Uma possível junção dos partidos de extrema direita da União Europeia em um novo bloco eurocético no Parlamento Europeu deixou de ser uma possibilidade nesta quarta-feira, 5, quando os líderes dos partidos nacionalistas da Polônia e do Reino Unido desistiram da aliança com o partido italiano de extrema direita, Liga.
Apesar de as coalizões de extrema direita terem obtido até o momento o melhor desempenho nas eleições desde a criação do parlamento - com 174 cadeiras - os partidos estão espalhados em diferentes grupos, que não possuem todas as pautas em comum.
As eleições para o Parlamento Europeu acontecem a cada cinco anos e o número total de deputados eleitos, além das cadeiras dadas a cada País variam de ano a ano. Os partidos de cada país devem se misturar com aqueles de outras nações formando coalizões, que devem ter no mínimo 25 deputados eleitos em sete Estados-membro.
A extrema direita, espalhada em três coalizões diferentes - umas mais e outras menos extremistas - tem ganhado popularidade desde o último pleito com discursos nacionalistas, cada uma em prol da independência econômica, tributária e judicial de seus países. O discurso foi apelidado de euroceticismo - ceticismo de que o bloco da União Europeia continue unido e funcionando, potencializado pelo Brexit no Reino Unido.
Confira quem são os principais líderes da direita nacionalista na Europa
França: Marine Le Pen
Presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional e fundadora da coalizão parlamentar mais extremista do Parlamento Europeu, o Grupo Europa das Nações e da Liberdade (ENL), seu partido foi o mais votado na França nas eleições parlamentares deste ano, com 23,3% dos votos, o equivalente a 22 cadeiras. Entretanto, em comparação com o restante do continente, os deputados do grupo ENL correspondem somente a 7,7% do Parlamento, com 58 cadeiras no total.
Filha do político francês Jean Marie Le-Pen, Marine foi candidata à presidência da França em 2012 e 2017, saindo derrotada em ambas as vezes. Em 2015, ela chegou a expulsar o próprio pai do partido, na tentativa de buscar uma imagem menos extremista da dele, que sempre fora antissemita e negacionista. Mesmo assim, a ENL faz parte da corrente eurocética, que defende a dissolução do bloco e a retomada da independência dos países europeus e de suas fronteiras, a fim de evitar as ondas imigracionistas.
O partido de Le Pen acabou elegendo somente um parlamentar a mais do que o partido do atual presidente Emmanuel Macron, que derrotou Le Pen em 2017. Apesar de ser uma vitória significativa para sua moral política na França, a coalizão ELN tem pouca representação no Parlamento e apresenta dificuldades para formar um novo grupo.
Itália: Matteo Salvini
Principal parceiro de Le Pen na eleição de 2019, Matteo Salvini é o vice primeiro-ministro da Itália e presidente da Liga, partido de extrema direita também associado à ENL. Seu partido foi o mais votado no País, com 34,3% dos votos, o equivalente a 28 cadeiras.
Foi Salvini o responsável pela ascensão da Liga, antes apelidada de "Liga Norte", que defendia a autonomia da região norte da Itália, gerando separatismo dentro do próprio País. Com a mudança do nome e do discurso assim que ele assumiu a presidência do partido, em 2013, a Liga conquistou o terceiro melhor resultado nas eleições gerais de 2018, rendendo a Salvini o posto de vice primeiro-ministro. Suas divergências com o atual primeiro-ministro, Giuseppe Conte, do partido Movimento 5 Estrelas, derrotado pela Liga no parlamento, gerou ameaça de renúncia de Conte e convocação de novas eleições nacionais.
O ex-parlamentar e ex-senador da Itália é o principal articulador dos partidos nacionalistas para a formação de uma nova coalizão no Parlamento, em conjunto com a Itália e a Alemanha. Era de se esperar que suas bandeiras, como o euroceticismo, a abolição do Euro e maiores restrições à imigração unificassem os partidos, porém a Polônia e a Húngria deram um passo para trás por causa das relações amigáveis de Salvini com a Rússia.
Reino Unido: Nigel Farage
Nigel Farage está à frente do partido com maior destaque nas eleições parlamentares de 2019, o Partido Brexit. Criada em janeiro de 2019, a sigla liderou os votos no Reino Unido apenas meses depois, com 30,7%, o equivalente a 29 cadeiras no Parlamento. O Partido Brexit, entretanto, faz parte da coalizão Grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta (EFDD), com ainda menor representação no Parlamento do que a ENL: 7,1%. No espectro ideológico, a EFDD é menos extremista do que a ENL.
O Parlamentar comandou durante seis anos um outro partido de direita do Reino Unido, o Partido de Independência do Reino Unido (UKIP). Foi através do partido que o referendo a favor da saída do Reino Unido da Europa, o Brexit, se consolidou. À época, Farage anunciou que seus "objetivos políticos" haviam sido alcançados com o feito, porém tensões internas dentro do partido o fizeram partir, fato comemorado pelos seus adversários. O UKIP não conseguiu eleger nenhum parlamentar nas eleições recentes, perdendo completamente sua força política, que migrou com Farage para o Partido Brexit.
Como diz o próprio nome do partido, o líder da extrema direita tem discurso nacionalista e separatista, além de anti-imigração. Apesar de seus ideias convergirem com as de Le Pen e Salvini, o Reino Unido está em processo de saída da União Europeia; talvez por esse motivo Farage tenha dado um passo atrás em se juntar a nova coalizão movimentada pela França e Itália, mesmo permanecendo no Parlamento Europeu até a saída definitiva do bloco.