Saída de Boris Johnson deixa legado de discordâncias e desgastes no Reino Unido


Do Brexit ao aprofundamento das diferenças internas, dificuldades causadas por ações de Johnson continuarão apesar da renúncia

Por Mark Landler

LONDRES (THE NEW YORK TIMES) — A súbita queda de Boris Johnson na semana passada remove da política britânica uma figura singularmente polarizadora, mas não encerra os conflitos que ele perpetrou -- e, em muitos casos, explorou -- enquanto planejou o Brexit, há dois anos e meio.

Os legados de Johnson e da saída do Reino Unido da União Europeia são inseparáveis. Os britânicos enfrentarão as dificuldades decorrentes do projeto-símbolo do premiê por muito tempo após ele deixar Downing Street -- levando consigo sua negligência e desrespeito às regras, seu duvidoso histórico ético e seu desleixado estilo pessoal.

Da corrosão da relação do Reino Unido com a França às disputas britânicas com Bruxelas a respeito do comércio na Irlanda do Norte, questões decorrentes do Brexit assolarão a campanha para a substituição de Johnson enquanto líder do Partido Conservador e, portanto, como primeiro-ministro. Esses temas poderão definir o próximo ocupante de Downing Street, que será o quarto premiê do Reino Unido desde que o país aprovou a saída da União Europeia, em 2016, através de um referendo.

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Primeiro-ministro britânico Boris Johnson deixa a Downing Street para visita ao centro de Londres nesta segunda-feira, 11. Premiê deixa legado negativo para o Reino Unido Foto: Stefan Rousseau/AP

O aprofundamento das diferenças entre o abastado sul britânico e o norte mais pobre — principal esforço pós-Brexit de Johnson — segue. Mesmo problemas econômicos mais abrangentes, como o aumento da inflação e a recessão à espreita, têm algum componente relativo ao Brexit, à medida que o divórcio britânico de Bruxelas agrava suas penas.

Além disso, o sucessor de Johnson terá de lidar com o corrosivo efeito que o Brexit surtiu sobre a política britânica, seja em relação aos carregados debates sobre temas sociais e culturais ou sobre o desgaste de instituições como o Parlamento e o Serviço Público. Johnson, com seus instintos populistas, atiçou esses sentimentos. Jogar fora sua cartilha não será fácil para nenhum futuro líder conservador.

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“O que Boris Johnson fez foi demonstrar como o sistema pode ser explorado”, afirmou Anand Menon, professor de política europeia da King’s College London. “Dada a natureza do Partido Conservador, considero que não deverá haver muito alívio nessa posição em relação a muitos desses temas.”

Até Jeremy Hunt, figura mais ao centro e cotado para disputar a liderança do partido, afirmou recentemente que seria favorável a reverter trechos do acordo britânico com a União Europeia que estabelecem regulações comerciais na Irlanda do Norte. A ameaça de Johnson em fazê-lo provocou ultraje em Bruxelas, que o acusou de violar o direito internacional.

Hunt, que perdeu para Johnson a disputa pela liderança do partido em 2019, votou pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas assim como Johnson, seu destino dependerá em parte do apoio da direita do Partido Conservador, que pressionou implacavelmente pela forma mais inflexível do Brexit.

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Outra provável candidata, Liz Truss, secretária de Exterior de Johnson, é uma das principais defensoras de uma abordagem agressiva em relação à Irlanda do Norte. Afirma-se que ela recrutou um grupo influente de brexiteers para vetar uma lei que permitiria ao Reino Unido renegar partes do acordo com Bruxelas antes de sua tramitação no Parlamento.

Também não faltarão guerreiros culturais a essa campanha. Suella Braverman, que serve atualmente como procuradora-geral, declarou-se candidata na ITV semana passada, prometendo rigidez em relação à imigração ilegal através do Canal da Mancha, uma das várias posições que ecoam as de Johnson.

