As Forças de Defesa de Israel lançaram panfletos alertando os civis palestinos para fugirem de partes do sul da Faixa de Gaza, segundo moradores do enclave palestino nesta quinta-feira, 16, sinalizando uma possível expansão da ofensiva terrestre israelense em áreas que milhares de pessoas estão localizadas após avisos de que deveriam sair do norte de Gaza.
Enquanto isso, os soldados israelenses continuam revistando o Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, que fica no norte do enclave, em uma operação que começou na quarta-feira, 15. Eles exibiram cerca de 10 armas que dizem ter sido encontradas escondidas em um prédio, mas ainda não divulgaram qualquer evidência do centro de comando central do grupo terrorista Hamas que, segundo Israel, está escondido sob o complexo. O Hamas e a equipe do hospital, o maior de Gaza, negam as acusações.
O aumento das operações no sul – onde Israel já realiza ataques aéreos diários – ameaça agravar uma já grave crise humanitária no território sitiado. Milhares de pessoas foram deslocadas internamente em Gaza, com a maioria fugido para o sul, onde alimentos, água e eletricidade são cada vez mais escassos.
Não está claro para onde mais poderiam ir, já que o Egito se recusa a permitir uma transferência em massa da população civil palestina para o seu território.
A guerra, agora na sua sexta semana, foi desencadeada por um amplo ataque terrorista do Hamas no sul de Israel, no dia 7 de Outubro, deixando mais de 1.200 pessoas mortas, a maioria civis. 240 pessoas foram sequestradas e estão no enclave palestino.
.Israel respondeu com um diversos bombardeios aéreos e uma ofensiva terrestre do norte de Gaza, prometendo retirar o grupo terrorista Hamas do poder e destruir as suas capacidades militares.
Mais de 11.200 palestinos foram mortos, dois terços deles mulheres e menores de idade, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista Hamas. Outros 2.700 foram dados como desaparecidos, e acredita-se que a maioria esteja soterrada sob os escombros. A contagem oficial não diferencia civis palestinos de terroristas do Hamas.
O conflito inflamou tensões em outros lugares. Nesta quinta-feira, homens armados dispararam e feriram quatro pessoas em um posto de controle na estrada principal que liga Jerusalém a Cisjordânia.
Armas
As tropas israelenses invadiram o maior hospital de Gaza na quarta-feira, em busca de vestígios do centro de operações do grupo terrorista Hamas, que Tel-Aviv alega estar dentro do centro médico Al-Shifa.
As tropas revistaram os níveis subterrâneos do hospital na quinta-feira e detiveram técnicos responsáveis pelo funcionamento do seu equipamento, segundo o ministério da Saúde em Gaza, controlado pelo Hamas, em um comunicado.
Os militares disseram que seus soldados foram trouxeram incubadoras e alimentos para o hospital.
Depois de cercar o Hospital Al-Shifa durante dias, Israel enfrenta pressão para provar a sua acusação de que o grupo terrorista Hamas usou os pacientes, funcionários e civis abrigados no centro médico para fornecer cobertura aos seus combatentes. A alegação faz parte da acusação mais ampla de Israel de que o Hamas utiliza os civis palestinos como escudos humanos.
Os militares divulgaram um vídeo de dentro do Hospital Al-Shifa mostrando três mochilas que disseram ter encontrado escondidas em torno de um laboratório de ressonância magnética, cada uma contendo um rifle de assalto, granadas e uniformes do Hamas, bem como um armário que continha vários rifles de assalto sem pentes de munição. A Associated Press não conseguiu verificar de forma independente as alegações israelenses de que as armas foram encontradas dentro do hospital.
Autoridades de saúde do Hamas e de Gaza negam que terroristas operem dentro do centro médico– um hospital que emprega cerca de 1.500 pessoas e tem mais de 500 leitos. Palestinos e grupos de direitos humanos acusam Israel de colocar civis em perigo de forma imprudente.
Munir al-Boursh, um alto funcionário do ministério da Saúde de Gaza dentro do hospital, disse que as tropas saquearam o porão e outros edifícios, e interrogaram e examinaram pacientes, funcionários e pessoas abrigadas nas instalações.
As forças israelenses lutaram contra terroristas do Hamas na parte de fora do hospital durante dias, mas não houve relatos de terroristas atirando de dentro do Hospital Al-Shifa, ou de qualquer conflito dentro do hospital após a entrada das tropas israelenses.
Sul de Gaza
Os panfletos, distribuídos em áreas a leste da cidade de Khan Younis, no sul, alertavam os civis para se retirarem do local e diziam que qualquer pessoa nas proximidades de locais usados pelo grupo terrorista Hamas “está colocando a sua vida em perigo”.
Dois repórteres que vivem a leste de Khan Younis confirmaram ter visto os panfletos. Outros compartilharam imagens dos folhetos nas redes sociais. Os militares israelenses não quiseram comentar.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou na quarta-feira que a operação terrestre deve incluir tanto o sul como o norte da Faixa de Gaza.
Os militares israelenses apontam que possuem controle do norte do enclave palestino. Além disso, Tel-Aviv diz que atacou uma residência pertencente a Ismail Haniyeh, um importante líder do Hamas que mora no Catar. Não ficou claro se alguém estava dentro do prédio.
Saiba mais
Com a maior parte dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza aglomerados no sul do território, os residentes dizem que o pão é escasso e as prateleiras dos supermercados estão vazias. As famílias cozinham em fogo de lenha por falta de combustível. A eletricidade central e a água encanada estão cortadas há semanas.
O agravamento da escassez de combustível ameaça paralisar a prestação de serviços humanitários e encerrar o serviço de telefonia móvel e de Internet.
Israel permitiu que uma pequena quantidade de combustível entrasse em Gaza na quarta-feira, pela primeira vez desde o início da guerra, para que a agência da ONU para refugiados palestinos pudesse continuar a trazer suprimentos limitados de ajuda.
O combustível não pode ser usado em hospitais ou para dessalinizar água e cobre menos de 10% do que a agência necessita para sustentar “atividades que salvam vidas”, disse Thomas White, diretor da agência em Gaza./AP