O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, nesta sexta-feira, 3, para enviar uma mensagem de unidade na guerra na Ucrânia diante da aproximação de China e Rússia, que alertam que novas entregas de armas ocidentais aos ucranianos vai prolongar o conflito. Apesar da mensagem e uma fase de desgastes internos por causa dos gastos no conflito, Biden anunciou um novo pacote de ajuda militar de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) para o país invadido.
O novo pacote inclui munições, especialmente para o sistema de foguetes Himars fornecido aos ucranianos, e dá continuidade a uma aliança ocidental que tem sido determinante para a Ucrânia se manter na guerra.
Destinada a “reafirmar os laços profundos de amizade” entre os dois países, segundo a Casa Branca, a visita é a segunda do governante alemão a Washington desde fevereiro de 2022 e provocou a ira do Kremlin, que afirmou que novos fornecimentos de armas para Kiev conseguirão apenas “prolongar” o conflito na Ucrânia.
“Notamos que os EUA continuam sua política de aumentar as entregas de armas para a Ucrânia e convencer seus protegidos a fazerem o mesmo”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta sexta-feira.
A Casa Branca afirmou que os EUA vão anunciar um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia nesta sexta-feira, consistindo, principalmente, em munições.
O chanceler alemão será recebido às 19h (16h no horário de Brasília) no Salão Oval da Casa Branca. A ausência de uma entrevista coletiva conjunta levantou questões sobre a persistência das tensões que surgiram, recentemente, sobre a entrega de tanques alemães à Ucrânia.
Desgastes
Este ponto foi “amplamente superestimado”, diz o porta-voz do chanceler, Steffen Hebestreit, para quem se trata de uma “rápida visita de trabalho”. Para Hebestreit, as relações entre EUA e Alemanha são “muito boas”, apesar dos altos e baixos gerados desde que Biden assumiu o poder.
Em resumo, os dois aliados se esforçam para mostrar que estão sintonizados, após vários episódios de atrito que vão da oposição de Biden ao projeto do gasoduto Nord Stream 2 entre Alemanha e Rússia, aos grandes investimentos americanos na indústria verde, passando pela questão dos tanques.
A Alemanha finalmente concordou, em 26 de janeiro, em enviar um número significativo de seus tanques Leopard, dando uma nova dimensão ao apoio militar à Ucrânia. Os EUA também prometeram enviar blindados, um anúncio que deu origem a várias interpretações nos últimos dias.
Leia também
Washington deu sinal verde com o único propósito de acabar com a relutância alemã em enviar tanques, admitiu o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, no domingo.
Apesar do comprometimento público de Biden com o esforço de guerra ucraniano contra a Rússia, os últimos meses do conflito, marcados pela estagnação da linha de frente, trouxeram uma mudança na visão da opinião pública dos EUA sobre a guerra. O apoio ao envio de armas para Kiev caiu de 60% em maio, pouco depois da invasão, para 48% em fevereiro, quando ela completou um ano.
Com isso, a oposição republicana ampliou a pressão no Congresso contra os gastos militares do Pentágono no conflito. A parcela de americanos que acham que o país deu dinheiro demais a Kiev cresceu de 7% há um ano para 26% no mês passado, de acordo com o Pew Research Center.
Fator China
A China é outro desafio para este encontro. Washington teria apreciado que a Alemanha tenha adotado uma posição diplomática mais firme em relação ao gigante asiático.
Os motivos de tensão entre Washington e Pequim se multiplicaram recentemente, desde que um balão chinês, que o governo Biden acredita ser de espionagem, foi derrubado em território americano.
Os EUA também acusam a China de considerar enviar armas à Rússia para ajudá-la em sua ofensiva contra a Ucrânia, algo que Pequim nega.
Na quinta-feira, Scholz fez um pedido explícito na tribuna do Bundestag, o Parlamento alemão: “não forneçam armas ao agressor russo”. O encontro entre Biden e Scholz oferece, assim, “uma oportunidade valiosa para enviar um sinal claro e persuasivo à China”, resumiu o ex-diplomata americano Jeffrey Rathke. / AFP