Sem pressa por cessar-fogo, Putin exige numerosas concessões ucranianas. Saiba quais são


Declarações do líder russo sugerem que ele quis prolongar as negociações ou impossibilitar uma trégua; presidente ucraniano classifica resposta ao plano de cessar-fogo como ‘manipuladora’

Por Anton Troianovski

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não descartou na quinta-feira a proposta dos Estados Unidos e da Ucrânia para um cessar-fogo de um mês, mas estabeleceu numerosas condições que provavelmente atrasarão — ou poderiam impossibilitar — qualquer tipo de trégua.

As declarações de Putin, pronunciadas durante uma entrevista coletiva, destacaram o equilíbrio que ele tenta transmitir, exalando confiança na posição da Rússia no campo de batalha ao mesmo tempo que busca continuar as negociações com os EUA e evitar aborrecer o presidente Donald Trump. O líder americano, após antagonizar-se com os aliados de seu país e realinhar a política externa dos EUA em favor da Rússia, emerge como um parceiro geopolítico fundamental para Putin.

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Em comentários cortantes, no fim do dia, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que o líder russo estabeleceu tantas condições “que nada dará certo, ou não dará certo pelo maior tempo possível”.

Putin deu as declarações antes de se encontrar com Steve Witkoff, o enviado de Trump para o Oriente Médio, para discutir a proposta de cessar-fogo com a qual a Ucrânia já concordou. Até o início da madrugada desta sexta-feira, no horário de Moscou, o Kremlin não havia emitido comentários sobre a reunião. Mas o governo russo afirmou que Putin também conversou por telefone com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, líder de facto da Arábia Saudita, a respeito da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma coletiva de imprensa em Moscou, Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma coletiva de imprensa em Moscou, Rússia  Foto: Maxim Shemetov/AFP
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As declarações de Putin também ocorreram num momento em que a Rússia mantém seu ímpeto em uma batalha crítica na região russa de Kursk, onde as forças de Moscou parecem próximas de expulsar a Ucrânia do território que Kiev tomou no verão passado (Hemisfério Norte). Esse desfecho reduziria o peso da Ucrânia em futuras negociações de paz.

“A ideia em si é a correta, e nós definitivamente apoiamos”, disse Putin, referindo-se à proposta de cessar-fogo. “Mas há questões que precisamos discutir, e acho que precisamos discuti-las com nossos colegas e parceiros americanos.”

Putin sugeriu que suas condições incluirão limites à capacidade da Ucrânia de mobilizar mais tropas e importar armamentos durante um cessar-fogo — restrições que colocariam Kiev em maior desvantagem se os combates recomeçarem.

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Posicionamento

As declarações de Putin constituíram o primeiro posicionamento do líder russo sobre a oferta de cessar-fogo que emergiu das negociações entre EUA e Ucrânia na Arábia Saudita, nesta semana. A fala sugere que o líder russo considera essa proposta apenas parte de uma negociação mais ampla entre Washington e Moscou, e que ele estava ávido para demonstrar que está envolvido com os esforços de Trump para acabar com a guerra que Putin começou com sua invasão em escala total há três anos.

Putin disse que poderia “telefonar para o presidente Trump e conversar com ele sobre isso”. Quando questionado posteriormente, na quinta-feira, se conversaria com o presidente russo, Trump disse que “adoraria” encontrá-lo e conversar com ele. “Nós gostaríamos de ver um cessar-fogo da Rússia”, disse Trump a repórteres durante um encontro com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Hamburgo, Alemanha  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente americano disse que os EUA discutiram com a Ucrânia possíveis concessões como parte de um acordo de paz. “Temos discutido com a Ucrânia territórios e pedaços de terra que seriam mantidos e perdidos e todos os outros elementos de um acordo final”, disse Trump, acrescentando: “Muitos detalhes de um acordo final foram realmente discutidos”.

Putin parece não querer irritar Trump, dadas as vitórias geopolíticas que o presidente americano já concedeu ao Kremlin.

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Mas as declarações de Putin também transpareceram que o líder russo considera que suas forças estão em vantagem no campo de batalha e que prolongar as negociações beneficiaria a Rússia.

