‘SAC da Otan’: Ucranianos buscam assistência técnica para operar armas antitanques


Os poderosos armamentos antitanque Javelin vieram a simbolizar o envolvimento dos EUA na Ucrânia, mas críticos afirmam que o Pentágono não tem fornecido suporte ao usuário

Por Alex Horton
Atualização:

Os ucranianos enfrentavam um problema urgente. Seus lançadores de mísseis Javelin — equipamentos sofisticados e repletos de especificações para seu uso, que custam milhares de dólares — estavam quebrados, e ninguém na unidade era capaz de consertá-los.

Eles buscaram ajuda de dois americanos, que conseguiram consertar um dos armamentos canibalizando componentes elétricos de um controle de videogame, afirmou Mark Hayward, veterano do Exército dos Estados Unidos e treinador voluntário.

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Todos pensaram que os outros equipamentos estavam quebrados, afirmou ele, até que se descobriu que suas instruções haviam se embaralhado no Google Tradutor. Hayward recordou o episódio expressando profunda frustração com o Pentágono, que se apressou para enviar mais de 5 mil sistemas Javelin para a Ucrânia, mas não fez nada mais para garantir que os defensores que combatem as forças russas tivessem ajuda quando a necessidade se assomasse.

Os poderosos armamentos antitanque passaram a simbolizar o envolvimento dos EUA na Ucrânia e da corrida para equipar o Exército ucraniano para a guerra contra a Rússia. Mas nesse alvoroço, de acordo com comandantes ucranianos e voluntários ocidentais, faltou uma assistência logística oportuna e eficaz — elementos como módulos de treinamento, baterias-extra e outros fatores básicos com os quais as forças americanas contam normalmente. A central americana de assistência técnica de guerra, afirmam eles, não existe.

Membros do Exército ucraniano seguram um sistema de mísseis Javelin no front de batalha, próximo a Kiev, em imagem do dia 13 de março. Ucranianos têm dificuldade de entender armamento Foto: Gleb Garanich/Reuters
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“Estamos mandando o equipamento”, afirmou Hayward em entrevista. “Mas decidimos não dar suporte técnico?”

O Javelin faz a mira sobre a imagem térmica do alvo, usando uma unidade de comando de lançamento, ou UCL. O míssil guiado é capaz de romper blindagens de alvos a até 4 quilômetros. Mas é muito mais complicado usar esse sistema do que outros lançadores de projéteis portáteis. Os sistemas Javelin requerem uso de argônio para resfriar o equipamento durante sua operação e chegam acompanhados de um manual de instruções de 258 páginas.

Além disso, afirmou Hayward, parece que os Javelins enviados para a Ucrânia não incluem cartões orientando os militares a telefonar gratuitamente para o número da assistência técnica caso os armamentos apresentem problemas de funcionamento ou necessitem reparos. Hayward abriu várias caixas contendo os equipamentos e não encontrou nenhum cartão do tipo, e equipes de treinamento em várias unidades lhe disseram que não sabem da existência de nenhum suporte aos usuários dos sistemas Javelin, afirmou ele.

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Hayward qualificou esse atendimento em call center como um importante elemento para os próprios soldados americanos que se vejam incapazes de diagnosticar e resolver problemas por conta própria. Para ele, é inaceitável o governo de Joe Biden não ter estendido esse mesmo nível de assistência na Ucrânia.

Os sistemas Javelin são fabricados em parceria entre as empresas Lockheed Martin e Raytheon Missiles and Defense. Uma cópia do cartão de assistência ao cliente obtida pelo Washington Post informa um número de telefone que parece associado aos escritórios da Lockheed em Orlando. Um repórter do Post que telefonou para a central de apoio ao usuário em junho e foi direcionado para a divisão de relações com a mídia da empresa. A porta-voz Cristina Vite recusou-se a informar se é a Lockheed que administra o call center. Ela repassou os questionamentos para o Pentágono.

O Departamento de Defesa não respondeu questões a respeito do escopo do apoio técnico e logístico fornecido ao Exército ucraniano, nem se os cartões com a informação de contato do call center foram removidos das caixas dos sistemas Javelin antes de seu envio para a Ucrânia.

