O Secretário de Justiça dos Estados Unidos, Merrick Garland, defendeu nesta quinta-feira, 11, a investigação contra o ex-presidente Donald Trump, alvo de um mandado de busca e apreensão na segunda, 8. Na primeira declaração pública do Departamento de Justiça sobre o assunto, Garland afirmou que a operação foi autorizada por um Tribunal de Justiça e que “a adesão fiel ao estado de direito é a base” do Departamento de Justiça e da democracia americana.
Garland disse que “aprovou pessoalmente” a operação e que existe uma “causa provável” para o mandado ter sido cumprido. Ele repudiou as declarações feitas por Trump, que acusou o FBI de o perseguir e invadir a sua casa por motivações políticas. “Eu não vou ficar em silêncio no momento em que a integridade do FBI está sob ataque”, declarou.
“Os homens e mulheres do FBI e do Departamento de Justiça são funcionários públicos dedicados e patriotas”, disse ele. “Todos os dias eles protegem o povo americano de crimes violentos, terrorismo e outras ameaças à segurança, enquanto protegem nossos direitos civis. Eles fazem isso com grande sacrifício pessoal e risco para si mesmos. Tenho a honra de trabalhar ao lado deles.”
Segundo Merrick Garland, a decisão de falar publicamente sobre a operação – algo raro nos Estados Unidos – se deu porque Donald Trump tomou a iniciativa de falar sobre a busca e apreensão e “pelo interesse público” envolvido. Mais cedo, Garland também solicitou ao Tribunal de Justiça da Flórida a autorização para divulgar a ordem de busca e apreensão – e destacou na solicitação que o advogado de Trump foi avisado sobre a operação no momento que ela começou, informação negada por Trump. Na segunda-feira, ele e o FBI haviam se recusado a comentar sobre o assunto.
O procurador-geral ainda reiterou o compromisso de conduzir o inquérito dentro dos limites do sistema legal e não em público, com o objetivo de proteger os direitos dos investigados e a integridade da mesma. “Muito do nosso trabalho é, por necessidade, conduzido fora dos olhos do público. Fazemos isso para proteger os direitos constitucionais de todos”, declarou.
“O departamento não toma tal decisão facilmente. É prática padrão buscar meios menos intrusivos sempre que possível, como alternativa a uma busca, e delimitar de forma restrita qualquer busca realizada”, declarou.
Investigações contra Trump
A investigação contra o ex-presidente está relacionada a caixas de arquivos confidenciais que foram retiradas da Casa Branca pelo republicano e levadas para Mar-a-Lago, um resort próprio localizado na Flórida.
Antes da declaração do procurador-geral, assessores e aliados de Trump questionaram por que uma busca foi necessária e disseram que o ex-presidente estava cooperando com os pedidos para devolver os materiais. Vários republicanos influentes, incluindo o ex-vice-presidente Mike Pence, pediram a Merrick Garland que oferecesse uma explicação de suas ações.
Garland não deu mais detalhes sobre a investigação e a situação dos arquivos. Segundo o New York Times, a relutância em falar em público sobre as operações se dá pelas experiências enfrentadas pelo Departamento de Justiça no passado recente, quando James Comey era diretor do FBI. Na campanha presidencial de 2016, Comey deu declarações públicas sobre as investigações enfrentadas por Trump e Hillary Clinton que foram vistas como um desastre político e legal.
O Departamento de Justiça não havia fornecido anteriormente nenhuma informação sobre a natureza exata do material que procurava recuperar, mas sinalizou que se tratava de informações confidenciais sensíveis.
Segundo um funcionário da Casa Branca, o presidente Joe Biden não recebeu nenhum aviso prévio das declarações de Garland.
A busca em Mar-a-Lago acrescentou uma nova dimensão explosiva à série de investigações sobre Trump, incluindo investigações separadas do Departamento de Justiça sobre os esforços para permanecer no cargo de presidente apesar sua derrota nas urnas em 2020.
Na quarta-feira, Trump usou o direito da Quinta Emenda e se negou a responder perguntas sobre investigações de fraude ao ser questionado pelo procurador-geral de Nova York em uma investigação civil sobre suposta fraude nos negócios de sua família.
Homem armado tenta entrar em escritório do FBI; Garland não comenta
Ainda nesta quinta-feira, a polícia americana enfrentou um homem armado que tentou entrar em um escritório do FBI em Cincinnati, no Estado de Ohio, no norte do país. Horas depois de fugir de Cincinnati, ele foi baleado e morto pela polícia em uma zona rural do estado, segundo a Patrulha Rodoviária Estadual.
O incidente ocorreu em meio à indignação generalizada nos círculos conservadores pela operação na mansão de Trump, mas até agora não há indicação de que os dois eventos estejam relacionados.
Segundo a polícia, o suspeito foi identificado como Ricky Shiffer, de 42 anos. Existe a suspeita de que ele tenha estado em Washington nos dias anteriores à invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e no próprio dia do ataque. Entretanto, não há nenhuma acusação formal contra Shiffer relacionada ao ataque, disseram as autoridades.
Segundo o FBI, o homem tentou atravessar a área de controle de segurança e foi impedido. A imprensa local garante que ele atirou com uma pistola e empunhava um fuzil tipo AR-15 antes de fugir em um carro.
A polícia perseguiu o carro, informou um porta-voz da polícia. “Assim que o veículo parou, houve um tiroteio entre os policiais no local e o suspeito”, disse ele.
Shiffer abandonou o carro em estradas rurais, onde trocou tiros com a polícia e ficou ferido, embora ninguém mais tenha ficado ferido, disse o porta-voz da polícia rodoviária. Ele foi baleado depois de apontar uma arma para a polícia e as negociações para ele se entregar falharam.
O diretor do FBI, Christopher Wray, denunciou nesta quarta-feira que ameaças contra o FBI aumentaram após as buscas na residência de Trump em Mar-a-Lago, chamando-as de “lamentáveis e perigosas”. /NYT, AP, AFP, EFE