“Temos de nos livrar de todo esse lixo lacrador”, acrescentou Braverman, “e retornar verdadeiramente para um país em que descrever um homem e uma mulher em termos biológicos não signifique que você vai perder seu emprego”.

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As forças políticas que alimentaram o Brexit — desmobilização do eleitorado, agruras econômicas e desconfiança em relação aos políticos — antecedem Johnson da mesma maneira que forças similares antecedem Donald Trump nos Estados Unidos. A medida em que ambos os líderes são catalisadores ou seus meros sintomas será debatida longamente em ambos os países.

Johnson costurou uma coalizão potente mas complicada para conquistar sua vitória esmagadora nas eleições gerais de 2019. Ela contou com eleitores conservadores tradicionais do sul do país e eleitores de classe trabalhadora do norte — que historicamente votavam no Partido Trabalhista, mas o abandonaram em favor dos conservadores em parte por causa da promessa de Johnson de “fazer logo o Brexit”.

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de líder do Partido Conservador, abrindo caminho para a escolha de um novo premiê.

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“Boris Johnson foi capaz de ocupar esse espaço em parte pela força de sua personalidade, em parte por sua completa ausência de filosofia política”, afirmou Menon. Sem o multifacetado apelo de Johnson sobre esses eleitores, acrescentou ele, questões sociais e culturais são “a única cola que os une”.

Com Johnson prometendo permanecer em Downing Street até que os conservadores selecionem seu novo líder — um processo que poderia tardar até o início do outono — é cedo demais para avaliar se ele surtirá um efeito duradouro na política britânica depois que deixar o cargo. Isso dependerá em parte de sua opção de permanecer ou não no Parlamento, onde mesmo como membro secundário ele poderia facilmente atormentar seu sucessor.

Nada disso diminuirá a relevância do lugar de Johnson na história, que até seus mais duros críticos afirmam ser significativo.

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“Sem Boris Johnson, o Brexit poderia não ter existido”, afirmou Timothy Garton Ash, professor de estudos europeus da Universidade de Oxford. “Sem Boris Johnson, não teríamos tido um Brexit rígido, porque ele nos deu isso pessoalmente. Sem Boris Johnson, não teríamos tido esse desastroso declínio nos padrões da vida pública britânica.”

Ainda assim, ele afirmou que Johnson não deverá desempenhar o papel de apontar lideranças e candidatos depois de deixar de ser primeiro-ministro, porque não comanda nenhuma Brigada Brexit — como Trump comanda o movimento “Make America Great Again” (MAGA, ou “Torne os EUA grandes novamente”).

“Os conservadores o selecionaram com bastante sangue-frio, bastante calculismo, porque pensaram que ele fosse um vencedor”, afirmou Garton Ash. Quando a campanha acabar e os candidatos deixarem de inflamar as bases de seu partido, ele prevê que “os conservadores retornarão para posições mais ao centro”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES (THE NEW YORK TIMES) — A súbita queda de Boris Johnson na semana passada remove da política britânica uma figura singularmente polarizadora, mas não encerra os conflitos que ele perpetrou -- e, em muitos casos, explorou -- enquanto planejou o Brexit, há dois anos e meio.

Os legados de Johnson e da saída do Reino Unido da União Europeia são inseparáveis. Os britânicos enfrentarão as dificuldades decorrentes do projeto-símbolo do premiê por muito tempo após ele deixar Downing Street -- levando consigo sua negligência e desrespeito às regras, seu duvidoso histórico ético e seu desleixado estilo pessoal.

Da corrosão da relação do Reino Unido com a França às disputas britânicas com Bruxelas a respeito do comércio na Irlanda do Norte, questões decorrentes do Brexit assolarão a campanha para a substituição de Johnson enquanto líder do Partido Conservador e, portanto, como primeiro-ministro. Esses temas poderão definir o próximo ocupante de Downing Street, que será o quarto premiê do Reino Unido desde que o país aprovou a saída da União Europeia, em 2016, através de um referendo.