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Javelin é carregado por membros do Exército ucraniano ao longo de uma trincheira no norte de Kiev, em imagem do dia 13 de março. EUA enviaram sistemas de mísseis modernos para ajudar Ucrânia no conflito contra a Rússia Foto: Gleb Garanich/Reuters

Segundo Hayward, também faltam nos carregamentos de sistema Javelin dois softwares que o Exército americano considera fundamentais no currículo de treinamento para o uso do armamento. Um deles é um guia em habilidades básicas, que detalha passo a passo a sequência de lançamento. É exigido aprendizado dos militares americanos que se especializam na utilização dessas armas. O outro programa é um kit de treinamento tático que os soldados dos EUA carregam durante exercícios com simulações de combate.

Não há informação a respeito de nenhum acionamento de tropas americanas dentro da Ucrânia, mas o Pentágono continua a dar treinamento para soldados ucranianos fora do país, para a operação de sistemas de artilharia de foguetes, obuses, drones e outros equipamentos militares. Alguns soldados ucranianos já conheciam os sistemas Javelin antes da guerra com a Rússia começar, pois pequenas quantidades do armamento foram enviadas anteriormente para a Ucrânia em 2018 mas foram guardados longe das linhas do estagnado conflito que se arrastava na época no leste ucraniano.

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Bradley Crawford, veterano do Exército que ajuda a treinar soldados ucranianos a operar sistemas Javelin e outros armamentos, disse em um telefonema interurbano que sua equipe solicitou o software de treinamento mais de um mês atrás, mas que não viu nenhum kit sendo entregue.

“Na Ucrânia, eles têm um armazém ‘Indiana Jones’”, afirmou Crawford, referindo-se à cena do filme que mostra uma instalação cavernosa de armazenamento. “Te digo uma coisa. Nada sai de lá.”

A questão do apoio logístico chamou a atenção pelo menos de uma congressista americana. Durante uma audiência da Comissão de Apropriações do Senado, em maio, a senadora Lisa Murkowski (republicana do Alasca) perguntou ao secretário da Defesa, Lloyd Austin, se sistemas de treinamento suficientes foram enviados para a Ucrânia, citando uma carta da agência de inteligência militar ucraniana solicitando-os.

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Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo

Oficial militar ucraniano em entrevista ao The Washington Post

O tema jamais havia surgido em discussões com autoridades ucranianas, respondeu Austin. O Pentágono informou posteriormente ao gabinete de Murkowski que as autoridades de defesa dos EUA tocaram no assunto em uma reunião com o gabinete do ministro da defesa ucraniano, que indicou não haver necessidade de envio de sistemas de treinamento adicionais. Murkowski afirmou em entrevista que sua equipe interpretou, a partir da resposta do Pentágono, que sistemas de treinamento haviam sido enviados.

“À medida que mandamos mais Javelins para a Ucrânia estamos mantendo o nível do treinamento? Essa resposta ainda é verdadeira hoje? Não sei dizer”, afirmou ela. “Precisamos garantir que essas perguntas continuem sendo feitas.”

Um oficial militar da Ucrânia em serviço no sul do país disse ao Post no início de junho que sua unidade requisitou simuladores para treinamento uma semana antes do testemunho de Austin no Congresso, em 3 de maio, mas ainda não conseguiu nenhum e não sabe se outras unidades de sua brigada conseguiram algum. Os soldados ucranianos sabem se adaptar e improvisar na maioria das situações, afirmou ele, mas muitos deles receberam orientações resumidas em breves ciclos de treinamentos, que normalmente duram menos de dois dias. (O curso de treinamento de operação dos sistemas Javelin no Exército dos EUA dura 80 horas.) Instrução formal, afirmou ele, pode reduzir erros e mal uso não intencional.

“Treinamento é crucial”, afirmou o oficial militar ucraniano, que falou sob condição de anonimato por não estar autorizado a conversar com a imprensa. “Precisamos ser capazes de atirar em 100% dos alvos. Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo.”

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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Representantes do Ministério da Defesa da Ucrânia e das Forças Armadas do país não responderam pedidos de comentário. Alguns soldados ucranianos afirmam sentir que suas necessidades estão plenamente atendidas. Anatoli, que, citando a polícia do Exército, enviou respostas por WhatsApp sob a condição de que seu nome completo não fosse revelado, afirmou que seu abreviado curso de treinamento para utilização dos sistemas Javelin — que durou um dia e meio — e subsequentes lembretes foram suficientes. Lançadores quebrados estão recebendo reparos de uma equipe de manutenção sob seu comando, afirmou Anatoli, e seus estoques de baterias e resfriadores estão bons.

