KIEV - A cidade ucraniana de Bakhmut, importante reduto do leste da Ucrânia, pode cair sob controle das tropas da Rússia “nos próximos dias”, disse nesta quarta-feira, 8, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.
“Não podemos descartar que Bakhmut possa eventualmente cair nos próximos dias”, afirmou Stoltenberg em Estocolmo, à margem de uma reunião de ministros da Defesa da União Europeia.
A eventual queda, acrescentou Stoltenberg, “não reflete necessariamente um ponto de virada na guerra, mas ressalta que não podemos subestimar a Rússia e devemos continuar nosso apoio à Ucrânia”.
Bakhmut, que tinha uma população pré-guerra de cerca de 70.000 pessoas, tornou-se o foco dos combates na Ucrânia. A batalha por Bakhmut, na região ucraniana de Donetsk, tornou-se um símbolo da resistência ucraniana, enquanto os soldados sobrevivem por meses aos bombardeios russos.
Mas nas últimas semanas, as forças russas, incluindo um grande número de recrutas recém-mobilizados, foram enviadas para a linha de frente no leste, ajudando Moscou a tomar aldeias e cidades ao redor de Bakhmut e cercar a cidade por três lados.
Rodnianski observou que a Rússia estava usando as melhores tropas do grupo mercenário Wagner para tentar cercar a cidade. A empresa militar privada conhecida por táticas brutais é liderada por Yevgeni Prigozhin, um milionário com ligações de longa data com o presidente russo, Vladimir Putin. Prigozhin disse nesta quarta que até agora não viu sinais de uma retirada ucraniana da cidade. Ele sustentou que Kiev tem de fato reforçado suas posições lá.
A cidade de Bakhmut, uma das principais cidades da região de Donetsk, no leste do país, é palco de combates acirrados há várias semanas, e as tropas russas conseguiram cercá-la quase completamente.
A Ucrânia prometeu continuar defendendo a cidade, embora um de seus soldados ucranianos na área tenha dito à agência de notícias AFP que a queda é inevitável e que algumas unidades já começaram a se retirar de Bakhmut.
Em uma entrevista recente, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski,, disse que a queda de Bakhmut deixaria o “caminho aberto” para a Rússia.
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, disse às autoridades no fim de semana que a captura de Bakhmut permitirá “operações ofensivas profundas nas linhas de defesa das forças armadas da Ucrânia”.
A guerra da Ucrânia completou um ano no fim de fevereiro, com a perspectiva de seguir se arrastando ao longo de 2023 e ameaças de Moscou de uma retomada de territórios. O governo russo também tem dado indícios de uma possível parceria com a China.
Kiev, por outro lado, tem se apoiado no envio de armas e equipamentos militares por países do Ocidente, com os tanques alemães Leopard 2, para conseguir expulsar as tropas russas, que controlam atualmente cerca de 20% do território ucraniano, no leste do país.
Para entender
Batalha pelo leste
Imagens recentes de drones mostram a escala da devastação na cidade, enquanto Zelenski a descreveu como destruída. “A situação mais difícil ainda é Bakhmut e as batalhas que são importantes para a defesa da cidade”, disse Zelenski na terça-feira em seu discurso noturno, o segundo dia consecutivo em que ele se referiu aos problemas enfrentados pelos defensores da cidade. “A intensidade da luta só aumenta.
Na segunda-feira, ele disse que as forças russas estavam destruindo qualquer coisa que pudesse abrigar as forças que lutavam para defender a cidade.”
Mesmo que a Rússia tenha enfrentado contratempos neste um ano de guerra, em especial o revés de não capturar Kiev e perder Karkhiv, ela pretende tomar toda a região leste de Donbas, de acordo com analistas militares. A Rússia anexou ilegalmente as duas províncias da região, Donetsk e Luhansk, em outubro e detém um território significativo lá, incluindo as capitais regionais. Mas os meses de luta por Bakhmut sugerem que seria difícil para a Rússia obter mais ganhos rápidos.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia pode tentar atacar na região sul de Zaporizhzhia em uma tentativa de se aproximar da cidade portuária de Melitopol e criar uma barreira entre as forças russas na península da Crimeia e o terreno que Moscou detém em Donbas.
“Os próximos três meses no front serão muito ativos e decidirão o rumo dos acontecimentos”, disse Kirilo Budanov, chefe da inteligência militar da Ucrânia, em entrevista à Voz da América. Ele disse que mais entregas de ajuda militar à Ucrânia, incluindo aeronaves de ataque, podem ser decisivas para seu país.
Embora analistas ocidentais tenham alertado que o clima mais quente pode dar a Moscou uma oportunidade de lançar uma nova ofensiva, as autoridades ucranianas comemoraram na quarta-feira o que é considerado nacionalmente como o primeiro dia da primavera.
O ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, anunciou que seu país havia sobrevivido ao “terror de inverno de Putin”. “Nós sobrevivemos ao inverno mais difícil de nossa história”, escreveu Kuleba no Facebook./AP, AFP e NYT