Primeiro-ministro britânico Boris Johnson deixa a Downing Street para visita ao centro de Londres nesta segunda-feira, 11. Premiê deixa legado negativo para o Reino Unido Foto: Stefan Rousseau/AP

O aprofundamento das diferenças entre o abastado sul britânico e o norte mais pobre — principal esforço pós-Brexit de Johnson — segue. Mesmo problemas econômicos mais abrangentes, como o aumento da inflação e a recessão à espreita, têm algum componente relativo ao Brexit, à medida que o divórcio britânico de Bruxelas agrava suas penas.

Além disso, o sucessor de Johnson terá de lidar com o corrosivo efeito que o Brexit surtiu sobre a política britânica, seja em relação aos carregados debates sobre temas sociais e culturais ou sobre o desgaste de instituições como o Parlamento e o Serviço Público. Johnson, com seus instintos populistas, atiçou esses sentimentos. Jogar fora sua cartilha não será fácil para nenhum futuro líder conservador.

“O que Boris Johnson fez foi demonstrar como o sistema pode ser explorado”, afirmou Anand Menon, professor de política europeia da King’s College London. “Dada a natureza do Partido Conservador, considero que não deverá haver muito alívio nessa posição em relação a muitos desses temas.”

Até Jeremy Hunt, figura mais ao centro e cotado para disputar a liderança do partido, afirmou recentemente que seria favorável a reverter trechos do acordo britânico com a União Europeia que estabelecem regulações comerciais na Irlanda do Norte. A ameaça de Johnson em fazê-lo provocou ultraje em Bruxelas, que o acusou de violar o direito internacional.

Hunt, que perdeu para Johnson a disputa pela liderança do partido em 2019, votou pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas assim como Johnson, seu destino dependerá em parte do apoio da direita do Partido Conservador, que pressionou implacavelmente pela forma mais inflexível do Brexit.

Outra provável candidata, Liz Truss, secretária de Exterior de Johnson, é uma das principais defensoras de uma abordagem agressiva em relação à Irlanda do Norte. Afirma-se que ela recrutou um grupo influente de brexiteers para vetar uma lei que permitiria ao Reino Unido renegar partes do acordo com Bruxelas antes de sua tramitação no Parlamento.

Também não faltarão guerreiros culturais a essa campanha. Suella Braverman, que serve atualmente como procuradora-geral, declarou-se candidata na ITV semana passada, prometendo rigidez em relação à imigração ilegal através do Canal da Mancha, uma das várias posições que ecoam as de Johnson.

“Temos de nos livrar de todo esse lixo lacrador”, acrescentou Braverman, “e retornar verdadeiramente para um país em que descrever um homem e uma mulher em termos biológicos não signifique que você vai perder seu emprego”.

As forças políticas que alimentaram o Brexit — desmobilização do eleitorado, agruras econômicas e desconfiança em relação aos políticos — antecedem Johnson da mesma maneira que forças similares antecedem Donald Trump nos Estados Unidos. A medida em que ambos os líderes são catalisadores ou seus meros sintomas será debatida longamente em ambos os países.

Johnson costurou uma coalizão potente mas complicada para conquistar sua vitória esmagadora nas eleições gerais de 2019. Ela contou com eleitores conservadores tradicionais do sul do país e eleitores de classe trabalhadora do norte — que historicamente votavam no Partido Trabalhista, mas o abandonaram em favor dos conservadores em parte por causa da promessa de Johnson de “fazer logo o Brexit”.

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de líder do Partido Conservador, abrindo caminho para a escolha de um novo premiê.

“Boris Johnson foi capaz de ocupar esse espaço em parte pela força de sua personalidade, em parte por sua completa ausência de filosofia política”, afirmou Menon. Sem o multifacetado apelo de Johnson sobre esses eleitores, acrescentou ele, questões sociais e culturais são “a única cola que os une”.