Putin afirmou na quinta-feira que a Rússia continuará a insistir em um acordo de paz que aborde as “causas originais” da guerra — sugerindo que sua pressão por grandes concessões do Ocidente, como uma redução da presença da Otan no Leste Europeu, não mudou, embora não tenha ficado claro se ele pretende tornar esse elemento uma condição para o cessar-fogo de um mês.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, em uma visita a região de Kursk  Foto: AP / AP
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Zelenski classificou a resposta de Putin à proposta de cessar-fogo como “muito previsível, muito manipuladora”. “Putin, é claro, tem medo de dizer diretamente ao presidente Trump que quer continuar esta guerra, que quer matar ucranianos”, disse Zelenski em seu discurso noturno.

Putin foi direto ao declarar que uma trégua rápida seria melhor para a Ucrânia do que para a Rússia. “Nessas condições, parece-me que seria muito bom para o lado ucraniano se houvesse um cessar-fogo, mesmo por 30 dias”, disse Putin. “E somos favoráveis a isso. Mas há nuances.”

Demandas

Então ele listou essas “nuances”, começando com as forças ucranianas ainda em Kursk. Putin disse que a Rússia não permitirá que esses soldados se retirem pacificamente e que a liderança ucraniana poderia, em vez disso, ordenar que eles “simplesmente se rendam”.

A Ucrânia surpreendeu a Rússia em agosto com uma incursão transfronteiriça em Kursk, ocupando várias centenas de quilômetros quadrados de território.

Mas o Ministério da Defesa russo declarou na quinta-feira que os militares de seu país haviam recuperado o controle total de Sudzha, a principal cidade em Kursk que a Ucrânia havia ocupado. Autoridades ucranianas não confirmaram uma retirada da cidade, onde, até a quarta-feira à noite, os militares de Kiev relatavam que havia combates ferozes. Se essa retirada se confirmar, restarão apenas pequenos bolsões de território russo ao longo da fronteira sob controle ucraniano.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, conversa com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, em Jeddah  Foto: Serviço de imprensa do presidente da Ucrânia / AP/ AP

Putin também sugeriu que poderá exigir que os aliados ocidentais da Ucrânia interrompam o fornecimento de armas e disse que não está claro como um cessar-fogo seria monitorado ao longo de uma linha de frente de aproximadamente 1.126 quilômetros.

“Todas essas questões exigem um estudo muito cuidadoso”, disse Putin.

Apesar das condições de Putin poderem ser impossíveis de ser aceitas pela Ucrânia, ele não repetiu sua onerosa exigência do ano passado, de que um cessar-fogo dependeria da retirada da Ucrânia das quatro regiões ucranianas que a Rússia declarou suas, mas não controla totalmente.

Ainda assim, a especialista em Forças Armadas russas Dara Massicot, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, sediado em Washington, classificou as novas demandas de Putin como “muito perigosas para a Ucrânia”.

Na realidade, argumentou ela, Putin pressionou por um cenário no qual o Ocidente não será capaz de ajudar a Ucrânia a reconstruir suas forças militares ao mesmo tempo que as fábricas russas continuarão produzindo novas armas. “O que Putin disse hoje implica que o Ocidente não poderá apoiar a Ucrânia enquanto a Rússia se regenerar”, afirmou ela. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não descartou na quinta-feira a proposta dos Estados Unidos e da Ucrânia para um cessar-fogo de um mês, mas estabeleceu numerosas condições que provavelmente atrasarão — ou poderiam impossibilitar — qualquer tipo de trégua.

As declarações de Putin, pronunciadas durante uma entrevista coletiva, destacaram o equilíbrio que ele tenta transmitir, exalando confiança na posição da Rússia no campo de batalha ao mesmo tempo que busca continuar as negociações com os EUA e evitar aborrecer o presidente Donald Trump. O líder americano, após antagonizar-se com os aliados de seu país e realinhar a política externa dos EUA em favor da Rússia, emerge como um parceiro geopolítico fundamental para Putin.

Em comentários cortantes, no fim do dia, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que o líder russo estabeleceu tantas condições “que nada dará certo, ou não dará certo pelo maior tempo possível”.