“Não temos acesso direto ao fabricante”, afirmou ele, “e nem precisamos disso”.

Ainda que a guerra na Ucrânia tenha evoluído para um duelo principalmente entre fogo de artilharia e sistemas de foguetes, armamentos antiblindagem continuam cruciais, pois as forças russas continuam a usar tanques e transportes blindados de tropas para auxiliar na captura de áreas estratégicas no Donbas, afirmou o oficial militar ucraniano crítico às deficiências no treinamento. “Assim que os russos quiserem tomar um vilarejo ou uma cidade, este é o elemento número 1 para contra-atacá-los”, afirmou ele, referindo-se aos sistemas Javelin.

Hayward, que vive no Alasca, conversou com Murkowski a respeito do limitado abastecimento de baterias para as unidades de lançamento. Suas cargas duram apenas quatro horas — ou menos, quando são usadas para disparar mísseis. Então, os ucranianos mantêm as baterias guardadas, para garantir que elas funcionem nos lançamentos reais, afirmou ele. Por isso, faltam baterias para os treinamentos. Sem elas, os sistemas Javelin não passam de um peso de porta, de 22,7 quilos.

Hayward relatou à senadora improvisos com baterias de motos, fita adesiva e fiação para manter os treinamentos, recordou ela. “Tem de haver um jeito melhor”, afirmou Murkowski. “Não podemos lhes mandar esses armamentos sofisticados sem lhes fornecer recursos apropriados para treinamento.”

Hayward recordou que, em março, quando dava uma aula sobre o sistema Javelin, ele recebeu um telefonema de um soldado em serviço no sudeste da Ucrânia que estava escondido atrás de uma pequena colina — abrigando-se do fogo de um tanque russo. O lançador de mísseis que o soldado portava apresentava defeito. Hayward afirmou que não foi capaz de diagnosticar o problema pelo telefone, e o soldado foi forçado a fugir. Hayward não sabe o que aconteceu com ele.

A Lockheed ou as Forças Armadas dos EUA deveriam estar conduzindo chamadas de vídeo regularmente com unidades ucranianas para responder dúvidas técnicas a respeito dos sistemas Javelin ou para fornecer um treinamento mais completo para o crescente contingente de soldados que precisam disso, afirmou Hayward. A decisão do presidente Biden de retirar os 200 membros da Guarda Nacional que treinavam forças ucranianas anteriormente à invasão russa e sua relutância em acionar novos operadores neste momento transferiu essa responsabilidade para voluntários, muitos deles veteranos de forças militares americanas, afirmou ele, classificando a atual situação como inadequada e insustentável.

" A cada dia que continuarmos nos atrasando, as vidas dessas pessoas continuarão em risco”, disse Hayward. “Somos mais inteligentes, somos melhores que isso.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Os ucranianos enfrentavam um problema urgente. Seus lançadores de mísseis Javelin — equipamentos sofisticados e repletos de especificações para seu uso, que custam milhares de dólares — estavam quebrados, e ninguém na unidade era capaz de consertá-los.

Eles buscaram ajuda de dois americanos, que conseguiram consertar um dos armamentos canibalizando componentes elétricos de um controle de videogame, afirmou Mark Hayward, veterano do Exército dos Estados Unidos e treinador voluntário.

Todos pensaram que os outros equipamentos estavam quebrados, afirmou ele, até que se descobriu que suas instruções haviam se embaralhado no Google Tradutor. Hayward recordou o episódio expressando profunda frustração com o Pentágono, que se apressou para enviar mais de 5 mil sistemas Javelin para a Ucrânia, mas não fez nada mais para garantir que os defensores que combatem as forças russas tivessem ajuda quando a necessidade se assomasse.

Os poderosos armamentos antitanque passaram a simbolizar o envolvimento dos EUA na Ucrânia e da corrida para equipar o Exército ucraniano para a guerra contra a Rússia. Mas nesse alvoroço, de acordo com comandantes ucranianos e voluntários ocidentais, faltou uma assistência logística oportuna e eficaz — elementos como módulos de treinamento, baterias-extra e outros fatores básicos com os quais as forças americanas contam normalmente. A central americana de assistência técnica de guerra, afirmam eles, não existe.

