatário russo, Vladimir Putin, já sinalizou que vai se candidatar mais uma vez ao pleito e deve obter mais um mandato de seis anos.
Avaliadores independentes já pontuaram em diversas ocasiões o aparelhamento político feito por Putin e as constantes acusações de fraude nas eleições. Em 2021, o presidente russo conseguiu aprovar uma mudança na legislação russa que permite que ele concorra a mais dois mandatos depois do fim da atual administração, em 2024. Com isso, a legislação agora permite que o atual presidente possa ficar no poder até 2036, quando Putin completaria 84 anos.
“Você é uma mulher jovem e tem a vida pela frente”, declarou Pamfilova à candidata. Duntsova criticou a decisão, que chamou de “triste”. No Telegram, ela anunciou a intenção de apresentar um recurso de apelação à Suprema Corte da Rússia.
Na prática, no entanto, o processo tem pouca possibilidade de prosperar, pois qualquer candidatura que represente uma oposição direta à política do Kremlin não tem chance de receber autorização.
Duntsova também pediu aos dirigentes do pequeno partido liberal Yabloko que apoiem sua candidatura. “Não podemos ficar de braços cruzado. Esta é a última oportunidade legal para que os cidadãos expressem sua divergência com a política das atuais autoridades”, afirmou no Telegram. “Os russos precisam escolher”.
“Milhares de vidas dependem de sua decisão”, destacou. Pamfilova informou que 29 pessoas apresentaram documentação para registrar candidaturas à presidência, que tem a votação marcada para março de 2024.
Na Rússia, a oposição é quase inexistente, após anos de repressão, uma política que ficou ainda mais intensa desde o início da ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022. O presidente russo domina o cenário político no país há duas décadas, colocando opositores como Alexei Navalni e Ilya Yashin, que poderiam concorrer contra ele, na prisão
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Outros candidatos
O Partido Comunista Russo designou Nikolái Jaritonov, veterano da cena política no país e candidato ao pleito em 2004, como candidato às eleições presidenciais de março.
“A candidatura de Jaritonov em votação secreta foi apoiada pela imensa maioria dos participantes do Congresso do partido”, indicou o secretário do Comitê Central, Alexandre Iushchenko, citado pela agência de notícias Interfax.
O Partido Comunista da Federação da Rússia (PCFR) é uma das legendas de oposição a Putin, mas na realidade acaba apoiando as decisões do Kremlin.
“Nosso papel é reforçar o povo durante a campanha eleitoral para que haja uma vitória em todas as frentes”, declarou Jaritonov à imprensa, referindo-se ao conflito na Ucrânia.
O presidente do partido nacionalista “União Popular”, Serguéi Baburin, de 64 anos e antigo vice-presidente da Duma (câmara baixa da Assembleia Federal), anunciou que também deve se candidatar./AFP