Putin deu as declarações antes de se encontrar com Steve Witkoff, o enviado de Trump para o Oriente Médio, para discutir a proposta de cessar-fogo com a qual a Ucrânia já concordou. Até o início da madrugada desta sexta-feira, no horário de Moscou, o Kremlin não havia emitido comentários sobre a reunião. Mas o governo russo afirmou que Putin também conversou por telefone com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, líder de facto da Arábia Saudita, a respeito da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma coletiva de imprensa em Moscou, Rússia  Foto: Maxim Shemetov/AFP

As declarações de Putin também ocorreram num momento em que a Rússia mantém seu ímpeto em uma batalha crítica na região russa de Kursk, onde as forças de Moscou parecem próximas de expulsar a Ucrânia do território que Kiev tomou no verão passado (Hemisfério Norte). Esse desfecho reduziria o peso da Ucrânia em futuras negociações de paz.

“A ideia em si é a correta, e nós definitivamente apoiamos”, disse Putin, referindo-se à proposta de cessar-fogo. “Mas há questões que precisamos discutir, e acho que precisamos discuti-las com nossos colegas e parceiros americanos.”

Putin sugeriu que suas condições incluirão limites à capacidade da Ucrânia de mobilizar mais tropas e importar armamentos durante um cessar-fogo — restrições que colocariam Kiev em maior desvantagem se os combates recomeçarem.

Posicionamento

As declarações de Putin constituíram o primeiro posicionamento do líder russo sobre a oferta de cessar-fogo que emergiu das negociações entre EUA e Ucrânia na Arábia Saudita, nesta semana. A fala sugere que o líder russo considera essa proposta apenas parte de uma negociação mais ampla entre Washington e Moscou, e que ele estava ávido para demonstrar que está envolvido com os esforços de Trump para acabar com a guerra que Putin começou com sua invasão em escala total há três anos.

Putin disse que poderia “telefonar para o presidente Trump e conversar com ele sobre isso”. Quando questionado posteriormente, na quinta-feira, se conversaria com o presidente russo, Trump disse que “adoraria” encontrá-lo e conversar com ele. “Nós gostaríamos de ver um cessar-fogo da Rússia”, disse Trump a repórteres durante um encontro com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Hamburgo, Alemanha  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente americano disse que os EUA discutiram com a Ucrânia possíveis concessões como parte de um acordo de paz. “Temos discutido com a Ucrânia territórios e pedaços de terra que seriam mantidos e perdidos e todos os outros elementos de um acordo final”, disse Trump, acrescentando: “Muitos detalhes de um acordo final foram realmente discutidos”.

Putin parece não querer irritar Trump, dadas as vitórias geopolíticas que o presidente americano já concedeu ao Kremlin.

Mas as declarações de Putin também transpareceram que o líder russo considera que suas forças estão em vantagem no campo de batalha e que prolongar as negociações beneficiaria a Rússia.

Putin afirmou na quinta-feira que a Rússia continuará a insistir em um acordo de paz que aborde as “causas originais” da guerra — sugerindo que sua pressão por grandes concessões do Ocidente, como uma redução da presença da Otan no Leste Europeu, não mudou, embora não tenha ficado claro se ele pretende tornar esse elemento uma condição para o cessar-fogo de um mês.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, em uma visita a região de Kursk  Foto: AP / AP

Zelenski classificou a resposta de Putin à proposta de cessar-fogo como “muito previsível, muito manipuladora”. “Putin, é claro, tem medo de dizer diretamente ao presidente Trump que quer continuar esta guerra, que quer matar ucranianos”, disse Zelenski em seu discurso noturno.

Putin foi direto ao declarar que uma trégua rápida seria melhor para a Ucrânia do que para a Rússia. “Nessas condições, parece-me que seria muito bom para o lado ucraniano se houvesse um cessar-fogo, mesmo por 30 dias”, disse Putin. “E somos favoráveis a isso. Mas há nuances.”

Demandas

Então ele listou essas “nuances”, começando com as forças ucranianas ainda em Kursk. Putin disse que a Rússia não permitirá que esses soldados se retirem pacificamente e que a liderança ucraniana poderia, em vez disso, ordenar que eles “simplesmente se rendam”.

A Ucrânia surpreendeu a Rússia em agosto com uma incursão transfronteiriça em Kursk, ocupando várias centenas de quilômetros quadrados de território.