Com Johnson prometendo permanecer em Downing Street até que os conservadores selecionem seu novo líder — um processo que poderia tardar até o início do outono — é cedo demais para avaliar se ele surtirá um efeito duradouro na política britânica depois que deixar o cargo. Isso dependerá em parte de sua opção de permanecer ou não no Parlamento, onde mesmo como membro secundário ele poderia facilmente atormentar seu sucessor.

Nada disso diminuirá a relevância do lugar de Johnson na história, que até seus mais duros críticos afirmam ser significativo.

“Sem Boris Johnson, o Brexit poderia não ter existido”, afirmou Timothy Garton Ash, professor de estudos europeus da Universidade de Oxford. “Sem Boris Johnson, não teríamos tido um Brexit rígido, porque ele nos deu isso pessoalmente. Sem Boris Johnson, não teríamos tido esse desastroso declínio nos padrões da vida pública britânica.”

Ainda assim, ele afirmou que Johnson não deverá desempenhar o papel de apontar lideranças e candidatos depois de deixar de ser primeiro-ministro, porque não comanda nenhuma Brigada Brexit — como Trump comanda o movimento “Make America Great Again” (MAGA, ou “Torne os EUA grandes novamente”).

“Os conservadores o selecionaram com bastante sangue-frio, bastante calculismo, porque pensaram que ele fosse um vencedor”, afirmou Garton Ash. Quando a campanha acabar e os candidatos deixarem de inflamar as bases de seu partido, ele prevê que “os conservadores retornarão para posições mais ao centro”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

LONDRES (THE NEW YORK TIMES) — A súbita queda de Boris Johnson na semana passada remove da política britânica uma figura singularmente polarizadora, mas não encerra os conflitos que ele perpetrou -- e, em muitos casos, explorou -- enquanto planejou o Brexit, há dois anos e meio.

Os legados de Johnson e da saída do Reino Unido da União Europeia são inseparáveis. Os britânicos enfrentarão as dificuldades decorrentes do projeto-símbolo do premiê por muito tempo após ele deixar Downing Street -- levando consigo sua negligência e desrespeito às regras, seu duvidoso histórico ético e seu desleixado estilo pessoal.

Da corrosão da relação do Reino Unido com a França às disputas britânicas com Bruxelas a respeito do comércio na Irlanda do Norte, questões decorrentes do Brexit assolarão a campanha para a substituição de Johnson enquanto líder do Partido Conservador e, portanto, como primeiro-ministro. Esses temas poderão definir o próximo ocupante de Downing Street, que será o quarto premiê do Reino Unido desde que o país aprovou a saída da União Europeia, em 2016, através de um referendo.

Primeiro-ministro britânico Boris Johnson deixa a Downing Street para visita ao centro de Londres nesta segunda-feira, 11. Premiê deixa legado negativo para o Reino Unido Foto: Stefan Rousseau/AP

O aprofundamento das diferenças entre o abastado sul britânico e o norte mais pobre — principal esforço pós-Brexit de Johnson — segue. Mesmo problemas econômicos mais abrangentes, como o aumento da inflação e a recessão à espreita, têm algum componente relativo ao Brexit, à medida que o divórcio britânico de Bruxelas agrava suas penas.

Além disso, o sucessor de Johnson terá de lidar com o corrosivo efeito que o Brexit surtiu sobre a política britânica, seja em relação aos carregados debates sobre temas sociais e culturais ou sobre o desgaste de instituições como o Parlamento e o Serviço Público. Johnson, com seus instintos populistas, atiçou esses sentimentos. Jogar fora sua cartilha não será fácil para nenhum futuro líder conservador.

“O que Boris Johnson fez foi demonstrar como o sistema pode ser explorado”, afirmou Anand Menon, professor de política europeia da King’s College London. “Dada a natureza do Partido Conservador, considero que não deverá haver muito alívio nessa posição em relação a muitos desses temas.”

Até Jeremy Hunt, figura mais ao centro e cotado para disputar a liderança do partido, afirmou recentemente que seria favorável a reverter trechos do acordo britânico com a União Europeia que estabelecem regulações comerciais na Irlanda do Norte. A ameaça de Johnson em fazê-lo provocou ultraje em Bruxelas, que o acusou de violar o direito internacional.

Hunt, que perdeu para Johnson a disputa pela liderança do partido em 2019, votou pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas assim como Johnson, seu destino dependerá em parte do apoio da direita do Partido Conservador, que pressionou implacavelmente pela forma mais inflexível do Brexit.

Outra provável candidata, Liz Truss, secretária de Exterior de Johnson, é uma das principais defensoras de uma abordagem agressiva em relação à Irlanda do Norte. Afirma-se que ela recrutou um grupo influente de brexiteers para vetar uma lei que permitiria ao Reino Unido renegar partes do acordo com Bruxelas antes de sua tramitação no Parlamento.

Também não faltarão guerreiros culturais a essa campanha. Suella Braverman, que serve atualmente como procuradora-geral, declarou-se candidata na ITV semana passada, prometendo rigidez em relação à imigração ilegal através do Canal da Mancha, uma das várias posições que ecoam as de Johnson.

“Temos de nos livrar de todo esse lixo lacrador”, acrescentou Braverman, “e retornar verdadeiramente para um país em que descrever um homem e uma mulher em termos biológicos não signifique que você vai perder seu emprego”.

As forças políticas que alimentaram o Brexit — desmobilização do eleitorado, agruras econômicas e desconfiança em relação aos políticos — antecedem Johnson da mesma maneira que forças similares antecedem Donald Trump nos Estados Unidos. A medida em que ambos os líderes são catalisadores ou seus meros sintomas será debatida longamente em ambos os países.

Johnson costurou uma coalizão potente mas complicada para conquistar sua vitória esmagadora nas eleições gerais de 2019. Ela contou com eleitores conservadores tradicionais do sul do país e eleitores de classe trabalhadora do norte — que historicamente votavam no Partido Trabalhista, mas o abandonaram em favor dos conservadores em parte por causa da promessa de Johnson de “fazer logo o Brexit”.

Seu navegador não suporta esse video.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de líder do Partido Conservador, abrindo caminho para a escolha de um novo premiê.

“Boris Johnson foi capaz de ocupar esse espaço em parte pela força de sua personalidade, em parte por sua completa ausência de filosofia política”, afirmou Menon. Sem o multifacetado apelo de Johnson sobre esses eleitores, acrescentou ele, questões sociais e culturais são “a única cola que os une”.

Com Johnson prometendo permanecer em Downing Street até que os conservadores selecionem seu novo líder — um processo que poderia tardar até o início do outono — é cedo demais para avaliar se ele surtirá um efeito duradouro na política britânica depois que deixar o cargo. Isso dependerá em parte de sua opção de permanecer ou não no Parlamento, onde mesmo como membro secundário ele poderia facilmente atormentar seu sucessor.

Nada disso diminuirá a relevância do lugar de Johnson na história, que até seus mais duros críticos afirmam ser significativo.

“Sem Boris Johnson, o Brexit poderia não ter existido”, afirmou Timothy Garton Ash, professor de estudos europeus da Universidade de Oxford. “Sem Boris Johnson, não teríamos tido um Brexit rígido, porque ele nos deu isso pessoalmente. Sem Boris Johnson, não teríamos tido esse desastroso declínio nos padrões da vida pública britânica.”

Ainda assim, ele afirmou que Johnson não deverá desempenhar o papel de apontar lideranças e candidatos depois de deixar de ser primeiro-ministro, porque não comanda nenhuma Brigada Brexit — como Trump comanda o movimento “Make America Great Again” (MAGA, ou “Torne os EUA grandes novamente”).

“Os conservadores o selecionaram com bastante sangue-frio, bastante calculismo, porque pensaram que ele fosse um vencedor”, afirmou Garton Ash. Quando a campanha acabar e os candidatos deixarem de inflamar as bases de seu partido, ele prevê que “os conservadores retornarão para posições mais ao centro”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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