A Ucrânia denunciou, nesta quinta-feira, 29, novos ataques em larga escala da Rússia com dezenas de mísseis contra várias cidades do país, incluindo Kiev, em mais uma série de ações com o objetivo de destruir as infraestruturas de energia do país, em pleno inverno (Hemisfério Norte).
O comandante das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zaluzhni, afirmou que o Exército derrubou 54 de 69 mísseis disparados pelas tropas russas. O ataque combinou um enxame de drones e uma saraivada de mísseis de cruzeiro, explicou a Força Aérea Ucraniana no Facebook.
Drones explosivos de fabricação iraniana, que a Rússia começou a adquirir no semestre passado, foram lançados em uma primeira onda, aparentemente para paralisar as defesas aéreas antes dos ataques com mísseis de cruzeiro, afirmou a Força Aérea. Ela acrescentou que 11 drones explosivos do tipo Shahed, de fabricação iraniana, foram destruídos.
O Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou em um comunicado no Twitter que a Rússia estava “conduzindo um dos mais extensos ataques de mísseis desde o início da invasão em grande escala, nos últimos dias do ano”.
O país enfrenta novos danos a sua rede de energia elétrica, já muito deteriorada por quase três meses de bombardeios intensos. Várias partes da Ucrânia ficaram sem energia.
Em um primeiro momento, a presidência ucraniana citou 120 mísseis. “O inimigo ataca a Ucrânia de várias direções com mísseis de cruzeiro disparados de aviões e navios”, afirmou a Força Aérea ucraniana.
Após uma série de reveses militares nos últimos meses, o Kremlin mudou de tática e, em outubro, passou a atacar com frequência os transformadores e as centrais de energia elétrica da Ucrânia, com mísseis e drones.
A estratégia provocou uma grave escassez de energia e deixou milhões de ucranianos no frio e na escuridão.
Os ataques desta quinta-feira acontecem poucos dias antes do ano-novo, a grande festa das famílias na maioria dos países da região.
Ao mesmo tempo, o governo de Belarus, aliado da Rússia, afirmou que um míssil ucraniano caiu nesta quinta-feira em seu território. O projétil, lançado por um sistema de defesa antiaérea S-300, partiu “do território ucraniano”, afirmou o ministério belarusso da Defesa.
Lviv sem energia
Quase 90% de Lviv, a principal cidade do oeste da Ucrânia, ficou sem energia elétrica após os ataques russos. “Os bondes e ônibus elétricos não funcionam mais na cidade, podemos enfrentar cortes de água”, afirmou o prefeito de Lviv, Andri Sadovi, no Telegram.
Em Kiev, 40% dos residentes estavam sem energia elétrica em consequência dos ataques contra as infraestruturas fora da cidade. De acordo com uma fonte militar, a defesa antiaérea conseguiu derrubar 16 mísseis russos que foram lançados contra a capital.
“Recarreguem seus telefones e outros dispositivos. Façam reservas de água”, recomendou o prefeito de Kiev, Vitali Klitchko.
Em Odessa, importante porto do sudoeste da Ucrânia, 21 mísseis russos foram derrubados pela defesa ucraniana, segundo o governador Maksim Martchenko. Mas outros atingiram os alvos e a cidade enfrenta cortes de energia.
Na cidade de Kharkiv (nordeste), na fronteira com a Rússia, os bombardeios também apontaram contra “infraestruturas críticas”, segundo o governador Oleg Sinegubov, e as autoridades ainda tentam determinar o balanço da destruição.
Desde outubro, a Rússia lançou centenas de mísseis e drones contra as infraestruturas ucranianas. Por este motivo, Kiev pede aos aliados ocidentais que acelerem a ajuda militar para fornecer ao país mais sistemas de defesa antiaérea.
Sem perspectivas de paz
O presidente russo, Vladimir Putin, por sua vez, participou nesta quinta-feira de uma cerimônia de apresentação de navios de guerra, incluindo um submarino com capacidade de transportar mísseis nucleares. Ele prometeu produzir mais armamentos e elogiou as capacidades de sua frota.
Putin apresenta a invasão da Ucrânia, que começou há 10 meses e já provocou grandes perdas, como uma necessidade para a segurança nacional. Ele afirma que o Ocidente está usando o país como uma ponte para ameaçar a Rússia.
A guerra de drones
Diante dos reveses militares, a Rússia mobilizou 300 mil reservistas, civis, para estabilizar as frentes de batalha.
Moscou reivindica a anexação de quatro regiões do sul e leste da Ucrânia, que o Exército russo ocupa de maneira parcial.
Os combates prosseguem, com batalhas particularmente violentas em Bakhmut, uma cidade do leste da Ucrânia que a Rússia tenta conquistar há vários meses, e Kreminna, que as forças ucranianas tentam retomar.
As perspectivas de negociações são praticamente inexistentes.
A Ucrânia exige a retirada de todas as forças russas do país, enquanto Moscou deseja que Kiev ao menos entregue as quatro regiões que o Kremlin reivindica como suas desde setembro, assim como a Crimeia, anexada em 2014./AFP e NYT