O Pentágono anunciou nesta terça-feira, 9, que forneceu milhares de armas de fabricação iraniana à Ucrânia. Estas armas foram apreendidas pelos Estados Unidos antes que pudessem chegar aos Houthis no Iêmen. A decisão de repassar o armamento para Kiev ocorre em meio a dificuldade de aprovação de um novo pacote econômico e militar para a Ucrânia, que há meses está travado na Câmara dos Deputados dos EUA.
O armamento enviado à Ucrânia inclui 5 mil rifles Kalashnikov, metralhadoras, rifles de precisão e granadas lançadas por foguete, além de meio milhão de cartuchos de munição. Foram apreendidos de quatro “navios apátridas” entre 2021 e 2023 e disponibilizados para transferência para a Ucrânia através de um programa de confisco civil do Departamento de Justiça que tem como alvo a Guarda Revolucionária do Irã, de acordo com o Comando Central dos EUA, que supervisiona as operações militares no Oriente Médio.
Autoridades americanas afirmaram que o Irã pretendia fornecer armas aos Houthis, que vem realizando uma série de ataques a navios comerciais e militares no Mar Vermelho. O Comando Central disse que o montante é suficiente para fornecer rifles a uma brigada ucraniana inteira, que varia em tamanho, mas normalmente inclui milhares de soldados.
A lista de armas não inclui munições de artilharia, que estão entre as necessidades mais urgentes da Ucrânia no campo de batalha. O novo lote de armas fornecido à Ucrânia foi inspecionado e considerado seguro e em condições de funcionamento, segundo um oficial de defesa dos EUA, que conversou com o The Washington Post sob condição de anonimato. No passado, as tropas ucranianas expressaram frustração com o estado de algumas armas fornecidas pelos EUA e pelo Ocidente, que muitas vezes provêm de armazéns mais antigos.
Ataques russos
O fornecimento escasso de armas a Kiev ocorre em um momento em que as forças russas realizam agressivos ataques com bombas planadoras, que são menos sofisticadas, baratas e difíceis de interceptar. Os russos também estão usando mísseis balísticos de curto alcance e drones como estratégia para a destruição de infraestrutura civil e industrial ucraniana. O aparato militar é de curto alcance, fica pouco tempo no ar e passa pelas defesas ucranianas.
A combinação russa de bombas, mísseis e drones expôs a clara vulnerabilidade do sistema de defesa antiaéreo ucraniano. A falta de aparato de defesa é reconhecida por oficiais ucranianos desde o começo deste ano. “Está claro que há uma escassez de mísseis guiados antiaéreos, ninguém esconde isso”, disse o porta-voz da Força Aérea Ucraniana, Yuri Ignat, em entrevista nos primeiros dias de janeiro.
Kiev também sofre com falta de munição. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, admitiu que o Exército ucraniano está “tentando encontrar uma forma de não recuar”.
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Congresso americano
Um pacote de ajuda militar e econômica para Kiev está travado no Congresso americano há vários meses. O presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, um republicano, se recusou a realizar uma votação sobre um pacote de segurança nacional aprovado pelo Senado que também inclui ajuda a Israel. Johnson deverá apresentar um plano para ajuda adicional à Ucrânia no final deste mês, mas ele não disse quando a Câmara poderá votar o projeto.
Apesar do apoio do governo do presidente americano Joe Biden desde o início da guerra, com suporte bipartidário para a aprovação dos pacotes econômicos, uma parcela do Partido Republicano, que é mais próxima do ex-presidente Donald Trump, passou a questionar as cifras enviadas a Kiev. Com a Câmara dos Deputados sob controle republicano e o Senado com maioria democrata, os políticos americanos ainda não conseguiram chegar a um acordo para a aprovação de um pacote econômico.
Trump já afirmou que poderia cortar o apoio americano à Ucrânia. O republicano elogiou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, publicamente, e destacou que poderia resolver a guerra entre Kiev e Moscou “em 24 horas”./com W.Post