O secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, André Corrêa do Lago, afirmou nesta segunda-feira que espera que a sociedade civil argentina se posicione em defesa de pautas ambientais caso haja risco de retrocesso devido à eleição de Javier Milei, escolhido para a presidência no último domingo, 19.
Na tarde desta segunda-feira, o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima realizaram uma entrevista coletiva a respeito da participação do Brasil na COP-28, que ocorreu no final do mês em Dubai. A eleição de Milei tem gerado desconfiança a respeito da participação da Argentina nas negociações climáticas, já que o presidente eleito deu manifestações negacionistas a respeito da ação humana nas mudanças climáticas.
Para o secretário André Corrêa do Lago é preciso cautela, mas ele pondera que a sociedade civil será importante para equilibrar a discussão. Como o presidente eleito na Argentina só será empossado no dia 10 de dezembro, dois dias antes do fim da COP, a expectativa é de que suas posições ainda não afetem o cenário.
“Vamos aguardar, mas eu acredito que a resposta a isso definitivamente é a ciência. Então, eu espero que também haja dentro da Argentina, como há dentro dos Estados Unidos, um movimento muito grande daqueles que realmente conhecem a mudança do clima. Como nós sabemos, a Argentina tem um número extraordinário de cientistas e acadêmicos. Vamos ver se eles têm um debate interno sobre esse tema que leve a um posicionamento que seja construtivo com relação à negociação”, disse o embaixador.
Durante debate eleitoral, o então candidato declarou: “Não nego as mudanças climáticas, o que eu digo é que na história da terra, há um ciclo de temperaturas. Este é o quinto ciclo e a principal diferença para os anteriores é que não existia ser humano, agora existe. Então todas as políticas que culpam os seres humanas são falsas”.
A Argentina faz parte de um dos blocos de negociação que o Brasil integra, de modo que as posições do país podem impactar em negociações lideradas pelo Brasil. Em 2025, o Brasil será o país sede da COP-30 quando serão revistas as NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) dos países para conterem o aquecimento global.
“É sobretudo importante para nós como vizinhos, como principal parceiro. Estaremos muito atentos e dando muita importância para as posições que a Argentina venha a ter. Mas acho que temos que lembrar que quando (Donald) Trump (ex-presidente os Estados Unidos) foi eleito há 7 anos havia uma circunstância muito diferente”, disse André Corrêa do Lago.
A participação do Brasil na COP-28 é cercada de expectativa pela retomada do protagonismo do País nas negociações climáticas. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da COP-27 em Sharm El-Sheikh, no Egito, antes mesmo de assumir o cargo. Na ocasião, Lula afirmou que o país retomaria a liderança dos debates climáticos e disse que combateria o desmatamento na Amazônia.
O país chegará à COP-28 com dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) que indicam queda de 22% do desmate na floresta em um ano. Ao mesmo tempo, o país será alvo de questionamentos devido à possibilidade de exploração de petróleo na Marge Equatorial, próximo à foz do Amazonas.
A expectativa é de que o Brasil seja oficializado como sede da COP-30, que deve ocorrer em Belém, no Pará. O país também espera ganhos na área de financiamento, e perdas e danos. O país deve propor um novo modelo de financiamento que inclua os países florestais a partir da perspectiva de conservação das florestas. Atualmente, uma das principais fontes de financiamento do na área ambiental é o Fundo Amazônia, que recebe doações de vários países do mundo para custear projetos que reduzam o desmatamento.