Mas o Ministério da Defesa russo declarou na quinta-feira que os militares de seu país haviam recuperado o controle total de Sudzha, a principal cidade em Kursk que a Ucrânia havia ocupado. Autoridades ucranianas não confirmaram uma retirada da cidade, onde, até a quarta-feira à noite, os militares de Kiev relatavam que havia combates ferozes. Se essa retirada se confirmar, restarão apenas pequenos bolsões de território russo ao longo da fronteira sob controle ucraniano.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, conversa com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, em Jeddah  Foto: Serviço de imprensa do presidente da Ucrânia / AP/ AP

Putin também sugeriu que poderá exigir que os aliados ocidentais da Ucrânia interrompam o fornecimento de armas e disse que não está claro como um cessar-fogo seria monitorado ao longo de uma linha de frente de aproximadamente 1.126 quilômetros.

“Todas essas questões exigem um estudo muito cuidadoso”, disse Putin.

Apesar das condições de Putin poderem ser impossíveis de ser aceitas pela Ucrânia, ele não repetiu sua onerosa exigência do ano passado, de que um cessar-fogo dependeria da retirada da Ucrânia das quatro regiões ucranianas que a Rússia declarou suas, mas não controla totalmente.

Ainda assim, a especialista em Forças Armadas russas Dara Massicot, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, sediado em Washington, classificou as novas demandas de Putin como “muito perigosas para a Ucrânia”.

Na realidade, argumentou ela, Putin pressionou por um cenário no qual o Ocidente não será capaz de ajudar a Ucrânia a reconstruir suas forças militares ao mesmo tempo que as fábricas russas continuarão produzindo novas armas. “O que Putin disse hoje implica que o Ocidente não poderá apoiar a Ucrânia enquanto a Rússia se regenerar”, afirmou ela. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não descartou na quinta-feira a proposta dos Estados Unidos e da Ucrânia para um cessar-fogo de um mês, mas estabeleceu numerosas condições que provavelmente atrasarão — ou poderiam impossibilitar — qualquer tipo de trégua.

As declarações de Putin, pronunciadas durante uma entrevista coletiva, destacaram o equilíbrio que ele tenta transmitir, exalando confiança na posição da Rússia no campo de batalha ao mesmo tempo que busca continuar as negociações com os EUA e evitar aborrecer o presidente Donald Trump. O líder americano, após antagonizar-se com os aliados de seu país e realinhar a política externa dos EUA em favor da Rússia, emerge como um parceiro geopolítico fundamental para Putin.

Em comentários cortantes, no fim do dia, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que o líder russo estabeleceu tantas condições “que nada dará certo, ou não dará certo pelo maior tempo possível”.

Putin deu as declarações antes de se encontrar com Steve Witkoff, o enviado de Trump para o Oriente Médio, para discutir a proposta de cessar-fogo com a qual a Ucrânia já concordou. Até o início da madrugada desta sexta-feira, no horário de Moscou, o Kremlin não havia emitido comentários sobre a reunião. Mas o governo russo afirmou que Putin também conversou por telefone com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, líder de facto da Arábia Saudita, a respeito da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma coletiva de imprensa em Moscou, Rússia  Foto: Maxim Shemetov/AFP

As declarações de Putin também ocorreram num momento em que a Rússia mantém seu ímpeto em uma batalha crítica na região russa de Kursk, onde as forças de Moscou parecem próximas de expulsar a Ucrânia do território que Kiev tomou no verão passado (Hemisfério Norte). Esse desfecho reduziria o peso da Ucrânia em futuras negociações de paz.

“A ideia em si é a correta, e nós definitivamente apoiamos”, disse Putin, referindo-se à proposta de cessar-fogo. “Mas há questões que precisamos discutir, e acho que precisamos discuti-las com nossos colegas e parceiros americanos.”

Putin sugeriu que suas condições incluirão limites à capacidade da Ucrânia de mobilizar mais tropas e importar armamentos durante um cessar-fogo — restrições que colocariam Kiev em maior desvantagem se os combates recomeçarem.

Posicionamento

As declarações de Putin constituíram o primeiro posicionamento do líder russo sobre a oferta de cessar-fogo que emergiu das negociações entre EUA e Ucrânia na Arábia Saudita, nesta semana. A fala sugere que o líder russo considera essa proposta apenas parte de uma negociação mais ampla entre Washington e Moscou, e que ele estava ávido para demonstrar que está envolvido com os esforços de Trump para acabar com a guerra que Putin começou com sua invasão em escala total há três anos.