Membros do Exército ucraniano seguram um sistema de mísseis Javelin no front de batalha, próximo a Kiev, em imagem do dia 13 de março. Ucranianos têm dificuldade de entender armamento Foto: Gleb Garanich/Reuters

“Estamos mandando o equipamento”, afirmou Hayward em entrevista. “Mas decidimos não dar suporte técnico?”

O Javelin faz a mira sobre a imagem térmica do alvo, usando uma unidade de comando de lançamento, ou UCL. O míssil guiado é capaz de romper blindagens de alvos a até 4 quilômetros. Mas é muito mais complicado usar esse sistema do que outros lançadores de projéteis portáteis. Os sistemas Javelin requerem uso de argônio para resfriar o equipamento durante sua operação e chegam acompanhados de um manual de instruções de 258 páginas.

Além disso, afirmou Hayward, parece que os Javelins enviados para a Ucrânia não incluem cartões orientando os militares a telefonar gratuitamente para o número da assistência técnica caso os armamentos apresentem problemas de funcionamento ou necessitem reparos. Hayward abriu várias caixas contendo os equipamentos e não encontrou nenhum cartão do tipo, e equipes de treinamento em várias unidades lhe disseram que não sabem da existência de nenhum suporte aos usuários dos sistemas Javelin, afirmou ele.

Hayward qualificou esse atendimento em call center como um importante elemento para os próprios soldados americanos que se vejam incapazes de diagnosticar e resolver problemas por conta própria. Para ele, é inaceitável o governo de Joe Biden não ter estendido esse mesmo nível de assistência na Ucrânia.

Os sistemas Javelin são fabricados em parceria entre as empresas Lockheed Martin e Raytheon Missiles and Defense. Uma cópia do cartão de assistência ao cliente obtida pelo Washington Post informa um número de telefone que parece associado aos escritórios da Lockheed em Orlando. Um repórter do Post que telefonou para a central de apoio ao usuário em junho e foi direcionado para a divisão de relações com a mídia da empresa. A porta-voz Cristina Vite recusou-se a informar se é a Lockheed que administra o call center. Ela repassou os questionamentos para o Pentágono.

O Departamento de Defesa não respondeu questões a respeito do escopo do apoio técnico e logístico fornecido ao Exército ucraniano, nem se os cartões com a informação de contato do call center foram removidos das caixas dos sistemas Javelin antes de seu envio para a Ucrânia.

Javelin é carregado por membros do Exército ucraniano ao longo de uma trincheira no norte de Kiev, em imagem do dia 13 de março. EUA enviaram sistemas de mísseis modernos para ajudar Ucrânia no conflito contra a Rússia Foto: Gleb Garanich/Reuters

Segundo Hayward, também faltam nos carregamentos de sistema Javelin dois softwares que o Exército americano considera fundamentais no currículo de treinamento para o uso do armamento. Um deles é um guia em habilidades básicas, que detalha passo a passo a sequência de lançamento. É exigido aprendizado dos militares americanos que se especializam na utilização dessas armas. O outro programa é um kit de treinamento tático que os soldados dos EUA carregam durante exercícios com simulações de combate.

Não há informação a respeito de nenhum acionamento de tropas americanas dentro da Ucrânia, mas o Pentágono continua a dar treinamento para soldados ucranianos fora do país, para a operação de sistemas de artilharia de foguetes, obuses, drones e outros equipamentos militares. Alguns soldados ucranianos já conheciam os sistemas Javelin antes da guerra com a Rússia começar, pois pequenas quantidades do armamento foram enviadas anteriormente para a Ucrânia em 2018 mas foram guardados longe das linhas do estagnado conflito que se arrastava na época no leste ucraniano.

Bradley Crawford, veterano do Exército que ajuda a treinar soldados ucranianos a operar sistemas Javelin e outros armamentos, disse em um telefonema interurbano que sua equipe solicitou o software de treinamento mais de um mês atrás, mas que não viu nenhum kit sendo entregue.

“Na Ucrânia, eles têm um armazém ‘Indiana Jones’”, afirmou Crawford, referindo-se à cena do filme que mostra uma instalação cavernosa de armazenamento. “Te digo uma coisa. Nada sai de lá.”

A questão do apoio logístico chamou a atenção pelo menos de uma congressista americana. Durante uma audiência da Comissão de Apropriações do Senado, em maio, a senadora Lisa Murkowski (republicana do Alasca) perguntou ao secretário da Defesa, Lloyd Austin, se sistemas de treinamento suficientes foram enviados para a Ucrânia, citando uma carta da agência de inteligência militar ucraniana solicitando-os.

Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo

Oficial militar ucraniano em entrevista ao The Washington Post

O tema jamais havia surgido em discussões com autoridades ucranianas, respondeu Austin. O Pentágono informou posteriormente ao gabinete de Murkowski que as autoridades de defesa dos EUA tocaram no assunto em uma reunião com o gabinete do ministro da defesa ucraniano, que indicou não haver necessidade de envio de sistemas de treinamento adicionais. Murkowski afirmou em entrevista que sua equipe interpretou, a partir da resposta do Pentágono, que sistemas de treinamento haviam sido enviados.

“À medida que mandamos mais Javelins para a Ucrânia estamos mantendo o nível do treinamento? Essa resposta ainda é verdadeira hoje? Não sei dizer”, afirmou ela. “Precisamos garantir que essas perguntas continuem sendo feitas.”

Um oficial militar da Ucrânia em serviço no sul do país disse ao Post no início de junho que sua unidade requisitou simuladores para treinamento uma semana antes do testemunho de Austin no Congresso, em 3 de maio, mas ainda não conseguiu nenhum e não sabe se outras unidades de sua brigada conseguiram algum. Os soldados ucranianos sabem se adaptar e improvisar na maioria das situações, afirmou ele, mas muitos deles receberam orientações resumidas em breves ciclos de treinamentos, que normalmente duram menos de dois dias. (O curso de treinamento de operação dos sistemas Javelin no Exército dos EUA dura 80 horas.) Instrução formal, afirmou ele, pode reduzir erros e mal uso não intencional.

“Treinamento é crucial”, afirmou o oficial militar ucraniano, que falou sob condição de anonimato por não estar autorizado a conversar com a imprensa. “Precisamos ser capazes de atirar em 100% dos alvos. Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo.”

Seu navegador não suporta esse video.

Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Representantes do Ministério da Defesa da Ucrânia e das Forças Armadas do país não responderam pedidos de comentário. Alguns soldados ucranianos afirmam sentir que suas necessidades estão plenamente atendidas. Anatoli, que, citando a polícia do Exército, enviou respostas por WhatsApp sob a condição de que seu nome completo não fosse revelado, afirmou que seu abreviado curso de treinamento para utilização dos sistemas Javelin — que durou um dia e meio — e subsequentes lembretes foram suficientes. Lançadores quebrados estão recebendo reparos de uma equipe de manutenção sob seu comando, afirmou Anatoli, e seus estoques de baterias e resfriadores estão bons.

“Não temos acesso direto ao fabricante”, afirmou ele, “e nem precisamos disso”.

Ainda que a guerra na Ucrânia tenha evoluído para um duelo principalmente entre fogo de artilharia e sistemas de foguetes, armamentos antiblindagem continuam cruciais, pois as forças russas continuam a usar tanques e transportes blindados de tropas para auxiliar na captura de áreas estratégicas no Donbas, afirmou o oficial militar ucraniano crítico às deficiências no treinamento. “Assim que os russos quiserem tomar um vilarejo ou uma cidade, este é o elemento número 1 para contra-atacá-los”, afirmou ele, referindo-se aos sistemas Javelin.

Hayward, que vive no Alasca, conversou com Murkowski a respeito do limitado abastecimento de baterias para as unidades de lançamento. Suas cargas duram apenas quatro horas — ou menos, quando são usadas para disparar mísseis. Então, os ucranianos mantêm as baterias guardadas, para garantir que elas funcionem nos lançamentos reais, afirmou ele. Por isso, faltam baterias para os treinamentos. Sem elas, os sistemas Javelin não passam de um peso de porta, de 22,7 quilos.

Hayward relatou à senadora improvisos com baterias de motos, fita adesiva e fiação para manter os treinamentos, recordou ela. “Tem de haver um jeito melhor”, afirmou Murkowski. “Não podemos lhes mandar esses armamentos sofisticados sem lhes fornecer recursos apropriados para treinamento.”

Hayward recordou que, em março, quando dava uma aula sobre o sistema Javelin, ele recebeu um telefonema de um soldado em serviço no sudeste da Ucrânia que estava escondido atrás de uma pequena colina — abrigando-se do fogo de um tanque russo. O lançador de mísseis que o soldado portava apresentava defeito. Hayward afirmou que não foi capaz de diagnosticar o problema pelo telefone, e o soldado foi forçado a fugir. Hayward não sabe o que aconteceu com ele.

A Lockheed ou as Forças Armadas dos EUA deveriam estar conduzindo chamadas de vídeo regularmente com unidades ucranianas para responder dúvidas técnicas a respeito dos sistemas Javelin ou para fornecer um treinamento mais completo para o crescente contingente de soldados que precisam disso, afirmou Hayward. A decisão do presidente Biden de retirar os 200 membros da Guarda Nacional que treinavam forças ucranianas anteriormente à invasão russa e sua relutância em acionar novos operadores neste momento transferiu essa responsabilidade para voluntários, muitos deles veteranos de forças militares americanas, afirmou ele, classificando a atual situação como inadequada e insustentável.

" A cada dia que continuarmos nos atrasando, as vidas dessas pessoas continuarão em risco”, disse Hayward. “Somos mais inteligentes, somos melhores que isso.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Os ucranianos enfrentavam um problema urgente. Seus lançadores de mísseis Javelin — equipamentos sofisticados e repletos de especificações para seu uso, que custam milhares de dólares — estavam quebrados, e ninguém na unidade era capaz de consertá-los.

Eles buscaram ajuda de dois americanos, que conseguiram consertar um dos armamentos canibalizando componentes elétricos de um controle de videogame, afirmou Mark Hayward, veterano do Exército dos Estados Unidos e treinador voluntário.

Todos pensaram que os outros equipamentos estavam quebrados, afirmou ele, até que se descobriu que suas instruções haviam se embaralhado no Google Tradutor. Hayward recordou o episódio expressando profunda frustração com o Pentágono, que se apressou para enviar mais de 5 mil sistemas Javelin para a Ucrânia, mas não fez nada mais para garantir que os defensores que combatem as forças russas tivessem ajuda quando a necessidade se assomasse.

Os poderosos armamentos antitanque passaram a simbolizar o envolvimento dos EUA na Ucrânia e da corrida para equipar o Exército ucraniano para a guerra contra a Rússia. Mas nesse alvoroço, de acordo com comandantes ucranianos e voluntários ocidentais, faltou uma assistência logística oportuna e eficaz — elementos como módulos de treinamento, baterias-extra e outros fatores básicos com os quais as forças americanas contam normalmente. A central americana de assistência técnica de guerra, afirmam eles, não existe.

Membros do Exército ucraniano seguram um sistema de mísseis Javelin no front de batalha, próximo a Kiev, em imagem do dia 13 de março. Ucranianos têm dificuldade de entender armamento Foto: Gleb Garanich/Reuters

“Estamos mandando o equipamento”, afirmou Hayward em entrevista. “Mas decidimos não dar suporte técnico?”

O Javelin faz a mira sobre a imagem térmica do alvo, usando uma unidade de comando de lançamento, ou UCL. O míssil guiado é capaz de romper blindagens de alvos a até 4 quilômetros. Mas é muito mais complicado usar esse sistema do que outros lançadores de projéteis portáteis. Os sistemas Javelin requerem uso de argônio para resfriar o equipamento durante sua operação e chegam acompanhados de um manual de instruções de 258 páginas.

Além disso, afirmou Hayward, parece que os Javelins enviados para a Ucrânia não incluem cartões orientando os militares a telefonar gratuitamente para o número da assistência técnica caso os armamentos apresentem problemas de funcionamento ou necessitem reparos. Hayward abriu várias caixas contendo os equipamentos e não encontrou nenhum cartão do tipo, e equipes de treinamento em várias unidades lhe disseram que não sabem da existência de nenhum suporte aos usuários dos sistemas Javelin, afirmou ele.

Hayward qualificou esse atendimento em call center como um importante elemento para os próprios soldados americanos que se vejam incapazes de diagnosticar e resolver problemas por conta própria. Para ele, é inaceitável o governo de Joe Biden não ter estendido esse mesmo nível de assistência na Ucrânia.

Os sistemas Javelin são fabricados em parceria entre as empresas Lockheed Martin e Raytheon Missiles and Defense. Uma cópia do cartão de assistência ao cliente obtida pelo Washington Post informa um número de telefone que parece associado aos escritórios da Lockheed em Orlando. Um repórter do Post que telefonou para a central de apoio ao usuário em junho e foi direcionado para a divisão de relações com a mídia da empresa. A porta-voz Cristina Vite recusou-se a informar se é a Lockheed que administra o call center. Ela repassou os questionamentos para o Pentágono.

O Departamento de Defesa não respondeu questões a respeito do escopo do apoio técnico e logístico fornecido ao Exército ucraniano, nem se os cartões com a informação de contato do call center foram removidos das caixas dos sistemas Javelin antes de seu envio para a Ucrânia.

Javelin é carregado por membros do Exército ucraniano ao longo de uma trincheira no norte de Kiev, em imagem do dia 13 de março. EUA enviaram sistemas de mísseis modernos para ajudar Ucrânia no conflito contra a Rússia Foto: Gleb Garanich/Reuters

Segundo Hayward, também faltam nos carregamentos de sistema Javelin dois softwares que o Exército americano considera fundamentais no currículo de treinamento para o uso do armamento. Um deles é um guia em habilidades básicas, que detalha passo a passo a sequência de lançamento. É exigido aprendizado dos militares americanos que se especializam na utilização dessas armas. O outro programa é um kit de treinamento tático que os soldados dos EUA carregam durante exercícios com simulações de combate.

Não há informação a respeito de nenhum acionamento de tropas americanas dentro da Ucrânia, mas o Pentágono continua a dar treinamento para soldados ucranianos fora do país, para a operação de sistemas de artilharia de foguetes, obuses, drones e outros equipamentos militares. Alguns soldados ucranianos já conheciam os sistemas Javelin antes da guerra com a Rússia começar, pois pequenas quantidades do armamento foram enviadas anteriormente para a Ucrânia em 2018 mas foram guardados longe das linhas do estagnado conflito que se arrastava na época no leste ucraniano.

Bradley Crawford, veterano do Exército que ajuda a treinar soldados ucranianos a operar sistemas Javelin e outros armamentos, disse em um telefonema interurbano que sua equipe solicitou o software de treinamento mais de um mês atrás, mas que não viu nenhum kit sendo entregue.

“Na Ucrânia, eles têm um armazém ‘Indiana Jones’”, afirmou Crawford, referindo-se à cena do filme que mostra uma instalação cavernosa de armazenamento. “Te digo uma coisa. Nada sai de lá.”

A questão do apoio logístico chamou a atenção pelo menos de uma congressista americana. Durante uma audiência da Comissão de Apropriações do Senado, em maio, a senadora Lisa Murkowski (republicana do Alasca) perguntou ao secretário da Defesa, Lloyd Austin, se sistemas de treinamento suficientes foram enviados para a Ucrânia, citando uma carta da agência de inteligência militar ucraniana solicitando-os.

Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo

Oficial militar ucraniano em entrevista ao The Washington Post

O tema jamais havia surgido em discussões com autoridades ucranianas, respondeu Austin. O Pentágono informou posteriormente ao gabinete de Murkowski que as autoridades de defesa dos EUA tocaram no assunto em uma reunião com o gabinete do ministro da defesa ucraniano, que indicou não haver necessidade de envio de sistemas de treinamento adicionais. Murkowski afirmou em entrevista que sua equipe interpretou, a partir da resposta do Pentágono, que sistemas de treinamento haviam sido enviados.

“À medida que mandamos mais Javelins para a Ucrânia estamos mantendo o nível do treinamento? Essa resposta ainda é verdadeira hoje? Não sei dizer”, afirmou ela. “Precisamos garantir que essas perguntas continuem sendo feitas.”

Um oficial militar da Ucrânia em serviço no sul do país disse ao Post no início de junho que sua unidade requisitou simuladores para treinamento uma semana antes do testemunho de Austin no Congresso, em 3 de maio, mas ainda não conseguiu nenhum e não sabe se outras unidades de sua brigada conseguiram algum. Os soldados ucranianos sabem se adaptar e improvisar na maioria das situações, afirmou ele, mas muitos deles receberam orientações resumidas em breves ciclos de treinamentos, que normalmente duram menos de dois dias. (O curso de treinamento de operação dos sistemas Javelin no Exército dos EUA dura 80 horas.) Instrução formal, afirmou ele, pode reduzir erros e mal uso não intencional.

“Treinamento é crucial”, afirmou o oficial militar ucraniano, que falou sob condição de anonimato por não estar autorizado a conversar com a imprensa. “Precisamos ser capazes de atirar em 100% dos alvos. Não temos Javelins suficientes para simplesmente deixar um equipamento defeituoso de lado e pegar outro novo.”

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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Representantes do Ministério da Defesa da Ucrânia e das Forças Armadas do país não responderam pedidos de comentário. Alguns soldados ucranianos afirmam sentir que suas necessidades estão plenamente atendidas. Anatoli, que, citando a polícia do Exército, enviou respostas por WhatsApp sob a condição de que seu nome completo não fosse revelado, afirmou que seu abreviado curso de treinamento para utilização dos sistemas Javelin — que durou um dia e meio — e subsequentes lembretes foram suficientes. Lançadores quebrados estão recebendo reparos de uma equipe de manutenção sob seu comando, afirmou Anatoli, e seus estoques de baterias e resfriadores estão bons.

“Não temos acesso direto ao fabricante”, afirmou ele, “e nem precisamos disso”.

Ainda que a guerra na Ucrânia tenha evoluído para um duelo principalmente entre fogo de artilharia e sistemas de foguetes, armamentos antiblindagem continuam cruciais, pois as forças russas continuam a usar tanques e transportes blindados de tropas para auxiliar na captura de áreas estratégicas no Donbas, afirmou o oficial militar ucraniano crítico às deficiências no treinamento. “Assim que os russos quiserem tomar um vilarejo ou uma cidade, este é o elemento número 1 para contra-atacá-los”, afirmou ele, referindo-se aos sistemas Javelin.

Hayward, que vive no Alasca, conversou com Murkowski a respeito do limitado abastecimento de baterias para as unidades de lançamento. Suas cargas duram apenas quatro horas — ou menos, quando são usadas para disparar mísseis. Então, os ucranianos mantêm as baterias guardadas, para garantir que elas funcionem nos lançamentos reais, afirmou ele. Por isso, faltam baterias para os treinamentos. Sem elas, os sistemas Javelin não passam de um peso de porta, de 22,7 quilos.

Hayward relatou à senadora improvisos com baterias de motos, fita adesiva e fiação para manter os treinamentos, recordou ela. “Tem de haver um jeito melhor”, afirmou Murkowski. “Não podemos lhes mandar esses armamentos sofisticados sem lhes fornecer recursos apropriados para treinamento.”

Hayward recordou que, em março, quando dava uma aula sobre o sistema Javelin, ele recebeu um telefonema de um soldado em serviço no sudeste da Ucrânia que estava escondido atrás de uma pequena colina — abrigando-se do fogo de um tanque russo. O lançador de mísseis que o soldado portava apresentava defeito. Hayward afirmou que não foi capaz de diagnosticar o problema pelo telefone, e o soldado foi forçado a fugir. Hayward não sabe o que aconteceu com ele.

A Lockheed ou as Forças Armadas dos EUA deveriam estar conduzindo chamadas de vídeo regularmente com unidades ucranianas para responder dúvidas técnicas a respeito dos sistemas Javelin ou para fornecer um treinamento mais completo para o crescente contingente de soldados que precisam disso, afirmou Hayward. A decisão do presidente Biden de retirar os 200 membros da Guarda Nacional que treinavam forças ucranianas anteriormente à invasão russa e sua relutância em acionar novos operadores neste momento transferiu essa responsabilidade para voluntários, muitos deles veteranos de forças militares americanas, afirmou ele, classificando a atual situação como inadequada e insustentável.

" A cada dia que continuarmos nos atrasando, as vidas dessas pessoas continuarão em risco”, disse Hayward. “Somos mais inteligentes, somos melhores que isso.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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