Putin disse que poderia “telefonar para o presidente Trump e conversar com ele sobre isso”. Quando questionado posteriormente, na quinta-feira, se conversaria com o presidente russo, Trump disse que “adoraria” encontrá-lo e conversar com ele. “Nós gostaríamos de ver um cessar-fogo da Rússia”, disse Trump a repórteres durante um encontro com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Hamburgo, Alemanha  Foto: Evan Vucci/AP

O presidente americano disse que os EUA discutiram com a Ucrânia possíveis concessões como parte de um acordo de paz. “Temos discutido com a Ucrânia territórios e pedaços de terra que seriam mantidos e perdidos e todos os outros elementos de um acordo final”, disse Trump, acrescentando: “Muitos detalhes de um acordo final foram realmente discutidos”.

Putin parece não querer irritar Trump, dadas as vitórias geopolíticas que o presidente americano já concedeu ao Kremlin.

Mas as declarações de Putin também transpareceram que o líder russo considera que suas forças estão em vantagem no campo de batalha e que prolongar as negociações beneficiaria a Rússia.

Putin afirmou na quinta-feira que a Rússia continuará a insistir em um acordo de paz que aborde as “causas originais” da guerra — sugerindo que sua pressão por grandes concessões do Ocidente, como uma redução da presença da Otan no Leste Europeu, não mudou, embora não tenha ficado claro se ele pretende tornar esse elemento uma condição para o cessar-fogo de um mês.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, em uma visita a região de Kursk  Foto: AP / AP

Zelenski classificou a resposta de Putin à proposta de cessar-fogo como “muito previsível, muito manipuladora”. “Putin, é claro, tem medo de dizer diretamente ao presidente Trump que quer continuar esta guerra, que quer matar ucranianos”, disse Zelenski em seu discurso noturno.

Putin foi direto ao declarar que uma trégua rápida seria melhor para a Ucrânia do que para a Rússia. “Nessas condições, parece-me que seria muito bom para o lado ucraniano se houvesse um cessar-fogo, mesmo por 30 dias”, disse Putin. “E somos favoráveis a isso. Mas há nuances.”

Demandas

Então ele listou essas “nuances”, começando com as forças ucranianas ainda em Kursk. Putin disse que a Rússia não permitirá que esses soldados se retirem pacificamente e que a liderança ucraniana poderia, em vez disso, ordenar que eles “simplesmente se rendam”.

A Ucrânia surpreendeu a Rússia em agosto com uma incursão transfronteiriça em Kursk, ocupando várias centenas de quilômetros quadrados de território.

Mas o Ministério da Defesa russo declarou na quinta-feira que os militares de seu país haviam recuperado o controle total de Sudzha, a principal cidade em Kursk que a Ucrânia havia ocupado. Autoridades ucranianas não confirmaram uma retirada da cidade, onde, até a quarta-feira à noite, os militares de Kiev relatavam que havia combates ferozes. Se essa retirada se confirmar, restarão apenas pequenos bolsões de território russo ao longo da fronteira sob controle ucraniano.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, conversa com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, em Jeddah  Foto: Serviço de imprensa do presidente da Ucrânia / AP/ AP

Putin também sugeriu que poderá exigir que os aliados ocidentais da Ucrânia interrompam o fornecimento de armas e disse que não está claro como um cessar-fogo seria monitorado ao longo de uma linha de frente de aproximadamente 1.126 quilômetros.

“Todas essas questões exigem um estudo muito cuidadoso”, disse Putin.

Apesar das condições de Putin poderem ser impossíveis de ser aceitas pela Ucrânia, ele não repetiu sua onerosa exigência do ano passado, de que um cessar-fogo dependeria da retirada da Ucrânia das quatro regiões ucranianas que a Rússia declarou suas, mas não controla totalmente.

Ainda assim, a especialista em Forças Armadas russas Dara Massicot, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, sediado em Washington, classificou as novas demandas de Putin como “muito perigosas para a Ucrânia”.

Na realidade, argumentou ela, Putin pressionou por um cenário no qual o Ocidente não será capaz de ajudar a Ucrânia a reconstruir suas forças militares ao mesmo tempo que as fábricas russas continuarão produzindo novas armas. “O que Putin disse hoje implica que o Ocidente não poderá apoiar a Ucrânia enquanto a Rússia se regenerar”, afirmou ela. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO